terça-feira, 22 de maio de 2012

Sorriso de meio rosto


É estranho você imaginar que tudo o que anda fazendo para resolver seus insolucionáveis problemas é inútil. Uma verdadeira perda de tempo.

Você acha que está medindo todos os passos que dá, que é soberano de seus desejos, de suas vontades e de sua mente, que tudo depende única e exclusivamente de si mesmo. Que está fazendo o máximo dos esforços para superar essa turbulência e que, em algum momento, com muita luta e algumas lágrimas, as coisas se encaixarão. Não seja tolo, meu caro, o mundo não funciona assim.

E como funciona? Não sei.

Só sei que tudo vai mudar, que todo esse agite irá passar. Claro, e aí entramos naquele velho clichê: quando você menos esperar.

Talvez olhando de longe, contra o sol já ansioso por se recolher, você veja alguma coisa que suspenda toda essa angústia de teu corpo e a deixe pairando alguns metros bem acima de você.

Quem sabe sentindo aquele aroma, que há tempos você sentia e se deliciava... mas que em dado momento entrará pelas tuas narinas, subirá de maneira inebriante pelo teu nariz e rapidamente se alojará no teu cérebro, te embriagando e relaxando todos os músculos do teu corpo. Menos sete: aqueles que entrarão em movimento e te farão dar um sorriso de meio rosto – ao menos para mim, os mais sinceros e com um mínimo de autocontrole.

Outra maneira interessante de ver todos os seus problemas serem reduzidos a pó de uma maneira tão imediata é... não sei. Aquele instante em que a tua mão, já retraída, é tocada por uma outra mão – uma mão que busca a tua quando o que ela mais quer é se proteger. Uma mão que a aperta suave e decididamente, que esfrega um terno polegar sobre o dorso da tua, como que para apagar a marca que ali por tanto tempo havia se instalado, para limpá-la dos resíduos de outrora que tanto te fizeram bem e que hoje te inflamam. Posso te garantir: sete outros músculos irão se mover do outro lado da tua face nesse instante, e todo teu autocontrole sairá voando pela janela.

Agora, cuidado.

Se todas essas três coisas acontecerem ao mesmo tempo, prepare-se: você terá um novo problema. Enorme. 

terça-feira, 15 de maio de 2012

Suspiro


Às vezes custa dizer alguma palavra mais bonita, profunda, demonstrar um sentimento ou o que quer que seja. É difícil, se seja algo realmente sincero e que saia do mais ínfimo pedaço do teu organismo.

Dizer algo verdadeiro, sincero, é se desprender daquilo. É um desabafo, não deixa de ser. Uma coisa da qual você se livra, que se desgarra das células dos seus órgãos e que vai fluindo pelo interior do teu corpo. Segue um fluxo tortuoso e instintivo até ser arranjado em uma sensação passível de tradução para o cérebro. E aos poucos você vai agrupando letras, palavras, orações, frases e expele tudo aquilo por meio da boca.

As palavras sempre saem fortes, com o intuito de atingir a quem se fala. E toda essa força te daria um tranco para trás caso tudo isso fosse um processo pura e simplesmente físico. Fato é que, se você está desprovido de forças e ainda assim reúne algum restolho para tal atitude, sente algo parecido a essa reação.

Tudo isso, imagino eu (e partindo do pressuposto de que você está dizendo algo realmente intenso, importante e verdadeiro), tem lá sua intenção. E você, se pudesse, acompanharia atentamente o caminho das tuas palavras até o objetivo proposto e esperaria ansiosamente pela retribuição de tal gesto. E que faria tudo valer a pena.

Muitas vezes a tua finalidade nada mais é que... se recompor. Renovar a carga daquilo que você se desprendeu. Só que, como nos ensina a vida, a tua chance de cumprir o teu objetivo é de 9 em 10. Digo, 10 elevado à máxima imaginável potência. E então esteja preparado para as consequências do fracasso. Que não são muitas, na verdade. A única coisa que pode te acontecer é simples.

Você vai acompanhando o rastro das tuas palavras, prende a respiração e vê todo aquele emaranhado de palavras se colidindo a um robusto e bem concretado muro de estilo holandês, composto pelos mais espessos tijolos que poderiam ser encontrados no mercado. Te parte o coração, essa é a verdade. Mas antes mesmo de os teus olhos se marejarem você se lembra de que precisa respirar.

