terça-feira, 31 de julho de 2007

Carta para o futuro

Escrevo esta carta seis meses antes de te conhecer e 12 antes de me apaixonar. Escrevo pura e simplesmente por saber que um dia você não vai ler esta carta, escrita sob a luz bruxuleante de uma vela e com uma letra torta, um pouco cansada. As palavras que você não vai ler não terão métrica, melodia ou sequer uma rima. Não farão parte de uma poesia, me desculpe. São apenas pensamentos esparsos em um domingo sem luz.

É uma pena que você não leia tudo o que escrevo agora. Gostaria que você soubesse o quanto vou gostar de você. E quantas vezes irei dormir pensando em você, em quantos sonhos a sua imagem aparecerá para mim... mais do que isso, talvez seria interessante se um dia eu te contasse isso. Quem sabe um dia, quando você já estiver casada e com três filhos (um deles terá o nome do seu marido).

Ainda não sei do desgosto que vou nutrir por você nos dias que sucederão à decepção que vou ter com você. Para falar a verdade, escrevo sem tê-lo em mente. A única coisa que move minha caneta é a imagem do seu sorriso tímido, que vai ser o meu porto seguro durante algumas semanas.

Também não passou pela minha cabeça que me apaixonarei e desapaixonarei por você sem ter-lhe tido em meus braços. Pensarei platonicamente em você sem jamais ter beijado seus lábios e sem ter segurado as suas mãos. As suas mãos pequenas, de dedos curtos, frágeis, que arrumam seu cabelo de mechas claras e brilhantes.

Escrevo sem saber que derramarei algumas lágrimas por você. Vou me lembrar de você em um sábado, depois de assistir a um filme sozinho em uma sessão noturna de cinema, de jantar em uma mesa vazia de um restaurante japonês e de tomar uma taça de vinho em um bar, ao lado de vários casais de namorados. Meus lábios ficarão trêmulos, meus olhos ficarão marejados e a primeira gota rolará pelo meu rosto quando estiver dirigindo, voltando para casa, e alguma música um pouco mais lenta irá tocar no som do meu carro. Mas ninguém verá, porque já será de madrugada e as ruas também estarão vazias.

Não cogitei a hipótese de perder algumas horas pensando em uma poesia singela e boba para lhe dar quando comemorarmos nosso primeiro mês de namoro. Não sei que um dia vou sonhar em passar nosso aniversário de um ano de namoro em um bar em Praga, antes de sentarmos à beira do Rio Vltava, com a visão do Castelo de Praga ao fundo. Mas não me importaria com a belíssima paisagem tcheca. Minha vontade era passar com a cabeça apoiada no seu colo quente, olhando para o seu rosto de baixo para cima e contemplando o seu sorriso.

E o pior é que também não imagino que um dia vou querer fingir que você não existiu para mim. Daqui um ano, iremos nos encontrar todos os dias e sequer nos cumprimentaremos. Sei que não. No máximo, darei um sorriso para responder ao seu oi quando nos virmos em algum corredor.

Só que não quero pensar em nada disso hoje.

Por ora, quero apenas te conhecer logo e imaginar como seria perfeito andar por um país sem conseguir me comunicar com mais ninguém, apenas você. Que me fará sorrir, se não pelo resto de nossos dias, pelo menos durante algumas semanas.

domingo, 29 de julho de 2007

V de vingança

Uma das coisas a que eu mais dou valor é acordar no meio de uma noite fria.

Simplesmente abrir os olhos no meio da madrugada com um cobertor já jogado no chão, olhar para a janela e se lamentar pela noite de sono ter sido tão curta, mas já se preparar para um dia longo e cansativo.

E logo em seguida encontrar o painel luminoso do rádio relógio e ver que ainda são 3h30 da manhã. E que, por mais que você já tenha se preparado psicologicamente para o dia que vem a seguir, ainda pode ter mais três horas de sono. E até mais quentes do que antes, porque pode pegar o cobertor caído e juntá-lo aos outros dois que já estão sobre a cama.

Sempre gostei quando isso acontecia, desde pequeno. O único problema é que as tais três horas passam rápido, e o despertador dispara com tudo no horário de sempre. E não se pode fazer nada, a não ser levantar e ir para o tal dia.

Hoje, no entanto, foi diferente.

Não acordei no meio da noite. Só fui despertado às 6h27, com o tal alarme embalado como sempre.

Ouvi o barulho e abri os olhos. Olhei pela janela, levantei da minha cama, atravessei o quarto e, no meio do caminho, lembrei de uma coisa: depois de três semanas de trabalho em um ritmo alucinante, estava de folga.

Cheguei em frente ao despertador, deixei escapar um sorriso e enchi a boca para sussurrar para o carrasco de todos os meus sonhos: “Ih, hoje não. Se fodeu”.

E voltei a dormir.

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Rapidinhas do Pan

Porta-bandeira amarelo:
Para quem achava que o último dia do Pan não teria nada de bizarro, tudo começou cedinho, na prova da maratona masculina – que, a meu ver, era ouro certo para o Vanderlei Cordeiro de Lima. Primeiro da delegação verde e amarela na cerimônia de abertura, o nosso porta-bandeira que se dá ao direito de beijar a Miss Brasil em frente às câmeras não poderia desonrar seus compatriotas e deu uma bela amarelada, desistindo da prova antes do fim.

Mau exemplo: O Franck ‘canelas-de-sabiá’ Caldeira deu um show na maratona, ao contrário do compatriota. O mineiro que se equilibra sobre duas varetas foi buscar no finalzinho a diferença de quase 300 metros que o fortíssimo guatemalteco Amado Não-lembro-quem ampliava gradativamente. No entanto, uma cena feia: o nosso campeão tomava água e jogava o lixo no chão. E em rede nacional! Se fosse um cara consciente, deveria sair de casa com um saquinho plástico, e... parei.

Calando a boca: E deu Flávio Saretta na final do tênis, contra tudo, contra todos e contra o próprio desempenho pessoal. O barbudinho bem que tentou, mas não foi bom o bastante para ser mais um amarelo no Pan. Ele fez de tudo para perder, mas conseguiu subir no degrau mais alto do pódio, calando a boca de muitos críticos. Inclusive a minha, que sempre fez comentários maldosos quando o glorioso tenista perdia na primeira rodada de um challenger qualquer.

Quase Deus, parte 1: Uma coisa que eu reparei ao longo dos Jogos foi a onipresença do Galvão Bueno nos eventos. O cara tava em todas, era impressionante. O jogo de vôlei terminava por volta da meia-noite e, depois de uns 150 ‘Giba neeeeeeeeeeles’, logo às 8h do dia seguinte, lá estava o gênio da crônica esportiva pronto para narrar o futsal. Isso sem falar na transmissão da Copa América. Parecia um estagiário.

Quase Deus, parte 2: Hoje, enquanto assistia à final do basquete, percebi a onipotência do Galvão Bueno. Em menos de dez minutos de transmissão, ele fez com que o Rodrigo Santoro fosse disputar a final do hipismo e o Flávio Saretta estivesse na briga por uma medalha no vôlei. Ele pode tudo! Até fazer com que Oscar e Hortência concordem com tal afirmação. Para virar Deus de verdade, só faltou a onisciência...

Férias para o Galvão: Por essas e outras, o Galvão Bueno deveria descansar um pouco e ganhar pelo menos uns dois meses de folga. Ou isso ou estaremos fadados a ouvir fantásticos comentários como “o cérebro é um queijo pastoso em uma caixa de madeira”, ou “a banana é rica em cálcio”. Isso sem falar que o nosso digníssimo amigo da Rede Globo pode se tornar barraqueiro.

