terça-feira, 30 de novembro de 2010

Dor

Um feliz episódio ocorrido dez anos atrás poderia dominar as primeiras linhas deste relato. Também seria possível começar o que se segue citando um certo relaxo e até certo ponto descaso de minha parte nesses últimos dez anos. Mas não sei. Prefiro começar com o que aconteceu nos últimos dias.

É difícil ver um ente querido enfermo – daria até para arriscar dizer que sinto tanto quanto ele, em determinadas maneiras. Sou mais molengão, confesso, enquanto ele se faz de durão. Sempre se mostrou incômodo com a minha presença, sempre me repeliu apesar de demonstrar bastante disposição em ter uma relação mais próxima.

Até por isso me afastei – de tal forma que são poucas as pessoas que sabem que mantenho esse relacionamento, e todas elas se surpreendiam enquanto eu lhes contava. Nesta década, praticamente vivemos nossas vidas de uma maneira independente. Mas sempre há um episódio que mostra o quanto de afeto há neste convívio. E, infelizmente, acabei percebendo apenas de uma maneira desagradável.

Tenho que cuidar-lhe, e isso é extremamente doloroso para mim – e posso apostar que pra ele também é, óbvio que muito mais. Misturar medicações em sua comida, dar-lhe remédio todos os dias, contra a sua vontade. Tudo começou... hoje. Há poucas horas.

Notei no final de semana que algo não corria bem. Levei-o ao médico, e é difícil explicar o quão doloroso foi ver gotas de seu sangue escorrendo quando chegamos. Precisei deixar o consultório, tomar um copo d’água e respirar fundo para clarear minha vista e não desmaiar. Também foi incômodo ao receber o diagnóstico, ser encaminhado para um especialista e ter que marcar consultas e mais consultas – não vamos falar do lado financeiro, não quero me incomodar com os gastos que terei com exames e cirurgias futuras. "Mas não é nada grave, vai ficar tudo bem", me disseram.

De volta para casa, tive que lhe dar o remédio. Seus gritos ricochetearam nos ouvidos e acertaram em cheio meu peito. Eu suava. Mal sei se consegui aplicar a dose correta da medicação, queria apenas sair correndo dali para que parasse de se debater e de me amaldiçoar. Vi mais sangue, interrompi o que tinha de fazer. Pedi-lhe perdão. Muitas vezes. Ele não entendeu. Continuou me olhando, gritando.

Ainda não sinto pudor em dizer que chorei. E ainda tremulo os lábios quando me forço a recordar aquele instante, querendo evitar a nova sessão de amanhã. Ok, talvez eu esteja mais preparado, ele aceite melhor a situação...

Ou não. Ou talvez seja apenas um lindo pássaro, rebelde, já de idade avançada, com problemas hepáticos e uma fratura de bico e que me continuará repelindo toda vez em que eu me aproximar de sua gaiola. Tudo bem, não importa tanto. Queria apenas vê-lo bem. Agora. Ou voltar a julho de 2000 para impedir aquele eu mais jovem e realmente feliz indo ao pet shop buscando seu novo animal de estimação. Talvez isso permitisse que o tal pássaro, hoje doente, indefeso e raivoso, ganhasse o dono que realmente o merecesse.

Desculpe.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

O dono das batatas

O início não é muito secreto: a fórmula sempre se repete. Você começa com aquela sensação desiludida, quer apenas passar um tempo e aproveitar aquela oportunidade “o máximo que puder, mas sem se envolver muito”. É sempre assim. “E se um dia der errado, bom... não vou estar envolvido, logo não vou me frustrar”. Aham, acredito.

O problema é que você entra nessa jogada mais do que preparado para se deparar com o pior cenário possível logo de cara. Quando uma coisa começa a dar certo e puxa consigo uma sequência de sucessos, se depara com outra situação: um pequeno envolvimento. “Ok, ainda não é tanto assim. Posso me desvencilhar a qualquer momento”. Tudo bem. Se você diz, eu sigo acreditando.

Chega um momento em que tudo aquilo já superou suas expectativas. Nem no momento mais otimista você imaginaria aquele cenário – aliás, o melhor panorama possível para você seria se aproximar do passo anterior. Você, então, acaba sendo dominado por uma sensação que te deixa estupefato, anestesiado, em outro mundo. Isso se chama envolvimento. Correspondido.

O passo seguinte é comprovar o anterior. Você ainda guarda uma ligeira desconfiança, mas dá uma chance para crer que tudo é diferente daquilo tudo que já foi vivido, que aquela não será mais uma frustração idêntica às anteriores. As situações, afinal, são completamente distintas. Você, inclusive, estava preparado para todas as possibilidades de topar com uma frustração e saiu ileso. Não custa nada dar uma chance, não é?

Pois bem. Você acaba dando uma chance, mas ainda assim tem um pé atrás. O que acontece é que, simplesmente, percebe o quão idiota foi por ficar um tanto ressabiado. Suas expectativas foram plenamente correspondidas. Não poderia ser melhor; se houvesse algo perfeito no mundo, certamente seria aquilo. Ora...

É quando você se sente nas nuvens. Nuvens? Ah, não me venha com essa! Você está muito mais além. As nuvens seriam demasiadamente rasas para aquilo que você está sentido. Você que flutua, você que pesa 2g e se vê no alto. No topo do mundo. Você é algo sobrenatural. Você não existe. Essa comunhão não existe. É perfeita. Nada pode abalá-la.

