quinta-feira, 31 de março de 2011

Entenda as piadas sem sentido do Chaves: amarelo em inglês é jelou

Essa é clássica, e igual trata de dar um nó, daqueles bem atados, nos fãs de Chaves. Ou vai dizer que você também nunca ficou sem entender por que o Nhonho diz que amarelo em inglês se diz “jeeeelooou”, quando o Professor Jirafales lhe pergunta isso na aula de inglês?

Todos nós sabemos (ou pelo menos imagino que sim), que amarelo em inglês se diz yellow. Aportuguesando toscamente, temos um iélou. Mas nada de jelou, como trata de responder o filho do Senhor Barriga. Então, o que diabos ele quis dizer?

Bom, a resposta para isso veio também enquanto eu fazia minha viagem de alguns meses a Córdoba, na Argentina. Lá o Chaves não passa diariamente, nem semanalmente (às vezes, um canal da TV aberta ou outro do cabo resolve colocar em um domingo ou em alguma madrugada aleatória). Com abstinência, decidi ver alguns episódios no meu celular (obrigado, N95, seu lindo!), e a curiosidade me fez buscar por capítulos com o áudio original.

Este da aula de inglês, salvo engano, foi o primeiro ou o segundo que vi em espanhol. Ainda tentava me acostumar aos diferentes tons de voz dos personagens, mas consegui tirar a limpo essa dúvida que o Nhonho insistia em deixar na minha cabeça.

Então vejamos o vídeo em espanhol, neste vídeo abaixo após os 2:56.




Aaaah,olha só! Não é que o Nhonho, em espanhol, fala yellow perfeitamente? E bom... o próprio Chaves trata de explicar a piada na sequência, mas reforço caso não tenha sido entendido.

Em espanhol, “gelo” se diz hielo – que, convenhamos, possui um som bastante parecido a yellow. Para manter mais ou menos a piada intacta na versão em português, a tradução tentou fazer o yellow do Nhonho ficar parecido a “gelo”. Resolvido o mistério, mais um ponto pra gente.

Ainda em tempo, só um detalhe irrelevante (sim, mais irrelevante do que essa série toda que me empenho em escrever): o Chaves dá risada do Nhonho, diz que o gelo não é amarelo, mas branco. Isso se mantém no espanhol. A diferença é no sabor da raspadinha mencionada pela Chiquinha: na versão original não de laranja, senão de abacaxi (piña na maioria dos países hispanohablantes, ananá na Argentina, na língua guarani, no nome científico da planta (ananas comosus) e... em algum lugar do Brasil? Talvez...

Não perca: as partidas de futebol eram a principal atividade dos astecas? Vejamos...

quarta-feira, 30 de março de 2011

Entenda as piadas sem sentido do Chaves: porque falar inglês é fácil para o Chaves

“É muito fácil, porque é só a gente se lembrar de algum animal e pronto!”, disse, feliz da vida, o Chaves no episódio “Santa ignorância”, segundo a dublagem brasileira. Surpreso, o Professor Jirafales pergunta o porquê da afirmação do Chaves, que não hesita ao responder: “Sim, por exemplo. Para chamar a um menino, em vez de chamar a um menino, chamam de boi”. Pois é, pois é, pois é. Confira no vídeo abaixo, a partir do instante 7:10.



Tem sentido, não é? Mas esse episódio fica ainda mais legal com o som original, com o argumento dado pelo Chaves em espanhol. Lá, na verdade, o inglês não é fácil porque basta lembrar-se de algum animal, senão porque é só dizer as coisas ao contrário. Como assim? Pois bem... entenderemos a partir de uma aulinha básica de conjugação de verbos em espanhol.

Vamos lá. O verbo “ir”, em espanhol, é igual ao português. Contudo, sua conjugação no presente é mais ou menos assim: Yo (eu) voy/Tú vas/Vos (tu, em alguns países) vas/Él, Usted (ele, o senhor) va/Nosotros (nós) vamos/Vosotros (vós) vais/Ellos, Ustedes (eles/vocês) van.

Agora, precisaremos também conjugar no tempo imperativo presente o verbo vir, que em espanhol é “venir”. Fica assim: Tú ven/Vos vení/Usted venga/Nosotros vamos/Vosotros veníd/Ustedes vengan.

