quarta-feira, 30 de abril de 2008

Temporada de caça aos ursos polares

Conversa de ICQ, uns quatro anos atrás:

Hugo: Tô indo viajar, falou!
Eu: Viajar? Pra onde?
Hugo: Meu sítio, em Tatuí.
Eu: Putz, e o que tem pra fazer lá?
Hugo: Vestir chinelos havaianas e sair pra caçar ursos polares

Nunca falei dele por aqui, mas o Hugo faz parte do top 2 do meu (restrito, vai) rol de melhores amigos. E, pelo longo tempo que nos conhecemos, certamente ganha posição destacada. Se não me engano, conheci o magrelo de óculos em 1996 e quase saí na porrada com ele naquele dia (eu nunca tive uma boa impressão das pessoas que um dia viriam a se tornar grandes amizades minhas).

Com ele vivi momentos sensacionais: tivemos algumas bandas, fizemos show (inclusive este), fomos a muitos outros shows, passamos vergonha, passamos por perrengues, bebemos, fizemos passeios de casais (cada qual com sua garota, é bom esclarecer), trocamos conselhos... e por aí vai. Mas nunca viajamos juntos.

Conversa de Outlook, um dia atrás:

Eu: Saio do trabalho hoje às 19 horas e só volto na segunda, às 14. E aí?
Hugo: Poooouta, aí vejo uma pá de vantagens. E aí, mané, bora pra onde?
Eu: Então, praia é um negócio que sempre rende alguma coisa, mas também fiquei sabendo que foi aberta a temporada de caça a ursos polares para caçadores com havaianas. E melhor: ganhei um par de havaianas no aniversário, depois de 'perder' meu par antigo.

Ficou decidido: minha décima viagem será para Tatoo-ih, com direito a pit stop(s) por Sorocaba. A primeira com amigos que conheço há mais de 12 anos: Mersão, Luiz, Frango, Hugo e eu.

Sendo assim, este blog fará uma pausa e retomará suas atividades (a)normais dentro de cinco dias. Bom feriado para quem fica.

Nota da redação: com 28 postagens em 30 dias, abril se tornou o mês mais abastado de atualizações do Cavaleiro com Solitária – superando outubro de 2007, que teve 26 em 31 dias.

Por se tratar de um mês especial, fica uma rápida retrospectiva: 'mudei' de nome, decidi dirigir com freqüência, vivi momentos engraçados no trânsito, reencontrei uma antiga amiga de São Caetano, dei início à saga do TCC, vi mudanças editoriais na redação, ganhei jabá da Adidas e um 'prêmio' no trabalho, conheci Sorocaba e cobri a Copa Davis (até entrevistei o Guga!).

Também passei vergonha no metrô diante de uma menina bonitinha, tive um sonho bizarro e gratas lembranças de dois antigos casinhos (minha primeira ex-namorada e uma outra paixonite), completei 20 anos de vida, comemorei o aniversário com grandes 42 amigos, recebi presentes misteriosos e palavras profundas, estreei na Virada Cultural e, como consta neste post, organizei minha décima viagem.

Até maio.

terça-feira, 29 de abril de 2008

Aquela que matou o gato

Sou um curioso nato. Desde pequeno, sempre quis saber de todos os detalhes de tudo o que me cercava – o que, no fundo, não é um negócio lá muito bom: a intensidade da vida é muito maior quando não se sabe de muitos detalhes. Mas isso é história para outros posts num futuro talvez não muito distante.

Com o passar do tempo consegui largar mão de muito da minha curiosidade. No entanto, admito: até hoje sou bastante curioso. E assumo que muitos dos comentários anônimos que aparecem por aqui de vez em quando me instigam um pouco.

No final do ano passado, por exemplo, recebi um comentário anônimo quando relatei aqui meu retorno ao Círculo Militar – meu segundo clube do coração, perdendo apenas para um localizado perto da Avenida Antártica. Era assim: "Oi Held! Muitas lembranças da minha infância tb estão no Círculo Militar. Saudade desse tempo. A gente deve ter se cruzado por lá quando pequenos. Bjos".

Ora, ora. Uma leitora (creio eu) deste humilde blog também era sócia do mesmo clube que eu? E o fato de ela não ter se identificado me deixou extremamente curioso por cerca de uma semana.

Não muito tempo depois, em fevereiro deste ano, uma série de comentários anônimos me chamou a atenção. Ao que tudo indica, uma garota da mesma faculdade que eu passou a ler e a se identificar com meus relatos. Durante cerca de um mês comentou quase que diariamente, sempre mostrando ter uma certa proximidade comigo. Depois deste post, no entanto, desapareceu. E o curioso aqui tentava imaginar quem seria.

Outro comentário que me chamou muito a atenção no mesmo período veio neste post. Na época em que entrava de cabeça em uma paixão ao som de Beatles, uma anônima assinou sob o heterônimo de Eleanor Rigby, nome da música em que o quarteto de Liverpool exalta pessoas extremamente solitárias (inclusive pelo verso "aaaah, look at all the lonely people").

Digo tudo isso para provar, talvez até para mim mesmo, que continuo sendo um cara deveras curioso – embora tenha decidido deixar para trás muito dessa característica. Mas não precisava: bastou acordar hoje de manhã para receber mais uma mostra de que a minha bisbilhotice me tocava um bocado.

Havia um pacote sobre a mesa da sala endereçado a mim. Abri o envelope e qual não foi minha surpresa ao ver um DVD do show Music for Montserrat, gravado em setembro de 1997 a fim de arrecadar uma grana para as vítimas da ilha caribenha Montserrat, que há 19 anos fora assolada por uma série de erupções vulcânicas.

Olhei a parte de trás da caixinha sem muita esperança, mas me surpreendi com o repertório: o genial Mark Knopfler; a animadíssima Hot, hot, hot; Sting, Eric Clapton e, por fim... Paul McCartney! Olhei novamente o envelope: não havia remetente.

Um presente mais do que bacana para alguém que fez aniversário há exatamente uma semana. Mas quem havia me enviado? Quem sabia que aos 14 anos era viciado em Dire Straits (a banda do Knopfler) e sou fã inveterado de Beatles? E por que diabos não havia se identificado?

A curiosidade, meus caros, persiste aqui dentro.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Sobre o remorso

Cometi muitas bobagens (não lá muito relevantes, diga-se) de uns tempos para cá, mas fazia um tempo danado que eu não me arrependia de algo – e o remorso, todo mundo sabe, é um dos piores inimigos do sono. Assim, tenho vivido como uma criancinha: deito na cama já nas altas horas da madrugada e começo a dormir sem muita enrolação.

Mas senti um arrependimento um bocado forte no último final de semana. Sem nada para fazer na manhã de sábado, peguei o jornal na guarita do prédio lá pelas 11 horas e fui ler alguma coisa interessante na pracinha do meu condomínio para fazer o tempo passar mais rapidamente até ir para o trabalho.

Após devorar a sempre genial coluna do Marcelo Rubens Paiva e me deliciar com as tirinhas de Calvin e Snoopy, ainda passei pelas páginas de esportes e pelo caderno principal. Até que senti que não tinha mais nada de muito relevante para extrair daquele monte de papel e simplesmente deitei no banco para olhar o céu. Foi quando o remorso bateu.

“Arrependimento de quê, cara-pálida?”, vocês se perguntam. E eu respondo de bate-pronto. Acontece que, justamente em uma manhã de sábado e também deitado naquele mesmo banco há pouco menos de quatro anos, vivi talvez o meu primeiro instante de paixão verdadeira na minha vida.

A cena é bonitinha. Estava bastante preocupado com as entregas de trabalhos escolares e não conseguia pensar em outra coisa que não fosse o sistema urinário, tema do trabalho de biologia. Naquela manhã ensolarada de novembro, todavia, decidi fazer uma pausa nos estudos para passar algumas rápidas horinhas (duas, no máximo) com a garota com quem estava saindo – que, naquele exato dia, se tornou a minha primeira namorada.

Estava reclamando para ela sobre a complexidade do trabalho de biologia e ela, um ano mais nova do que eu, não tinha muito o que me explicar sobre o tema. Mesmo com apenas 15 anos (eu tinha 16, é bom citar), ela tomou a decisão mais sábia naquele momento: ofereceu seu colo para que eu apoiasse a minha cabeça.

Não hesitei e apoiei a cabeça sobre as coxas da garota. Tive uma sensação mais do que aconchegante, esqueci de todos os meus problemas e, pela primeira vez, pude contemplar sua beleza de outro ângulo. Até o piercing de argola que ela tinha no nariz parecia reluzir mais.

Se eu havia achado que a Terra tinha quase parado quando trocamos nosso primeiro beijo, naquele momento o mundo certamente parara de girar. Não lembrei do trabalho sobre néfrons, rins e todo o resto e deixei tudo para depois, para quando o planeta voltasse ao normal. Foi a melhor decisão que eu poderia tomar.

E por que o arrependimento quase quatro anos depois? Porque eu que terminei o namoro com a garota por motivos que não vêm ao caso no momento. E porque, neste sábado de 2008, eu estava deitado naquele mesmo banco, em um dia parecido, e com a cabeça apoiada no concreto duro do banco. Nada do colo quente da garota e nada de suas mãos fazendo festa no meu cabelo.

Não foi saudade, não foi carência. Foi apenas a recordação de um dos top 5 dos meus momentos mais bacanas da minha vida amorosa.

E as piores recordações são aquelas acompanhadas de um pensamento do tipo “Toma! Pra você aprender a largar a mão de ser idiota”.

Para os curiosos: A tal garota já fora lembrada por mim em duas oportunidades neste blog: aqui e aqui.

domingo, 27 de abril de 2008

Toca Raul!