Então chega o momento em que você é derrubado. Quando menos se espera, algo faz com que tudo siga o velho roteiro já conhecido. Você se depara com o fracasso, vê todos os sonhos jogados no lixo. Sabe tudo aquilo que você sonhou? Pois esqueça, não acontecerá. Sabe toda aquela felicidade que você teve? Também deixe-a, foi em vão. E você não pode fazer nada, absolutamente nada para reverter esse cenário.

Só que... e você lá sabe isso? Você vai se culpar. Não deveria ter feito tal coisa em determinado dia. Não deveria ter vestido aquela camiseta. Não deveria ter saído de casa em tal ocasião. Não deveria ter falado algo, não deveria ter pensado uma ou outra coisa. A culpa é sua, embora você não perceba que é apenas uma vítima – e passiva – daquele momento.

E enquanto você saboreia novamente o amargo de uma decepção, outra pessoa festeja no seu lugar. E talvez escreva que se sente além das nuvens, no topo do mundo, pesando 2g e vivendo algo sobrenatural. Essa pessoa vive algo que não existe, algo perfeito. E nada irá abalá-la. Ele é o vencedor, meu caro. E ele tem as batatas.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Sobre a certeza do erro

Timidez e insegurança se misturaram naquele momento em que o frio lhe acariciava o rosto e anestesiava as extremidades das mãos. Por muito tempo não soube como romper aquela larga barreira que separavam poucos centímetros em dois universos completamente distintos. Pensou, inclusive, em desistir e contentar-se com a incerteza e com a possibilidade de imaginar como seria tudo aquilo. Criaria, em seus pensamentos, o futuro ideal que jamais aconteceria.

Os centímetros, aos poucos, começaram a desaparecer – os que ficavam, porém, insistiam em se inchar em impensáveis proporções e se transformavam em quilômetros. Estava cada vez mais difícil. Improvável. E desnecessário, sobretudo. Não seria tão ruim impedir que a vida seguisse seu fluxo natural e recanalizá-la mais tarde em sua imaginação, como lhe apetecesse. É, não seria. Não mesmo. Além do mais, aquilo era um engano. Óbvio que seria. Certamente era. Estava claro. E estava decidido: não.

Mas quando teve certeza de que o não estava cravado no roteiro daquele momento resolveu desafiar a si mesmo. E, percebendo que obteve pequenos êxitos, ganhou confiança. Atirou para o lado todos os pensamentos – que, agora, pareciam inúteis – que havia acabado de ter e resolveu estender aquele desafio que lhe havia proposto a si mesmo.

A partir daí, notou que poderia, inclusive, decifrar os momentos e prever os instantes seguintes. O coração não palpitou quando os narizes, gelados, se encostaram e nem sentiu que tudo estava perdido quando ouviu “acho que é melhor eu ir”. Sequer respondeu. Apenas contraiu um dos lados do rosto e forçou um sorriso irônico acompanhado de uma expirada curta e forte de ar das narinas.

Seguiu ali, imóvel. Balbuciou algumas palavras. Viu um sorriso de resposta.

Cometeu o maior erro que poderia cometer naquele momento.

E se deu conta de que foi o melhor erro que poderia cometer.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Dúvida

O “se” e o “quando” têm o mesmo significado – ou pelo menos para ele. E apenas formula aquelas frases em um momento de pura insegurança, não sabe como começá-las no momento de fazê-las para si mesmo.

- “Quando" ou "se" é que se deve colocar aqui? –, questiona, no mesmo instante em que percebe já ter uma resposta. O problema se dá no momento em que uma palavra é a resposta da outra.

- Quando?
- Se.

Isso é o que mais lhe aflige, perturba, angustia. Às vezes confunde as duas palavras quando repete as mesmas frases. O medo não é se equivocar na pergunta, mas sintetizar a resposta: "nunca", supõe.

Esse conflito apenas termina quando lhe dizem outra resposta. A que talvez seja a correta.

- Logo.

Agora pode dormir menos perturbado.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

"As coisas mais lindas que já quis te dizer"

Aquilo não seria duradouro, eles sabiam. Cedo ou tarde terminaria, por mais que ambos tentassem prorrogar ao máximo o momento em que teriam que se despedir – talvez para sempre. Assim, preferiram se proteger daquilo que é o mais doloroso para um casal em tal situação: os sentimentos. Ou pelo menos foi o que tentaram, quando combinaram que nunca diriam um ao outro exatamente aquilo que pensavam.

Só que não demorou para perceberem que todo o plano ia água abaixo quando se viam diariamente, esgotavam os assuntos e se pegavam mirando fixamente nos olhos do outro prestes a dizerem aquilo que nunca deveria ser dito. Então piscavam fundo, mudavam o assunto e tentavam seguir essa relação, regada de cumplicidade. Era para o bem deles.

Apenas uma vez não souberam se controlar; ela lhe disse “te quero” e ele respondeu “eu também te quero, e muito”. Depois não falaram mais nada, e deram continuidade ao que viviam.