Aprendendo na marra: A cerimônia de encerramento seguia o protocolo de uma festa xoxa e triste até que entrou em ação o Mário Vasquez, presidente da Organização Desportiva Pan-americana (Odepa). Na abertura, o gringo causou uma das cenas mais bizarras do Pan ao de pronunciar em espanhol e constatar que carioca não sabe nada de castelhano ao dizer hoje (hoy) e ser cumprimentado hospitaleiramente pelo povo do Rio. Hoje, no entanto, o mexicano iniciou seu discurso saldando a galera do Maracanã com um simpático “Ooooi” e caindo na gargalhada. Logo em seguida, quando precisou se referir ao dia presente, não hesitou: “Hojeeee”. E a festa de encerramento ficou engraçada.

sábado, 28 de julho de 2007

Tentativa de assalto

Sábado, decidi mudar a minha rotina de almoços e parei no McDonalds em vez de em algum outro self service no caminho.

Depois de comer algo nem um pouco saudável e sair da lanchonete, coloquei a mão no bolso para pegar os fones de ouvido e fazer a volta para casa com trilha sonora. Assim que tiro os fiozinhos brancos do bolso, ouço dois passos rápidos e mais três no mesmo ritmo que o meu.

“Ei”, ouvi. Decidi fingir que não era comigo, até porque meu nome começa com F... Não deveria ser alguém íntimo me chamando por algum apelido que eu ainda não conheço.

“Ow, ow, ow”, ouvi novamente. Continuei andando e decidi me fazer de difícil. Mas, claro, já estava pensando em tudo o que falar para o meliante. Já tava tudo ensaiado na cabeça:

- Não, cara, não tenho nada.
- Tava trabalhando, cara, tô voltando pra casa.
- Se eu sou playboy, não deveria estar trabalhando em um sábado desde as 8 da matina. E nesse frio!
- Onde eu trabalho? Eu sou estagiário, cara.
- Celular? Pô, mas esse tá uma merda. Nem crédito ele tem!
- Ah, esse ipod... eh, mas... aaahh... eh...

Aí ele ia pedir para ver o que eu tinha na mochila e não ia encontrar muita coisa, a não ser uma caneta, uma caixa de óculos sem óculos, o tal livro do Harry Potter, e um outro que eu troquei com um hare krishna por todas as oito moedas de R$ 0,10 que eu tinha no meu bolso há umas duas semanas. Não ia ler, mas também não joguei fora porque alguma personalidade da religião pode se voltar contra mim e me amaldiçoar para sempre.

Voltando...

“Aí, caralho, pára agora. E vira pra cá!”. Agora sim era comigo. Decidi me virar e me surpreendi por não encontrar nenhum trombadinha a meu encalço. Vi apenas dois polícias que haviam invadido a calçada com suas motos e que apontavam cada um uma arma (que, aliás, pareciam aquelas de pressão) para um cara de toca.

“Mão na cabeça, porra! Aí, eu mandei colocar a mão na cabeça”. Comecei a fazer o movimento para colocar a mão na cabeça, lentamente, como eu via nos filmes da tevê. Até que um dos oficiais percebeu o que eu estava fazendo e rapidamente esclareceu: “Não, você não! Você vai embora. Tu num viu que ele ia te roubar não?”.

Preferi não responder. O sorriso amarelo do meliante, que me olhava com um misto de ‘dessa vez você deu sorte’ e ‘ainda te pego, fidaputa’, respondia tudo. Coloquei rapidamente os fones de volta no meu bolso, dei as costas para a cena e fui para o metrô, mantendo o ritmo dos passos.

E só na estação eu decidi fazer com que a minha vida tivesse trilha sonora.

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Rapidinhas do Pan (com videocassetadas)

A canoa virou: A última prova de canoagem velocidade do Rio-2007 era o K2 500m para mulheres. Em ação, Naiane Pereira e Ariela Pinto, que tinham a incumbência de se tornarem as primeiras mulheres brasileiras da história a subir ao pódio em um Pan. A largada foi dada e os caiaques de Canadá, Cuba, Venezuela, entre outros, disparam na Lagoa Rodrigo de Freitas. O verde e amarelo não sai do lugar. Mas é errado dizer que a embarcação não se mexeu: ela tombou, jogando as representantes nacionais na água. Depois da bizarrice, o técnico explicou: “A pressão atrapalhou”. Em tese, foi (mais) uma amarelada da delegação brasileira.

Cama elástica 1: Acompanhei o resultado das provas do trampolim acrobático pelo site do Rio-2007, mas achei estranho o fato de a brasileira Bruna Garambone não ter recebido mais do que a nota 0,8 (em uma escala que vai até 10, que fique claro). O Sportv começou a passar a reprise. Foram quatro saltos: um parafuso esticado, uma pirueta e meia com frescura da comentarista, um duplo mortal para frente e uma pataquada com aterrissada de cabeça. Depois de parecer uma bêbada na cama elástica, a última posição.

Cama elástica 2: A mesma nota baixa da Bruna Garambone esteve presente com outro brazuca: Rafael Andrade. E ele conseguiu imitar direitinho o feito da compatriota. Depois de três saltos até que bem executados, uma pisadela no quiabo com quique de bunda. Apresentação abortada e último lugar.

Tem um limite: Para não parecer que eu só falo mal dos atletas brasileiros, vai uma cassetada de um uruguaio. Na semifinal do basquete, o Taboada foi em busca de uma bola perdida na lateral da quadra, mas se esqueceu de frear. Resultado: atropelou a placa de proteção lateral e tombou junto com o aparelho, ficando em uma posição não muito digna com a retaguarda ao vento. Só não entendi por que o Cléber Machado falou que a torcida da Arena Olímpica aplaudiu o esforço do uruguaio sendo que todo mundo tava dando risada.

China no quadro de medalhas: E quem disse que a China ficou de fora dos Jogos Pan-americanos? Depois de hoje, com a final individual do tênis de mesa, a constatação que a maior população do mundo tem condições sim de garimpar medalhas em solo americano. Após o mais do que emocionante duelo entre Lin Ju e Liu Song (quase xarás), ouro para o primeiro, que recebeu o patrocínio da República Dominicana e impôs mais uma derrota à Argentina (que havia aliciado o Liu). Um dia antes, houve a final do feminino entre Jun Gao e Xue Wu. Depois da dupla dobradinha, o país oriental chegou a duas medalhas de ouro e outras duas de prata, disparando no quadro de medalhas, assumindo a 15ª posição e ultrapassando potências esportivas como Antilhas Holandesas, Ilhas Cayman, Barbados, São Vicente & Granadina e Nicarágua. Fraaaancamente...

sexta-feira, 27 de julho de 2007

Metrô também é cultura

A conscientização popular metroviária tomou uma dimensão tão grande que chegou às escadas rolantes.

Antes, os ensinamentos eram de que os bancos de cor cinza são de uso preferencial (Respeite esse direito!).

Em seguida, foi pedido à população para que, ao toque da campainha, não entre nem saia do trem.

Na hora do rush, a lição de casa é fazer com que os passageiros não segurem as portas do trem (Isso provoca atraso em todos os trens).

Os usuários do coletivo subterrâneo também já foram informados de que pedir esmolas e o comércio ambulante nos trens são práticas ilegais (não incentive essas ações).

Um dos mais conhecidos é o pedido para que os passageiros não ultrapassem a faixa amarela. A súplica mais clássica, no entanto, é para que, mesmo em caso de emergência, o civil não desça à via de maneira alguma.

Hoje, o metrô escreveu mais um capítulo nessa história tão bonita que é a conscientização popular, ensinando pouco a pouco o cidadão a usar o transporte público. Pelo menos em uma das escadas rolantes da Estação Jabaquara, havia um manual de instruções para o uso da escada rolante.

Sem muito o que fazer, comecei a prestar atenção nos dizeres, escritos em adesivos colados ao longo daquela parte metálica ao lado do corrimão. Ao ler, tive a inteira certeza de que eu não sei andar de escada rolante.

Claro que não me lembro de todos os adesivos, mas destaco os que me chamaram a atenção. A começar pelo tradicional ‘mantenha-se à direita, deixe a esquerda livre pela circulação’. Ponto para o criador dessa idéia, que colou os adesivos do lado direito da escada.

Em seguida, ‘mantenha os pés longe das bordas’. Passando por ‘os adultos devem andar de mãos dadas com as crianças’ e ‘não sente nos degraus’. Até aí a minha nota era dez. Até aí.