A entrada do ar te oxigena o cérebro, expande o ângulo da tua visão e... te deprime um instante até você poder raciocinar um pouquinho melhor. Você vai se fechar, você vai perder parte do teu senso de humor, você vai reagir a qualquer estímulo exterior com um simples “ah, ok”.  Fique tranquilo. A vida segue. Mas você nunca mais arriscará as tuas últimas fichas contra aquela enorme e imponente barreira. Até amanhã.

O que eu quero dizer com tudo isso?

Direcione melhor as tuas palavras quando quiser dizer algo realmente importante. Ou crie um blog. Ou fuja para as montanhas.

domingo, 13 de maio de 2012

Uma semana depois


Não sabiam como reagir quando se cruzaram novamente, após um longo período de turbulenta calmaria, de um furacão de morosidade, de algo que nunca havia feito sentido e nem nunca fará. Os olhares se colidiram naquela profundidade que só eles saberiam explicar. Sorriram? Acho que sim, não sei dizer. Acho que sorriram. De uma maneira amarela, talvez, já que tentavam disfarçar que tinham, cada um, um coração extrapolando a garganta.

Cumprimentaram-se. Trocaram um beijo desengonçado, mal ensaiado, torto, morto. Nas bochechas, claro. Ameaçaram um abraço. Começaram com um braço, depois outro. Ficou um abraço de três braços. O mais estranho de sempre.

A primeira conversa (ao vivo) depois de muitas lágrimas nunca é simples. Sobram palavras que clamam por serem ditas, transbordam conjunções – quantas conjunções! – e há uma revolução de verbos que exigem a conjugação no subjuntivo. Mas é preciso, de alguma maneira, pensar 800 milhões de vezes no intervalo de um ou dois nanossegundos a fim de conduzir aquele encontro da maneira menos pulsante possível. Deixemos as combustões para daqui a pouco.

Em conversas desse tipo é que o clima se torna o melhor assunto das galáxias. Se faz frio, melhor. Mais minutos de comentários amenos sem objetivo algum. E sobre isso que falaram. O frio, o vento, o calor, a falta dele, qualquer coisa que estivesse relacionada... ao clima. Não ao tempo. Tempo era uma palavra a ser evitada, neste e nos outros incontáveis e impensáveis universos paralelos que os envolviam. Falaram sobre o clima. E depois sobre os empregos. Inventaram insatisfações que não existiam apenas para manterem aquele (re)encontro frágil da forma mais fácil e falsa que podiam. E ficaram assim durante infinitos 15 minutos.

Resolveram que tinham que se despedir. Iniciaram o ritual que haviam feito quando se cumprimentaram: sorriram de uma maneira amarelada, disfarçaram o coração novamente na garganta... mas ambos consentiram em uma coisa: iriam somente se abraçar. De uma maneira menos improvisada que da primeira vez.

Com dois braços se abraçaram.
Se apertaram.
Se confortaram.
Se acalmaram.
Se despreocuparam.
Se... amaram?
Se olharam.

Sorriram novamente e todos os extremos dos seus corpos ficaram gelados como nunca dantes. Pensaram em dar o que seria um novo beijo na bochecha até que consentiram, sem nenhuma letra, sem nenhum olhar e sem nenhum suspiro, que as bochechas não deveriam ser beijadas naquele momento.

Se beijaram.

Não um beijo desengonçado, mal ensaiado, torto, morto. Era um beijo, como todos os beijos daqueles que um dia se amaram devem ser. Mas foi melhor do que isso. Nada ensaiado. Foi improvisado. Sentido. Vivido.

Um beijo que amenizou aquela confusão toda. E deixou, a ambos, em uma confusão maior ainda. Mas mais suportável.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Claustrofobia

Tenho medo do escuro. Tenho medo das paredes que não posso ver, mas que sei que estão bem aqui do lado aquecendo o ar cada vez mais escasso que aspiro. Evito respirar, tento não desperdiçar o pouco que me resta para continuar nessa sobrevivência à espera de ver a luz novamente.

Daqui mal posso saber o que acontece aí do outro lado. Escuto alguns ruídos, sinto que às vezes você se aproxima mas não sei se está de fato pensando em me tirar daqui de dentro, se apenas esbarrou por aqui sem querer ou se está brincando comigo. Enquanto isso tento continuar minha fantasia, cada hora com um desfecho, cada hora com um andamento diferente. É o que me resta, não?