Pronto, terminamos nossa aulinha chata de gramática e podemos voltar ao Chaves. Quando o áudio está em espanhol, sua explicação para o inglês ser tão fácil é que basta dizer as coisas ao contrário. Fiz a mesma cara de interrogação que o Professor Jirafales, até que viesse a explicação. Veja você mesmo a partir dos 2:25 do vídeo abaixo, e depois traduzimos.




“Para chamar a um menino, em vez de dizer a ele ‘vem’ (ven, em espanhol), dizemos ‘vou’ (voy)”. E, como já vimos no capítulo anterior que no espanhol o V tem o mesmo som do B, chegamos a “boy”. Simples, não é?

Nosso próximo mistério a ser desvendado será desta mesma aula: amarelo em inglês é “jelou”.

terça-feira, 29 de março de 2011

Entenda as piadas sem sentido do Chaves: porque bala se escreve com B grande

Preste atenção a partir dos 5:32:



Substantivo comum se escreve com letra minúscula, enquanto substantivo próprio vai com letra maiúscula, certo? Bom, foi isso que eu aprendi nos meus primeiros anos de primário e passei a ficar em conflito por conta do Chaves. Afinal, por que o próprio Professor Jirafales diz que bala (ou balaço, em alguns episódios) se escreve com B grande?

Fato é que o Mestre Lingüiça afirma isso com tal propriedade que passei quase duas décadas sem entender a piada. E até mesmo a emenda dada, ora pela Chiquinha e ora pelo Seu Madruga, não ajuda muito. Eles dizem que tal palavra pode sim ser escrita com B pequeno, desde que seja uma bala pequena. Porque, afinal, se a bala é pequena é calibre .22, e 22 se escreve com v pequena. Certo? Em partes...

Esse mistério que tanto me perseguiu durante infância e adolescência só veio a ser desvendado na primeira vez que saí com minha atual namorada, argentina. Conversávamos acerca das peculiaridades da língua espanhola (que belo papo pra seduzir uma garota no primeiro encontro, não é mesmo?) quando vimos uma placa com alguma palavra em questão com a letra V. Não lembro agora qual é.

Foi quando eu percebi que a letra V, em espanhol, tem som de B – e o B segue tendo o som de B. Até aí nada de muito revelador, correto? Pois bem... alguns dias se passaram, meus assuntos de conversa com minha atual namorada melhoraram e comecei meu curso de castelhano em Córdoba. Antes, havia lido em algum desses livros “aprenda espanhol em 20 minutos” que a letra V se chama “uve”, e a B, “be”.

Bom, talvez seja verdade se formos ao espanhol perfeito. Mas, na Argentina, o B é conhecido como “be larga” e o V, “be corta” – afinal, o B minúsculo é maior do que o V minúsculo. Prova: b v. Quem ganhou? No México, país onde o Chaves foi produzido, a nomenclatura é semelhante. B é “be grande” e V, “be chica”.

Agora sim estamos nos aproximando de um entendimento, correto? Agora, para nos acercarmos ainda mais, outra explicação: essa semelhança de sons entre B e V causa muita confusão em quem fala espanhol nativo, e na hora de escrever é bem comum ver palavras que vão com V aparecerem com B, e vice-versa. Daí a pergunta do professor e a confusão do Chaves.

Vamos matar de vez essa questão? Bala se escreve com B, também conhecida como B grande no México. Agora voltemos à emenda da piada: se a bala for pequena é calibre .22, e 22 se escreve com B pequena. Ora veja: vinte e dois, em espanhol, é veintidos. Veintidos se escreve com V, ou seja, a famosa B chica.

Elementar...

No nosso próximo episódio: Por que inglês é tão fácil para o Chaves?

segunda-feira, 28 de março de 2011

Entenda as piadas sem sentido do Chaves: Chaves não queria ver o filme do Pelé

O episódio Día en el cine foi ao ar no México em 1979, mesmo ano em que Pelé e Carlos Heitor Cony lançavam o filme Os Trombadinhas no Brasil. Ora, nada mais justo que a história produzida pelo Rei do Futebol chegasse logo no único país latino da América do Norte e se tornasse uma febre, a ponto de o Chaves querer vê-la mais do que tudo.