Então em uma tarde ele teve uma ideia. Comprou um caderno e, no centro superior da primeira página, escreveu “As coisas mais lindas que já quis te dizer” e percebeu que as letras expressavam toda a necessidade de extravasar aquelas sensações que lhe comprimiam a garganta. Observou aquele título, sublinhou-o para dissimular uma suposta segurança no que havia escrito e pulou uma linha.

Estava pronto para começar a arquivar ali diariamente tudo o que passava por sua cabeça a respeito dela. Antes de pular uma linha, fazer um hífen e abrir as primeiras aspas, pensou na frase que fecharia aqueles relatos. Então encostou a ponta da caneta preta a um dedo da margem esquerda e, enfim, deu início à tarefa.

Quanto mais escrevia, porém, percebia a insanidade que aquilo representava. Em vez de encontrar o alívio que esperava, notou que cada palavra que surgia sobre o papel o deixava mais e mais inquieto. Aquilo fugia totalmente de seu controle. Estava inseguro sobre o que sentia. Ligou para ela, que reagiu com surpreendente calma ao ouvir um “Precisamos conversar”.

Marcaram dali a meia hora, no apartamento dele. Ela entrou, ele rapidamente fechou o caderno que havia esquecido sobre a mesa da sala, a convidou para ir ao quarto e sentar-se na cama e pensou em como começar aquele assunto. Achou melhor, então, aguardar a oportunidade ideal.

Entretanto, não demorou tanto para que ela iniciasse o assunto mais delicado. “Não quero me machucar. Tento não pensar nisso, mas sei que vou. Gosto de você, muito, talvez nenhum de nós saibamos quanto. E não quero que nos machuquemos. É melhor tomarmos uma decisão. Logo”, explodiu ela, sem se importar em secar as lágrimas que escapavam de seu olho direito, caíam sobre o travesseiro dele e manchavam a fronha com rímel. “Agora me diz: o que você quer me contar?”.

“É que... que... bom... lembra quando me disse que me queria e eu respondi que também te queria?”, perguntou, com os olhos marejados. Ela assentiu com a cabeça, e ele prosseguiu. “A verdade é que eu estava errado. Pensei muito nisso e percebi hoje que não foi a coisa certa a te falar”.

Ela não respondia, mas tampouco dava sinais de estar atônica. Dissimulou aquela angústia que dominava todo o seu corpo e manteve o silêncio. Depois de alguns segundos, ele tomou fôlego e continuou. “A verdade é que eu não te quero, mas que... que... que eu te amo”.

No dia seguinte ele arrancou a página que havia preenchido na tarde anterior e guardou o caderno na gaveta. Nunca mais escreveria aquilo que queria dizer para ela. Ambos consentiram que havia sido um erro gravíssimo esconder tudo aquilo que sentiam e optaram por não pensarem no futuro, já que estavam aproveitando tão bem o presente.

domingo, 17 de outubro de 2010

A primeira ligação

O peito palpita mais forte do que o normal no momento que antecede aos toques do telefone. A cabeça produz uma insegurança amarga com a interligação intensa de milhões de neurônios, o coração comparte um medo e uma sensação de alívio ao bombear adrenalina por todas as veias, artérias e capilares do corpo, as pernas inquietas denunciam a ansiedade enquanto marcam o ritmo acelerado de uma canção que nunca existiu, as mãos vacilam na hora de apertar um botão... a garganta falha na hora de dizer a primeira palavra.

Então chega o primeiro impulso sonoro do outro lado, e os ouvidos se apuram em abafar todos os sons externos que atrapalhariam aquele momento de escutar aquela voz. Aquela voz! Aquela que, por um momento, pensou-se que jamais seria ouvida novamente. A mesma voz que, em outros tempos, pensou-se que jamais seria esquecida. A voz que, em determinadas ocasiões, bloqueou-lhe qualquer tipo de pensamento que não fosse escutá-la dizendo coisas que sempre quis ouvir.

É uma situação estranha, já que a cabeça, ao mesmo tempo em que trata de esquecer aquela insegurança inicial, pensa em milhões de maneiras de responder àquela voz, atrapalha-se toda e não consegue passar outra ordem às cordas vocais que não seja um gaguejo trêmulo. Afinal, são milhões de coisas a dizer. Muitas, talvez infinitas, mas que poderiam tranquilamente ser resumidas em apenas duas ou três palavras.

A mescla de sensações, em diferentes quantidades, é algo que realmente chamaria a atenção a qualquer especialista que analisasse aquele momento em que um ouve a voz que por tanto tempo esperou para ouvir. Felicidade? Sim. Insegurança? Lógico! Medo? Talvez. Saudades? Mas é óbvio! Tristeza? Um pouco. Esperança? Podemos dizer que sim. Certezas? Também. Otimismo? Aham, em proporções iguais às do pessimismo. E o que mais? Tudo. Tudo, absolutamente tudo.

O tempo passa. A conversa toma diversos rumos, muitos deles inesperados. É preciso, porém, manter cautela para não proferir uma ou outra frase que possa colocar tudo em xeque. Sempre há coisas que não devem ser ditas, perguntadas, imaginadas, cogitadas, supostas... “Ei, não pense assim”, teria sugerido a voz interlocutória, que certamente se havia dado conta do conflito mental que vinha do outro lado.

Hummm... ela realmente disse isso? Não se sabe. Talvez nunca se saiba se realmente deu esse conselho ou se ele imaginou isso. Tudo perdeu o sentido quando ela disse um milhão de coisas. Resumidas em duas ou três palavras.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

E se eu nunca tivesse que ir?