A verdade é que estou aqui por uma boa razão, você me convenceu. É para que você extermine todos os males daí de fora e venha me resgatar quando tudo já estiver calmo e tranquilo para que possamos viver em paz. Você quer apenas me proteger, até de você mesma, e eu deveria pensar que linda atitude esta, que sinal de altruísmo. Que atitude a se levar em conta!

Desculpe, a falta de luz me deixa irônico.

Andei pensando muito. Sei que não estou forte o bastante, sou apenas um pequeno ovo com a casca um pouco rachada, mas queria te pedir: por favor, me tira daqui? Está muito escuro, já está fazendo bastante calor, não estou conseguindo respirar bem e meus sonhos se me confundem, não sei mais o que é realidade e o que é fantasia.

Por mais que não esteja forte o bastante, quero lutar. Quero fazer parte dessa guerra, quero estar na linha de frente e reabrir o caminho para tudo o que estava por vir. Quero ter minha lança empunhada, te dar a outra mão. Aceito pelejar sem escudo, de tão certo que a vitória virá contra esse exército tão grande que se voltou contra nós sem nenhuma razão na qual valha a pena pensar.

Mas se você não quiser lutar essa guerra e prefere dar-se por vencida, tudo bem. Me tira daqui do mesmo jeito. Quero seguir minha vida, respirar novos ares, voltar a ser espontâneo e estar mais à mercê do porvir. Quero fazer eu o meu destino, não esperar que o façam por mim sem saber o que virá. Cansei de estar aqui, sozinho, no escuro, trancafiado, não fazendo nada além de contar os dias, as horas e os minutos sem poder sequer ver o meu relógio. Não sei nem se acabei de entrar aqui e estou fazendo birra ou se estou aqui já há séculos. Não sei o que é o tempo, mais.

Seja como for, decida-se. Agora. Deixa de fazer esse jogo, não quero brincar. Esse jogo perverso que só me faz ficar ansioso e angustiado aqui dentro. Assuma, nem que seja só hoje, a consequência das tuas atitudes. Ou confesse, pelo menos uma vez, que a tua decisão não foi a melhor possível e admita o teu erro. Seja sincera, seja honesta, nem que por um pequeno instante. Lute comigo ou me deixe lutar em outra guerra, com outras pessoas. Não fui feito para estar aqui, preso, no escuro, dentro da tua gaveta.

Gaveta... Que coisa muito louca.

Gaveta, que em espanhol se diz cajón.
Cajón, que em portunhol se traduziria caixão.
Caixão, que em espanhol se diz ataúd.

Momento de reflexão


Manuel Bandeira, um gênio

Você me conhece?
(Frase dos mascarados de antigamente)

- Você me conhece?
- Não conheço não.
- Ah, como fui bela! Tive grandes olhos, que a paixão dos homens (estranha paixão!) fazia maiores... fazia infinitos. Diz: não me conheces?
- Não conheço não.

- Se eu falava, um mundo irreal se abria à tua visão! Tu não me escutavas, perdido ficavas na noite sem fundo do que eu te dizia... Era a minha fala canto e persuasão... Pois não me conheces?
- Não conheço não.
- Choraste em meus braços!
- Não me lembro não.

- Por mim quantas vezes o sono perdeste e ciúmes atrozes te despedaçaram! Por mim quantas vezes quase tu mataste, quase te mataste, quase te mataram! Agora me fitas e não me conheces?

- Não conheço não.
Conheço que a vida
É sonho, ilusão.
Conheço que a vida,
A vida é traição.

Close para o fim

A dor pode ser horrível, insuportavelmente intensa, inexplicavelmente amarga, inquietantemente angustiante. Mas ela é, até certo ponto, tolerável – desde que seja possível exprimi-la de alguma forma, mesmo que de uma maneira nada objetiva. Uma vez ela localizada e assumida, a tendência é que as coisas, na pior das hipóteses, se estabilizem.

Só que o problema maior não é isso.

Há quem tente superar a dor fingindo naturalidade, forçando a normalidade e transparecendo uma sanidade madura e estável. Isso dói, e dói muito. Dissimular uma condição que não é a tua te sufoca na hora de escolher as melhores palavras, as melhores expressões, as melhores respostas, os melhores roteiros.

