quinta-feira, 28 de abril de 2011

Entenda as piadas sem sentido do Chaves: a biscavó da Chiquinha

Eu tenho vergonha das coisas em que penso antes de dormir. Não por serem despudoradas, moralmente incorretas, mas simplesmente por se tratarem de... coisas totalmente sem nexo. Por exemplo: ontem, não consegui tirar da minha cabeça até pregar os olhos em uma piada que passa bem desapercebida nas falas da Chiquinha quando diz sobre sua bisavó. Segue abaixo.

Em dado momento da série, a Chiquinha diz que chama a Dona Neves de “biscavó”, enquanto a venerável anciã se refere à filha do seu madruga como “biscaneta”. Alguma explicação para isso? Sim, meu caro! Sim, nós temos – e não tem nada a ver com “biscates”, seu pervertido!

No próprio episódio mencionado no último post, quando o Chaves se prepara para ler a carta que Dona Neves havia enviado à vila, temos a explicação da piada. A Chiquinha, cujas lentes dos óculos tinham se quebrado, preferiu não ler a mensagem porque “poderia até ficar vesga”. E aí está a explicação de todos os nossos problemas.

Em espanhol, a palavra correspondente a “vesgo” lembra ligeiramente à que temos em português, embora, aparentemente, apenas uma letra seja igual: a letra o. De resto, o v dá lugar a um b (mas já vimos anteriormente que as duas letras têm o mesmo som em espanhol), trocamos e por i, o s vira um z (os fonemas também são iguais na América Latina, enquanto na Espanha z e c ganham uma pronúncia sibilante) e o g transforma-se em um c: VESGO, em espanhol, é BIZCO.

E a pequena Chiquinha tem problemas em falar “bisavó”, assim como toda criança certamente se embanana com uma ou outra palavra por aí. E chama Dona Neves de biscavó. Em espanhol, “biscabuela”. Algo que soa como “vovó vesga”.

Matamos mais uma, aguardemos qual outra ideia inútil vai passar pela minha cabeça para o próximo post.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Entenda as piadas sem sentido do Chaves: Dona Neves não tinha um mico que iria votar

Retomando nossa saga após o feriado (e uma data que, curiosamente, me deixa um ano mais velho), esclareceremos um dos maiores mistérios do Chaves: a bisavó da Chiquinha estava com um mico que iria votar. Ou pelo menos era isso que o nosso carismático menino do 8 lia na carta que a Dona Neves enviava para a Chiquinha.

O não muito divertido personagem da Dona Neves chegou à vila em 1979, no mesmo episódio em que o carteiro Jaiminho faz suas entregas na vila, na primeira temporada sem Seu Madruga e Quico – para muitos (ou pelo menos para mim), responsáveis pelos episódios menos divertidos da série. Mas não há como negar que as trapalhadas originárias pela leitura do Chaves. Assim como fizemos com a leitura da Chiquinha ao Seu Madruga, transcreveremos aqui as quatro versões das missivas: em português e em espanhol. Vamos lá.




Carta lida pelo Chaves

Tá loca, está onde México? Aqui, sim, desgosto. Oitenta e cinto. Que dirá Chiquititinha. Li sucata onde e na alergia eu sentei pela loucura, tô com um mico que vai votar.

Carta original

Toluca, Estado do México.
A 15 de agosto, 85.

Querida Chiquititinha,

Li sua carta ontem e, na alegria que senti pela leitura, te comunico que vou voltar.

Agora partimos para a versão espanhol, que pode ser conferida no vídeo original abaixo, a partir dos 12:00.



Carta lida pelo Chaves

Ta loca, está dónde México? Aquí sede a gusto. Se tienta y no ve. Que dirá, Chilindrinita? Ley tocar taller. Ya la regó su hijo natural de su locura té común y comí re grueso.