Comecei a perder pontos no ‘segure-se no corrimão’, e minha média começou a ficar vermelha no ‘não corra’. Sinto que terminei com a nota bem baixa no teste da escada rolante quando acabaram os adesivos. Tinha um lembrete até para que o usuário tomasse cuidado com a roupa durante o trajeto. Nunca tinha prestado atenção nisso.

Antes, andar de escada rolante era mais simples. Da primeira vez que andei em uma com o meu pai, em meados da década de 1990, recebi a única instrução que lembro até hoje: ‘Dê um passo firme, olhe onde você vai pisar e espere o trajeto chegar ao final. Na hora de sair, mais um passo firme. Cuidado, essa é a parte mais difícil’. E não é que nunca falhou?

Claro, durante um tempo tive a minha fase X-treme na escada rolante. Na época do colegial, o mais bacana eram os campeonatos de butt-rail. A pista mais emocionante era na Estação Consolação; a da morte, na Vila Madalena.

Veeelhos tempos!

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Rapidinhas

Uma vida mais feliz: Não faz muitos dias, decidi tomar uma atitude drástica para mudar a minha vida: tirei o Insert do meu teclado e coloquei um esparadrapo tampando o vão do maldito botão. Desde então, tenho sonhos mais agradáveis, ando menos estressado e meu cabelo parou de cair.

Vacilo: De uns anos para cá, a ESPN Brasil vem dando um show de jornalismo esportivo, apesar de não ter nem de perto a verba e a influência que a Globosat, do Sportv. Às vezes há algumas derrapadas, e uma delas aconteceu há alguns instantes. O Pedro Lima conseguiu a primeira medalha pan-americana de ouro do boxe brasileiro dos últimos 44 anos. Logo depois, o pugilista apareceu na redação da emissora instalada na Vila do Pan. Depois das perguntas de praxe, o Dudu Monsanto preparou uma surpresa para o grande campeão: "A sua namorada Jacigleide (!) está na linha, Peu, o que você tem a falar para ela?". Começou. Peu e a gloriosa Dinha (ah, se não fossem os apelidos!) trocaram juras de amor. O auge foi quando o medalhista disse "Meu amor, nada vai mudar entre a gente depois dessa medalha. Você sabe onde eu tenho aquela tatuagem pra você, naquele lugar que eu não posso mostrar na tevê". Ai, Jesus!

Limbo: Aproveitando o gancho da medalha de ouro, lembra o Hudson de Souza, aquele de quem ninguém se lembrava? Então. Anteontem, ele ganhou mais uma dourada nos 1.500m livres masculino. Não sei quanto o restante dos locutores, mas pelo menos os que narraram nas duas emissoras que eu vi simultaneamente (Band Sports e ESPN) custaram a se lembrar que havia sido o bicampeonato da prova, visto que o fundista havia faturado o primeiro lugar no Pan de Santo Domingo-2003. Ninguém lembrava do tal Hudson, dono do primeiro ouro do Brasil nos Jogos da República Dominicana.

Limbo (versões 2 e 3): A moda da semana é o futebol feminino. Justíssimo. Foi uma das melhores campanhas que eu já vi de um time em uma competição. As emissoras de televisão reivindicaram uma competição oficial para as meninas e o Orlando Silva, ministro dos Esportes, prometeu. Porque afinal elas merecem, e muitas garotas podem ser iguais à Marta, a melhor do mundo... e mais quantas frases feitas forem necessárias. Vai ser assim até domingo, quando os programas de debate futebolístico vão mostrar os gols, dizer que muitas das mulheres têm lugar nos times de marmanjos. Segunda-feira que vem, quase ninguém vai dar mais importância para isso. Aliás, estava pensando... será que alguém na rua se lembra do Diogo Silva e que esporte ele pratica?

quinta-feira, 26 de julho de 2007

E agora, José?

Tinha tudo para ser apenas mais uma quarta-feira normal, talvez um pouco abaixo das expectativas. Fazia frio e garoava lá fora quando eu acordei, o metrô estava um pouco mais lotado do que o normal e a Avenida Paulista estava o caos de sempre em um dia chuvoso.

Tentei não me abalar pela ligeira quebra da minha rotina. Mesmo entrando uma hora mais tarde no trabalho, mantive a tradição de comprar um copo grande de água quente e suja (no Monet, dizem que é café), pegar o elevador e tomar um copo de água gelada antes de começar a tomar o ‘café’.

Liguei o computador, sintonizei as televisões da redação no Sportv para mais um dia de Jogos Pan-americanos. Tudo corria bem, embora eu tivesse esquecido a minha caneta em casa e as folhas que eu guardo de rascunho ao lado do computador já tivessem sido usadas durante a noite.

Foram provas de canoagem velocidade, preliminares de luta greco-romana e caratê, decisão do último lugar no hóquei sobre grama, algumas partidas de tênis. Por volta das 13 horas, minha maior (e única) preocupação era encontrar um jeito interessante para explicar que um dos brasileiros iria enfrentar um canadense na disputa individual de tênis de mesa.

Em um instante, no entanto, um barulho. De um teclado de computador caindo da mesa, talvez. Normal, acontece. Dez segundos depois, um uníssono ‘Aaai’ e um baque surdo. Não, isso não era normal. Levantei, estiquei o pescoço e vi o que já imaginava há alguns segundos, depois do grito de dor: um homem estirado no chão.

O que acontecia eu não consegui ver. Ou não entendi. Talvez tivesse sido apenas um mal-estar. Normal em uma redação abafada. Depois, tremedeiras. Palidez. Gemidos, preocupação, algo semelhante a uma massagem cardíaca. Correria, afobação. “Fica bem, fica bem!” Tentativas de telefonemas. Polícia, bombeiros, médicos, segurança. Uma ida ao ambulatório médico da fundação. A porta, trancada; o médico, na hora de almoço.

Desespero. O melhor site de esportes do Brasil parado durante 30 minutos. Um bombeiro, uma cadeira de rodas, correria. E o homem era levado para o hospital no colo do bombeiro. Sem conseguir falar nada. Acordado, mas grogue. Com uma súplica por assistência no olhar distante.

Depois que o homem foi levado para embora, toda a redação com o olhar fixo para o mesmo ponto imaginário postado no fundo da mesma parede. Até que o primeiro sentou. Cinco segundos depois, o segundo retornou ao seu lugar e, no mesmo intervalo de tempo, a rotina ia voltando à normalidade.

Voltei à notícia do tênis de mesa. Ainda tive tempo de escrever mais alguma coisa sobre tênis e caratê tentando sobreouvir as conversas em busca de alguma notícia. Nada além dos comentários de sempre. "Acho que foi isso". "Não, mas pareceu ter sido aquilo". E, claro, o tradicional "Quando ele caiu da cadeira, não pensei que fosse nada sério. Pensei que ele tava brincando".

Fui embora chateado, sem a esperança de dizer “não foi nada, e amanhã ele tá bem”. Talvez não tenha sido nada tão grave, mas é melhor não falar nada ainda. Para falar a verdade, nem pensei muito nisso ainda. Acabei lembrando algumas coisas.

O tal homem, que deve ter pouco mais de 60 anos, talvez, foi o primeiro a me dar bom dia, mesmo quando eu ainda fazia os testes do processo seletivo para o estágio. Dias antes de sair o resultado de que eu tinha sido contratado, em novembro, me encontrou na rua e fez questão de me cumprimentar.

É o único que consegue chegar bem humorado à redação às 8 horas de uma segunda-feira. Que faz as mesmas piadas que acabam sendo engraçadas por serem feitas quando o único barulho é feito pelos dedos em contato com as teclas. Do Braguinthians. É o chefe que melhor trata os estagiários, sem ter vergonha de pedir explicações sobre o andar de um campeonato de tênis ou perguntar quem é aquele número seis do Flamengo na foto. E que ainda agradece como se você tivesse feito o maior favor do mundo. Além de pedir desculpas por ter te incomodado.