A verdade é que nada sai direito. Aquelas que pareceram até milissegundos atrás as melhores chaves para as portas encerradas explodem na madeira maciça e sequer a fazem tremer. E pior: tornam-na mais forte e cada vez mais intransponível. Especialmente se a aleatoriedade sempre havia deixado aquelas portas escancaradas, mostrando do outro lado um jardim alegre, habitado por altas árvores e flores e pássaros e borboletas e insetos e... (aquilo ali é um arco-íris?) e abrilhantado pelos raios de sol das 8 da manhã.

Mas parece que dissimular é o melhor cenário.

(É o que eu tento dizer a mim mesmo)

(E eu mesmo me respondo, sem muito pestanejar)

- Ah tá, como se isso fosse um filme de final feliz.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Queria te dizer tanta coisa.

Queria que soubesse como essa dor é dolorosa e você não consegue sair de dentro de si mesmo você nem sabe mais se seu coração é pequeno demais e há um eco em seu peito ou se ele cresceu tanto nos últimos dias que não sobra espaço em nenhum outro lugar do seu corpo e ele quer extravasar e ele precisa extravasar mas ao mesmo tempo não sabe por onde e nem como enquanto eu continuo nessa incerteza sem saber como quando onde por que e por que tudo teve que ser assim e que as coisas tenham que ter um fim tão trágico depois de tantos momentos que jamais serão esquecidos e nem poderão ser esquecidos e que por mais que eu tente esquecê-los jamais serão esquecidos e quando me ponho a pensar nisso tudo fico cada vez mais desesperado e essa angústia corrói o meu ser e corrói tudo aquilo que com tanto esforço eu havia construído de uma maneira tão sólida e é nesse momento em que nada mais faz sentido e eu pobre diabo tento encontrar sentidos que não existem em letras de músicas conversas antigas receitas de ansiolíticos guardanapos dos cafés onde fomos conversas com pessoas conversas com você conversas comigo mesmo e ao mesmo tempo não quero conversar comigo porque sou uma péssima companhia para mim mesmo e é nesse momento em que eu vejo que estou alucinado e que estou em um ritmo extremamente acelerado enquanto o mundo vai se acalmando e vai reduzindo sua velocidade em uma desaceleração incrivelmente forte e tento respirar e sinto que o ar não vem e me angustio acendo um cigarro e outro cigarro e muitos outros cigarros até que o fluido do meu isqueiro chega ao fim e o cinzeiro já transborda de bitucas chamuscadas por outras bitucas e então não resta outra alternativa senão uma segunda tentativa de respirar... fundo.

O ar, limpo, frio, saborosamente insosso, estufa meu peito.

Me acalma.

Me conforta.

Oxigena meu cérebro, tenso, e acalma minhas terminações nervosas.

As mãos, molhadas e frias, se esquentam.

Expiro o ar vagarosamente, quase calmamente.

Sinto a carga pesada esvaziando minha cabeça.

Sinto meus olhos, antes nublados, quase cegos, que não faziam outra coisa senão enxergar lembranças nos lugares mais incomuns (e mais improváveis), se fechando naturalmente.

Sinto o sono que há tempos não sentia.

Quero dormir.

Preciso dormir.

Apesar de ainda ter tanta coisa para te dizer.

Mas...

...

Preciso não te ligar amanhã.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Divisão da cama de casal

Um meme bem engraçadinho circulando na internet sobre a divisão real de uma cama de casal me fez concluir algo com que pelo menos 109% dos casais (felizes e satisfeitos) devem concordar.

Nunca, mas nunca mesmo, uma cama de casal vai ser repartida igualitariamente entre duas pessoas – a não ser que um muro de tijolos seja colocado sobre um meridiano de Greenwich imaginário sobre o colchão, o que faria com que toda a mística sobre um leito para dois deixe de existir. Só que... sinceramente, quem se importa?

Jamais será você quem invadirá o espaço alheio (embora, sim, você também o invada). Sempre será o outro, e acho que isso passa um pouco pelo processo de automartirização de uma pessoa apaixonada. Sem neologismos, o que você quer mesmo é valorizar todos os sacrifícios que alguém em tal condição de insanidade amorosa é capaz de fazer.