(Tradução, muito da perrengue. Nem minha namorada argentina conseguiu encontrar um significado plausível para “ley, tocar, taller” e nem para “té común y comí re grueso”). Tá louca, está onde México? Aqui há lugares de sobra para morar. Tenta-se e não se vê. Que vai dizer, Chilidrintita? Lei, tocar, palestra. Já lhe ferrou seu filho natural de sua loucura. Chá comum e comi muito grosso.

Carta original

Toluca, Estado de México.

A quince de agosto, setenta y nueve. Leí tu carta ayer, y al regocijo natural de su lectura te comunico mi regreso.

Toluca, Estado do México, a 15 de agosto de 1979. Li sua carta ontem, e na satisfação natural da leitura te comunico meu regresso.

Cá entre nós? A dublagem em português salvou a piada.

A seguir: Por que Dona Neves era a biscavó da Chiquinha

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Entenda as piadas sem sentido do Chaves: porque o nariz é a Espanha

Essa nunca foi muito bem digerida por nós, Chavesmaníacos, não é mesmo? No episódio O castigo vem a cavalo, quando o Professor Jirafales toma a cabeça do Seu Madruga como exemplo da Terra e sugere que o nariz é a Espanha, o Chaves trata de explicar rapidamente ao Quico o porquê da escolha do Mestre Lingüiça: o nariz é a Espanha porque lá há crianças, e as crianças têm nariz escorrendo (a partir dos 5:00 do vídeo abaixo).



Hummm... podemos ler, reler e reler, assistir, repetir e repetir quantas vezes quisermos, não vamos encontrar uma explicação engraçada para essa piada. A resposta que muitos de nós já buscamos vem apenas na dublagem original, mas – já antecipo – também não é lá tão engraçada. De qualquer forma, não estamos aqui para encontrar as únicas cinco piadas ruins de toda a série do Chaves, senão para explicar as diferenças de algumas piadas que, aparentemente, não têm sentido para nós por conta da tradução.

Recorramos ao episódio com o áudio original, em espanhol. O roteiro é quase igual para esta cena, salvo a última frase do Chaves. Em português, como bem sabemos, as falas derradeiras são:

Chaves: “Não seja tonto (ao Quico), o nariz é a Espanha porque na Espanha tem crianças”
Professor Jirafales: “E o que tem que ver as crianças com a Espanha?”
Chaves: “Criança tem nariz escorrendo!”

Literalmente, a tradução seria esta. Entretanto, um detalhe (importante? nah, nem tanto) talvez não tenha sido levado em consideração: os regionalismos do espanhol – visto que um idioma falado em 21 países, obviamente, trará uma infinidade de gírias que não são aprendidas nos livros e nem nas aulinhas básicas de idioma.

E aí chegamos: à fala final do Chaves, decisiva para essa piada. Confira abaixo, após os 4:00.



Si a los niños les dicen mocosos”, explica o Chaves. Em uma tradução baseada no dicionário, teríamos algo mais ou menos assim: “Se às crianças eles dizem nojentos”, ou, então, “Se às crianças eles dizem ranhentos”, visto que moco nada mais é do que ranho (vulgo catarro), em espanhol.

Mas... lembram-se dos regionalismos? Pois então... na Espanha, é bem comum dizer mocoso às crianças pequenas – assim como na Argentina podemos dizer nene, pibe, chiquillo, pendejo (esta bastante usada em toda a América Latina. Contudo, denominação mais curiosa possuem alguns países da América Central: carajito. Bom... deixa pra lá, né?

Mas resumamos: a piada é o fato de que, na Espanha, as crianças são chamadas de “ranhentas”, e... bom, possuem o mesmo catarro que está em nossos narizes, não?

O episódio citado foi gravado em 1976, ainda com as presenças de Quico e Seu Madruga. Em 1979, quando os dois personagens já haviam deixado a série, a piada foi regravada, com o Nhonho servindo de exemplo e a Pópis perguntando o porquê de o nariz ser a Espanha. A piada em espanhol muda ligeiramente, enquanto a tradução em português é bastante alterada.