Um cara bacana. Daqueles que, em um feriado de Corpus Christi, vai trabalhar às 8 horas enquanto apenas um estagiário (eu) estava escalado para trabalhar.

- Só tá você aqui agora? É feriado, meu, volta pra casa pra dormir.
- Bem que eu queria, mas...
- Cara, mas assim nem dá tempo de você tomar café da manhã.
- Hahahaha... Tô acostumado.
- Você saiu de casa sem comer nada?
- Nada. E nem pude tomar o café que eu tomo todo dia... tava tudo fechado no caminho pra cá.

(Ele foi embora. Dez minutos depois, apareceu com um Club Social, um copo de guaraná e um chocolate)

- Comprei pra você. Come aí, cara, senão você vai passar mal. E, se quiser mais, pode me falar que eu vou lá e compro pra você.

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Água abaixo

Foram seis anos de uma longa epopéia.

Lembro que comprei a primeira parte da trama em algum dia de maio de 2001. Tinha o dinheiro contado para comprar o Use your illusion I, do Guns n’ Roses, mas passei na frente de uma livraria no shopping e optei pelo livro de que todo mundo falava na época.

O primeiro eu li em exatos cinco dias. Logo em seguida, devorei o terceiro em apenas três dias e precisei de apenas mais quatro para terminar o terceiro. A partir daí, uma longa espera pelo lançamento do próximo capítulo.

O quarto fragmento eu só li nas férias de inverno de 2003. Um ano e meio depois, na semana entre o Natal de 2004 e o Reveillon de 2005, terminei o quinto. O sexto foi uma irresponsabilidade: durante os vestibulares de Unicamp e Cásper, quando eu deveria estar lendo algum livro para a alguma das provas. Mas valeu a pena.

Desde então, foram outros 18 meses apenas esperando o lançamento do derradeiro capítulo. Finalmente surgiu a notícia de que o sétimo Harry Potter estava à venda, mesmo que em inglês, na Fnac. Maravilha.

Aproveitando que estou a apenas 50 páginas de terminar o Veríssimo que me acompanhou nas idas ao trabalho durante os últimos dias, repensei alguns gastos. Os dilatadores nasais, que serviriam para minimizar a necessidade física da minha rinite alérgica combinada com desvio de septo pelo Aturgyl, ficariam para outra vez. A quarta-feira seria para comprar a última parte da saga.

Estranhamente, decidi entrar no site da loja para ver o valor do livro. O preço de verdade é de R$ 75,90, mas decidiram dar um desconto de alguns pontos percentuais, reduzindo a quantia para R$ 54,90. Pronto. Estava pronto para ir para a cama.

Antes, porém, vi que o MSN ainda estava ligado. Fui fechar o programa, mas fui ver se tinha alguém interessante para trocar algumas palavras antes de ir dormir. A única pessoa online era um amigo meu da época de colégio e sua namorada, com quem eu também estudei há alguns anos.

O subnick de ambos, contudo, não era uma troca de carinhos furados normal entre um casal. Pelo contrário. Propositadamente, os dois (que jamais leram uma página de algum dos livros) resumiam em quatro palavras o final de toda a saga que me custou seis anos, R$ 202,80 (em números atualizados. Na época, o valor deve ter sido bem maior), 2.712 páginas e muitas, muitas horas de leituras. Não que eu fosse daqueles que contava os dias para que o livro chegasse, mas depois de tanto tempo era questão de honra chegar ao final. No entanto, tudo isso foi quebrado.

Durante alguns minutos, imaginei todos os xingamentos possíveis que eu aprendi ao longo de 19 anos. Depois, inventei alguns outros. E, claro, deixei os dois bloqueados nas profundezas do meu MSN.

Droga.

quarta-feira, 18 de julho de 2007

Sorria, você está sendo filmado

Não é fácil voltar para casa depois de 15 dias de ausência. Por mais que você conheça tintim por tintim do seu lar dos últimos 19 anos melhor do que a você mesmo, é normal estranhar alguma coisa nos primeiros instantes do retorno.

Foi assim comigo esses dias. Voltei para a minha casa normal (longas histórias de separação de pais) no domingo. Cansado, porém, a única coisa que me limitei a fazer foi cair na minha cama e dormir profundamente até o despertador acabar com a brincadeira. No dia seguinte a história foi diferente.

Deu 18 horas e alguma coisa ficou diferente no meu quarto, mas eu não sabia o que era. Os (velhos) pôsteres do Palmeiras e da seleção brasileira de 2002 estavam todos no lugar. Os CDs de uma adolescência musical, em ordem. Os livros, contados na estante. Mas alguma coisa estava diferente.

Aprisionado por toda essa incerteza de estranhamento, decidi ir tomar banho para pensar melhor na situação. Assim que entrei no banheiro, no entanto, uma surpresa: o vidro do boxe é novo? Não, não pode ser. Eu tomei banho hoje de manhã e não percebi que era novo. Não, eu não tava tão cansado assim.... será?

Não. Liguei a luz e o vidro do boxe continuava verde, como sempre fora nos últimos 17 anos (minha mãe falou que ele foi trocado uma vez, quando eu tinha dois anos). Desliguei a luz para ver se entendia o que tava acontecendo e percebi: tinha alguma coisa com muita luz voltara para o banheiro.

O problema é que não era só para o banheiro. Tinha um refletor virado para a janela do meu quarto! Mas por que diabos fizeram isso? Há 19 anos eu moro aqui e por que fizeram essa merda? E como eu iria dormir? A luz passava pela janela, pela cortina, pela veneziana... e deixava o meu quarto claro.

Na hora de dormir, tentei mudar as folhas das venezianas. A sem buraquinhos ia ficar no lado contrário do que o normal. Melhorou um pouco, mas ainda assim não tava legal. Sei lá. Sou metódico. Tão metódico ao ponto de almoçar sozinho no mesmo restaurante de segunda a quinta-feira e em outro às sextas. E, se possível, na mesma mesa. Pegando as mesmas coisas no self-service. Tão metódico a ponto de pegar o mesmo vagão do metrô em todas as estações, tão metódico a ponto de gostar de ter uma rotina.

Acabei dormindo, mesmo com o meu quarto mais iluminado do que a Torre Eiffel. Só que hoje de manhã decidi reclamar. Liguei na administração do meu condomínio e decidi reclamar. Mas sem me identificar, inicialmente.

“Oi, eu sou morador do condomínio e voltei de viagem hoje. Percebi que instalaram um refletor novo pra iluminar um corredor do condomínio, mas a luz ficou virada para o meu quarto. Foi como dormir com um holofote apontado para a minha cama durante a noite toda. Quer dizer... tinha um holofote apontando para a minha cama durante a noite toda!”

O auxiliar administrativo prontamente respondeu: “Pode ficar tranqüilo que a gente vai arrumar isso o mais rápido possível. Bom dia, Felipe”.

Agora, escrevo com a luz do quarto apagada. Não preciso acender nada aqui, a nova instalação do condomínio supre qualquer necessidade de luz que eu possa ter.

Mas o pior é o seguinte: tem um holofote de luz apontado para o meu quarto. E o auxiliar de administração sabe exatamente quem estava falando, apesar de o condomínio ter pouco menos do que (e não é exagero) 500 apartamentos.

Perseguição!

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Ídolo de um país carente

- Filho. Filho, tô indo na padaria, tá?
- Ahn? Ah... tá, vai lá, mãe.
- Você tá cansado, dorme mais um pouco.
- Uhum...

Antes de dormir um pouco mais, olhei no relógio. Eram 16 horas e alguns minutos. Rodei entre os três canais do Sportv e ia começar a luta do Diogo Silva, na final do taekwondo no Pan. Decidi ver e dormir mais tarde. Talvez à noite.

Achei bacana o cara ganhar, faturar o primeiro ouro do país na competição e blábláblá. Também achei legal pra caramba ouvir o hino pela primeira vez, ver a medalha dourada pintando na tela da tevê e, claro, foi emocionante ver o cara chorando quando começou a tocar o hino.