Podem falar o que for, mas Raul Seixas é fora de série (uso o tempo presente, aliás, para explicitar a importância das músicas do Raulzito atualmente, ainda que em 2008 complete 19 anos que o cara bateu as botas).

Já é mais do que comum ouvir em qualquer show alguém proferindo a velha máxima de ‘Toca Raul!’. Não adianta: todo mundo já clamou por alguma música do baiano psicodélico – até mesmo eu e um dos meus dois fiéis leitores (digo isso porque não consigo imaginar a minha mãe pedindo sons do Maluco Beleza). Enfim.

Não sou o maior fã do Raul Seixas e nem estou na minha fase mais intensa de ouvir as suas famigeradas canções, quase que hinos do rock brasileiro. Ontem, no entanto, tive mais uma prova de que, no fundo, não tem quem não goste de pelo menos uma música do cara.

Tudo começou quando estava fazendo musculação no volante para realizar uma baliza em uma das ruas do meu condomínio e encontrei alguns amigos. Todos iriam para a a micareta do Zé Ramalho na Virada Cultural e me convidaram. Eu, cansado depois de um plantão sabatino, respondi um simples ‘Ah, cara, vou ver’, crente de que não iria.

Acontece que quando cheguei em casa, percebi que não teria nada para fazer até cair no sono. Entre ficar em casa mofando sobre a cama e sair para algum lugar com pessoas divertidas e com quem certamente daria várias risadas, optei pela segunda opção – ainda que, confesso, não conheça quase nada do Zé Ramalho. E, quando dei por mim, já estava tomando cerveja em frente a referências marcantes do centro velho da cidade.

Um pouco breaco depois de algumas latinhas geladas (e baratas, até!) e outros tantos goles de vinho ruim, percebi que todo o público da Av. São João levantou quando o Zé Ramalho começou a tocar Trem das sete. “Ah, essa eu sei inteira. É Raul!”. E o público, antes bem parado, se animou a cantar os famosos versos “Quem vai choraaaaar, quem vai sorriiir? Quem vai ficaaaaaar, quem vai partiiir?”.

Foi o que bastou para que todos se empolgassem para o restante do show. Até um tiozão bem do pançudo apareceu sem camisa na janela, começou a agitar o barrigão desnudo para a galera e se tornou celebridade do centro da cidade em plena madrugada.

Na hora tive vontade de ouvir mais Raul. Coloquei um dos meus CDs do Raulzito hoje de manhã na mochila vindo para o trabalho, me peguei parado em um semáforo no caminho para a Paulista cantando o refrão de Tente outra vez: “Teeeente, levante sua mão sedenta e recomece a andaaar. Não pense que a cabeça agüenta se você paraaaaar; nãão, não, não, não, não, não!!”.

Só parei porque olhei para o lado e vi a mulher do carro ao lado olhando de uma forma esquisita pra mim. Sorri sem graça e ouvi dela, que sorria de leve, um “Relaxa, Raul é bom mesmo”.

É. Muito.

sábado, 26 de abril de 2008

Frases esparsas de aniversário

Não suporto dar parabéns às pessoas de um modo geral. Não consigo fugir do senso-comum de oferecer tudo de bom, felicidades e todas essas coisas de praxe. É sempre a mesma coisa, e muitas vezes se diz isso apenas da boca para fora.

Até que terça-feira passada comemorei 20 anos. Para evitar receber várias frases feitas de pessoas que sequer lembram da minha existência nos demais dias do ano, retirei a data do meu aniversário do meu perfil do Orkut – atitude que eu já planejava, mas foi motivada ainda mais após ler este texto do André.

A experiência deu certo, e pude ver algumas das pessoas que realmente se lembraram do meu aniversário e, como não têm um contato diário comigo, acabaram me deixando um recado verdadeiro. Mesmo recebendo alguns dos clichês por ali, eximi as pessoas de qualquer crítica: elas realmente se lembraram do meu aniversário. Demais!

Alguns amigos mais próximos não me deixaram recados no Orkut, mas me desejaram parabéns pessoalmente. Outros até me escreveram algumas coisas bacanas, que tiveram um valor bem grande para mim.

Abaixo, as melhores palavras para se receber em um momento de transição, que marca o fim da segunda década de vida e o início da terceira.

“Para que o Cavaleiro com Solitária seja menos solitário”, desejou o Mané, na dedicatória do livro que me deu de presente.

“A voz das palavras mudas, enfim, só pode ser ouvida por aqueles que se deixam ser tocados”, filosofou o Bronzatto, também em dedicatória do livro que me deu de presente.

“Sei que você tem um coração enorme e desejo de todo o meu coração que você seja feliz. Sou capaz de dar a volta ao mundo por um amigo como você”, me surpreendeu a Pri, em carta recebida em companhia de um livro que me deu de presente (foi um aniversário abastado de livros, uma economia e tanto!).

“Parabéns, seu sumido”, disse a Sílvia, uma das minhas maiores paixões dos últimos 20 anos (já citada aqui e aqui), que se lembrou do meu aniversário mesmo sem a gente se falar diariamente (ou mensalmente, até) desde a metade do terceiro colegial.

“Tô longe, mas tô contigo sempre”, destacou o Caio Mamão, amigo há mais de 13 anos, mas que há três mora na Espanha.

E, por fim, duas bem simples, porém as mais profundas por alguns motivos óbvios e outros nem tanto.

“Na sua listinha, faltou acrescentar ‘ser o melhor amigo da minha mãe’”, contou a minha mãe.

“Feliz aniversário”, disse o meu pai, com um sorriso entre o bigode e um abraço para me dar.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Auto-conhecimento

Primeira vez que daria carona para alguém. Como previamente combinado, deixaria uma amiga sã e salva na porta de sua casa depois da aula na faculdade.

Tá, não vou negar que senti uma responsabilidade maior quando dei a partida e liguei os faróis. Mesmo assim, respirei fundo, liguei o toca CD e deixei todas as preocupações de lado. O trânsito, e sobretudo a integridade física da amiga, eram prioridade.

Tudo correu dentro dos conformes e chegamos inteiros à sua casa. Depois de nos despedirmos até o dia seguinte, no entanto, fiz a pergunta que mais me amedrontava naquele momento: “Como eu faço pra sair daqui agora?”. Ela foi bem didática: “Vira aqui na primeira esquerda e vai reto, até não dar mais mão. Aí você vira de novo à esquerda, segue reto a vida toda até cair num posto, e aí você vira à direita e já vai se encontrar”. “Ok”.

Tinha a certeza de que iria me perder, mas ainda assim decidi arriscar em uma sorte melhor para mim. Só que, ao virar à esquerda, achei que logo o primeiro quarteirão já não dava mais mão e voltei a contornar à esquerda. Depois fui reto a vida toda e cheguei a uma ladeira.

“Ué, acho que nunca passei por essa rua para chegar em casa... acho que tô fazendo merda, mas vamos lá”, pensei, enquanto ouvia o futebol no rádio. Até que a ladeira acabou e eu me vi no meio da favela.

“Toma, trouxa, eu bem que avisei!”, retrucou uma voz sábia dentro de mim.

Odeio essa voz sábia, com um tom até que pessimista: ela sempre acerta.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Boas ações para quem não quer recebê-las – o retorno

Lembro como se fosse hoje da primeira vez que dei lugar a uma velhinha no metrô. Era um dia de manhã e eu estava indo para mais um dia na sexta série (ou será que era sétima?). A senhorinha de cabelos brancos e dificuldade de locomoção entrou no trem, as pessoas no banco cinza sequer esboçaram alguma reação e eu, todo bondoso e um pouco inseguro, guardei o Lance! na mochila e cedi meu lugar.

Naquele momento, senti um misto de satisfação pela boa ação realizada e, também, um tanto de raiva com relação aos demais passageiros do vagão, que em momento algum esboçaram algum gesto para com a velhinha. E pior: ainda ficaram me olhando por um bom tempo quando eu cedi meu lugar.

Os anos se passaram (e como passaram!), e um dia desses eu estava indo para o trabalho, novamente de metrô, mas já na hora do almoço. Notei que havia entrado uma garotinha um tanto quanto charmosa, com piercing de argolinha no nariz e tudo, na Praça da Árvore, e havia ficado à minha frente. Bom... era apenas mais alguma garotinha bonita que cruzava a minha vida no metrô, e por isso não dei muita bola.

Eh, eu admito, pensei até em alguma abordagenzinha esquisita, do tipo oferecer o meu lugar para ela sentar. Mas o tempo continua passando e a gente vê que muitas das nossas ações singelas e sinceras são mal-interpretadas. E também tem que cavalheirismo grátis, convenhamos, não está com nada. Preferi continuar lendo Mário Prata (valeu, Mané!).

Até que na Vila Mariana entrou um velhinho. Cabelos acaju, nitidamente pintados, roupa elegante e um andar cansado, difícil. Passou pelo meu banco, olhou, passou por mais alguns bancos, olhou, e voltou a ficar na frente do meu banco. Ao ver que o pessoal do assento cinza não deixaria o conforto de fazer uma viagem sentado, terminei de ler a crônica, levantei-me e chamei-lhe a atenção.

“Por favor, senhor. Pode sentar ali”. Ele deu um sorriso sem graça e não aceitou. “Não, não... pode sentar. Eu vou descer na próxima”, rebateu. “Não, mas eu também vou sentar na próxima. Por favor”, insisti. “Não, eu vou descer na próxima”, recusou novamente, mas não sem antes encarar a capa do meu livro e depois me olhar um bocado feio. Não entendi, e arrisquei um: “Pode sentar, senhor, por favor. Eu já estou descendo, não vou mais sentar”. “Eu também não”, finalizou.

Só me restou, então, abrir o livro e começar a leitura de uma nova crônica. Em um momento, parei a leitura e olhei para trás: nem a garotinha bonita de piercing de argola havia sentado no banco. Quem se sentou, sem muito pestanejar, foi uma mulher com lá seus 30 anos estilo piriguete.