Em português, o Chaves diz à Popis que o nariz é a Espanha porque lá também haviam meninas – e as meninas também são um buraco (só eu vi malícia e mau gosto nesta piada?). Bom, em espanhol, a piada é muito mais light: porque as meninas também são mocosas.

A tempo de curiosidade: "O senhor sabe o que é uma orelha?", pergunta a Chiquinha ao Professor Jirafales, mas em seguida responde: "Eu sei, mas não vou dizer". Bom, em espanhol ela diz: "Una oreja son 60 minutejos" (seria algo como "uma orelha são 60 minutelhos"). É sem graça, eu sei, mas não custava nada contar, né?

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Entenda as piadas sem sentido do Chaves: o Chaves não queria o cata-vento da Chiquinha

Lembram-se de quando a Chiquinha pegou catapora? Na verdade, tudo começou como uma mentira contada pelo Seu Madruga para não pagar o aluguel ao Senhor Barriga. Mas a menina aproveitou a história para cabular a aula, e o boato teve que ser confirmado para que engambelar o dono da vizinhança.

Neste momento, em que o Seu Madruga reafirma a catapora da Chiquinha perante o Senho Barriga, o Chaves é o único que não tenta escapar do contágio e pede para visitar a amiga. O motivo? Ele queria um cata-vento emprestado. Olha só, a partir de 2:00:



Mas não é bem assim. Em primeiro lugar, a Chiquinha não havia pegado e nem iria contrair a catapora. A enfermidade que ela teria era a varíola, bem diferente (e mais grave) da varicela, apesar do nome semelhante – daí temos a explicação do choro forçado do Seu Madruga, em decorrência da gravidade da doença. Expliquemos, mas antes vamos aproveitar para ver este mesmo momento do Chaves em espanhol, a partir de 1:35.



Como foi dito, a Chiquinha tinha viruela. E o faminto Chaves, na verdade, queria outra coisa: uma ciruela. E o que seria isso? Simplesmente uma ameixa (aproveitando: notem que, nesta cena, assim que o Chaves faz o trocadilho com as palavras bem semelhantes, o Seu Madruga mal consegue segurar o riso.

Nesta mesma hora, neste mesmo canal: a Dança das Horas não é de Tchaikovsky

domingo, 17 de abril de 2011

Entenda as piadas sem sentido do Chaves: porque o Nhonho é nerd

O imensurável sucesso que Chaves tem no Brasil fez com que Nhonho se tornasse um dos apelidos prediletos mais comuns nas escolas primárias para meninos gordinhos vítimas de bullying. Mas, pobres gozadores, mal sabem que estão apenas mostrando uma ignorância em relação ao idioma espanhol quando proferem tais impropérios (mas seria pedir muito que crianças de 7 a 15 anos tenham tal conhecimento, não? Enfim...)

Eu, admito, tive que ouvir algumas vezes algum engraçadinho me chamando de Nhonho, visto que costumava ser (bem) gordinho até meus 15 anos de idade, quase 16, quando resolvi perder 30 quilos fechando a boca. Mas voltei a escutar tal xingamento de minha namorada, e no mesmo momento deixei o tom de brincadeira para perguntar o que ela queria dizer quando me chamou de ñoño.

Manteremos aqui o sigilo de nossas conversas e recorramos a uma definição mais embasada, da Real Academia Espanhola:

ñoño, ña.

(Del lat. nonnus, anciano, preceptor, ayo).

1. adj. Dicho de una cosa: Sosa, de poca sustancia.

2. adj. coloq. Dicho de una persona: Sumamente apocada y de corto ingenio.

3. adj. ant. Caduco, chocho.


Ou seja: “ñoño”, que vem do latim, significa algo insosso, de pouca substância; uma pessoa muito tímida ou de pouca inteligência, ou (em uma versão mais arcaica) alguém caduco.