Depois, as entrevistas. E todos os jornalistas que estavam no Riocentro se matavam pra ouvir as primeiras palavras do grande campeão. Do primeiro campeão do Brasil no Rio-2007, do primeiro taekwondista verde e amarelo campeão pan-americano do século e essas coisas. Mas ele não falou nada de mais.

Hoje, porém, acordei cedo. Cheguei na redação, liguei a tevê e ouvi, ao longo de cinco horas, umas mil entrevistas iguais com o Diogo. A história dele foi repetida um milhão de vezes, a luta decisiva – com a narração do chato do Lucas Pereira – foi reprisada dois milhões. Nada novo.

Agora à noite, consegui fazer com que a televisão daqui de casa voltasse a ter sinal. Sintonizei a Record e estava passando uma especial sobre a vida do Diogo. Foram à academia onde ele começou a treinar, entrevistaram alguns amigos (que logicamente estavam emocionados)... Minutos depois, o Jornal Nacional mostrava o primeiro passeio do campeão fora da Vila Pan-americana. A festa que a galera fazia na praia, as fotos que pediam para tirar do cara e tudo mais.

Por incrível que pareça, a matéria do Diogo durou mais tempo do que a repercussão do título da seleção na Copa América. Mais que o futebol! Tamanha a importância do primeiro campeão do Brasil no Pan do Brasil. Tá certo que convinha não deixar tanto tempo no ar o Dunga, que era criticado pelo Galvão Bueno e por toda a trupe de comentaristas da Globosat, como o grande vencedor. Era mais interessante ver alguém desconhecido, sugar dele tudo o que ele tinha para falar.

Mas não é aí onde eu quero chegar. O fato de o Diogo estar no ar durante tanto tempo tem a ver com o fato de o povo brasileiro não ter motivos para sorrir todos os dias. O esporte, por mais precário que esteja, é um dos motivos de identificação da população. Já havia pensado nisso há alguns meses, quando o Felipe Massa ganhou o GP do Brasil no final do ano passado.

Ver um atleta brasileiro no degrau mais alto do pódio é bacana. Todo mundo se identifica pra caramba com isso. Um cara próximo da gente, que nasceu pobre, via o Casseta & Planeta às terças-feiras, via as videocassetadas no Domingão do Faustão e sentia o trauma da segunda-feira com a musiquinha do Fantástico... a gente fica com a sensação de que pelo menos um teco daquele ouro é nosso.

E acho que até todo mundo tem o direito de pensar isso. Menos o Faustão. Enquanto o Diogo ganhava o ouro e alguns brasileiros vibravam, ele passava o divertidíssimo Circo do Faustão. Ninguém acreditava que o negão ia ganhar, né? Afinal, taekwondo... Pois é, deu no que deu.

O problema é que, daqui uma semana, vão esquecer do Diogo e do taekwondo. Tá, pode ser que a Natália Falavigna consiga alguma coisa amanhã, mas isso não faz com que o imediatismo do esporte saia de cena. Todas as matérias especiais que toda a imprensa fez vão ser esquecidas em agosto. E o Diogo, quando sair nas ruas, com certeza vai ser reconhecido pela galera. Não como o dono do primeiro ouro do Brasil no Pan, mas como o Seu Jorge. Ou como o Falcão.

Digo isso porque, hoje, lembrei de uma coisa que aconteceu quatro anos atrás. No dia 5 de agosto de 2003, o Hudson de Souza surpreendeu e conseguiu o primeiro ouro do Brasil no Pan de Santo Domingo-2003, nos 5.000m masculino. Choveram matérias com ele. Entrevistas e tal. E isso aumentou ainda mais quando ele ganhou também a prova dos 1.500m. O Hudson irá competir o Pan do Rio este ano. E ninguém se lembra do cara e nem da história de vida dele. Nem eu, claro.

É bem provável que o mesmo aconteça com o Diogo, e ninguém se lembre dele nas Olimpíadas de Pequim-2008 ou no Pan de Guadalajara-2011. Talvez, ninguém irá se lembrar dele depois de sair o próximo ouro do Brasil no Rio-2007. A conquista dele foi sensacional, mas... a fila vai andar.

Somos um país carente. Não temos nenhum ídolo de quem possamos nos orgulhar a não ser do esporte. O cara que proclamou nossa independência virou rei de Portugal anos depois. Carmen Miranda, assim que ficou famosa, foi para os Estados Unidos. Não temos nenhum líder político como a Rainha, Eva Perón, Gandhi, Josip Broz Tito, Trostky, Lênin, Che. Temos o Pelé. Em compensação, os times brasileiros não têm mais ídolos....

Assim, só nos resta esperar mais um ouro. E mais um ídolo-mor do país. Durante uma semana. Igual àquela música dos Titãs.

sábado, 14 de julho de 2007

Rapidinhas do Pan (de um estagiário na redação)

Abaixo, apenas algumas das trapalhadas que marcaram o primeiro dia oficial dos Jogos Pan-americanos do Rio de Janeiro 2007. E pensar que ainda faltam mais 15...

Hein?: O brilhante assessor de imprensa da Confederação Brasileira de Remo havia jurado que a prova do dois sem feminino havia sido cancelada por falta de quorum. Os EUA haviam desistido da prova e apenas quatro barcos iriam competir. A Federação Internacional não deixa e, assim, a prova foi cortada do cronograma. No entanto, a disputa aconteceu. Com quatro barcos apenas, incluindo as norte-americanas. Quem não participou foram as brasileiras. Isso pode? “Parece que agora pode. Tá uma zona isso”, garantiu um dos técnicos. Tô vendo...

Não, não desculpo o transtorno: A previsão era de que o site do Co-Rio tivesse todos os resultados de todas as provas a partir de 15 minutos do término das provas. Desde o começo da competição, no entanto, ninguém sabe onde foram parar as listas de resultados. Alguns links davam erros, outros travavam o computador e outros sequer existiam. Era tudo o que um estagiário precisava às 8 da manhã de um sábado!

Vai, vai, vai!: Os metros finais da maratona aquática feminina foram demais. A brasileira e a norte-americana brigaram braçada a braçada. Enquanto isso, eu abria mão do relato da prova e torcia para a nadadora nacional. Se ela tivesse ganhado, juro que teria parado uma faixa da Paulista para comemorar, dada a intensidade da torcida minha e do Ótio.

Quem ganhou eu não sei, mas o brasileiro ganhou o bronze: Foi assim a maratona aquática masculina. Em uma pataquada sensacional, o Co-Rio divulgou inicialmente que o campeão da prova tinha sido o venezuelano Ricardo Monastério. Minutos depois, uma errata: o ouro havia ficado com o norte-americano Fran Crippen. Nos minutos seguintes, mais um comunicado: não sabemos quem ganhou. A prova está sob análise. Mas o bronze é do Allan do Carmo. Aeee!

Nem no pódio: Primeiro campeão pan-americano da maratona aquática a ser destituído do pódio, Ricardo Monastério não ficou nem no pódio. O campeão da maratona masculina havia sido o Crippen, na verdade. O norte-americano foi seguido pelo compatriota Charles Peterson. E o brasileiro ficou mesmo com o bronze. Agora me diz: é difícil ver quem bateu antes na bóia? Pro Co-Rio, sim.

Boa, campeã!: A brasileira Valdirene Ferreira vencia a sua primeira luta no taekwondo, categoria até 49 kg por 1 a 0 contra a argentina Laura López. A adversária virou a luta e fez 2 a 1 a 36s do final do combate. Val, porém, apenas ficou pulando até o soar do gongo e sequer atacou a rival. Depois da eliminação, a reclamação: “Eu olhei no placar e vi errado. Achei que eu estava ganhando. A luta estava fácil para mim”, jurou. É assim mesmo que se faz!