Todo o meu esforço fora em vão. Droga.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Fragmento de e-mail

Decidi fazer a limpeza de alguns e-mails antigos que estavam mofando na minha caixa de entradas. Acabei encontrando um que tinha escrito a uma amiga, hoje distante e com quem não me encontro há pelo menos um ano e meio.

Na mensagem enviada, nos idos de algum ano no passado, havia um anexo. Abri o arquivo incluso e me deparei com o relato de uma antiga paixonitezinha. Li tudo o que eu havia escrito, do início ao fim. E decidi destacar essa parte, editada antes de ser publicada.

Detalhe: o texto original (que conta apenas metade do meu caso amoroso) tem um total exato de 36.333 caracteres (ou seja, mais de dez páginas). E pensar que a destinatária deste e-mail, que adorava saber das minhas paixões, leu tudo do início ao fim.

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“Falei no intervalo com uma amiga dela, que me perguntou se você tá a fim da Marina (nome fictício)”, contou o meu amigo. “Respondi que não sabia de nada, mas pedi para a amiga ver se rolaria alguma coisa entre vocês. Parece meio criança isso, fiz mal?”.

“Não”, respondi. E de fato ele não fizera mal: aquela tinha sido uma das melhores notícias que havia recebido nos últimos meses. Não pelo fato de uma garota ter ido ver com a Marina se rolaria alguma entre nós dois, mas gostei porque simplesmente aquela já era a segunda amiga que se interessava pela minha suposta paixonite pela tal da Marina.

Será que a Marina estava mesmo querendo alguma coisa comigo? Será que alguma coisa estaria acontecendo? Será que... ?

Difícil falar, Rê. Difícil, porque simplesmente não sei lidar muito bem com isso. Além de muito tímido, sempre fui muito inseguro ao me apaixonar. Talvez por isso jamais tenha namorado uma garota por quem me apaixonei platonicamente.

Mas... quer saber? Mesmo que mais uma vez não dê certo, é muito bom passar por isso novamente. Ter frios na barriga, acessos de insegurança... é muito bom ir dormir pensando em alguém, e melhor ainda quando se sonha com ela.

É muito bom imaginar como será a nossa vida daqui a cinco anos. É muito bom pensar em viajar com ela para a Europa se um dia começarmos a namorar.

Quando você percebe que está apaixonado, o mundo tem outra cara, sabe? No dia seguinte a perceber que o sentimento por uma garota é algo especial, tudo parece ser diferente.

É estranho. Assim que liga o tocador de MP3 em uma música um pouco mais animada, olha-se no espelho e dá um sorriso sem explicação. E, logo depois, uma gargalhada. Poderia ser apenas um reflexo do sono – hipótese deixada de lado depois de você descer as escadas dançando no ritmo da música.

Para não ter que dançar no meio da rua, apenas ergue a cabeça, abre o peito e encara a vida. E um leve formigamento passa pelo seu nariz: apesar da rinite e do desvio de septo combinados, você está respirando pelas duas narinas (algo que nunca acontece, a não ser que os remédios que viciam, como Aturgyl, sejam acionados). Respirar pelas duas narinas é legal.

Enfim. Até que é legal achar que está apaixonado.

terça-feira, 22 de abril de 2008

Balanços e prognósticos

Uma das coisas de que mais me orgulho é a minha memória de elefante para certas coisas, sobretudo datas, falas e devaneios pessoais. E um dia desses achei ali, no cantinho da minha memória, em um papel amassadinho e amarelado, uma listinha de pensamentos de exatos dez anos atrás, dia 22 de abril de 1998.

Na ocasião, estava completando dez anos de idade e vislumbrava como seria a minha vida dali a dez anos. E hoje, nesta data em que completo 20 anos, fiz um balanço do que foi cumprido ou não daquele pequeno rol de “o que fazer nos próximos 3.652 dias (não necessariamente nesta ordem)”.

– conhecer o estádio do Palmeiras (OK);
– dar o primeiro beijo (OK);
– emagrecer (OK);

– terminar o colégio (OK);
– ter barba (OK);

– conhecer a praia (OK);
– entrar em uma faculdade (OK);
– começar a trabalhar (OK);
– morar sozinho (X);

– aprender a dirigir (OK);
– comprar o primeiro carro com o próprio salário (X);
– trabalhar de terno e gravata (X);
– me apaixonar de verdade (OK);
– ter uma namorada (OK);
– estar namorando (X);
– perder a virgindade (OK);
– passar uma noite inteira ao lado de uma garota (OK);
– ter amizades para a vida toda (OK);
– ser jogador de futebol (X);
– passar uma noite inteira acordado (OK);
– aprender a jogar tênis (X);
– conversar em inglês com um estrangeiro (OK);
– fazer alguém se apaixonar por mim apenas pelos meus pensamentos toscos (OK);
– ter usado um tênis da Nike (OK);
– perder a timidez (+/-);


Basicamente era isso. E me orgulha ver mais “Oks” do que “X” nessa listinha. Bacana mesmo, ainda que alguns destes itens tenham sido conquistados apenas aos 45 do segundo tempo.

Sem falar que muitas, muitas coisas além disso aconteceram nesse meio tempo: ganhei um cachorro, andei de avião, aprendi a tocar violão e guitarra, aprendi holandês, fui a vários shows sensacionais, fiz um ou outro show sensacional, virei sócio de um clube, tomei gosto pela escrita, comecei a fazer jornalismo, entrevistei pessoas importantíssimas, passei a escrever com freqüência, criei um blog... eh, eu vivi dez anos bem legais.

E agora com 20 anos, não resta outra coisa que não montar uma listinha intitulada “o que fazer nos próximos 3.652 dias”, versão 2.0. E, se tudo der certo, talvez eu até me lembro de checá-la quando chegar aos 30.

– morar sozinho;
– encontrar a mulher da minha vida;
– namorar sério;
– noivar;
– pegar o diploma acadêmico;
– ter um emprego efetivo;
– dar início ao projeto “segunda profissão”;
– escrever um livro;
– conhecer o sul do país;
– viajar para outros países, da América do Sul ou da Europa;
- ficar com uma estrangeira;
– ir a um show do Shout out Louds;
– reencontrar a antiga paixão argentina de infância e mulher mais linda já vista;
– conhecer Suécia, Holanda, França, Itália e Inglaterra;
– entrevistar pessoas ainda mais importantes;
– disputar um torneio de tênis interno do clube;
– cobrir uma Copa do Mundo;
– assistir in loco a partidas de Roland Garros e Wimbledon

Esperemos agora até 22 de abril de 2018...

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Curtas do feriado

Metafísica 1: Falam que dirigir é um tesão enorme. Tenho amigos que corroboram para essa tese e, mais do que isso, não param de falar de carro. Eu, que recentemente passei a me aventurar no trânsito caótico, não sinto nada disso. Mas não posso negar: acelerar fundo quando o semáforo está alternando do amarelo pro vermelho e furar o farol é algo transcendental.

Metafísica 2: Mesmo em um feriado, o trânsito de São Paulo não deixa de ser uma loucura - sobretudo no espaço que vai da Vila Mariana até o comecinho da Paulista. Mas não é tão difícil assim relaxar no volante: basta fechar as janelas do carro e aumentar o som do toca CD. Se estiver tocando Beatles, então... !

A primeira vez...: Tive enfim a chance de apertar o botão e retirar o tíquete em um estacionamento. Ao parar o carro diante da cancela, no entanto, tive a minha 'primeira vez' frustrada. Longe da maquininha, precisei sair do carro para apertar o botão. Droga.

domingo, 20 de abril de 2008

The little help

Lembro como se fosse hoje de um recado enviado via-Orkut no final de fevereiro: “olha, eu gosto muito de With a little help from my friends, aquela pout-pourri com Sgt. Peppers”, ensaiei eu, tentando mostrar um pouco de erudição no assunto Beatles.

Pois bem. Algumas pessoas mais próximas e outras nem tanto sabem o estrago que o envio deste recado me causou. Resumindo para os leigos: eu, um cara que costumava se dar muito bem com um estilo de vida recatado, acabei percebendo que estava tendo problemas para curtir meus momentos de folga, apenas entre mim e meus botões. Tudo isso por estar com medo justamente de mim mesmo, do meu ócio. Enfim.

Foram precisos exatos dois meses para eu realmente perceber o real sentido de With a little help from my friends, e só o consegui em uma noite de sábado, em que eu resolvi ‘comemorar’ de forma adiantada meu vigésimo aniversário. Convidei alguns amigos mais próximos no momento, alguns que foram bem próximos não muito tempo atrás e algum que se tornaram bem próximos recentemente.

Por conviver com a sina de mudar de idade em data próxima a um feriado, não tinha lá muitas expectativas de muitos convidados - tanto que havia reservado uma mesa para não mais do que 20 pessoas. Acontece que eu, como de praxe, errei nos cálculos. E, entre um chope e outro, consegui contar nada menos do que 42 pessoas presentes ao longo da noite.

Preciso confessar: essa quantia foi uma agradabilíssima surpresa. Ainda que recentemente três pessoas tenham me considerado alguém ‘extremamente cativante’ (duas inclusive citaram a parte da raposa do Pequeno Príncipe, sendo que uma delas ainda me fez de raposa - mas sem se tornar responsável por aquilo que cativou), achava impossível me aproximar em números do Maneversário, que em 6 de outubro de 2007 reuniu mais de 50 pessoas no mesmo bar.

Na minha comemoração de 20 anos, muita gente disse que iria viajar com a família e não foi. Teve também quem disse que já tinha algo marcado. Outros decidiram viajar para cidades sugestivas com o seu novo caso amoroso. Alguns ficaram doentes. Teve gente que trabalhou, enquanto também houve aqueles que deram certeza de que marcariam presença e não deram as caras sem aviso algum. Acontece.