Então, o que temos? O Nhonho não era chamado de Nhonho porque era gorducho, mas sim porque era meio bobo – puxa-saco do Professor Jirafales, que respondia tudo o que lhe era perguntado na aula (algumas vezes dizia uma ou outra bobagem, mas acertadamente na maioria das vezes), um tanto retraído em relação a Chaves, Quico e Chiquinha (lembrem-se de que ele tinha vergonha de fazer calistenia).

Mistério resolvido, próximo passo: o Chaves não queria o cata-vento da Chiquinha

sábado, 16 de abril de 2011

Entenda as piadas sem sentido do Chaves: o que é a carabina do Ambrósio



“A trompa de Eustáquio e a carabina do Ambrósio, no fim já quebrei todos eles” é uma frase mais do que clássica para todos os viciados em Chaves, como a minha pessoa. Só que a minha curiosidade (inútil, como todos sabemos) me fez ir atrás de como seria essa piada em espanhol. E não é que é praticamente a mesma coisa? Bom, com uma certa diferença, que reside em uma expressão típica mexicana.

Tudo acontece no episódio “Clase de ciencias naturales”, a partir do instante 5:22 do vídeo abaixo.



Perceberam? A piada é exatamente igual, exceto pelo que diz o Chaves ao Professor Jirafales em seguida: al cabo usted se cree todo, ou algo como “no final o senhor acredita em tudo”. Pois bem, aí temos algo. Vamos lá.

Na variante mexicana do espanhol, é uma gíria relativamente comum dizer que “carabina de Ambrósio” como sinônimo de alguma coisa inútil. E por quê? Ok, minha veia investigativa foi muito mais além do que eu esperava e encontrei algo mais ou menos assim:

Em idos do século retrasado, diz-se que havia um tal senhor chamado Ambrósio que ficava nas estradas esperando para fazer seus assaltos, com sua carabina em mãos. Mas, em vez de usar balas e pólvora, usava sementes. Agora note isso: as sementes eram de cânhamo – ou seja, maconha. Ser alvejado por um tiro de maconha não te mataria, imagino, mas poderia causar certos efeitos colaterais.

Bobagens à parte, aí temos por que a carabina do Ambrósio não serve para nada – afinal, não mataria ninguém. Por isso, talvez, o Chaves imagina que o Nhonho não está dizendo nada de construtivo com “Trompa de Eustáquio” e que o Professor Jirafales está acreditando em qualquer bobeira dita pelo filho do Seu Barriga.

Entendido, amiguinhos?

Em tempo: no mesmo episódio, a Chiquinha diz em dado momento a palavra "diferência" e é corrigida pelo Professor Jirafales. Pois em espanhol o que ela diz é diferiencia, sendo que o correto em castelhano seria diferencia. Acontece que as ditongações são muito comuns em espanhol, e confundem a crianças e a estrangeiros que aprendem o idioma, como eu. Por conta da arbitrariedade da regra das ditongações, se diz huevo (ovo) e muero (eu morro) e não se diz Cuepa del Mundo para Copa do Mundo e muito menos Cueca-Cuela para a Coca-cola.

Em seguida: por que o Nhonho é nerd?

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Retornemos à nossa programação normal

Descobri que em um shopping de Córdoba, Argentina, ao lado da casa da minha namorada, estavam vendendo DVDs triplos do Chaves (em espanhol) por 60 pesos argentinos, algo em torno de R$ 25. Óbvio que tirei uns dias, encontrei uma passagem aérea com super desconto (apesar de durar 14 horas e passar por cinco aeroportos) e fui enriquecer meu acervo de Chaves.

Agora, pode respirar aliviado, chavesmaníaco. Estamos de volta, e teremos mais novidades nos próximos dias.