E é necessário frisar aqui: dormir sozinho é uma das maiores comodidades que já inventaram. Você tem todo o espaço do mundo, pode se mexer à vontade, não acorda com o próprio ronco e (quase) nunca terá um déficit de cobertas. E poderá se cobrir e descobrir quando bem entender. Isso é inegável.

Enquanto isso, a partir do momento em que você divide um colchão com alguém, certos problemas surgem. Há menos espaço. Menos mobilidade. Menos liberdade. Mais chutes. Mais cotoveladas. Mais chances de cair da cama. E olha que ainda nem mencionei o ronco: eu, se pudesse, escolheria meu par amoroso pela altura do ronco. Por sorte, sempre fiz escolhas acertadas (neste quesito, vamos nos concentrar neste quesito).

Outra coisa: o corpo humano não foi desenhado para a cama de casal, que comporta no máximo três braços. Um (o teu, obviamente) sempre sobrará. E ficará dormente, independentemente da maneira como for acomodado. É um verdadeiro incômodo, vai por mim.

Olhando por esse lado, dormir com outra pessoa é a pior coisa do universo. E afirmo tudo isso com a tarimba de quem já fez a loucura de dividir uma cama de solteiro com alguém. Por mais de um mês. Mais de uma vez.

Foram as melhores noites da minha vida.

Aconteça o que acontecer, nada se compara ao acordar ao lado da pessoa de quem se gosta e ter como primeira sensação do dia o sentir o contato da tua pele com a dela – que já é quase a tua. Nem tampouco ao olhar ainda sonolento dela, sem maquiagem ou com o rímel já todo corrido, que te dá arrepios cada vez mais fortes. E falar o que do primeiro “oi” que você ouve e que faz o teu dia melhor, por pior que você saiba que ele vá ser?

É difícil encontrar algo que também seja melhor que dormir grudado com a pessoa amada, em um abraço tão forte que demonstre que você nunca a deixará ir. E ficar nessa posição durante uma, 3, 6, 8, 10, 12 horas. Quantas forem necessárias, e que serão uma fugacidade. Deveriam durar para sempre.

E se em algum momento cansar e seu corpo, entediado, rogar por uma mudança de posição... ele mesmo vai te implorar, menos de 10 segundos depois, para voltar ao abraço e ao aconchego dela. E com o tempo o braço que sobra na cama... até ele vai se acostumar a passar toda a noite dormente, formigando, dolorido, incômodo.

Aos poucos você só vai conseguir responder se teve uma boa noite de sono se dormiu com ela.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Pandora, maldita

Resolveste criar um jarro para guardar as piores facetas do universo e apenas não liberaste a esperança. Por quê? Se milanos depois é o que mais necessito? A esperança que se me perdeu quando me lembrei de tua caixa guardada não tão secretamente, sempre a deixaste ali à minha espreita, contra minha vontade, para quando eu mais precisasse investigá-la – e quando eu menos tinha que procurá-la.

Ah, Pandora, tua maldita.

Não pudeste simplesmente deixar-me alheio de tudo isso? Não pudeste simplesmente deixar-me tão contente com a minha ignorância, a minha ignorância que me fazia tão bem? A minha ignorância que era a minha felicidade! Funesto conhecimento este, que nada mais faz senão amuralhar qualquer brisa de esperança que queira vir em minha direção.

Ah, a esperança.

Esperança, consolo dos não ignorantes, única alternativa de felicidade dos infelizes. Feliz era eu, errado, sem esperança e sem males que me atormentassem. Tinha apenas os meus sonhos – que nada tinham a ver com a esperança. Então teu jarro, tua caixa, teu amaldiçoado cofre, que em um mundo ideal jamais seria preenchido nem pela mais remota e passageira dor... e que me brindou o indesejado conhecimento e me roubou a ignorância, prenúncio de felicidade.

Ah, a... felicidade?

Agora me contento com a esperança e te la suplico. Renuncio à antiga e falsa (eu sei) felicidade de outrora pela inebriante esperança se permitas que ela me traga novamente aquela ignorância quase pueril, que me turve os olhos e me devolva o andar torto e soberbo dos bêbados. Que torne minha sobriedade tão embriagada, tão insensata, tão improvável, tão irreal e tão concreta, tão real, tão provável, tão sensata.

Ah, Pandora...

Por quê?