Resta, agora, agradecer aos 42 que se deram ao trabalho de sair de casa em uma noite chuvosa para tomarem chope de qualidade nos arredores da Paulista: Carol Canossa, Luísa Pécora, amigo da Luísa, Lectícia, Edson, Bia, Luiz, Vivi, Dersão, Mersão, Mobarah, Frango, Rafinha, Vyvy, André Marmota, Nara, Raul, Shrek, Mané, Samantha, André Albano, Eduardo Mé Carneiro, Allan, Brunella, Tati, Débora, Chitão, Erik, Renata, amigo do Chitão, Leitão, Didi, Fabio Honório, Eduardo, namorada do Eduardo, amigo 1 do Didi, amigo 2 do Didi, Fred, Hugo, Rodrigo Patrão, Gui e Evelyn.

Aos que não foram, fica a parte da qual eu me lembro do meu discurso, antes de dez chopes e várias (talvez seis ou sete) doses de cachaça mineira: “Não é todo dia que se faz 20 anos – e hoje, por exemplo, não é o meu dia. Mas como tal data se aproxima, decidi reunir as pessoas mais próximas a mim nessas últimas duas décadas (...). Consegui reunir pessoas que conheço há 16 anos, há 12 anos, há seis anos, há três anos, há um ano e meio e algumas que eu conheci em alguma balada. Não estão presentes todos os meus melhores amigos e nem todas as minhas grandes paixões. Mas tenho que agradecer a todos os que marcaram presença aqui, que são grandes, grande amigos e bastante especiais. Só que agor só nos resta beber, porque o resto... putz, tá difícil”.

Disse tudo isso antes de virar a segunda dose e cachaça. E continua sendo verdade, mesmo agora quase sóbrio.

Assim como aquela música dos Beatles, que permeou o início disso tudo:

Does it worry you to be alone?
How do I feel by the end of the day?
(Are you sad because you're on your own?)
No, I get by with a little help from my friends,
Hmm, I get high with a little help from my friends,
Hmm, I’m gonna try with a little help from my friends.


--

PS: nada disso faz sentido para Carol Canossa, que passou a desacreditar na veracidade de tudo o que é escrito por aqui por alguém melodramático.

sábado, 19 de abril de 2008

Verdade atroz

Uma semana atrás, em Sorocaba. Entrevista coletiva com Marcos Daniel, tenista número um do Brasil e 91 do mundo. O microfone na minha mão.

“Marcos! Felipe, da Gazeta, tudo bom? Então, Marcos... a gente percebeu de fora que você entrou em quadra muito nervoso, até errando um pouco mais do que o normal, e se cobrava muito a cada ponto perdido, reclamando bastante consigo mesmo... (a pergunta prossegue)”.

Marcos Daniel responde, com o melhor sotaque gaúcho, tchê:

“Olha, eu acho que estava até mais tranqüilo do que eu pensei que era possível, pra te falar a verdade. Mas isso de eu falar sozinho é bem normal. Cada atleta tem o seu jeito de se cobrar, e o meu é de ficar falando sozinho em quadra. Isso não quer dizer necessariamente que eu esteja louco”, brincou.

...

Uma semana depois, em São Paulo. Noite de sexta-feira, escadão da Avenida Paulista. Eu sentado em um degrau, olhando o movimento dos carros na rua e das pessoas na calçada.

Até que eu mesmo me flagrei falando sozinho. Tive que me explicar.

“Bom, em momentos como esse eu preciso me ouvir. Cada um tem o seu jeito de tentar se entender, e o meu é ouvir. Isso não quer dizer necessariamente que eu esteja louco”, comentei comigo mesmo.

Lembrei desta tirinha do Calvin: a gente inventa cada coisa em vez de aceitar uma verdade dura e atroz...

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Singin' in the rain

Morar em uma cidade de clima extremamente instável pode proporcionar acontecimentos muito ruins, como ser pego de surpresa por uma chuva torrencial no final de um dia bem ensolarado.

Já acostumado ao mau tempo súbito do local onde morava, aquele cara desenvolveu um hábito, digamos, inteligente: sempre andar com um guarda-chuva na mochila. Mal sabia ele, no entanto, que isso mudaria sua vida.

Justamente em um dia que terminou com uma baita chuva, o tal cara se preparava para atravessar uma alameda da avenida mais movimentada da cidade. Mas antes mesmo de chegar à esquina, viu uma garota que, coitada, tentava se proteger dos pingos de qualquer forma sob a jaqueta pequena. Sem sucesso, claro.

Ele chegou ao lado dela e cobriu-a com o guarda-chuva. Ela, claro, se assustou e olhou feio para o cara. “Hey, don’t take it bad”, pronunciou ele, com um sotaque londrino meio forçado. “Well... thank you!”, respondeu ela, em um inglês improvisado.

Ao ouvir o agradecimento da garota, o rapaz sorriu. “Girl, refrain. Take a sad song and make it better”, continuou, antes de tirar um fone dos ouvidos e oferecer à garota. Ela também sorriu quando começou a dividir a música e percebeu que tocava Hey Jude.

“Peraí, você é estrangeiro mesmo?”, desconfiou a menina. “Não, só não gosto de ver uma garota tão bonita pegando chuva e correndo o risco de, sei lá, se resfriar. Me permite?”, arriscou ele, esboçando um cavalheirismo. “Humm... tá, vai!”, cedeu.

Começaram a conversar e a andar lado a lado pela primeira vez. Algo que se repetiria em muitas outras oportunidades.

Ah, já ia esquecendo: e ele nunca mais andou de guarda-chuva. Preferiu aposentá-lo depois de render algo tão... bom? Diz ele que foi um pouco melhor do que isso.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

A saga, prefácio

Desde os meus primeiros meses de faculdade venho imaginando temas e mais temas para o famigerado Trabalho de Conclusão de Curso, que se tudo correr certo deverá ser entregue no final do ano que vem. Apesar das várias idéias que afloraram e não amadureceram muito nos últimos dois anos, a minha única certeza era o formato do projeto: um livro.

Pois bem. Acontece que na última segunda-feira tive a minha primeira aula específica para o tal do TCC. O professor conseguiu o que queria: me botar um bocado de medo ao imaginar que a entrega do trabalho acontecerá em menos de 20 meses. E o pior: que eu deveria começar a me movimentar desde já.

Confesso que tinha quatro temas um pouco desenvolvidos na minha cabeça. Aproveitando o expediente matinal na quarta-feira, dei um pulo no quinto andar para discutir o tema com o Celso Unzelte, que assim como o LM faz parte do meu top 2 de professores acadêmicos, e debati rapidamente sobre as quatro idéias.

“Olha, essa primeira que você falou é a melhor de todas. Uma idéia muito boa, viu, Felipe?”.

“Ah, bacana, professor. Eu também achava que era a mais forte, embora pudesse ser meio non-sense ou sem lá muito interesse”.

“Não, não. É uma idéia muito legal, e se você for ver não deve ter nada igual no mercado”.

“É verdade, eu dei uma olhada rápida e não encontrei. Então... bola pra frente?”

“Sim, bola pra frente. Amadurece mais esse tema e depois a gente conversa”.

“Ok... ah, e mais uma coisa: você acha melhor fazer sozinho, ir atrás de alguém com quem dividir...?”

“Olha, se for pra você arranjar alguém que mais atrapalha do que ajuda, faz sozinho que é até melhor. Mas vai de você”.

“Beleza. E... posso contar com você como meu orientador?”.

“Claro, Felipe, claro. Precisando, eu tô aqui”.

Sensação de alívio: a primeira batalha foi vencida. Só faltam agora nove mil, quatrocentos e noventa e cinco passos até o final...

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Sobre começos e fins

Um dia bem ensolarado no interior de São Paulo. Eu, fritando os miolos e bronzeando meu laptop nas arquibancadas do Tênis Clube de Sorocaba, assistia à primeira partida do confronto entre Brasil e Colômbia, pela última rodada do Zonal Americano da Copa Davis, entre o representante nacional Thomaz Bellucci e o visitante esquentadinho porém simpático Santiago Giraldo.

Um pouco estafado após acompanhar dois longos sets do jogo, comecei a prestar um pouco de atenção no que se passava ao meu redor. Notei que o velhinho ao meu lado, que se apresentava como tio de um dos jovens mais promissores do tênis brasileiro cujo nome não vem ao caso, havia acabado de acender um cigarro.

O cigarro de filtro bege que ele consumia pouco parecia diminuir de tamanho no começo, apesar das várias tragadas e batidas de cinza do meu colega de comentários críticos aos erros do Bellucci ou de elogios depois de algum lampejo de gênio. Parecia não ter fim.

Então voltei meus olhos para a quadra, onde os dois tenistas haviam começado a disputar um ponto. Quando me virei para fazer mais um comentário de jogo ao velhinho, notei que o cigarro já se encaminhava para o seu fim, quase se aproximando da bituca. Cada puxada de fumaça fazia com que a chama consumisse uma boa parte do que restava antes do filtro.

Não demorou muito para que o velhinho desse mais uma tragada - a final -, olhasse que não havia mais o que fumar e apagasse a sua droga nicotiana. Enquanto ele ainda se recuperava da alta concentração de alcatrão e mais não sei quantas mil substâncias tóxicas avisadas pelo Ministério da Saúde, acabei viajando um pouco.

Proporções, relevâncias e besteiras à parte, veio à minha cabeça um paralelo do cigarro e um acontecimento qualquer que acontece em nossas vidas. O começo sempre parece ser muito, muito longo e é difícil imaginar que em algum momento terá um encerramento. De uma hora pra outra, no entanto, o temido fim dá as caras. E rapidamente o ato se esvai, deixando nada além de... de lembranças? Talvez seja.