Y-hey!

terça-feira, 5 de abril de 2011

Entenda as piadas sem sentido do Chaves: porque o Seu Madruga não gosta do número 41

Sabe aquele episódio dado como perdido, em que Chaves e Quico fazem uma pichorra (vulgo piñata) e tudo mais? Pois então... há um momento em particular que poderia passar desapercebido por esta série, mas acabou despertando minha curiosidade por conta de uma raiva inexplicável do Seu Madruga. Fui atrás e veja só o que temos, a partir dos 3:54 do vídeo abaixo:



Logo na primeira parte do episódio, quando Quico e Chaves passam o maior dilema por conta de um papel que ficava colado em suas mãos, aparece o Seu Madruga reclamando da demora dos garotos para confeccionar a tal pichorra. E lhes chama a atenção: “Sem pichorra não tem festa”.

A bronca do Seu Madruga não cai bem ao Quico, que reclama: “Ai, já são 40 vezes que diz a mesma coisa!”. O pai da Chiquinha, então, repete sua fala e se irrita quando o Chaves o avisa de que com aquela já eram 41. Agora... por que a raiva?

Aí explicamos, com algo que vai mais além da barreira português-espanhol. Essa já tem mais a ver com algo da cultura mexicana, a partir da história do único país latino da América do Norte. O fato é que o número 41 possui uma relação extremamente próxima com o 24 para nós: ligado a homossexuais.

Bom, comecemos antes pela nossa razão: nada mais simples que o jogo do bicho, visto que o veado era o 24º animal daquela cartelinha com 25, que provavelmente todos nós já recebemos ou vimos por aí. Já no México a razão é mais complexa.

Durante o governo de Porfírio Diaz (entre 1876 e 1911), a polícia da Cidade do México resolveu fazer uma prisão em massa de homossexuais e, em uma festa, deteve 41 “suspeitos”. A notícia foi dada pelos jornais desta maneira, mas, ao saber que um de seus genros estava entre os detidos, o presidente ordenou que a imprensa divulgasse que haviam sido 40 os presos homossexuais.

Só que as erratas dos jornais não colaram, e no México começou a piada. Sempre que queriam sacanear com algum amigo, perguntavam: “Ei, você que é o 41?”. O número ganhou tal conotação que nenhum atleta gosta de utilizar tal número estampado em suas costas em qualquer competição esportiva.

Mistério resolvido?

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Entenda as piadas sem sentido do Chaves: a tia da Chiquinha não desentupiu o umbigo

Vai falar que as leituras do Chaves não estão entre os momentos mais engraçados de todas as séries? Eu sei, eu sei... talvez seja, até, quando damos mais risadas. Por isso, antes mesmo de idealizar esta série de buscas por diferenças entre as piadas originais em castelhano e as adaptações feitas na dublagem para o português, acabei procurando como era a carta que a Chiquinha mandou para o Seu Madruga quando decidiu voltar à vila. Era assim, lembra?



Carta lida pelo Chaves

Presente para o dente,

Papa querino, eu passei toda a semana tomando. Na epidemia de panças indigestas. Porcas, guaranás e bombas de bois. Ontem de manhã minha tia desentupiu o umbigo. E tudo isso porque eu sempre faço fofó. É só médio ruiva. Então eu tive uma ideia: procurei minha tia e lhe parti. Disse a ela que meu pai é saúvo (...). Irá me levar o cai pra trás. Eu vou chegar casada com o velho.

Carta original da Chiquinha

Presidente Prudente,

Papai querido,

Eu passei toda a semana tomando aulas de dança na Academia de Danças Indígenas: polcas, guarangas guarânias (agradecimento ao leitor Victor 235!) e bumba-meu-boi.

Ontem de manhã minha tia discutiu comigo. E tudo isso porque eu sempre faço fofocas. Isso me deu raiva. Então eu tive uma ideia: procurei minha tia e lhe participei. Disse a ela que meu pai é viúvo. E como viúvo é um homem que não tem apoio material. E como vive só eu quero voltar com ele, e minha disse que está bem.

