sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Voltei a jogar xadrez

Não xadrez, aquele jogo tradicionalíssimo em que se senta em uma cadeira dura em frente a um tabuleiro quadriculado com peças de madeira e passa minutos movendo peça para cá e para lá, batendo dama ou cavalo com certa força sobre a mesa e dizendo xeque.

Voltei a jogar xadrez, mas web-xadrez. Lembrei que tinha comprado o Chessmaster em uma pechincha, por apenas 29 pratas, e que não havia instalado neste computador, e resolvi jogar. Não é aquela mística do estilo tradicional, com alguém do outro lado da mesa pensando tanto quanto você, mas... já é alguma coisa.

É legal ver como o jogo estimula sua forma de pensar e sua atuação no tabuleiro reflete seu momento pessoal. Já joguei xadrez caindo de sono ou antes de acordar e levei um pau do computador. Já pratiquei bem acordado, depois de alguns cafés, e consegui vitórias incríveis. Mas não é só isso, e eu explico a seguir.

É até assustador ver como certos detalhes da minha personalidade influenciam, sempre negativamente, meu jogo. Quase nunca consigo esconder um ataque, assim como raramente meus planos mirabolantes sempre são sacados por alguém antes mesmo de eu pô-los em prática. Sem falar nas atitudes pouco arquitetadas ou pensadas, que eu tomo no tabuleiro assim como na vida real e muitas vezes me estrepo.

Blábláblá à parte, estou voltando a adquirir a boa forma no xadrez. Ainda não estou nem perto do ritmo que eu tinha em 1999, quando aprendi a jogar, fazia aula, conhecia várias aberturas, táticas, macetes e até ganhei a medalha de ouro nas olimpíadas inter-escolares. Mas é bom perceber que, aos poucos, estou pegando o jeito novamente.

Sempre gostei desse Chessmaster, jogo que eu conheci justamente quando fazia aulas. É bom, prático, eu sempre tenho com quem jogar, posso encontrar adversários no computador de diferentes níveis e estilos. Alguns mais rápidos, outros mais pensativos, estratégicos, impulsivos... é bem diversificado.

Mas... não sei. Sinto falta de bater a peça com forma na mesa e falar xeque. Ou colocá-la suavemente na casa e não comentar nada, esperando a outra pessoa perceber o xeque e perdendo tempo enquanto não percebe. Falando em tempo, sinto falta de fazer um movimento e bater rapidamente no relógio de tempo. E de enganar o adversário, batendo suavemente sem que ele percebesse. Para reforçar, eu ainda fingia pensar mil vezes em um movimento fajuto. Confesso, cansei de fazer isso quando tinha 11 anos.

Sinto falta do barulho que eu fazia com as peças quando capturava as do rival. Em Buenos Aires, joguei xadrez com um alemão diretor de cinema e ele fez questão de aprender esse estilo de chocar uma peça com a outra.

Humm... para falar a verdade, sinto falta de um xadrez de verdade.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Inversão de valores

Uma coisa que realmente me incomoda é você ter a sorte grande de encontrar um espaço no meio-fio onde seu carro se encaixa e, basta você desligar o motor, aparece um cara com boné e bigode ralo fazendo um jóia com a mão e prometendo dar a vida pelo veículo. Tudo, é claro, em troca de algum trocado assim que você sair de perto. Do contrário, ele mesmo será o primeiro a destruir sua lataria e amaldiçoar você e suas próximas oito gerações.

Fico bem de cara em dar as moedas. Olhando por certo ponto, não deixa de ser um assalto. Amigável, mas um assalto. Mesmo assim, acabei cedendo e até deixei algumas moedas no meu carro já para ter algum troco à mão na hora de parar meu carro na rua. Mas pouco disso realmente interessa em relação ao que vem pela frente.

Acontece que parei meu carro na sexta-feira em um canto da Praça Roosevelt para tomar algumas limonadas em um dos bares mais legais da cidade – o tal do Papo, Pinga e Petisco. Antes mesmo de estacionar, um tal cara de boné e bigode ralo já fez sinal de que protegeria meu carro até da chuva que estava por vir e eu apenas concordei.