Virar homem? Por quê?: Na final do taekwondo, na categoria masculina até 58 kg, o brasileiro Márcio Wenceslau Ferreira chegou na final e iria enfrentar o dominicano Gabriel Mercedes. O centro-americano começou com tudo, fez 4 a 0 no final do segundo round e ficou perto do ouro. O brasileiro reagiu, fez seu primeiro ponto e o cubano perdeu dois por causa das faltas que cometeu. A 5s do final do último round, o placar estava 2 a 1. O brasileiro foi pro tudo ou nada para empatar a luta, mas o Mercedes saiu correndo do ringue. Literalmente. O juiz ficou puto, tirou um ponto do dominicano, e a decisão foi para o ponto de ouro. Novo empate, e a medalha seria decidida pelos juízes. Após a votação, ouro para o Mercedes, mesmo com a cena bizarra que ele protagonizou. Às vezes, ser covarde vale alguma coisa.

Marcel? Não, não existe Marcel: Nunca tinha ouvido falar direito em taekwondo até os meses que antecederam ao Pan. Mesmo assim, descobri que, em 2003, o dominicano que faturou o ouro na categoria até 58 kg masculino havia ganhado do brasileiro Marcel Ferreira nas quartas-de-final em Santo Domingo. Marcel Ferreira? O taekwondista deste ano era o Márcio Ferreira. Será que era o mesmo? Liguei para o chefe da delegação brasileira para checar. “Não, não existe Marcel. É só o Márcio”. Momentos depois, a confirmação veio por alguém da redação que entende um bocado mais da modalidade: “O Marcel é irmão do Márcio”. Agora a dúvida: e como o cabeçudo do dirigente não sabia disso?

Ai, minha dor de dente: Levantamento de peso, categoria até 49 kg, feminino. Uma das favoritas a pelo menos o bronze era a brasileira Aline Campeiro. Na primeira chance do arranco, ela levantou 70 kg e ficou com o segundo lugar, atrás apenas da mexicana Carolina Valencia, que ergueu 78 kg e quebrou o recorde pan-americano. Tudo indicava que Aline seria a primeira levantadora do país a conseguir uma medalha no Pan. No entanto, contudo, porém, todavia e entretanto, ela decidiu comemorar com o técnico a marca no arranco. Pulou no colo do Dragus Stanica, machucou o joelho e não pôde competir no arremesso (a medalha é para quem levantar mais na soma das duas modalidades). Conseqüência: perdeu a medalha. Buuuh!

Canal campeoníssimo: Parece perseguição, mas não é. O Sportv continua se superando e vem tornando suas transmissões cada vez pior. E o Pan não fica fora disso, claro. Apesar dos três canais que a emissora conseguiu com a Globosat, engana-se aquele que imaginou que veríamos de tudo no Rio-2007, desde badminton até o arremesso de martelo. Um exemplo é o que aconteceu durante a final do taekwondo masculino: eles interromperam a transmissão dos três canais para mostrar a luta. Tá certo que era um brasileiro e tudo mais, mas... pra quê parar os três canais, sendo que quem tem acesso a um tem a acesso aos outros dois? Vai entender...

Jura que não tava no cronograma?: A disputa feminina da ginástica artística por equipes mal começou e a comentarista foi dar seus pitacos sobre a apresentação da canadense que se apresentava na trave. Estilo Neto: “Tá aí a canadense, fazendo alguns movimentos que fazem parte da rotina obrigatória... vai fazendo muito bem. E... eh, agora ela caiu. Isso não fazia parte do cronograma”. E pensar que eu poderia ser comentarista...

terça-feira, 10 de julho de 2007

Os sobrenomes mais legais (ou nem tanto assim)

Em mais uma das minhas fantásticas abstrações que sempre me acometem no caminho de casa, não sei bem por que comecei a lembrar de uma besteira bem grande que eu costumava repetir por aí quando era pequeno. Ouvi não sei de quem, mas achei o maior bacana. Lá vai.

A Holanda era um país pacato até o século XVII. Enquanto Napoleão Bonaparte expandia seu império ao longo da Europa, as pessoas nos Países Baixos se preocupavam apenas em cultivar laranjas, construir diques para evitar o avanço da água e dançar com tamancos. Uma beleza.

Até que Napoleão resolveu tocar o puteiro também na Holanda. O povo neerlandês, muito pacífico, não resistiu. E até pareceu aceitar de boa o que a França queria. Até que os invasores decidiram avacalhar e impuseram a criação de sobrenomes para os dutchman. Besteira. Pra quê?

Revoltados, os holandeses iniciaram um manifesto pacífico. E bem humorado, claro. Como acharam que a invasão napoleônica seria coisa passageira, decidiram criar sobrenomes engraçados. Aquela coisa que só os holandeses sabem se dar mal, mas de um jeito bacana. Eles inventaram sobrenomes bacanas e patéticos. Uma ótima idéia.

Assim, a partir de 1820 (ou coisa do tipo), a Holanda passou a ser habitada por um bando de pessoas com nomes um tanto quanto bizarros: Martin Rotmensen, Richard Ergst, Julietta Zwartehond, Pieter Piest, John de Timmerman, entre outros. Mas era só temporário, os holandeses imaginavam.

Ledo engano. As tropas napoleônicas curtiram aquele clima de Países Baixos e decidiram ficar por lá mais tempo. Muito tempo. Assim, o Martin Gente Podre começou a ter filhos, assim como o Richard Malvadão, a Julieta Cachorro Preto, o Pieter Mijado, o ‘Jonas, o Carpinteiro’. Problema: os sobrenomes teriam que passar de geração para geração. E a Holanda passou a ser habitada por um monte de gente com o nome tosco, que se reproduziam e mantinham os nomes toscos.

E isso continua até hoje. É claro que alguns pais mais empáticos com os filhos decidiram bolar alguns sobrenomes normais e que não tivessem significados como os já citados. No entanto, teve aquela galera que quis manter a tradição familiar e as novas gerações continuavam a receber tais nomes.

Hoje, não é raro você se deparar com algum holandês que tenha um nome tosco. O mais difícil, creio eu, é você se deparar com algum holandês. Pelo menos se você mora em São Paulo, ou em algum lugar que não seja perto de Bélgica, Alemanha, Suíça, Estados Unidos, Canadá, Suriname, Guiana ou coisa do tipo.

Só que, depois de um enfadonho levantamento de personalidades holandesas, acabei encontrando alguns sobrenomes bacanas. Vale o destaque:

Johannes van der Broek (Johannes de calças), um arquiteto

Rem Koolhaas (Rem repolho-de-lebre), arquiteto que projetou a Casa da Música, na Cidade do Porto

Gerrit Dietveld (Gerrit da plantação de cana), um cara que projetava cadeiras

Jan de Bont (Ian, o peludo), um cineasta

Tim Kliphuis (Tim da casa trancada), um músico

Paul Haarhuis (Paul na casa dela), ex-tenista, tricampeão de Roland Garros e uma vez campeão de Wimbledon e dos abertos de EUA e Austrália (em duplas)

Jaap Spaanderman (Jaap chateado-com-a-humanidade), outro músico. Que não é o Homem Aranha.

Sebald de Weert (Sebald fique-longe-daqui), um explorador

Ronald Koeman (Ronald homem-vaca), ex-jogador de futebol e atual técnico do PSV

Talitha de Groot (Talitha, a grande), jogadora de tênis, atualmente na milésima vigésima oitava colocação do ranking de entradas da WTA

Frank e Ronald de Boer (Frank e Ronald , o fazendeiro), irmãos gêmeos e jogadores de futebol, que participaram das Copas de 1994 e 1998

Robert Doornbos (Robert pedra-no-sapato), piloto que disputou a F1 em 2006

Hendrik-Jan Held (Hendrik-Jan Herói), jogador de vôlei campeão olímpico em 1996

Um adendo sobre o campeão olímpico. Ele não foi um destaque da equipe prata em Barcelona ou ouro em Atlanta. Ele não era o levantadador e muito menos o maior pontuador. Também não era o líbero, porque naquela época não existia isso no vôlei. Ele não era um grande sacador e nem um grande defensor. Não foi dele o ponto da vitória e nem a cagada que deu o ouro para o Brasil em 92.