Irá me levar o capataz. Eu vou chegar em casa com o velho.

Mas... opa, vamos ver como é que são as duas versões em espanhol? Dessa vez não será preciso fazer nenhuma explicação sócio-étnico-histórico-cultutal entre México e Brasil, confira e interprete você mesmo:



Carta lida pelo Chaves

Si halla Juan al gato.

Papa cuerito,

Toda la semana me la pasé tomando. En la epidemia de panzas indigestaditas, tengo guaraches y piso el doble. Ayer en la mañana mi tía se mojó el ombligo, y todo no más porque yo siempre me hago la chis. Esa medio rubia. Entonces tuve una idea y busqué a mi tía y se la partí. Le dije que mi papá es beodo y como vive solo yo me quiero regresar con él, y mi tía me dijo que está bien. Me va a llevar el mayor mono. Pero voy a llegar casada con el viejo.

(Tradução: Se Juan acha o gato. Papai courinho, toda a semana eu passei bebendo. Na epidemia de panças indigestinhas, tenho guaraches [NT: uma sandália de couro bem feia] e calço o dobro. Ontem de manhã minha tia mlhou o umbigo, e tudo porque eu sempre me mijo. Essa meio loira. Então tive uma ideia: procurei minha tia e acabei com ela. Disse-lhe que meu pai é bêbado. O macaco velho me vai levar, mas vou chegar casada com o velho)

Carta original da Chiquinha
Celaya, Guanajuato.

Papá querido,
Toda la semana me la pasé tomando clases de baile en la Academia de Danzas Indigenistas. Tango, guarachas y pasos dobles.

Ayer en la mañana se enojó conmigo y todo nomás porque yo siempre me hago la chistosa. Y eso me dió rabia. Entonces tuve una idea: busqué a mi tía y se la participé. Le dije que mi papá es viudo, y como vive solo yo me quiero a regresar con él, y me tia dijo que está bien. Me va a llevar el mayordomo y voy a llegar cansada con el viaje.

(Tradução: Papai querido, toda a semana eu passei tomando aulas de dança na Academia de Danças Indígenas. Tango, guarachas e passos duplos. Ontem de manhã minha tia ficou brava comigo, e tudo porque eu sempre me faço de engraçadinha. Isso me deu raiva. Então tive uma ideia: procurei minha tia e lhe comuniquei. Disse que meu papai é viúvo, e como vive sozinho quero voltar com ele, e minha tia disse que está bem. Vou voltar com o caseiro e vou chegar cansada com a viagem)
A seguir: sabia que o Seu Madruga não gosta do número 41?

domingo, 3 de abril de 2011

Entenda as piadas sem sentido do Chaves: porque o futebol era a principal atividade indígena

Vamos lá, esta é bem simples e não requererá muito esforço de minha parte e você(s?) não perderá muito de seu precioso tempo lendo tanta baboseira. Alguém que já tenha prestado atenção nos últimos anos em partidas da Copa Libertadores da América pode ter decifrado tal enigma sem muito esforço. Ou, na verdade, alguém que tenha visto a primeira versão do episódio em questão.

Nos sempre engraçados episódios da turma do Chaves na escola, vira e mexe sobra alguma piada perdida seja na tradução espanhol-inglês ou em aspectos sócio-culturais-históricos entre México e Brasil. Pois bem.

Aposto que você se lembra muito bem de quando o Professor Jirafales pergunta qual era a principal atividade indígena, no episódio Aula de História, não? Sem titubear, o Godines responde que eram as partidas de futebol. Por sua vez, o Mestre Lingüiça explica que não estava falando do Corinthians nem do Flamengo. Ahn, como assim? Repare só, depois dos 5:20 do vídeo abaixo.