Ignoraria sua rotina e abriria mão de seus compromissos apenas para passar um tempo a mais comigo? Evitaria tocar no assunto “como serão nossas vidas depois?” e choraria comigo quando inevitavelmente resvalássemos no tema? Me abraçaria forte e secaria minhas lágrimas dizendo que sempre será minha? Me daria um presente para que eu nunca me esquecesse de você? Viveria todos os dias comigo como se fossem o último? Faria promessas atrás de promessas e riria comigo de todas elas? Imaginaria comigo como seria a nossa vida dali a alguns anos? Diria que me ama? Responderia que sim apenas quando eu pensasse em formular aquela pergunta que nunca fiz sobre o nosso futuro? Temeria o nosso futuro? Ainda assim me falaria que nunca iria me querer longe?

E se eu nunca estivesse longe?

Responderia comigo que trataria de aproveitar o máximo que pudesse, sem precisar pensar em todas essas perguntas enquanto nos olhamos profundamente?

sábado, 9 de outubro de 2010

1:44

O lençol estava tão desarrumado que o colchão já desgastado pelo uso estava à mostra. Os cobertores não estavam presos, mas sim esticados horizontalmente, esquentando os dois corpos que tremiam em parte pelo vento gélido da madrugada que entrava pelas janelas escancaradas daquele quarto de quinto andar.

As luzes, acesas: não era hora de perder aqueles últimos minutos de uma vista inesquecível.

Eram quatro os olhos, que tinham um brilho que não era nada além de reflexo das lâmpadas em uma solução aquosa de sais minerais e lipídios. Eram também quatro os braços, que se envolviam e envolviam dois corpos frios em decorrência daquela situação angustiante.

Dois narizes que se tocavam. Lábios que balbuciavam coisas que não haviam sido ditas e que nem precisavam ser. Corações que descompassavam e não seguiam o ritmo dos relógios de pulso que insistiam em abreviar a duração de cada um daqueles segundos que deveriam ser eternos. Poderiam ter ficado ali para sempre. Queriam, disseram. Tentaram. Arriscaram.

Não conseguiram. A vida, mesmo que incerta depois daqueles instantes, estava ansiosa por seguir – ela não se importava com nada, apenas insistia em seguir seu curso e apressava os já acelerados ponteiros que agora batem lentamente.

A vida seguiu.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Fé sem taxa de entrega

Estava no trânsito da Avenida Domingos de Moraes na hora do rush na semana passada quando, parado em um congestionamento, olhei para o lado e vi um cidadão na rua com um cartaz escrito qualquer coisa. Virei, então, o pescoço um pouco mais para a direita e me deparei com dois mais jovens segurando uma outra faixa, apontando para dentro da Igreja da Santa Cruz.

Apertei um pouco mais os olhos para conseguir ler no breu da avenida não lá tão bem iluminada e me surpreendi quando decifrei as letras em vermelho no fundo branco: “drive-tru de orações”, mostrava o cartaz, com uma seta apontando para um corredor no território da igreja.

Drive-tru de orações. É algo no mínimo... bizarro, que jamais ouvi alguém falar sobre as mudanças que o futuro proporcionaria. Nem nos Jetsons. Talvez, quem sabe, um confessionário via Skype, em que o fiel liga para o padre, aciona sua webcam, ajoelha-se e relata todos os seus pecados e depois reza não sei quantas orações previamente decoradas enquanto espera a absolvição divina. Mas nada como um

Infelizmente, achando estar atrasado para o meu compromisso (alguns quarteirões para a frente lembrei que havia combinado não às 20h30, como eu tinha certeza, mas às 21 horas), não pude jogar meu carro na frente de outros veículos parados para entrar e testar o curioso drive-tru. Mas fiquei curioso para saber o que era.

Será que o fiel embica seu veículo ali, relata previamente seus pecados diante de um jovem padre, pega uma notinha e volta para casa ciente do que precisa fazer para conseguir o perdão? Ou será que reza ali mesmo o terço, enquanto o outro veículo da fila aguarda pacientemente a sua vez? E... não poderia, então, haver um espaço reservado para a pessoa estacionar o carro e orar ali mesmo por vários minutos?

Há também a possibilidade de o fiel, que não pôde comparecer à missa dominical, rezar ali mesmo e comungar, não? Quem sabe até que todos os motoristas ali aguardando não deixam seus carros (com a chave no contato, mesmo - afinal, quem roubaria dentro de uma igreja?), dão as mãos e discursam ali um Pai Nosso?

Esse negócio de orações drive-tru, apesar da bizarrice aparente, faz lá seu sentido. Eu, quando bem mais novinho e tinha um temor divino maior infinitamente maior que a memória de um iPhone, precisava aguardar todos os primeiros domingos do mês para a confissão comunitária na igreja aqui perto de casa. Nada de relatar os pecados, eu precisava apenas mentalizar meus erros e ser perdoado sem dizer um A. E depois comungava com a consciência tranqüila.

Em um mundo moderno e imediatista, porém... agora, parece que basta embicar seu carro ali na Igreja da Santa Cruz em um dia qualquer (ou quem sabe numa quinta-feira de trânsito antes da rodada do Campeonato Brasileiro) e fazer a sua oração. E melhor: não é preciso nem pagar a taxa de entrega.