“Porcaria de cigarro! Hoje em dia fazem as coisas para não durarem muito, mesmo. A gente fuma um pouquinho e, quando vê, já acabou”, reclamou o velhinho.

Não é só o cigarro. Tudo (ou pelo menos quase) é assim. E a gente, preocupado em fazer com que o começo seja o mais longo possível e nem pense no assombroso término, acaba não vivendo o ‘meio’. Raramente temos consciência de que o começo já não é mais tão começo assim e o fim não está tão longe como achávamos.

Ele acendeu mais um cigarro. Metaforicamente ou não, a gente sempre acende mais um. E vive todo esse drama de começos e fins – sem meio – mais uma vez. É a lógica da vida.

domingo, 13 de abril de 2008

Atemporalidade

No começo deste ano, o Bronzatto decidiu divagar sobre o tempo enquanto estava diante do Big Ben, em Londres, durante sua viagem a Londres. Apesar de sensacional, o texto não me inspirou. Tinha na minha cabeça uma relação bem básica com o tempo – que, no fundo, apenas refletia a minha impaciência.

E o tempo não me inspirava: tenho o costume de bolar uma crônica no instante em que algo acontece na minha vida ou um pensamento vem em mente. O tempo, desta forma, não tinha vez.

Ledo engano (ainda bem!). Faz alguns meses, comecei a pensar um pouco mais no tempo. Na minha relação com o tempo. E percebi o quão dual tudo pode parecer.

Por exemplo: meu expediente tem, normalmente, cinco horas de duração. Mas nem todos os dias essas cinco horas são iguais. Quando trabalho de manhã, parece que trabalhei apenas uma hora. À tarde, por exemplo, o tempo custa, mas custa muito a passar.

Algumas semanas atrás também andei gripado, bem gripado. Racionalmente, sabia que os sintomas se esvairiam de mim em um, dois dias e depois nem me lembraria da gripe. Vivi dois dias que duraram um mês e, uma semana depois, olhava para trás e lembrava: “Nossa, como passou rápido! E ah, a gripe nem era tão forte assim, vai!”.

Comecei a desenvolver uma relação intensa com o tempo, que nunca seguia o meu desejo: custava a passar quando eu queria viver rapidamente e passava num piscar de olhos quando rezava para que ele demorasse absurdos.

Houve tempos em que eu cheguei a me esconder do tempo. Quando saía com minha última grande paixão, por exemplo, ‘expulsava’ o tempo da minha vida assim que me encontrava com ela: tirava o relógio do meu pulso e guardava-o no fundo da mochila. “Não quero ver o tempo passar enquanto estiver com você”, dizia eu com um brilho nos olhos. Foi uma época em que as medidas temporais não faziam a menor diferença. Foi uma época... atemporal.

Nos últimos dias, tentei desvendar o ‘mistério’ do tempo. Cheguei a uma conclusão bem simplória, admito. Disse até para o Mané um dia desses, quando batíamos o cartão para demarcar quanto tempo havíamos ficado na redação: “o tempo não faz o menor sentido, cara. A gente que faz com que ele tenha algum sentido”.

Vai dizer que você, caro leitor, nunca reencontrou alguém na rua e comentou algo do tipo “Nossa, quanto tempo! E parece que foi ontem!”? E foi justamente essa a sensação que eu tive quando revi uma antiga amiga pela primeira vez em dois anos.

Confesso aqui o meu pensamento nu, cru e pueril: na última vez em que a gente saiu, se ela tivesse me falado ‘até daqui dois anos, Fê’, eu teria contado no relógio cada segundo que me separaria do reencontro. Como ela não disse e a gente acabou não se vendo mais, apenas deixei o tempo passar.

Senti saudades, claro, mas era uma saudade que não tinha prazo, poderia acabar a qualquer momento com um reencontro inesperado – e, por isso, não machucava tanto assim. Seria pior, muito pior, a saudade contada. A saudade com um fundo racional (as medidas de tempo, no caso) machucaria muito, muito mais. Angustiaria.

Hoje, quando torço para que os dias passem o mais rápido possível, fico imaginando como tudo será daqui alguns anos. Talvez eu olhe para trás e veja que o tempo passou rápido demais. E nem lembre que, hoje, conto os meses, os dias, as horas, os minutos e até os segundos. A gente nunca lembra.

Todo mundo aqui já ouviu aquele velho clichê de que ‘o tempo é o melhor dos remédios’. Mas ninguém nunca diz que, quando você pensa no tempo e tenta manipulá-lo, ele se torna o maior inimigo de sua felicidade. E aí sim você vai precisar de remédios. Drogas fortes, talvez, vendidas apenas com recomendação médica.

Resumindo: o que é o tempo? Uma criatura criada por nós mesmos. Uma criatura que se torna monstruosa e assustadora quando temos que enfrentá-la. Mas um monstrinho inofensivo, que no fundo até é bonitinho e sábio, quando está longe de nós.

(Mais uma vez, algo esquecido nas pastas perdidas do computador há algumas semanas. Um extremo cansaço mental me impede de ser atual. Mas em breve retornaremos com a nossa programação normal)

sábado, 12 de abril de 2008

Sorriso amarelo

Por melhor que possa estar o humor de um ser humano por inúmeros motivos, não é raro que haja uma reviravolta originada misteriosamente e que tudo seja alterado.

Era uma noite de sexta-feira quando eu percebi que a minha maré de sorte tinha sido modificada. Saindo da faculdade, coloquei as mãos nos bolsos, baixei a cabeça e segui meu rumo ao metrô. Nem parei no bar. Não era dia de diversão, pelo menos para mim.

Cheguei em casa umas 21h30, peguei qualquer coisa na geladeira para jantar e meu telefone tocou. Um amigo me chamava pra ir justamente a um bar. Vacilei ao aceitar, mas acabei achando melhor conversar com alguém. Não era dia de diversão, mas era dia de papos em uma mesa de bar.

Após algumas cervejas, abri a porta de casa novamente às 3h10. Troquei de roupa rapidamente, me atirei na cama e abri os olhos três horas depois. Escancarei a janela e vi um sábado cinzento, frio, quieto e ameaçador. Relutei, mas saí da cama, vesti qualquer roupa de frio e parti para o trabalho.

Ok, estava vivendo um mau momento pessoal, passando frio em um sábado de manhã, tinha dormido pouco e iria trabalhar. Não tinha o menor motivo para sorrir, mas ainda assim achei melhor estampar um sorriso no rosto. Um sorriso mambembe, eu sei, mas ainda era um sorriso.

E foi com esse sorriso que pedi o jornal na guarita do condomínio: “Opa, bom dia... vê o Estado do 1013, por favor?”. O porteiro olhou para mim com uma interrogação no rosto e pediu para eu repetir. Cético e sem sorriso, repeti e recebi o jornal.

Continuei minha jornada. Após pegar metrô e tudo mais, fiz uma pausa na loja de café para conseguir uma razão forçada para ficar acordado. A primeira atendente perguntou o que eu queria. Com um sorriso, respondi “Um café do dia tamanho tall, por favor”. Ela não entendeu e tive que repetir, novamente sem sorriso. “Café do dia. Tall”. “Ah, café do dia, né? E... qual o tamanho?”. “Tall”. “Qual o seu nome?”. “Felipe”. “Guilherme?”. “Não, Felipe”.

Subi a Campinas, virei na Paulista, atravessei na faixa, entrei no corredor do número 900 e parei na recepção, ainda tentando ostentar um sorriso no rosto. “Opa, bom dia... o 12 tá aberto?”. “O quê?”. Mudança de expressão facial e repeteco. “Já abriram o 12º andar?”. Ele não respondeu. Apenas pegou a chave e me pediu para assinar no livro de visitas.

Lembrei de um tempo em que nada, nada me atingia. Foi bom aquele tempo em que eu andava com um sorriso verdadeiro no rosto e era entendido sem precisar falar um A sequer.

Mas percebi que, diante de uma tormenta, não adianta tentar forçar um sorriso: você não será compreendido. E isso apenas tornará as coisas mais ameaçadoras. E foi justamente com esse pensamento que eu cheguei no meu computador e me afundei na cadeira para mais um dia de expediente.

(texto escrito alguns muitos meses atrás, mas que ganhou seu espaço neste humilde blog apenas hoje, pelo meu cansaço mental de produzir alguma coisa nova)

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Amém

Um dia desses, voltando da minha primeira viagem bate-volta a Sorocaba, a Manchester paulista.

Cansado da viagem de pouco mais de uma hora de duração, cheguei à redação e fui chamado pelo chefe em sua mesa. “Felipe, Marcelo (Ferrelli, o fotógrafo que me acompanhou na longa jornada)... venham cá, por favor”, pediu, com dois envelopes pretos na mão. “Acabou de chegar para vocês”.

Na hora achei que era apenas o credenciamento de imprensa para a Copa Davis que havia chegado. O pensamento, contudo, mostrou-se errado instantes depois, quando recebi também uma bolsa da Adidas.

Para não errar mais nas minhas previsões, decidi abrir o envelope com o meu nome e vi que era o agradecimento da Adidas pela minha presença no evento do Zidane em São Paulo. “Bacana, poxa. Achei que nem iam dar presentinho nenhum...”, comentei comigo mesmo.

Abri então a bolsa e vi que tinha ganhado uma bola da Adidas. Não lá uma bola oficial, mas uma Finale Mini, daquelas que a criançada gosta de usar para treinar embaixadinhas e umas firulas. Claro que gostei bastante – receber presentes fora de época é deveras interessante!

Mas, devo confessar, o que mais me animou nessa história toda foi quando reli o cartão enviado pela Adidas: “Prezado Filipe, a Adidas agradece sua participação no evento Zidane na cidade. Contamos com a sua presença nas próximas ações até a Copa de 2014. Atenciosamente, equipe Adidas do Brasil”.