Mas não, meus caros. O Chaves não preferia ter ido ver o filme do Pelé. Nada contra o nosso camisa 10, que inclusive fez história no México no tricampeonato da Copa de 1970, mas a fala que ficou famosa no Brasil de “Teria sido melhor ter ido ver o filme do Pelé” nada mais era, na versão original, do que uma auto-propaganda de Roberto Gómez Bolaños. Tudo será explicado, mas cheque que digo a verdade assistindo a este vídeo:



Em 1979, ano em que a série Chaves perderia o importante personagem Quico – e mais tarde também veria Seu Madruga deixar temporariamente o programa –, Bolaños lançava um de seus filmes: El Chanfle, cujos atores são todos das séries de Chespirito. Além do mais, é uma das poucas vezes em que Ramón Valdés (Seu Madruga) e Carlos Villagrán (Quico) atuam com Raúl Padilla, que mais tarde chega à vila como o preguiçoso carteiro Jaiminho.

Em um enredo do tipo lição de moral de El Chanfle, o filme relata a história de Chanfle um fictício e desastrado roupeiro do América do México, que recebe um salário baixíssimo. Casado há nove anos, afundado em dívidas e sem conseguir engravidar sua esposa, ele mantém a esperança de conseguir ter seu filho – sonha que será Chanfle Segundo, um craque do futebol mundial – e, apesar dos problemas financeiros, não deixa que ninguém obtenha vantagem passando por cima do outro (sim, fui atrás e assisti ao filme).

Agora, retornemos à série da vila. No episódio em espanhol, o Chaves jamais menciona o Pelé. Em todo o momento, na verdade, repete: “hubiera sido mejor haber ido a ver la película El Chanfle. Ou seja, seria melhor ter ido ver o Chanfle. Pelé? Naaah!

Aliás, lembrem-se de que neste episódio o Chaves menciona que Seu Madruga parecia muito a um personagem do filme, um treinador de futebol com cara de chimpanzé reumático? Isso é verdade, se as crianças foram ver El Chanfle em vez do filme do Pelé: no filme de Chespirito, Ramón Valdés interpreta a um técnico, chamado Moncho Reyes.

Nota importante: este é o primeiro episódio do Chaves após a saída de Quico, e é a única vez em que o bochechudo é mencionado na sequência da série. Dona Florinda, perguntada por que foi com Chaves e Chiquinha ao cinema e não com seu filho, responde: “Não se lembra de que meu filho foi morar com a madrinha rica dele? Ele não já não podia mais conviver com toda essa gentalha”.

Mas cá entre nós? Mudanças à parte nas traduções, genial o trabalho feito pelos estúdios Maga, que dublaram Chaves para o português. Seria tremendamente sem graça ouvir a todos da série comentando acerca de um filme que não conhecemos. Querendo ou não, “Seria melhor ter ido ver o filme do Pelé” faz parte do vocabulário de muitos por aqui.

Aguarde: por que bala se escreve com B grande?

domingo, 27 de março de 2011

Entenda as piadas sem sentido do Chaves: porque Colombo era a pipa da Chiquinha

Veja este vídeo a partir do instante 5:00.



Chiquinha: “Viu, Chaves, meu pai sabe fazer barquinhos! E outro dia ele fez uma pipa, não foi?”
Seu Madruga: “Eu fiz uma pipa enorme, tive que colar com um colão, um colão de primeira!”
Quico: “Quem foi Colombo?”
Chaves: “A pipa da Chiquinha, você não ouviu aqui!?”

Então Colombo era a pipa da Chiquinha? Bom, não exatamente, mas o final da piada no Chaves dublado é igual à do Chaves em espanhol. Entretanto... em castelhano é mais engraçada, tem mais sentido. Por quê?

Aprendi essa quando saí com minha namorada na Argentina no início da minha odisséia em busca de um par novo de tênis. Sou chato, gosto de algum tênis que seja diferente, porém discreto. Geralmente a linha urbana da Adidas me cai bem, mas os últimos modelos não me chamaram a atenção. Então saímos para procurar no mais conhecido shopping de Córdoba, o Patio Olmos.

Lá fomos a lojas Adidas, Nike, Puma, de esportes em geral e não gostei de nenhum dos pares que havia lá. Não, mentira. Tinha um Reebok bem legal, mas não do meu número. Enfim. Já estávamos cansados e ela sugeriu: “Sei que você não vai querer nenhum par de lá, mas dá uma olhada pelo menos”.