Sinceramente, não sei de onde ele surgiu. Até porque o Held mais famoso de toda a história do País Baixo era herdeiro do trono. E iria se tornar rei em algum ano que eu não sei dizer qual.

Ele tinha tudo para ser coroado e governar toda aquela parada. Para isso, tinha apenas que se casar com uma princesa cujo nome eu também não lembro. Held, porém, renunciou ao trono e fugiu com a sua amada (dá para ver que o mal já é de família). Passou por pela Prússia e desembarcou no Brasil, antes de viver feliz para sempre.

Claro, não sem se esquecer de deixar descendentes. Que não têm nada o que fazer em uma noite de terça-feira e acabam perdendo um bom tempo de descanso fazendo algo absolutamente inútil.

Mas holandeses gostam do Brasil, não sei por quê.

segunda-feira, 9 de julho de 2007

Para honrar a segunda

O relógio despertou às 6 horas com tudo, nem parecia feriado. Só lembrei que hoje era nove de julho quando fui tomar banho e deixei o rádio ligado para ouvir o que tava rolando por aí.

Abri a porta de casa às 7 horas, e a do prédio dois minutos depois. Coloquei o fone no ouvido e aumentei o volume, mas o Jimmy Eat World não tinha o impacto que tinha semana passada. Passei por Bowling for Soup e Shout out Louds. Nada. Deveria ter tentado Stereophonics, mas só agora pensei nisso.

Desliguei o som e fui andando pela rua para o metrô. A avenida, mais vazia do que de madrugada, não oferecia nenhum perigo na hora de o pedestre atravessar. Sem graça. Assim como a Avenida Paulista, que, em um dia normal, estaria cheia de gente no ponto de ônibus, no farol da Brigadeiro e por todos os cantos. Nada.

Nada também na travessa com a Joaquim Eugênio. Vazia. O farol estava vermelho para mim, mas olhei para os dois lados (ainda que seja mão única) antes de atravessar. Poderia ter atravessado a rua arriscando um Moonwalker que nem uma bola de feno me impediria. Chato.

Entrei no elevador e apertei o 3. Precisava tomar um café. A porta abriu, mas o terceiro andar estava escuro, vazio e inóspito. Feriado. Apertei correndo o botão de todos os dias, passei o cartão e comecei a imaginar uma luta contra o sono nas cinco horas que se seguiriam.

Fiz o mesmo caminho de volta às 13 e pouquinho. O escadão continuava vazio, assim como todas as esquinas. A Paulista vazia. Uma droga. A Paulista vazia, não sei por que, me deprime. Sempre. Mas deixa pra lá.

Acabei voltando direto pra casa. Sem tirar os fones de ouvido da mochila.

O dia pelo menos estava mais bacana. Um pouco mais de sol, de calor. Sei lá. Pelo menos estava assim na ruela onde fica a estação do metrô. Continuei andando rumo à minha casa. Pensando um bocado na vida ou em nada, não me lembro direito.

Prestes a virar a esquina, um All-Star. Uma saia, uma camiseta preta, um cabelo tingido de vermelho. Um segundo de clima chato, um desvio de olhares e uma mudança intencional de calçadas. Por parte dela.

Depois de virar a esquina, algumas lembranças. Seis meses de intensa paixão, outros seis de uma indiferença em uma sala de inglês e mais 12 sem cada um lembrar da existência do outro. Hoje, no entanto, um encontro forçado. Dias antes de completarmos dois anos da primeira vez em que trocamos algumas palavras pela primeira vez.

A segunda-feira, que já tinha o ar mais abafado, as ruas mais vazias e o tédio no ar, ficou mais cinza. Como uma segunda-feira deve ser.

sexta-feira, 6 de julho de 2007

Canal campeão

Wimbledon está acabando e, assim, também chega ao fim a transmissão pífia do Sportv do torneio. Ainda bem.

Embora o Globo Esporte da TV a cabo tenha os comentaristas de mais renome no apagado tênis brasileiro, a transmissão foi simplesmente um lixo.

Eles (o canal) conseguiram fazer a maior besteira de transmitir como ao vivo um jogo emocionante da Martina Hingis, mas que já tinha terminado meia hora antes. Eles passaram um jogo completamente irrelevante entre Tim Henman e Carlos Moyá enquanto comia o pau nos jogos de Federer, Roddick, Henin, Serena Williams e Jankovic. Eles fizeram com que um torneio que tem a tendência inglesa de ser chatinho se tornasse ainda pior. Conseguiram.

É claro que Roland Garros teve uns vacilos de transmissão da ESPN, mas a cobertura foi simplesmente show. Sempre que possível, os dois canais mostravam os jogos de grande parte dos favoritos e das favoritas. Muito bom.

Um mês depois, na Inglaterra, a Globosat se limitou a algumas horinhas de transmissão de Wimbledon no Sportv 2. E olhe lá. Com a transmissão de muitos jogos pouco importantes em relação aos que aconteciam ao mesmo tempo. Sem falar nas muitas reprises enquanto partidas ao vivo aconteciam.

Além disso, sempre por volta das 10 horas da manhã, podia estar acontecendo qualquer coisa no jogo de quem quer que fosse, mas o som da transmissão era cortado. Isso porque entrava no ar Maria Esther Bueno, que, diretamente do All England Club, fazia comentários que até eu poderia fazer do alto da Avenida Paulista. Ou do sofá da minha casa. E juro que não cobraria mais do que R$ 10 por dia para fazer isso. Com todo respeito à Maria Esther Bueno.

Mas essa não é a primeira vez que a rede do dono da antiga Águas Espraiadas faz a festa para acabar com as coisas legais da televisão no Brasil. Basta ver o que fizeram com Pica Pau e Simpsons.

Pica Pau era o Chaves matinal do SBT. Se não tinha o que passar, era só colocar o passarinho cínico de penacho vermelho no ar que a audiência gostava. Sou prova viva disso. A Globo pegou o Pica Pau do Cenoura e colocou meia hora no ar durante dois meses. Depois, nunca mais.

Hoje (agora, pra falar a verdade), a Record passa o Pica Pau entre 19h15 e 20 horas. Uma pena.

Com Simpsons também foi uma pena o que fizeram. Eles simplesmente tiraram o segundo principal programa do horário nobre adolescente (a hora do almoço durante os dias úteis) e colocaram para o final da manhã no sábado (quando o mundo normal ainda dorme), espremido entre a TV Bobinho e o SPTV. Isso quando algum evento tosco não tira a galera de Springfield do ar, como algum Mundialito de futebol de areia, que tem, por definição, o Brasil entre um dos finalistas.

Isso sem falar com o que fizeram com a F1 em abril. O Massa se matando pra ganhar no Bahrein e a Globo cortando a transmissão no meio pra mostrar a missa do Papa, que já era transmitida em 8.927 canais da televisão aberta. Aos panacas que acordaram no domingo cedinho pra ver o GP, restou o Teo José na Jovem Pan. Palhaçada.

Pelo menos Chaves fica no SBT.
Amém.

Reflexão sem sentido: Marcelo Melo e André Sá chegaram às semifinais da chave de duplas de Wimbledon. Se eles forem para a final, será que algum canal irá mostrar ao vivo a partida? Creio que não. A Globosat não iria quebrar o protocolo da TV britânica e também não permitiria que outra emissora transmitisse a partida.

quinta-feira, 5 de julho de 2007

As férias de inverno de 2004

Andando hoje pela Vila Mariana, vi, do outro lado da rua, dois moleques com mais ou menos 16 anos sentados, escondidinhos, em uma praça. Eles tiravam da mochila, com todo o cuidado do mundo, uma garrafa de 51 e despejavam o conteúdo dentro de uma garrafa de 2L de Coca Cola.

Na primeira olhada, achei engraçado ver os dois moleques sem jeito para colocar a pinga no refrigerante. Alguns instantes depois, lembrei que, três anos atrás, era eu quem fazia o mesmo. Não naquela praça, mas no mesmo bairro. E do mesmo jeito.