Tá bem, eles tinham errado meu nome no cartão e isso já era motivo de sobra para eu apenas relevar a mensagem com as frases pré-fabricadas e tudo mais. Mas... sei lá, fiquei bem empolgado e até lancei um sorriso quando li a parte do “até a Copa de 2014”.

Confesso que pensei baixinho comigo mesmo: “amém!”.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

I Prêmio Biro Biro de jornalismo esportivo

Não é novo o jargão ‘mente vazia, oficina do demo’, não é mesmo? Apesar de a cada dia constatar mais e mais que o ócio não leva a nada senão a surtos sem muita explicação, acabei tirando uma boa lição disso tudo. Como? Eu explico.

Voltando do meu primeiro dos quatro bate-voltas a Sorocaba, fui pego de surpresa com a bomba da redação. Biro Biro, ex-jogador do Corinthians, havia passado pela Gazeta naquela tarde para divulgar a sua nova empreitada profissional: provar que foi melhor do que Maradona (a Carol Canossa relatou aqui o que sentiu ao ver o bizarro veterano e a Coca-Cola até decidiu patrocinar a campanha de que Biro Biro foi mesmo melhor que o Dieguito).

Assim que coloquei a mochila no chão e liguei o computador para a segunda parte do trabalho, fui surpreendido pelo Pedro, que me explicou os detalhes da campanha e de uma competição interna criada pela redação: a melhor nota do dia ganharia o kit Biro Biro.

Na hora, acabei me lembrando da notícia que eu havia escrito ainda em Sorocaba. Em mais um capítulo da minha sina com a tecnologia, o que eu havia escolhido para me acompanhar à Manchester paulista não tinha acesso à internet. Ou seja, tive tempo de sobra sem nada para fazer e apenas pensar em besteiras da vida.

E justamente enquanto eu estava pensando na vida, o capitão da equipe brasileira lançou a seguinte frase sobre o confronto com a Colômbia pela Copa Davis, que começa sexta de manhã: “A guerra começa amanhã às 10 horas e só termina no domingo”. Não demorou para eu me pensar em uma notícia diferente e com um pouquinho de humor, seguindo os dogmas do jornalismo criado por Eduardo 'El Loco' Carneiro.

Lembrei da notícia engraçadinha e avisei ao pessoal da redação que já tinha a minha escolha para concorrer ao kit do Biro Biro. Assim que li o título, o chefe me chamou em sua mesa e me presenteou com o kit – que tem bottom, fitinha de Nossa Senhora do Bonfim, camiseta e até uma peruca do Biro. Orgulho: meu primeiro prêmio no jornalismo.

Agora, só me resta dizer: vá ao boteco e participe! Eu, aliás, já ganhei cinco tampinhas para votar.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Primeiras impressões sobre a Manchester paulista

Uma menina certa vez, cerca de um ano e meio atrás, veio vasculhar o meu Orkut. Dei uma passada pelo dela logo em seguida e ela, pouco depois, tornou a olhar o meu. Percebi que ambos gostávamos de Fonzie, uma banda portuguesa de pop punk com letras em inglês e que fizera shows no Brasil em 2004.

Começamos a trocar um recado ou outro sobre o grupo lusitano. Papo vai e papo vem, trocamos MSN, começamos a conversar com mais freqüência e descobri que ela era de outra cidade: Sorocaba.

Ela, a Nínive, se tornou uma amiga e tanto. Daquelas bem divertidas, que não raro me arrancava risadas em plena madrugada. Mesmo sem tê-la conhecido pessoalmente, adquiri até que um certo carinho por Sorocaba (também conhecida como a 'Manchester paulista', por ter sido no século retrasado expoente da indústria têxtil no Brasil, bem como era a cidade inglesa no Reino Unido) e passei a ter vontade de conhecer o tal município – e, claro, a amiga.

No entanto, por causa da minha escala alternada de plantões aos finais de semana, raramente conseguíamos combinar uma data ou outra para nos conhecermos pessoalmente. E quando a Nínive vinha para São Paulo por motivo ou outro, eu sempre estava atarefado no trabalho. Acabou que a Nínive passou na USP de Ribeirão Preto e partiu pra tal cidade longínqua, abandonando Sorocaba. E eu acabei colocando na minha cabeça que tão cedo não conheceria o município interiorano, casa do Atlético e do São Bento.

Até que umas duas semanas atrás meu chefe me chamou em sua mesa e pediu o número do meu RG. “É para o credenciamento da Copa Davis”, explicou. Eu, que desde o final do ano passado já tinha indícios de que os confrontos do Brasil na principal competição de tênis masculino entre países seriam realizados em Sorocaba, me animei bastante em conhecer o local. Mesmo com aquela que seria a minha anfitriã não estando na cidade me receber.

Fui para Sorocaba pela primeira vez na última segunda-feira à tarde, para a apresentação da equipe brasileira. Após dormir nos primeiros quilômetros de estrada, acordei no banco de trás já em território sorocabano e a primeira coisa que vi foi o céu azul com algumas nuvens lá no alto e uma outra peculiaridade: havia muitas nuvens muito, muito próximas da estrada, bem baixas. Parecia até que estava dentro delas ou, então, de um avião.

Não pude, então, deixar de mandar uma mensagem no celular da minha amiga: “Sua cidade tem nuvens muito baixas, pequenina. Ainda não entrei na cidade em si e só estou na zona da roça, mas gostei da primeira impressão que tive”. Ao enfim adentrar à cidade, vi uma placa de boas-vindas com alguns dados sobre Sorocaba (do tipo número de habitantes e coisas assim). Simpático, bem simpático.

Meu tour por Sorocaba não foi longo. Rapidamente subimos (motorista da Gazeta, Marcelo Ferrelli e eu) uma estrada de terra, chegamos ao local, o Spa Med, vimos a rápida coletiva e voltamos pra São Paulo.

Amanhã, no entanto, inicio minha série de quatro bate-voltas para Sorocaba até domingo, último dia do confronto entre Brasil x Colômbia na Davis. Só então poderei dar mais impressões sobre a Manchester paulista.

Mas as primeiras, claro, foram muito, muito boas.

terça-feira, 8 de abril de 2008

O casamento de uma antiga paixão

Tive recentemente um reencontro com uma antiga paixão e fui pego com uma notícia assaz surpreendente: ela estava namorando. A novidade, claro, me gelou de cima a baixo.

Não pelo fato de ela estar com um cara – era justo ela estar com alguém depois de tanto tempo (até porque eu mesmo já tinha vivido algumas outras paixonites por aí nesse meio-tempo) –, mas sim porque não estava preparado para ouvir quem era o cara: ninguém menos do que Andy Roddick, tenista norte-americano atual número seis do mundo.

OK, um antigo casinho meu estava saindo com o Roddick? Não, não era possível. Voltei para casa tentando colocar a cabeça no lugar e deixar o tempo passar. O tempo de fato passou, e quando dei por mim estava de havaianas, bermuda e camiseta em um banco de igreja. Coincidentemente, com a família da minha antiga paixão.

“Que bom que você veio, Felipe! Ó, esse banco aqui da frente é para a família da noiva. Eu sento aqui, o pai ali, a irmã dela senta aqui... e ela senta aí na sua frente, tá?”. Não entendi muito bem por que a minha antiga paixão iria se sentar à minha frente em pleno casamento dela, mas não fiz oposição. Apenas apoiei a perna esquerda sobre a coxa direita e esperei a cerimônia começar.

Então a marcha nupcial soou. Ela, acompanhada pelo pai, foi deixada no altar (não, não precisou sentar-se na cadeira em frente à minha) e eu a olhei pela primeira vez após tanto tempo. Estava linda, linda como antes. Cabelo, olhos, rosto, corpo... linda, linda! Eu mesmo comecei a me imaginar de smoking entrando na igreja, pronto para receber essa antiga paixão para o resto dos meus dias.

Mas acordei do devaneio quando a mãe dela me chamou a atenção: “Olha, o Peer vai entrar. Olha!”. Não pude deixar de perguntar: “Peer? Mas ela não ia se casar com o Andy Roddick?”. “Não, não... ela terminou com o Roddick há duas semanas e conheceu esse cara holandês, o Peer. Gostou tanto dele que vão se casar”.

Peraí!? Ela estava namorando o Andy Roddick e tinha terminado pra casar em menos de 15 dias com um holandês chamado Peer? E por que diabos ela tinha entrado antes na igreja, e não o tal holandês? E o que eu estava fazendo no casamento dela? Aliás, o que eu estava fazendo em um casamento de chinelos e bermuda?

Eram incertezas demais para mim. Por sorte, abri os olhos e vi que estava na minha cama. Na televisão, a vinheta anunciava que Padrinhos Mágicos estava prestes a começar. Ou seja, tinha sido apenas um sonho. Bem maluco, mas um sonho.

Menos mau.

--

Em solidariedade ao Mané, o primeiro a ouvir tal relato esdrúxulo de um sonho vivido por mim e que não me achou tão louco. E um dos poucos que já sonhou bater bola com Rafael Nadal e marcar um golaço de pênalti na Xuxa.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Psicologia no volante

Aprendendo a dirigir, sessão dois. Sábado, comecinho da noite. Mais uma vez, uma besta ao volante – agora no carro da mamãe – e o instrutor no banco do passageiro.

Tudo levava a crer que seriam duas horas relativamente normais, com uma morridinha aqui, uma buzinadinha ali, um errinho de marcha acolá... mas não imaginei que a aula me reservaria um momento, digamos, inesperado: algo semelhante a uma sessão de terapia com um psicólogo.