Querendo ou não, é mais saudável que um drive-tru do McDonald’s, né?

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Zona Sul de São Paulo, campeã do mundo

Ao menos àqueles que não fugiram das aulas de geografia no colégio, não é nenhum absurdo dizer que São Paulo é a cidade com maior população da América do Sul. Pois bem. São dez subdivisões, que, juntas, reúnem cerca de 11 milhões de habitantes. A mais populosa dessas áreas é a Sul, com 2,3 milhões – se unida à Centro-Sul, passaremos por pouco o total de 3 milhões de pessoas.

Essas duas regiões, por sua vez, são subdivididas em nove subdistritos: Capela do Socorro, Cidade Ademar, Campo Limpo, Parelheiros, M’Boi Mirim, Santo Amaro, Vila Mariana e o Jabaquara, onde costumo viver há 22 anos.

Até aí ok, eu não precisaria falar toda essa baboseira: a Wikipedia ensina melhor do que eu, apenas com uma tabela maneira. Mas não é esse meu ponto, e sim sugerir a estúpida proposta: já pensou se reunirmos toda a população nascida nesses bairros, escolher a dedo os melhores boleiros de 18 a 35 anos e formar uma seleção de futebol. Disputar as Eliminatórias, buscar uma vaga para a Copa do Mundo... e ser campeão. Estúpido, improvável e impossível, não é?

Não necessariamente. Basta olharmos para a atual Copa do Mundo para vermos o Uruguai, país que tem somente 3,3 milhões de habitantes que quase chegou até a final. Pois é: a população uruguaia é apenas 1,7% da brasileira, de 190 milhões. E nossos vizinhos sulistas quase chegaram
lá, na final do torneio.

Tudo bem, não levemos em consideração o caminho não muito difícil da seleção uruguaia até a as semis – eles não enfrentaram nenhuma grande força mundial (a França, nos últimos dois anos, só coloca medo no próprio torcedor francês). Mas, de qualquer maneira, não é algo notável para a nação liderada pelo presidente José “Pepe” Mujica (que se elegeu no ano passado com uma música de campanha estilo rock Ultraje a Rigor)?

O mais impressionante nisso tudo, além de ver o Uruguai firme e forte lutando por um título conquistado pela última vez há 60 anos (no nosso Maracanã, diga-se), é pensar no seguinte fato: em números de Copas, eles quase chegaram ao tri - igual à Alemanha e atrás apenas de Brasil e Itália... e por pouco não relegaram a bicampeã Argentina à terceira força do continente. Rá!

sábado, 3 de julho de 2010

Sobre a decepção

Antes era assim: eu não parava de acompanhar os e-mails para ter novidades e dar um sorrisinho quando notava alguma mensagem não-lida. Quando notava algum progresso, então, ria sozinho.

Houve um tempo em que tudo estava... bem ruim, para falar a verdade. Mas eu seguia sonhando, algo em mim dizia para acreditar. Achava sempre que seria possível dar um passo aqui, outro lá, fazer um progresso acolá. Tanta esperança deu certo. Muito certo, de uma hora para outra.

Foi nessa época em que minha caixa de entradas ficava aberta 24 horas por dia. Quando ela persistia em ficar lá, parada, eu insistia. A tecla do F5 do meu teclado quase se apagou, de tanto suor vazava dos poros da falange do indicador. E pensar que tudo começou de uma maneira despretensiosa...

Dizem que é impossível ser perfeito, e foi da maneira mais cruel que essa máxima se fez real para mim. Quando o melhor momento estava a uma distância ínfima de mim, a apenas um degrau, tudo desandou.

Não sei lidar com momentos de aperto. Meu instinto, errado eu sei, é abandonar. Deixar de lado, bloquear dos meus pensamentos. Assim o fiz, tentava não me culpar por ter apostado errado em certos momentos.

Só que da fase mais turbulenta surge um insignificante sinal de esperança. Alguma novidade, algum e-mail animador para os últimos instantes. Só que... talvez seja muito tarde. É o erro de se confiar cegamente onde sempre houve uma ponta de desconfiança e notar que não há de onde resgatar alguma força para reagir. Não depois de tanta energia gasta no princípio.

Conformar-se? Talvez seja essa a saída. Tentar não viver o verso seguinte ao da febre, da hemoptise, da dispnéia e dos suores noturnos. Não pensar naquilo tudo que poderia ter sido e não foi. Mas é difícil, quando se faz planos. Tantos planos.

O que sobra? Uma ironia.

Obrigado a todos aqueles de camisa amarela que conseguiram estragar minha chance de ganhar 50 pontos, assumir a liderança de um bolão que pagaria R$ 4 mil ao vencedor entre 200 competidores e me derrubar para o quarto lugar. A uma posição da zona de premiação financeira, o que já me renderia uma bolada de uns R$ 600.

E olha que não estou nem falando da decepção de quatro anos...

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Decisão

É quando a ansiedade se mistura e agrava a angústia que inflama. As pernas tremem, enquanto a taquicardia faz com que o coração bombeie mais e mais sangue para o cérebro, impedido de interromper seu funcionamento pelos intermináveis estímulos elétricos dos neurônios. Os dentes rangem. A espera, amigo, aflige.