Na verdade, toda a explicação para essa piada está em outro episódio, gravado anteriormente, chamado “O castigo vem a cavalo” – aquele em que os pais dos alunos reprovados vão à aula, e possui praticamente as mesmas piadas acerca da aula de história. Neste capítulo, o Professor Jirafales pergunta qual era a principal atividade asteca e quem responde “futebol” é o Quico. Na hora, o mestre explica que não está falando do estádio dos astecas (depois dos 3:07 do vídeo abaixo)


Faz falta explicar que o futebol, dizem, foi criado pelos ingleses no século 19? E que o período de povoamento e governo da tribo em grande parte do território hoje compreendido pelo México se deu entre os séculos 14 e 16? Bom, sem querer acabei dizendo. De qualquer maneira, isso prova, historicamente, que seria impossível o povo de Tenochtitlan praticar o futebol.

Mas o bochechudo do Quico não está de todo equivocado. Sabe qual é o nome do maior estádio do México? Pois é... o Estádio Azteca, localizado na Cidade do México e com capacidade para mais de 100 mil pessoas. Incrível, não?

O Azteca, casa de América e Necaxa, foi construído para a Copa de 1970, e em 1997 foi comprado pela Televisa (parêntesis: isso realmente me chocou, afinal... alguém já imaginou um estádio de propriedade da Globo?) – é verdade, o maior canal de televisão no México. Na época, a emissora tentou rebatizar a arena para Guillermo Cañedo, a fim de homenagear um ex-executivo da Televisa. A população recusou, e o nome Azteca foi mantido.

Já que citamos a piada da principal atividade asteca, em um episódio que não é exibido no Brasil, feito já na década de 1980 (todos que o SBT transmite são de 72 até 79). Nele, o Professor Jirafales pergunta para a sala o que é o cosmo. O Godines se prontifica a responder e, sem pensar muito, solta essa: um time de futebol onde jogou o Pelé. Rá!



sábado, 2 de abril de 2011

Entenda as piadas sem sentido do Chaves: as máquinas de lavar não eram Volkswagen

Lembra(m)-se de quando a Pópis vai à lousa explicar a importância de lavar a roupa, em uma aula de higiene no episódio “O último exame”? Ela explica que é preciso molhar, enxaguar e secar, escreve as inicias de cada passo na lousa e, no final, o Chaves mostra que todo esse tutorial da prima do Quico se transforma em um porquinho? Pois então, aí temos um problema até certo ponto relevante na tradução.

Nada de errado em molhar, enxaguar e secar, pois as letras iniciais dessas palavras em espanhol se mantêm: mojar, enjaguar, secar. Tudo bem, até a hora em que a Pópis precisa desenhar as patinhas daquilo que se transformaria instantes depois em um porco.



Como você pode ver a partir do momento 5:45 do vídeo acima, a explicação fanha da Pópis em português é: “mas agora suponhamos que a lavadora seja Volkswagen, então colocamos um dablo aqui e outro dablo aqui”. Opa, opa, opa! Duas coisas importantes: até onde eu sei (e corro grande risco de me equivocar por ter apenas 23 anos recém-completos), a Volkswagen não produz máquina de lavar roupas! E segundo, escreve-se Volkswagen, não Wolkswagen, Pópis!

Além disso, o Professor Jirafales insiste para que a Pópis aprenda a pronúncia correta do W: se diz dábliu, e não dablo. Ok, até aí certo. Mas por que ele não corrigiu o fato de Volkswagen não levar dois W e, assim, estragar a piada do porquinho. Ora! Porque, em espanhol, a piada é outra!

Chegamos, agora, no áudio original. A Pópis, em nenhum momento, menciona a marca da máquina de lavar. O que ela supõe é que a roupa seja Wash and way. Ahá! Agora sim temos alguma coisa: wash, way... olha só, duas letras W! Perfeito!