Fomos. A loja se chamava Cristóbal Colón – mesmo nome da avenida onde eu havia me hospedado e depois voltei a me hospedar, a Avenida Colón. Cristóbal Colón, Cristóbal Colón... e olha só, havia uma espécie de cruz-de-malta no símbolo da loja. “Peraí, Ju... então Cristóvão Colombo em espanhol se diz Cristóbal Colón?”. Era tão óbvio que ela nem precisou responder para eu entender.

Mas cola em espanhol não se diz cola, se diz pegamento. Cola, em espanhol, quer dizer rabo, cauda. Pois então imediatamente caiu a ficha. Apenas busquei o episódio com o áudio original e conferi (a partir do instante 1:26):



Seu Madruga: “Por cierto que le tuve que poner una cola muy laaaarrrga, un colóóóón enooorrrme!”
Quico: “Quien fué Colón?”
Chaves: “El papalote, no estás oyendo?”

Ah, aproveitando a deixa: um pouco antes de perguntar quem foi Colombo, o Quico perguntou quem foi o primeiro a chegar à América. O Chaves, em português, diz que foi o papa. Em espanhol, a resposta é outra: Enrique Borja, ex-atacante mexicano, astro na década de 1970 e ídolo do América, famoso time do México.

A seguir: Não era melhor ter ido ver o filme do Pelé? Não! O Chaves não queria ver o filme do Pelé, acredita?

sábado, 26 de março de 2011

Entenda as piadas sem sentido do Chaves: nome do Chapolin

Ok, já sabemos de onde surgiu o nome da série Chaves e também sua versão em espanhol, El Chavo del Ocho. Mas e quanto ao Chapolin Colorado? Bom, vamos à história e depois aos fatos.

A primeira oportunidade que tive de falar com um mexicano foi em 2008, em Buenos Aires. E é bem clichê o assunto: tequilas (eles odeiam a José Cuervo), Chaves, Chapolin, Carrossel e qualquer outra coisa de menor (muito menor) qualidade que o SBT importou da Televisa. Aí surgiu a pergunta: “o Chapolin se chama Chapolin mesmo por lá? Porque bom, o Chaves no Brasil tem outro nome...”

“Sí guey, Chapulín Colorado”, me disse uma das mexicanas da roda. Poderia ter deixado minha curiosidade de lado, mas, anos depois, resolvi investigar por que diabos era Chapolin – afinal, não temos nenhuma palavra similar no português, não é mesmo?

Então encontrei esse vídeo, em que o Chapolin revela seu nome original: Chapulín Colorado Lane. Culpa de quem? De seu tio. Assista ao vídeo abaixo e depois veremos a tradução:



“Esse é meu nome verdadeiro. Meu sobrenome Colorado porque meu pai se chamava Pantaleón Colorado y Roto. Ele era creio que primo de segundo grau de Juan Colorado e sobrinho-neto de Chuchu el Roto. E me chamo Chapolin porque meu padrinho era entomólogo; quer dizer, ele estudava e colecionava insetos. Então ele havia selecionado os nomes de quatro insetos para ver qual me colocaria. Escreveu em uns papeizinhos e os colocou em um chapéu. Então pediu que uma mão inocente tirasse o papelzinho adequado. A mão inocente tirou o papelzinho e que bom que a sorte determinou que escolhesse o qual tinha escrito a palavra Chapolin, porque o nome dos outros três insetos eram caruncho, besouro e libélula!”.

Mas afinal, o que diabos é um chapulín? Para quem não sabe, chapulín é um tipo de gafanhoto bastante comum no México, sendo inclusive uma iguaria por lá (e depois reclamam dos chineses...). Há diversas espécies de chapulines, inclusive um mais avermelhado, chamado chapulín colorado. O nome dessa espécie de gafanhotos vem do idioma náuatle, dos astecas, que quer dizer “inseto que brinca com a borracha”.

Óbvio que o Polegar Vermelho (nome que não colou em algumas dublagens do Chapolin), vulgo Vermelhinho, não teve esse nome em vão. O fato de ser um super herói baixinho e magrelo corrobora, e muito, para seu nome original.

Mas viram que o Chapolin tem “Lane” em seu sobrenome? Pois ele mesmo explica: “Minha mãe tinha o sobrenome Lane. Se escreve L-A-N-E”. Então outro personagem se surpreende! “Que curioso, assim era o sobrenome de Luisa Lane, a namorada do Superman!”.