Então saí do carro e ouvi os termos do contrato: “Cinco conto e tá beleza”, ele disse. Respondi que acertaríamos na volta e ele não aceitou. “É que eu vou comer um dog enquanto olho seu carro, patrão”. Argumentei que não tinha trocado ali na hora (o que era verdade), mas deveria ter umas duas pratas no carro (eu deveria ter mais, talvez os cinco) e depois completava o resto. Ele concordou, eu peguei umas quatro moedas e entreguei a ele.

Então, assim que acionei o alarme do meu carro, o tal do guardião por uma noite tentou ser simpático comigo. “Você é gente fina. Burguês, mas é gente fina”. Não dei muita atenção, mas... parando para pensar, não entendi patavinas do que ele disse. Quer dizer... ao pé da letra, não.

Quando eu estava no colégio, na sétima série o professor de História explicou o que era um burguês: aquele que detinha os meios de produção do seu trabalho. E eu... bom, no meu trabalho, eu não tenho o domínio de um site, não faço os reparos técnicos, não uso o meu próprio computador e nem me sento à minha cadeira. Eu seria burguês se tivesse tudo isso, e não só as canetas que uso para fazer rabiscos e anotações durante o expediente.

Na verdade, o burguês da conversa era ele mesmo. Mas é claro, oras. Uma vez que o serviço dele é guardar carros, ele só precisa dele mesmo para realizar o serviço. Outro meio de produção que ele pode usar é o colete verde-água, que... ele mesmo comprou. E depois ele iria comer o hot-dog com o meu dinheiro, em alguma barraquinha de um burguês – dono do pão, da salsicha, dos condimentos e da própria van.

Pensando bem, ele era o burguês da história. Mas é tão mais simples dizer que alguém em uma condição financeira melhor é ‘burguês’ que o real sentido da expressão já é perdido por aí. Ele chamaria de burguês um fazendeiro – que, na tal designação histórica, seria o produtor rural.

Mas quem sou eu para explicar a ele tudo isso? Sou apenas o mero proletário. Que nem dorme de meias para ser burguês...

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Obelisco de Buenos Aires (una mula, II)

Uma vez eu estava num táxi andando pela Avenida Corrientes, lá em Buenos Aires, andando por uma região que era tipo o centro financeiro da Argentina. Era de tarde, umas 16 horas, o céu estava azul bem clarinho e o sol, brilhando. Um dia bem bonito.

Do táxi na Corrientes eu vi, lá no final da rua, o Obelisco. Aquela torre branca, fininha, que é um dos pontos turísticos de Buenos Aires. A cor do monumento contrastou bem com aquela tarde, e eu fiquei olhando bem o aproximar do edifício histórico. Então, passando pelo Obelisco, vi que não era nada de mais. Só um monte de cimento.

Tudo bem, o Obelisco portenho é bonito. Mas notei alguma coisa bem estranha meses depois, dirigindo pela 23 de Maio em um dia ensolarado. Olhei uma hora lá para o fim da avenida e lá estava o Obelisco do Ibirapuera. E eu me senti em Buenos Aires.

É um tanto estranho. Eu passava várias vezes em frente ao Obelisco aqui de São Paulo todas as semanas, quando ia ao Ibirapuera com meu pai aos sábados no começo da década de 1990. Lembro que até entrei para ver o que tinha lá dentro: vários túmulos. O monumento era bonito por fora, trágico por dentro.

Estou enrolando, eu sei, sendo que no fundo eu queria entender só por que, toda vez que passo pelo Obelisco, eu me sinto em Buenos Aires. E não por que diabos eu não me senti em São Paulo passando por monumento parecido na Argentina.

Pensando bem, acho que é porque eu não consigo ver São Paulo como uma cidade turística. Tive até uma conversa sobre isso em Buenos Aires com o dono do meu albergue: ele dizia que os argentinos exploravam mal o turismo e que o Brasil era incrível. Eu, claro, tinha opinião totalmente contrária.

Não consigo ver a minha cidade como ponto atrativo para turistas. É apenas uma cidade gigantesca, sem nada de lá muito sedutor: uns parques, umas avenidas... e só. Sei que em São Paulo o que pega é o turismo financeiro, mas... sei lá. No fundo no fundo, acho que sei qual é a minha: apenas falta de criatividade. Porque moro em uma cidade gigantesca e com mil coisas para fazer... e chega sábado à noite e nunca sei para onde ir.

E sim, eu sou uma mula.