Julho de 2004 foi legal. Foi o mês de férias mais intenso que eu já tive até hoje. Lembro que eram raros os dias que eu passava sóbrio ou em casa. E mais raros ainda os dias que eu passava sóbrio e em casa.

Quase todo dia, o ritual era o mesmo. Uma garrafa de 51 comprada a um valor muito alto (tipo uns R$ 7) em algum boteco (os caras de botecos faturam pra caramba vendendo pinga pra molecada), algum refrigerante (barato demais, se possível). Tudo era colocado dentro de uma mochila (geralmente a minha) e procurávamos um lugar mais vazio.

Misturávamos tudo em uma rua escondida perto do Shopping Santa Cruz e bebíamos escondidos. Afinal, a molecada não passava dos 16 anos e era perigoso algum pai aparecer do nada. Que ridículo, quem apareceria em uma rua escondida nas profundezas da Vila Mariana? E por que tinha que ser justamente o pai de algum de nós, sendo que nenhum de nós morava por lá? Que besteira! Mas era legal. Pra caralho.

As pessoas com quem fazia isso eram diferentes a cada dia. Apenas um moleque era o mesmo todos os dias. Era o meu melhor amigo da época, cujo nome não interessa agora. Passávamos os dias bêbados, falando sobre nada, falando sobre garotas. Ou com garotas.

Naquela época, tínhamos uma facilidade tremenda para chamar garotas para ir ao shopping beber. Mesmo as que não bebiam. Elas iam, a gente passava horas de porre e depois íamos embora. Nunca passava de uma tarde no shopping bebendo pinga com refrigerante. Mas se quer saber, era divertido pra caralho. Todos os dias.

O moleque ainda tem uma facilidade tremenda para chamar garotas para ir ao shopping ou para onde quiser. Mas não acho que ele faz mais isso. Nossa amizade começou a ficar abalada depois do último show do Fonzie em São Paulo, que rolou em primeiro de outubro daquele ano.

Não tem um motivo óbvio, mas senti que dali pra frente tudo ficou mais desgastado. Continuamos amigos intensos até, sei lá, janeiro de 2005. Depois eu comecei o terceiro colegial, ele se cansou de tomar porre de pinga com refrigerante e a gente foi, pouco a pouco, perdendo contato.

Recentemente, ouvi boatos de que ele se mudou para Minas Gerais e está namorando uma das garotas que bebia com a gente nas férias. Na verdade, era eu em quem chamava essa garota para ir, porque sempre achava que poderia rolar alguma coisa com ela. Não deu, e isso eu percebi duas semanas depois de as férias terminarem. Mas... acontece. Agora ela também está em Minas, acho que se mudou há uns dez meses.

Mas faz quase dois anos que nenhum de nós tem contato com o outro. Eu, o amigo, a garota... e quase ninguém daquela época. Acontece.

Mas, depois de 2004, acho que por um bom tempo vou lembrar de julho não como o mês mais frio do ano ou como sei lá o que, mas como aquele, algum ano no passado, eu tive as férias mais intensas que um adolescente de 16 anos pode ter.

Foram fantásticas aquelas férias e, é claro, é impossível repeti-las. Até porque agora eu tenho 19 anos e não consigo beber muita pinga como antes, infelizmente (algo como meia garrafa e continuar em pé, sabendo o caminho de casa). Pra falar a verdade, o meu eu de três anos atrás me chamaria hoje de mocinha que não agüenta beber pinga.

Ou não. Talvez ele nem fosse me reconhecer. Afinal, hoje não tenho mais os cabelos ligeiramente compridos como naquela época. Tenho barba, em contrapartida. Não tenho mais aparelho fixo, nem sisos e nem freio da língua. Não uso mais um tênis barato comprado na Galeria do Rock e nem um blusão de moletom do MxPx, oriundo do mesmo lugar. Isso sem falar que agora eu tenho cabelos brancos (achei três fios só na última semana. Se continuar nessa média, o que vai acontecer no final do ano?).

E o principal: talvez o garoto de 16 anos não entenderia como alguém em sã consciência trabalharia em julho, o mês mais legal para tirar férias (depois de dezembro, evidentemente).

Puxa!

terça-feira, 3 de julho de 2007

As piores propagandas do mundo nos últimos 15 dias

Faço jornalismo. Trabalho como jornalista. Logo, não entendo muita coisa sobre publicidade (ou quase nada, pra falar a verdade). Mas ainda assim vale o registro de todas as baboseiras que andei vendo pela Avenida Paulista e arredores nas duas últimas semanas.

A primeira não foi bem na Paulista. Foi quando pegava o metrô para ir para a avenida. Não importa, o conteúdo publicitário é tão imbecil que compensa o resto. Eu explico:

Era um dia em que meu ipod tinha ficado em casa se recuperando de uma semana sem que este que vos escreve pensasse em recarregar a bateria da caixinha de sol ambulante. Assim, meus olhos estavam mais atentos para tudo o que acontecia em volta. Assim que entrei no vagão do metrô, olhei para a propaganda. Sustain. Nome de farinha láctea, embora a grafia não fosse da farinha láctea.

Enfim. Depois de muito olhar pro potinho escrito Sustain, fui ver o anúncio em si. “Quer que seu filho seja assim? Dê Sustain pra ele”. O ‘assim’ era um molequinho ligeiramente pançudo com um fraldão de sumô. Que idiota quer ter um filho gorducho que veste um fraldão e luta sumô? E o pior: quem foi o idiota que pensou em tal propaganda?

A segunda foi no Metrô Brigadeiro. Após um mês de leituras incessantes de “IBTA: um prédio que se destaca mesmo na Avenida Paulista” (ou algo parecido), vi que tinha um anúncio novo. A primeira coisa que eu li foi impactante: Nós também damos aula.

A tal propaganda da IBTA e o anúncio principal era esse. Uma faculdade que, além de outras coisas (que não se sabe o que), dá aula. Puxa!

Parei por alguns segundos na frente do indoor (esse deve ser o nome de um outdoor interno) pra ver se entendia o que eles queriam dizer. Só depois de uns dois ou três segundos que eu li o que tava em cima do destaque:

Em matéria de localização
Nós também damos aula

Ah, saquei. Mas que diabos de propaganda imbecil é essa? Será que eles dão aula de publicidade lá?

A que eu conto agora aconteceu na Paulista mesmo, enquanto estava no bar de sexta-feira. Momentos depois de comprar Drink no bunker, de Ricardo Carlaccio (o mesmo autor de Blues Escarlate), me apareceu uma mulher vendendo uma revista. Toda descolada.

“Oi, galera, posso apresentar essa revista pra vocês? Meu, essa é uma das principais revistas do país, é muito conhecida. Ela é muito legal, é muito show. Gente, olha essa diagramação que show! Olha, e ainda tem uma entrevista com o Gustavo! Ele é cientista! Eu tô vendendo essa revista, vocês querem?”

“Não, valeu”.

Reflexões de minuto:
1. Eu, por mais que não passe de um mero estudante de jornalismo, deveria conhecer a capa e o nome de uma das principais revistas do país se visse uma na minha frente.
2. Tirei 9,5 de diagramação neste bimestre (uau!), não achei nada de ousado naquela diagramação.
3. Que porra de Gustavo é aquele? E que me importa se ele é cientista?
4. Quem deu o emprego praquela maluca divulgar a revista?

Agora, mais duas propagandas que, sinceramente, eu não faria. A primeira atasanou a minha tarde. A droga da Uninove decidiu entrar no mundo do MSN. Basta você passar o mouse na parte de baixo da tela pra aparecer o vídeo do Bernardinho incentivando aquela garota no trem (que vai pra São Caetano, aliás) a fazer Uninove (pô, Bernardinho!).

E a segunda é a brilhante idéia da seleção brasileira de softbol em divulgar o esporte antes dos Jogos Pan-americanos. É um catálogo com fotos de sete das 19 atletas da equipe nacional. Algumas são belas garotas, mas vale o destaque esdrúxulo do Globo Esporte.com

Mas dessa eu falo amanhã. Ou depois. Posso mudar de idéia ainda.