Num momento desses, tudo, exatamente tudo dos últimos anos passa pela retina: todas as boas imagens, a felicidade recente que levará um tempo amargo para sumir da memória, como também todos os percalços – insignificantes diante de um evento daquela magnitude.

A confiança tenta surgir, mas divide no peito uma imponente insegurança. Medo? Algumas vezes. Todas essas sensações se liquefazem em um suor expelido pelas mãos. Geladas, tensas.

Aquele instante, que mostra o quanto o infinito pode ser curto, tem lá sua utilidade. Muito provavelmente, os conflitos que antecediam este momento decisivo se estenderiam de uma maneira insuportável, resultando em um marasmo sufocante. Resta, então, decidir o futuro em um tempo injustamente pequeno para tudo o que fora construído até então.

Já ouvi especialistas chamarem o período de loteria. Discordo. Trata-se de uma batalha de nervos que será vencida por quem souber lidar melhor com a compressão de um mundo inteiro sobre uma cabeça – muitas vezes despreparada para uma situação como aquela.

O erro, embora ganhe um caráter fatal, é tolerado – o outro lado certamente cometerá uma ou outra falha, ainda que imperceptível. Os acertos, porém, não são dignos de festejos. Tudo pode mudar no passo seguinte dessa caminhada limitada.

Ao final de tudo, a derrota deveria dar o direito de viver a vida de cabeça erguida – afinal, lutou-se o máximo que pôde, até o verdadeiro fim. Mas a decepção é tamanha que aquele estigma perseguirá por toda a vida. A vitória, por outro lado, infla os pulmões de uma confiança assustadora. Não há lógica, eu sei.

Mas é por isso, justamente por ser ilógica e brilhante, que uma disputa de pênalti é tão incrível.

domingo, 27 de junho de 2010

A Copa do Mundo atrasada

Investe-se uma grana tremenda desenvolvendo-se novas tecnologias para que a televisão se torne moderna. Interferência, chuvisco, falta de sintonia e bombril na antena são coisas que eu convivia na infância, há 15 anos, e nunca mais ouvi. Aí veio o SAP acompanhado do PAL-M e do NTSC. Depois, o cabo. Tela plana. Trocentas polegadas. O sinal digital. Som stereo, mono, surround. Plasma. HD. Led, 3D e por aí vai.

Uma novidade melhor que a outra, dando a impressão de que o Faustão está de fato na nossa sala, que o Julio Baptista não chutou aquela bola nas arquibancadas mas em nós vuvuzeleiros na câmera + da Globo. A sensação de que as garras do Wolverine estão saindo da tela e aparando nossas barbas. Tudo, tudo. Só esqueceram de uma coisa, bem simples: o tempo que o sinal leva para chegar às nossas telas.

E é esse maldito delay (vulgo "atraso de merda") que vem arruinando com um momento que eu ansiei cada vez mais nos últimos anos: a Copa do Mundo. E o torneio sul-africano tem se tornado cada dia mais decepcionante, ao menos para mim (o nível técnico do futebol não está no mérito), já que me incomodo demais com isso e valorizo mais a surpresa. Mas é impossível a surpresa com tanta tecnologia ao meu redor.

Os televisores com os quais convivo têm cabo com sinal digital, têm tela plana e muitas, muitas polegadas. Toda essa parafernalha apenas intensifica a decepção. Basta um jogador armar o chute na minha tela que já tem gente gritando gol. E agora me diga: qual a graça, cara-pálida?

Vivi isso (mais intensamente) com Brasil x Costa do Marfim. O Luís Fabiano ajeitou a bola na mão pela primeira vez, os vizinhos do prédio já pulavam e se abraçavam gritando gol. Resumindo: o gol mais bonito das últimas Copas foi uma frustração sem tamanho. Chapéu aqui, lençol acolá... e já sabia o final: caixa. Broxante.

O que mais me deixa inconformado é ver o pessoal no boteco de quinta e esquina do outro lado da rua, com bombril na antena, mostrar o gol antes do mundo inteiro. Obrigado, tecnologia, Net, satélites e delay, por estragarem a minha Copa. E por perceberem que como se joga dinheiro no lixo.

sábado, 26 de junho de 2010

Discussão de relacionamento no século 21

Seu avatar ainda está no meu Wii Sports. Faço bem em mantê-lo por lá?

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Tcha Tcha da Hyundai

Tentando reviver este espaço, aproveitando a rara folga e o clima de Copa do Mundo, vamos tentar entender a lógica do comercial da Hyundai, que bombardeia o tal do “Tcha Tcha” na nossa cabeça a cada instante – falo isso quando uma redação inteira começa a repetir o maldito “Tcha Tcha” a todo o momento.

Não sou publicitário e nem tenho cacife para comentar sobre o caso, mas... cá entre nós? A Copa do Mundo inspira tantos comerciais bacanas –como os de Nike, Pepsi e Ekol com o desespero para cortar o pelo argentino – e me vem uma multinacional com um inovador... Tcha Tcha.

Sim, a droga do slogan realmente fica na cabeça. Mas... poxa vida, não tinha maneira mais legal de se fazer um comercial? A começar pelo fato de como começa a saga: um tiozinho que mais parece o Cléber Machado depois da feijoada jogadão na poltrona em uma sala escura tira motivação do nada para não apenas levantar os braços, como saltar do sofá e pular como um idiota e gritar “Tcha Tcha”.