Mistério resolvido, preparemo-nos para o próximo capítulo desta série irrelevante para a sua vida: por que Colombo era a pipa da Chiquinha?

sexta-feira, 25 de março de 2011

Entenda as piadas sem sentido do Chaves: nome do Chaves

Chaves é o melhor programa/série/sitcom humorístico do mundo, e isso é tão óbvio que nunca se coloca em dúvida (e você não vai discordar, ok?). Contudo, há algumas lacunas em algumas piadas, que se tornam sem sentido por conta das diferenças culturais México-Brasil, mas especialmente por conta das diferenças entre espanhol-português (e não, não existe nenhum portunhol aceitável! A única língua entre esses dois idiomas é o galego).

Nunca havia entendido como alguém capaz de bolar histórias, tramas e piadas geniais atemporais e apátridas poderia inventar coisas tão sem graça como algumas que vi ao longo de minha infância, adolescência e início da vida adulta (todos os dias, sempre que possível). Contudo, dentre tanta coisa que vivi e aprendi nos meus pouco meses longe do país praticamente sem falar português, fui iluminado.

Dado meus tempo livre, falta de assunto e vício por Chaves (e Chapolin também), iniciaremos aqui a sessão “Entenda as piadas sem sentido do Chaves”. Sim, pretendo (caso não abandone essa ideia como algumas outras que já tive neste blog, ou então como o próprio blog) explicar algumas das piadas que (quase) ninguém entende ou que não têm o menor sentido – sugestões são extremamente bem-vindas, diga-se! :)

Apenas para manter o mistério inútil e tentar cativar algum leitor (se é que este blog serve para entretenimento a alguém, além de, como me mostra o Google Analytics, ser isca falsa para alguém desesperado por respostas sérias em sites de pesquisa), comecemos por algo básico: o nome do Chaves – do programa, não do menino em si.

Vamos lá. Ninguém nunca entendeu por que diabos o Chaves se chama Chaves, sendo que este não é seu nome verdadeiro e nem seu sobrenome – muitas vezes perguntam a ele qual é seu nome verdadeiro e ele nunca responde. Mas, então, por que Chaves?

Bom, a explicação mais plausível é que seja um aportuguesamento do nome original da série – no México e em todos os países de língua espanhola, o nome é El Chavo del Ocho. Explica-se: Chavo, em alguns países hispanohablantes como México, Honduras e Nicarágua, quer dizer “menino que ainda não chegou à adolescência”, segundo a Real Academia Espanhola (RAE).

Então já temos o principal: Chavo é menino. Moleque, mais especificamente. Imagine que estranho seria quando, ao invés de dizer “Ei, Chaves”, dissessem “Ei, moleque”. Pois é, para nós, acostumados com a dublagem, soa super estranho.

Mas tem mais: por que Chavo del Ocho? Bom... ele sempre disse que vivia na casa 8 – uma das que nunca aparecia na numeração esquisita da vila. Na verdade, 8 era o número da Televisión Independiente de México (TIM), que transmitia o Chaves no México. Na década de 1970, a empresa virou Televisa, mantendo o canal de número 8 e também o Chaves em sua programação.

Ou seja, o nome do Chaves em português seria o “O menino do 8”, assim como é em inglês (The kid from 8), holandês (De jongen van nummer 8) e alemão (Der junge aus der 8) – no italiano, Cecco della botte significa “menino do barril" e soa esquisito quanto.

De qualquer forma, obrigado, estúdios Maga, por não fazer a tradução literal para batizar o Chaves!

Nessa mesma hora (?), nesse mesmo canal: Conheceremos a origem do nome do Chapolin Colorado. Agora, quando? Talvez amanhã, senão depois... mas algum dia, com certeza.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Como se livrar dos chatos na rua

Tem coisa mais desagradável do que você estar andando na rua, feliz e contente com algum detalhe de sua vida ou com alguma música tocando no seu fone de ouvidos, e ser abordado por alguém vendendo alguma coisa que você não necessita? Bom... certamente há sim coisas mais desagradáveis, mas ser parado na Avenida Paulista é algo do qual eu realmente não gosto.