Estava em um carro com freios ABS. Acostumado ao freio sabe-se lá qual do carro da auto-escola, comecei a ter alguns probleminhas com a adaptação. Bastava uma pisadinha no pedal do meio para o carro parar com tudo e ativar o cinto de segurança. Mas com o tempo eu fui dosando o pé. Ou pelo menos eu achava.

Na movimentada Avenida Indianópolis, o semáforo mudou para o vermelho e os carros à minha frente começaram a parar. Fui reduzindo a velocidade aos poucos e passei a ouvir o instrutor ao meu lado: “freia mais, freia mais.... freia mais!”. Chegando a uma distância calculada do carro da frente, parei perfeitamente. Mas não ganhei elogios.

“O freio é ABS, mas você tem que frear antes, viu?”, recomendou o instrutor.
“Ah, é?”, contestei.
“Sim. Você ta confiando muito nos freios. Eles estão funcionando bem, mas não pode confiar tanto assim. É só a primeira vez que você pega esse carro”.
“Hum... ah, beleza”.

O semáforo abriu. Taquei a primeira, saí com o carro e fui. O instrutor, então, pediu a palavra.

“Cara, posso te fazer uma pergunta?”
“Claro, cara”.
“Percebi que você dirige meio que parecido ao seu jeito de pensar. Você costuma confiar assim nas pessoas, logo de cara, apenas porque ela te passou uma segurança um pouco maior?”.
“Hum, eh... sim”.
“Conselho de amigo: já te falaram que isso não é muito bom?”.
“Sim. Humpf”.

domingo, 6 de abril de 2008

Reencontro real (bem sucedido)

– Então você que é o Felipe Held?
– Acho que sim. Hahahaha.

Depois de muito, mas muito tempo, revia uma antiga amiga – que já ganhou destaque (não lá muito bom, admito) neste blog em algumas oportunidades (aqui e aqui também). Olhando novamente seu rosto após tanto tempo, não pude conter um sorriso de orelha a orelha. E nem ela.

– Quanto tempo faz que eu não te vejo? Dois anos? – perguntei.
– Humm... olha, bastante. Acho que sim, humpf.

Alguns segundos de pausa. Ninguém precisou manifestar sentimento ou impulso algum e, mutuamente, nos abraçamos fortemente.

– Não vou te soltar tão cedo, tá? – avisei-a. Vai que eu te solto e depois você some assim de novo, do nada? Não, agora eu não te solto.
– Hahahahahahaha.

E continuamos abraçados por um bom tempo, até que começamos a conversar. Tínhamos tanta coisa para colocar em dia, tantas novidades antigas e novidades novas para contar... era tanta coisa ao mesmo tempo que quase ficamos sem assunto.

Batemos um bom papo durante um bom tempo. Na hora da despedida, no entanto, não pude deixar de expressar toda a minha insegurança.

– Calmaí, deixa eu fazer as contas... hum, estamos em 2008, né? Então quer dizer que agora a gente diz 'até 2010'?
– Não, é 'até 2022'.
– Tanto tempo assim?
– Claro que não, bobo. Até semana que vem, certo?
– Fechado!

Demos mais um abraço, tão forte como o primeiro. Então nos soltamos, nos olhamos e sorrimos. Até que ela interrompeu o silêncio.

– Ah, dá mais um abraço logo, vai!

Não pestanejei. E tive a certeza de que, desta vez, a antiga amizade não corria mais risco.

E pensar que, pouco menos de dois meses atrás, passei a temer reencontros - tudo por causa do reencontro com a minha primeira ex-namorada. Não é segredo para ninguém que revê-la não foi lá muito bacana para mim, e tal experiência acabou sendo relatada neste espaço.

Mas as coisas costumam mudar, claro. Especialmente se o reencontro acontece em São Caetano do Sul, a Monte Carlo brasileira.

sábado, 5 de abril de 2008

Sobre o medo da saudade

Sou um cara que se apega muito à sua rotina e, em certos momentos, tem até medo de pensar que as coisas podem mudar. Para ser sincero, acabo me acomodando bastante diante de um dia-a-dia que me agrade e, mesmo que não seja o ideal, me satisfaça.

Por ser bem metódico, acabo me acostumando com o que tenho em mãos. E cada tentativa de mudar algo que já está praticamente consolidado me custa horas, dias e até semanas de uma penosa adaptação – por menor que seja o detalhe.

Um exemplo? Fácil. No finalzinho do ano passado, comprei tênis novos. Embora fossem da mesma marca que o par anterior que me acompanhou diariamente por longos 13 meses, foi bastante complicada a adaptação no começo. Por se tratar de um modelo diferente, confesso que até tive problemas de equilíbrio diante do novo solado. Algumas vezes eu até me desequilibrava e quase caía. Bizarro, eu sei.

Outra coisa que mexeu bastante comigo recentemente foi quando troquei de relógio depois de 12 anos. O Ironman que eu havia ganhado do meu tio aos sete anos de idade acabou dando seus últimos suspiros. Com 19 anos, comprei um novo marcador de horas e achei que tudo estava resolvido. Nem tanto: andar com um novo bolachão no pulso me custou uma adaptação de algumas longas semanas.

Recentemente, tive uma grande, grande mudança em meu cotidiano. Após perder meu falecido ipod (in memoriam), acabei voltando à velha e antiquada (?) tecnologia do MP3. Uma adaptação bastante dolorosa, mas que aos poucos vem dando resultado. Pelo menos pude voltar a me distrair ouvindo Beatles indo para o trabalho.

Depois de tantos exemplos banais, não precisaria nem dizer o quanto me assusta a idéia de uma despedida, o quanto me assombra a perspectiva de não ver mais uma pessoa bastante importante para mim. Mas, com o tempo, acabo me acostumando.

No ano passado, por exemplo, o André arranjou coisa melhor e saiu da redação. Achei que o mundo mudaria completamente depois disso. Editor a quem eu dedicava a minha contratação na Gazeta, ele ainda me pegou de surpresa em sua despedida oficial: “Pode apostar que eu continuarei sendo leitor fiel do Cavaleiro com Solitária”, contou. Uma honra para quem lia diariamente o Marmota, Mais dos Mesmos há vários meses e jamais achava que era lido pelo chefe blogueiro.

Faz um tempão que não me encontro com o André, mas mato a saudade diariamente do tradicional “E amanhã tem mais” lendo seu blog. Não é a mesma coisa, é claro, mas a separação não é tão dolorida assim.

Hoje, mais dois editores se despediram oficialmente da redação. Os dois editores com quem eu mais aprendi nos meus últimos 16 meses de estágio. Não vou negar que ao me despedir do Narazaki, voltei a sentir aquela mesma sensação de “putz, e como vai ser daqui pra frente?”. Pouco tempo depois, no entanto, percebi que talvez tudo continue igual, e seja apenas eu que esteja criando fantasmas que sequer vão me assombrar dentro de duas semanas.

Claro que sinto um medo enorme e um vazio por dentro quando imagino que não vou mais me encontrar com uma pessoa bastante comum ao meu círculo social. Seria muito mais fácil manter pés atrás com todas as pessoas, não me relacionar com mais ninguém por causa do risco de perdê-las.

Por outro lado, é extremamente divertido e construtivo compartilhar experiências, dar risadas e viver momentos incríveis com as pessoas de um modo geral. Sim, apesar do risco de não tê-las mais de um dia para o outro.

A perda dá medo? Claro que dá. Mas se você acha melhor deixar de viver algo especial por causa do medo de algo que ainda nem aconteceu, me desculpe: algo está errado.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Vencido pelo cansaço

“Chega um momento da vida em que um homem precisa ter um carro”. Era uma noite de quinta-feira, e eu estava no banco de trás de um carro de reportagem, olhando para o trânsito na Nove de Julho e com a testa apoiada no vidro, quando tive esse pensamento. Estava prestes a fazer a minha estréia profissional em estádios, com São Paulo x Figueirense no Morumbi, pela Copa Sul-americana, em agosto do ano passado.

Sentindo o peso de ter 19 anos nas costas e ter que freqüentar à noite lugares exclusivamente perto do metrô, achei que estava na hora de tomar vergonha na cara e criar coragem de encarar o trânsito caótico da capital paulistana. Claro, também tive a idéia de escrever um texto sobre a tal descoberta e colocá-lo aqui. Esperei um bocado para amadurecer essa idéia e coincidentemente nesta quinta-feira, oito meses depois, cá estamos.

...

Nove horas da manhã, um dia chuvoso e eu no volante. Um perigo para a sociedade. Mas o mesmo instrutor da auto-escola que me ensinou a passar na prova do Detran (na segunda tentativa) estava lá para não deixar que eu fosse o responsável por uma catástrofe.

“Você lembra de tudo? Aqui você arruma o banco, depois mexe nos espelhos... você sabe, né? Quando quiser pode sair. Isso, dá a seta, engata a primeira e vai”.

Esperei um carro passar, engatei a primeira, soltei o pedal do freio, pisei no acelerador e comecei a conduzir o mesmo Fox de dois anos atrás, quando tirei a minha carteira de habilitação (aquele documento que eu uso apenas como RG, já que nunca achei que precisava dirigir: “Ora, eu moro, estudo e trabalho próximo ao metrô. Por que carro?”, pensava, com certa razão).

Os 50 minutos em que eu estive no comando de um veículo motorizado passaram de forma bem rápida. Milagrosamente, não deixei o carro morrer nenhuma vez. Mesmo nas piores subidas, mesmo com vários carros atrás de mim. Mesmo com a minha atenção dividida entre o trânsito e o bate-papo bacana com o instrutor. Orgulho.

A aula, então, terminou. E eu mesmo me avaliei para o instrutor: “Putz, eu achei que estava bem pior! Mesmo fazendo um ano e meio que eu não dirigia coisa alguma, senti que estava muito melhor, mais confiante... poxa, me surpreendi, cara! E olha que eu nem saí de casa com os meus óculos”.