O gesto do gordinho realmente motivou o universo a se unir em torno do Tcha Tcha. Pessoas em ruas da Europa, provavelmente nos Estados Unidos e até em algum deserto deixam seus camelos de lado para sacudirem a roupitcha branca com os braços esticados a troco... de nada! Eles, certamente, não estavam vendo algum jogo e comemoravam algum gol.

O que mais me chama a atenção (após a cena do gordinho, claro) é o nível de ânimo de uma moça vestida com a camisa do Brasil e uma calça preta na metade do comercial, no canto direito da tela. Ela é a pessoa que mais expressa vergonha alheia naquele filme. Aí, para terminar de vez com essa palhaçada, um meteoro da Hyundai cai do céu, é perseguido por vários molequinhos doentes e une o mundo inteiro em turno do quê? Do “Tcha Tcha”!

Acho que há poucas maneiras mais eficientes de queimar o filme de uma empresa do que com o Tcha Tcha. Se eles resolvessem fazer o nível 1 da publicidade exibindo o logotipo da empresa por 30s o impacto seria mais positivo. Ou então... sei lá. Será que eles não teriam o contato do gênio do “Quer pagar quanto?”. Sairia mais barato, imagino...

A saga do Tcha Tcha vai se confudir com a série de pataquadas que virá em breve nas coberturas e transmissões da Copa do Mundo. O narrador e o comentarista do Sportv que cansaram de chamar o Van Persie de “Fan Pierce” no amistoso contra o México não contam...

De qualquer maneira, veja o lado bom do comercial da Hyundai. Provavelmente, quando estiver alcoolizado durante a estreia do Brasil na Copa do Mundo, eu me lembre de erguer os braços para o alto e gritar Tcha Tcha, parecendo um H saltitante como todas as figuras daquele comercial.

Taí. Talvez seja essa a intenção dos sul-coreanos. Só falharam em deixar o tema de “Um jeito novo de torcer na Copa do Mundo; vibre com a Hyundai” para “Um jeito novo de ser um mala na Copa do Mundo; fique de porre com a Hyundai”.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Gênesis de um clima copeiro

Eu já era um precoce fracasso com as garotas em 2002 e acabei chegando ao Dia dos Namorados novamente sozinho. Nenhuma novidade, mas naquele ano a proximidade daquela data realmente me chateou: eu havia acabado de levar um pé na bunda da minha maior paixonite até então.

Um dia, quando saí do colégio, resolvi atravessar a rua e dar uma passada no shopping. Estava chegando perto do aniversário de uma amiga minha e pensei em gastar os poucos trocados que tinha para comprar um presente. Passei na Siciliano (ou seria Saraiva?) para dar uma olhada nos CDs e um lançamento em particular me chamou a atenção.

Era o International Superhits!, que o Green Day havia lançado oficialmente havia uns seis meses. Como na época a grana era curta (um pouquinho mais do que agora) e eu não teria condições de comprar de uma só vez os melhores álbuns da banda, aquele parecia o melhor custo-benefício da história da música (até que em Buenos Aires eu encontrei um CD do Shout out Louds por 20 pesos há dois anos). Minha amiga que me desculpasse, eu iria comprar aquele disco!

Eu passava dias seguidos ouvindo meus novos CDs naquela época, e maio e junho de 2002 acabaram sendo marcados por Maria, Basket Case, Warning e Macy’s Day Parade. E esse período coincidiu também com a Copa do Mundo de 2002 e a primeira vez que tomei cerveja e não achei amargo. Eu tinha 14 anos, e até hoje lembro com carinho daquela data. Muito, muito mais até do que da primeira frustração amorosa.

E como meus ciclos musicais vão e voltam (Beatles, por exemplo, é uma ótima pedida entre novembro e janeiro – nunca em março), tive sensação parecida quatro anos depois. Em 2006, aproveitei para resgatar o disco e coloca-lo sempre no meu discman e viver novamente aquela sensação. Quando a Copa acabou em 1º de julho no gol do Henry sobre o Dida, estava tudo programado para que em 2010 o International Superhits! voltasse a fazer parte da minha vida.

Mas, claro, sempre tem algum idiota para atrapalhar com a nossa vida. No meu caso, um ladrão (bem burro, por sinal) que arrombou meu carro para levar o som e, sem encontrá-lo, surrupiou um óculos de sol quebrado, um par de tênis furado e meu porta CDs – com os dois melhores investimentos do mundo musical: International Superhits! e o disco de Buenos Aires do Shout out Louds.

Claro que o segundo pensamento que veio em minha cabeça foi comprar no dia seguinte o International Superhits! Atormentei minha namorada ao repetir n vezes que precisava comprar um CD novo porque, caso contrário, a Copa do Mundo não varia sentido. Até que ela me deu o álbum de aniversário, e a África do Sul realmente ficou logo ali.

Estava entrando hoje no meu carro indo para o primeiro dia do plantão da Copa, às 3h27 da madrugada, quando lembrei de voltar para casa para pegar o International Superhits! e colocar o disco para tocar pela primeira vez. Quando estava voltando pra casa, às 12h23, senti uma necessidade absurda de aumentar o volume do som no caminho de volta para casa.