Humm... nem tanto, nem tanto. O Professor Jirafales trata de explicar para sua aluna que o correto não é wash and way, mas wash and wear. Que significa? Um tipo de roupa que não precisa ser passada antes de usar. Ahhh! Aí sim temos o porquinho perfeito, sem nenhuma letra P (de planchar, que é o verbo que se usa para passar a roupa em espanhol) que atrapalhasse o Chaves na hora de visualizar um porquinho!

Nessa mesma hora, nesse mesmo canal: Por que o futebol era a principal atividade indígena?

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Entenda as piadas sem sentido do Chaves: Juleu não era palmeirense

Para mim, é uma das melhores cenas do Chapolin: a serenata que nosso super-herói gafanhoto ajuda o apaixonado Juleu a fazer uma serenata a Romieta, sua paixão, na adaptação do Chespirito para Romeu e Julieta.

Os dois episódios do conto possuem dois fatores super engraçados: a rivalidade entre a família Montesco com os Capuleto impede que Julieu e Romieta fiquem juntos. O motivo? Matança à parte entre os clãs, o maior impedimento se dá porque os Montesco torcem para o Palmeiras e os Capuleto, para o América. Olha só, instante 3:30.



Opa, mas... peraí, América? América-RJ, América-SP, América-RN, América-MG…? Não dizem, mas se referem ao América do Rio de Janeiro. Por quê? Ora, porque os episódios de Chaves e Chapolin chegaram ao Brasil numa época em que a equipe carioca não estava na draga atual (em 1986, por exemplo, o time chegou até a ser 3º colocado do Brasileiro).

Ainda assim, não há sentido para um palmeirense ter rixa com um torcedor do América, não é mesmo? Como palmeirense, digo que não. O problema é que, na versão em espanhol, de fato dizem América – no caso, América do México, uma das mais importantes de lá e frequentemente mencionada nos episódios de Chaves e Chapolin. No caso, os Montesco não torciam para o Palmeiras, senão para o Chivas Guadalajara.

Só que a parte mais divertida, mesmo, é a da serenata. E bom, me dei ao trabalho de decifrar quais músicas o Chapolin ameaça cantar até ser interpelado pelo Juleu – na versão dublada, apenas traduziram as músicas. As originais são essas: Perdón (valeu demais pela ajuda providencial, Elizabeth Pereira!): El piojo y la pulga (uma infantil bem bonitinha) e Qué culpa tienen nos bueyes (“Que culpa têm os bois”, e não “que culpa tem o cachorrinho”)

Mas a mais legal, mesmo, é a última. Aquela, que começa com “Eu sei bem que estou de fora, mas no dia em que eu for embora eu sei que você vai chorar. Choraaaar e choraaaar”. Pois bem. Mostrei para minha namorada (não tão viciada em Chaves como eu), e ela me contou: essa música é a mesma em espanhol, mas trata-se de uma canção mariachi bem conhecida nos países hispanohablantes. Chama-se El Rey, e desde então passou a fazer parte dos meus CDs de MP3 no carro. Brega, pode até ser, mas não tanto quanto a versão do Maná.

Enfim, chegamos ao melhor momento do conto: a música Taca la petaca (algo como... ahn... seria algo do tipo “Faça as malas”, imagino, visto que não sou nem de longe um expert em espanhol mexicano, sobretudo informal), que não chegou a ser traduzida para o português. Melhor, vai. É genial assim em espanhol, mesmo. Ou vai falar que não?



E paremos por aqui. Colorín colorado, este cuento se ha acabado.

Um adendo: Roberto Gómez Bolaños, o autor e ator do Chaves, é mais conhecido no México pelo apelido Chespirito. A razão deste apelido? Shakespeare. Sim, acredite! Ideia do diretor Agustín Delgado, Chespirito é um nome latinizado e um tanto pejorativo para o Bolaños, por conta de seus romances e pelo tamanho (beeeem baixinho). Assim, Shakespeare, Shakespirito, Chespirito...

Amanhã: As máquinas de lavar não eram Volkswagen