Claro que ainda cometia alguns errinhos básicos, como não soltar todo o acelerador na hora de trocar a marcha. Mas o mais grave mesmo era o meu tédio quando pegava uma rua um pouco maior e, por instinto, começava a mexer os braços. Os braços cujas mãos seguravam o volante. E o carro devia fazer ziguezague pelas ruas.

O saldo desse meu reencontro com o volante foi... foi neutro, ainda bem: nenhuma morte, nenhum ferido, nenhum carro amassado, nenhum acidente. Embora ainda reconheça que precise de uma aulinha ou outra pra pegar mais prática e ainda mais confiança, até que me empolguei com essa história de dirigir.

É esperar pra ver.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Fazendo amizades na rodoviária

“Oi, eu sou estudante de jornalismo e estou fazendo uma reportagem sobre a rodoviária. Queria te entrevistar, pode ser?”.

Acostumado a me apresentar como o ‘Felipe da Gazeta’ por aí, ainda vejo que a minha abordagem para entrevistas fora do campo esportivo não está lá muito boa. Tanto que uma das respostas que eu recebi para essa pergunta foi uma outra pergunta.

“Peraí. Você quer me entrevistar pra saber se eu vou fazer faculdade?”, perguntou a funcionária da rodoviária. Não pude deixar de sorrir e explicar direitinho o que acontecia. “Não, não. Eu faço faculdade. É, de jornalismo. E eu tenho que fazer uma reportagem sobre a rodoviária e achei que te entrevistar seria válido”.

Todo estudante de jornalismo sabe que ninguém em sã consciência trata bem estudantes de jornalismo (uma classe de joões-ninguém que sonham em ser alguma coisa não muito lá relevante em um futuro próximo). Mas não aquela funcionária da rodoviária.

“Nossa, que legal! Eu nunca fui entrevistada, pode me entrevistar sim. E... poxa, eu nunca conheci ninguém que fizesse faculdade de jornalismo. Sabe, eu queria fazer jornalismo. Tenho um caderninho onde escrevo poemas, uns desabafos meus....”.

‘Peraí’, pensei comigo mesmo. ‘Ela quer fazer faculdade de jornalismo, escreve... poxa, parece ter um potencial pra coisa. Mas... calmaí’, me interrompi. “Desculpa a pergunta chata, mas... quantos anos você tem?”, perguntei. “Ah, 17”. Surpresa: tratava-se de uma menina novinha já trabalhando. Bom, tudo bem.

Entre uma pausa e outra para que ela fizesse o trabalho dela, passei três horas daquele dia conversando com a menina que um dia queria fazer jornalismo. Descobri que ela tinha uma vida maluca, dormia quatro horas por dia, trabalhava, estudava, fazia cursinho... dava preguiça até de pensar.

Achei bonitinho quando uma hora a menina pegou um guardanapo e escreveu para mim o e-mail dela. “Você é legal”, sintetizou. “Poxa, obrigado, você também, eh... Aliás, qual o seu nome?”. Eu fui descobrir o nome dela apenas depois de 1h30 de conversa. Não era a nossa prioridade saber detalhes um da vida do outro. Nosso papo non-sense estava muito mais bacana.

Qual era a minha prioridade com ela? Não é difícil responder: precisava muito conversar com alguém, preencher minha cabeça naquele dia ocioso de folga. E a menininha funcionária da rodoviária foi a minha melhor amiga em um momento conturbado criado por mim mesmo, alguém com quem eu precisava conversar.

Voltando juntos para casa, não pude deixar de ser um pouquinho sincero com ela: “Acabei nem te entrevistando, mas valeu muito mais a pena só conversar com você. Tava precisando dar umas risadas, mesmo. Obrigado, menina”, agradeci.

É clichê dizer que as portas do metrô se fecharam e eu achei que a gente nunca mais se veria? Pelo sim e pelo não, assumo que tive essa sensação. Claro que a adicionei no MSN, mas sei que vamos conectar e não teremos assunto.

Já faz algumas semanas que a adicionei e a gente nem se encontrou online, pra falar a verdade. Mas pelo menos teremos a lembrança de que fomos bons amigos durante aquelas horas.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Saudades de Marisa

Era rotina em 2007: todos os dias, após dormir muito pouco e acordar cedinho, eu comprava um café na lanchonete de qualidade questionável do prédio do trabalho, pegava o elevador, batia o cartão minutos antes das 8 horas e, antes de engolir seco a solução de água quente com cafeína, sempre parava no bebedouro para tomar um copo de água gelada.

O porquê da água gelada? Sempre disse para o Mané que era pra limpar meu organismo antes de eu poluí-lo ainda mais com o café do Monet. Mas a verdade nua e crua é que era mania minha mesmo. Eu simplesmente achava que precisava tomar um copo de água gelada antes do café quente.

Só que com o tempo passei a notar um papel afixado na parede logo em frente à fonte de água: o controle de limpeza do bebedouro. Nele, a responsável pela limpeza anotava a atividade realizada (limpeza externa, limpeza do filtro, troca de mangueira ou troca do filtro), o dia em que esteve por lá e deixava a sua assinatura.

E as anotações eram parecidas: a cada três dias, mais ou menos, a responsável pela limpeza anotava lá o código para a limpeza do filtro e a externa (3 e 4, respectivamente) e deixava lá o seu nome. E todos os dias eu via o mesmo nome assinado: Marisa.

Passei um ano inteiro vendo a assinatura da Marisa logo cedo. Romanticamente, daria até para dizer que era uma das primeiras coisas que eu via todos os dias. Não, lógico que não! Mas claro que comecei a reparar no relatório de controle da limpeza do bebedouro do 12º andar.

Com certo tempo, passei a notar que a linha tênue da assinatura da Marisa podia variar de uma limpeza para outra. Tinha dias em que ela estava com pressa e mal dava para distinguir as outras letras depois da primeira letra do nome. Tinha dias, talvez com mais tempo, em que ela fazia uma letra redondinha. Às vezes, bem-humorada, até fazia uma voltinha nas perninhas do M. Em um dia mais triste, contudo, ela mal se lembrava de colocar o pingo no i.

Resumindo: ainda que eu não fizesse noção alguma de como era o seu rosto, dava para saber um pouquinho da vida da Marisa apenas vendo a assinatura dela naquele papel afixado próximo ao bebedouro. Tinha dias em que eu até bebia dois copos de água porque via a data e sabia que o filtro estava limpinho: “Ah, hoje a Marisa passou por aqui!”.

Até que um dia desses, em que não comprei café no Monet – que há uma semana vem sendo boicotado por freqüentadores do famigerado prédio da Paulista, 900 – e cheguei no trabalho logo cedo com um copão do Starbucks na mão, notei algo diferente quando parei para beber água. A Marisa havia perdido o posto de limpadora do bebedouro. Agora, Madalena assinava a ficha.

Conheço a Madalena. Ela era a responsável pela preparação da solução de água quente com açúcar mascavo (chamavam aquela bebida bem docinha de café, mas tenho minhas dúvidas) que mantinha a Gazeta inteira acordada. Não foi um choque ver a Madalena na nova função, mas bateu aquela curiosidade: “E o que será que aconteceu com a Marisa?”

Hoje já estou me acostumando a ver o nome da Madalena na fichinha. Mas é complicado mudar algo que fez parte da sua rotina por 16 meses. Se eu, que apenas lia o nome da Marisa, já achava estranho... imagina para a própria Marisa, que certamente deve ter iniciado uma nova vida?

Vai saber.

terça-feira, 1 de abril de 2008

O dia em que eu mudei de nome

Se tem algum momento do dia em que eu sou mais facilmente manipulável do que o normal, esse momento acontece nas primeiras horas de um dia em que eu acordo cedo.

É quando eu aceito fazer as coisas que menos quero, é quando os primeiros pensamentos após acordar retumbam mais na minha cabeça do que o normal e atormentam um pouco mais as horas seguintes...

Talvez porque a minha sensibilidade esteja um pouco mais aguçada... sei lá. Resumindo, as coisas que acontecem logo cedo soam diferente para mim.

E justamente num dia desses de manhã eu ainda andava assim, meio sei lá pela Paulista. Estava frio, eu não tinha dormido muito na noite passada, estava atravessando a rua com um copão de café na mão e não estava com os fones de ouvido encaixados no ouvido.

Ouvi um chamado:

“Pepe!”

Dei mais dois passos e voltei a ouvir o chamado.

“Pepeeee!”.

Pensei em complementar: “Já tirei a vela!” no melhor estilo Chapolin Colorado. Mas fiquei quieto e dei mais um passo. E ouvi mais um chamado.

“Pepe! Ô, Pepe!”.

Olhei para o lado. Um cara dentro de um táxi acenava para mim. “Por favor, onde fica a rua fulano de tal?”. Dei a informação rapidamente, coloquei os fones no ouvido e segui para o trabalho.

Uma sensação diferente me incomodava, mas mesmo assim bati o ponto, cumprimentei os demais madrugadores do jornalismo esportivo brasileiro e me sentei na frente do computador como sempre.

Liguei meu velho computador, coloquei lenha, li alguns e-mails, respondi outros... tudo normal até aí. Então fiz a minha primeira notícia do dia e estranhei quando vi entre parênteses, no campo do autor da notícia, exatamente isso: (felipe)

Parei uns dois, três minutos para refletir. “É verdade, meu nome é Felipe e não Pepe! Putz, que mula!”. Mas essa confusão tinha um porquê: o cara do táxi não era o primeiro a me chamar de Pepe no espaço de um mês.

A conclusão disso tudo? Talvez meu nome seja Pepe não por opção própria, mas por maioria de votos.

Nota do autor: Não, este não foi um post estilo 1º de abril