A Copa do Mundo está só começando.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

06/05/2010

Eu tive medo que o mundo acabasse em 1999. Saiu na tevê, só se falava disso na época. E, com meus 11 anos, era difícil entender que tinha muita groselha em rede nacional. Então, na véspera, queria a todo custo ficar em casa, protegido. Escola à tarde? Mas nem pensar! Se fosse pra acabar o mundo, que fosse jogando International Superstar Soccer no meu Nintendo 64.

Meu pai me tranqüilizou. Disse que o mundo não acabaria, por mais que o livro de Nostradamus dissesse – eu já tinha passado a acreditar no Nostradamus porque meu próprio pai havia dito que muito do que ele escreveu era verdade. Então, naquele dia de 1999, eu imaginei que, na pior das hipóteses, nasceria o Anticristo. Vai saber. Mais 11 anos se passaram e aqui estamos nós.

Só que esses dias entrei pela primeira vez no Half Past Human.com (um site que faz previsões a partir do sistema web bot – ou seja, a partir de palavras-chaves que circulam na internet) e lá havia a seguinte mensagem: “A terceira guerra mundial está aqui” (não lá no site, imagino, mas entre nós).

Era bem de madrugada quando me dei conta de que, se fosse realmente verdade (e deveria ser: o History Channel, na viciante série Efeito Nostradamus, mostrou que o web bot havia acertado desde o 11 de Setembro até a crise financeira, passando pelo Katrina em Nova Orleans), o fim estava realmente próximo. E o primeiro advento aconteceria... dia 6 de maio. De 2010, claro.

É bem no final do texto: “A nova temporada de guerra começa em 6 de maio... fique ligado. Como o Lobo e os outros slogans de Blitzers dizem, “assista, e então escolha. É, afinal, suas mentiras e sua terrível escolha”. Tenebroso, né?

Pois então contei os dias até 6 de maio, esperando algum sinal. Até que, vejam, só, a Grécia entrou em bancarrota, um grupo paquistanês organizou um atentando em Nova York... precisava de mais? Sem contar que Wolf (lobo) Blitzers é um jornalista alemão/norte-americano da CNN. Tenso, imagino.

Agora são 3 horas da manhã do primeiro dia do resto de nossas vidas, segundo o Half Past Human, e nada aconteceu - exceto a eliminação do Corinthians na Libertadores (haha). Realmente não consegui dormir. Medo? Talvez seja. Pena não poder faltar à aula (ao trabalho, no caso) amanhã. E que meu 64 esteja no armário, empoeirado.

Ao menos vai dar tempo de completar meu álbum da Copa e vão me deixar ver os jogos da África do Sul entre junho e julho. E talvez ainda dê tempo de ver o museu do Loco Abreu, quem sabe?

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Happy Hour

Pode ser uma rotina pesada, daquelas que te fazem voltar para casa quando as ruas estão desertas, os semáforos funcionam somente piscando a luz amarela sugerindo atenção e homens ficam de lingerie nas esquinas do caminho de casa – maldita Indianópolis.

Ainda assim, quando há algo interessante para se fazer enquanto descarrega suas baterias em busca do sono (que geralmente vem com o nascer do sol), o dia-a-dia (para não dizer a vida) ganha um significado.

Foi assim comigo nessas duas últimas semanas. Meu irmão aproveitou um vale-presente que havia recebido de Natal e comprou o box da primeira temporada de The Big Bang Theory. Um seriado que, vez ou outra, eu havia tentado assistir com ele em algumas manhãs de domingo antes de ir para o trabalho, mas que nunca havia conseguido entender bulhufas.

Sem nada para fazer em um dos meus últimos dias de folga, vi um, mais um e um terceiro episódio e acabei gostando. Vimos a primeira temporada inteira em menos de uma semana. Peguei com ele os outros episódios da segunda e da terceira temporada e devorei todos: 23 episódios da segunda temporada, mais 12 da terceira.

Acabei de terminar o 35º episódio. Já não sentia tanta graça em certos momentos, fui menos surpreendido do que nas vezes em que estava começando a me ambientar com o seriado. Mesmo assim, continuei assistindo. Dois, três, às vezes quatro episódios por madrugada.

Até que chegou o inevitável momento: terminei. Não há mais episódios inéditos para eu me empanturrar durante as madrugadas. Coincidentemente, também está acabando o Aberto da Austrália de tênis, que ajudavam a preencher – e muito bem – minhas madrugadas e manhãs de insônia.

Agora, os canais esportivos reprisam os jogos que eu acompanhei por cima durante o expediente – nem passam mais os torneios de pôquer. Sinto um vazio. Tenho a impressão de que minha vida após a meia-noite não tem mais sentido. Terei que me contentar com o fato de assistir a um episódio de The Big Bang Theory por semana – algo em torno de 5% do que eu estava fazendo.

Costumava ter essa sensação quando esperava um ano inteiro pelos livros do Harry Potter durante a adolescência; então, após o Natal, submergia na história por uma ou duas semanas e então precisava esperar mais 12 meses pela continuação. O mundo é cruel, não?

Mas vou me preocupar com isso dentro de 19 minutos. Por sorte, consegui achar na internet o 13º episódio da terceira temporada de The Big Bang Theory. Depois, retornarei à insignificância de minha existência entre 1h e 5h da manhã.



Bazinga!

A Fox ainda passa Simpsons entre 0h e 3h.