Sempre tive esse tipo de problema, mas tampouco gostava de ser ignorante, grosseiro ou um mero papagaio que repete a mesma desculpa de sempre, como “estou atrasado” ou “não tenho tempo”. Contudo, fui capaz de desenvolver um passo a passo (mais sério do que o último já publicado neste espaço) bastante efetivo para se livrar desses chatos (que sim, fazem seu trabalho, mas que atormentam um tanto a minha vida).

Estive empenhado neste estudo desde janeiro, quando quis fazer graça com a minha namorada enquanto entrávamos na Fnac e tentaram nos empurrar um CD de jazz – o cara era até simpático, mas estávamos brincando de "troca de nacionalidade". No mesmo mês, uma mulher que queria nos vender ingressos para alguma balada do Guarujá. Hoje, a conclusão da pesquisa se deu com um grupo de pessoas comercializando sei-lá-o-quê – consegui me livrar deles mais rápido do que antes.

Tudo funciona assim:

Passo 1
Seja um apátrida. No meu caso, já fui visto como argentino, turco, chileno, peruano, colombiano, boliviano, hondurenho, mexicano... nunca brasileiro. Muitos de meus amigos, inclusive, nunca sabem se estou no Brasil (ora, como se eu viajasse tanto assim!).

Passo 2
Faça seu visual corroborar que você é apátrida. No meu caso, ser bem servido de nariz e possuir um nível acelerado de crescimento de pêlos faciais são coisas que também ajudam. Um cabelo bagunçado pelo vento e uma vestimenta básica (sabe? Calça jeans, camiseta Hering sem estampa e um tênis comum) me transformam no personagem perfeito.

Passo 3
Saiba falar uma língua estrangeira com o mínimo possível de sotaque brasileiro e o máximo de acento de alguma região. No meu caso, consigo me transformar de um portenho a um cordobês comum, passando por um uruguaio de Montevidéu e por um cordobês vulgar sem grande esforço – aos olhos de um argentino, porém, sempre terei um sotaque meio-espanhol-andaluz-meio-centro-americano.

Passo 4
Misture esse seu sotaque estrangeiro com um nível extremamente elementar do português (uma ou duas palavras por frase).

Passo 5
Seja cínico, mantenha seu rosto lívido e segure o riso. Ao mesmo tempo, seja criativo para improvisar quando for necessário. O resultado será mais ou menos assim:

- Oi, boa tarde. A gente tá vendendo...
- Hola, buenas. Yo... yo nao falo portugués, me entendés?
- Não? De onde você é? (aqui começam alguns gestos do interlocutor)
- Yo soy argentino.
- Ahhh. Bom, a gente tá com essa promoção de...
- Che, escuchame, yo no hablo... no falo portugués, dale? (E agora aumentamos bastante a velocidade do nosso discurso) Pero si vos me hables en castellano seguro que sí te entiendo.
- Desculpa… qual o seu... Eh... nombre?
- Carlos Mona Jiménez.
- Ah, bom… tudo bem. Obrigado. E ó... Pelé! Penta!!! Maradona es drogado!

Ok... dizer que você é argentino certamente vai te sujeitar a tais piadas. Acontece...

terça-feira, 15 de março de 2011

Simultaneidad(e)

Estranho te estranhar;
Extraño extrañarte,
Estranho sua maneira de agir de maneira estranha;
Extraño quando me diz que me extrañás,
Estranho que não me extrañes;
E também estranho que me extrañes,
Te extraño – às vezes;
Te extraño – todo o tempo,
É estranho não extrañarte.
Extrañarte. É estranho.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Método impossível para ter 100% de chances de ganhar na Mega Sena

Antes de tudo, um momento confissão pessoal um tanto quanto vexatória: apostei R$ 6 na Mega Sena da virada como quem não quer nada, mas sonhar todos os dias com a possibilidade (remotíssima) de embolsar R$ 200 milhões me fez arquitetar a melhor maneira possível de usar toda a fortuna. Horas antes do Réveillon em Córdoba, chequei o resultado e fui fumar um cigarro na beira da piscina chateado (sim, bem chateado!) por ter acertado apenas duas dezenas.

Desde então, realizando super complexos cálculos matemáticos, recorrendo a calculadoras financeiras e sendo alvo de chacota de todos a quem eu contava sobre meu plano, cheguei a uma fórmula infalível. Com este passo a passo, sua chance de ganhar na Mega Sena é de 100% - o único problema é que a possibilidade de você conseguir tocar este plano é algo em torno do 0 absoluto. De qualquer forma, vamos a ele.

Partimos de dois pressupostos:

1. A própria Mega Sena diz que a chance de você acertar as 6 dezenas em um jogo com uma aposta simples é de 1:50.063.860. Isso mesmo, uma em cinquenta milhões, sessenta e três mil, oitocentos e sessenta. Assustador, né? Mas calma.

2. Leve em consideração que cada jogo simples custa R$ 2,00.

O plano infalível:

1. Você precisa ter R$ 100.127.720,00 em caixa para investir. Uma maneira de se obter essa grana é fazendo um empréstimo bancário – afinal, é o único investimento 100% seguro do mundo (creio eu).

2. Com essa grana, faça 50.063.860 jogos diferentes: partindo do 01-02-03-04-05-06. Não deixe de fazer nenhuma das probabilidades.

3. Faça cara de surpresa quando souber que você ganhou na Mega Sena e acertou na quina e na quadra várias, várias vezes (fiquei com preguiça/não sei calcular), pague o empréstimo realizado e desfrute do total que te sobrar.

Ok, eu sei. Genial essa minha ideia, não? E você se perguntaria por que diabos eu a divulgo na internet, não? Bom... apesar de o resultado final ter 100% de probabilidade de dar certo, a chance de o plano dar certo durante a execução é quase que nula (mas quase quase mesmo).

Afinal, quem tem uma grana de mais de R$ 100 milhões disponíveis, assim? Ou, então, que banco que aceitaria te emprestar esse capital assim, livrinho? Além do mais, como você faria 50 milhões de jogos diferentes e não cometeria nenhum erro? E qual casa lotérica aceitaria computar 50 milhões de apostas?

E pior: vamos supor que você tenha ou consiga a grana e faça 50 milhões de jogos distintos. Mas e se acontecer de um sortudo, que fez apenas um joguinho, acertar as mesmas 6 dezenas e o prêmio for dividido? Aí, você teria lucro zero, talvez uma baita dívida para pagar e uma enoooorme dor de cabeça.

Entretanto, toda essa baboseira mostra que não, não é impossível ganhar na Mega Sena.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Comendo na mão

Nunca havia gostado da sensação de “ter alguém comendo na minha mão”. Sempre me soou como um mau-caratismo, coisa do tipo. Sei lá, sempre foi muito incômodo ouvir alguém dizendo “Cara, não sei quem tá comendo na sua mão”. Bom, relevemos aqui um caso que ficará guardado em minha cabeça por mais algum tempo até que mais detalhes sejam atirados no ventilador. Não vem ao caso.

Fato é que tal expressão nunca veio a calhar para que eu me animasse. Mas, depois de um exercício homérico de paciência, autocontrole e psicologia, acabei sentido uma sensação completamente diferente por ter “alguém comendo nas minhas mãos”. Já explico o porquê.

Era uma relação turbulenta, por muito tempo tivemos incompatibilidades – e sempre pensei que fosse mais da parte de lá. Só que, com o tempo, acabei percebendo que era eu o responsável pela maior parcela de culpa: nunca corria atrás, não me esforçava, esperava que a outra parte, de um dia para o outro, resolvesse confiar completamente em mim e deixar de lado aquele instinto que teve desde que veio ao mundo.

Fato é que estamos mais maduros, os dois. E, após um momento de grande turbulência, resolvi me aproximar. Dar a cara a tapa, me expor ao perigo de me machucar. Enfim, queria compensar meu período ausente.

A reciprocidade custou para acontecer, mas aos poucos via os resultados. Claro que, até chegarmos a este ponto, ambos nos machucamos. Muito me entristeci, ela se desesperou e acabou se machucando em certos momentos e perdendo – e muito – a confiança em mim quando precisei agir como se deve agir, como previamente relatado aqui.

No fim, porém, tudo acabou dando certo. Agora, ela come na minha mão.

Após mais de dez anos, aí está o resultado. Minha calopsita, muito menos arisca (mas ainda um pouco ressabiada), agora come na minha mão. E poucas pessoas sabem o quanto isso é importante para mim.

Óbvio que esta não é a imagem que ilustra o texto. É bem difícil tirar uma foto com uma mão cheia de alpiste e sendo bicada por um pássaro