sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Videogame novo

Tocar guitarra foi, por muitos anos, um dos meus métodos de espairecer todas as tardes e inícios de noite. Mesmo nas vésperas das provas que me assustavam mais no colégio (história e geografia, já que química, matemática e física eu tirava de letra), tocava um bom tempo de guitarra ou baixo para relaxar.

Mas o tempo passou, eu fiquei mais velho e chato e preguiçoso... e minha guitarra foi empoeirando no canto do meu quarto. Estava até desanimado em reaprender todas as músicas que eu sabia de cor, e em sonhar em ter uma banda e em fazer shows e todo esse sonho adolescente... era triste, eu sei.

Enquanto isso, meus amigos também aspirantes a músico se deliciavam com uma versão mais light e animada da guitarra: o Guitar Hero. Eu, que só tinha visto uma vez ou outra uma molecada jogando no reveillon de 2007/08 enquanto eu tomava cervejas e mais cervejas com meus amigos mais velhos aqui no prédio, não me empolgava nada. Era simples: apertar botãozinho no Playstation... bah, isso não era tocar guitarra.

Até que os meses de 2008 passaram e, não faz muito tempo, fui apresentado oficialmente ao Guitar Hero. Apesar de não ter jogado mais do que 30 minutos, admito que achei fenomenal. Eu, todo pomposo e metido a guitarrista, mal conseguia jogar no nível médio. No difícil, então, eu parecia estar na minha primeira aula de violão. Um desastre. Era um desafio virar um bom guitarrista no videogame.

Aí chegou o feriado, em que eu consegui combinar folgas da faculdade com o trabalho. Eu, enfim, tinha tempo para espairecer. E em vez de tirar minha guitarra do armário, comprei um CD do Guitar Hero e fui me meter a aprender a jogar aquela coisa.

Era quinta-feira de tarde quando eu comecei a arriscar minhas primeiras músicas. No nível fácil, tá bom, mas já era um começo. O tempo passou, o dia escureceu lá fora... e eu fiquei jogando até bem tarde. Lembrei do dia em que eu ganhei meu Super Nintendo, no Natal de... 96? É, acho que foi isso. Quando eu fiquei jogando Super Mario até altas horas da madrugada, querendo porque querendo passar de fase. Só mais uma. E mais uma. E mais uma.

Jogar Guitar Hero foi voltar uns 15 anos no tempo. Aquela coisa de ganhar um videogame novo e ficar até de madrugada entretido com o jogo. E depois acordar cedinho no dia seguinte para continuar jogando. Ter que se acostumar com os botões, os comandos... e o Winning Eleven, o único jogo de videogame em que eu me aventurava... ficou ali, quietinho no canto. E eu me empolgava com as mensagens de incentivo na tela: You rock! Pensava comigo mesmo: “Yeah, baby, I rock!”. Até me achei de novo um rockstar, veja só.

Mais do que isso, voltei a ter vontade de pegar meu violão de novo. Fazer um Sol (é a nota mais legal de fazer), uma pestana... pegar uma palheta de novo e tentar um riff famosinho. Tirar músicas antigas, músicas novas, todas que eu quiser e achar que posso tocar.

Quero voltar a tocar. Mas não hoje. Ainda falta uma prova para acabar o ano na faculdade, e... bom, já são 4 da manhã. Quem sabe na semana que vem? Até lá, me contento com o Guitar Hero.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Deve ser difícil fazer amigos se você mora no Kuwait

Quer dizer, talvez seja fácil fazer amizades com vários Mohammed Al-alguma-coisa que moram no mesmo país que você. Mas fiquei com essa impressão de que kuwaitianos são pessoas solitárias quando conheci o primeiro Mohammed Al-alguma-coisa, recentemente.

Eu estava lá, no cantinho do Pacaembu, enchendo a cara de Red Bull um dia desses. Tinha um bloco na mão esperando o Edgar Davids aparecer por milagre na minha frente e um papel, com a lista dos países participantes do tal evento de futebol freestyle que eu fui cobrir semana passada.

Estava quietinho no meu canto quando um moleque de 1,60m, pele cor-de-barata, narigão (acho que ele se identificou comigo), uma camisa de Portugal e um bigodinho veio gesticular pra mim. Falou só “I from” e apontou para a bandeira do Kuwait.

Arrisquei um inglês: “Oh, man, you are from Kuwait?”. Ele sorriu, fez com a cabeça que sim e ficou lá esperando para ser entrevistado por um brasileiro estagiário de jornalismo. Por que não? Nunca tinha falado com kuwaitianos, mesmo...

Só que foi extremamente difícil conversar com o Mohammed Al-alguma-coisa. Ele não falava patavinas de inglês e nem entendia o que eu falava. “Hablas español?”, arrisquei. Ele respondeu negativamente. Tentei o mais sobrenatural possível, em inglês: “Bom... você está com a camiseta de Portugal... fala português?”. É claro que ele disse que não.

Mas fiquei lá, tentando bater um papo com o moleque do Kuwait – que disse ter 16 anos, embora aparentasse ter quase uns 30. Entendi só o que eu já esperava ouvir: que o cara jogava bola na rua, não tinha onde praticar, sonhava em jogar na Europa e ser um novo Cristiano Ronaldo da vida. Mas precisei de uns belos 20 minutos de inglês slow-motion e muita mímica pra compreender.

O kuwaitiano pediu uma folha de papel e a minha caneta. Entreguei para ele, que rabiscou várias letras e depois rasurou, até me devolver uma versão final do e-mail dele: Mohammed Al-alguma-coisa@hotmail.com. Fiquei constrangido, não saberia adicioná-lo no MSN ou então enviar um e-mail pra ele, ainda mais... se ele não entendia nada de inglês. “Hi, Maomé, I Felipe. Jornalist, New York Times, Al-Jazeera. I from Brazil. Braaaazil. Pelé, Ronaldinho, Robinho, Carnival, Samba...”.

Por via das dúvidas, para fingir uma solicitude e me eximir da responsabilidade, dei um papel para ele com o meu e-mail também. Não o do MSN, que tem uma passagem em hebraico (judeus, muçulmanos... sacou?), mas sim o do trabalho. “Feel free to send me an e-mail, man”. Me despedi, ofereci minha mão para ser cumprimentado. Ele exitou, mas acabou aceitando o cumprimento ocidental.

O Mohammed Al-alguma-coisa, que não tinha feito amigos e sequer falado com ninguém no evento (os chicos da América Latina estavam todos contando piadas, os europeus batiam um papo animado e o negão sul-africano tinha até conseguido se agarrar com uma loirinha holandesa por lá), voltou para seu lugar nenhum para ficar sozinho brincando com a bola. Sem amigos.

Deve ser chato ser kuwaitiano. E, mais do que isso, deve ser chato não ter amigos. E as poucas pessoas de quem você tenta ser amigo... acabam te menosprezando, como eu sem querer acabei fazendo com o tal do Mohammed Al-alguma-coisa.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Quebra de rotina

Véspera de feriado. Acordei, olhei o relógio e vi que eram 12h15. Fechei a cara por não ter acordado a tempo dos Simpsons.

Desliguei o rádio, que passou a manhã inteira transmitindo a reconstrução do caso Lindemberg. Me espreguicei, levantei, fui de samba-canção para a cozinha, tomei um copo de água e parti para o banheiro.

Tomei banho. Tentei fazer um moicano com o cabelo com xampu. Saí, balancei a cabeça como um cachorro molhado, coloquei a roupa e deitei na cama. Abri o site do trabalho, vi minha notícia com o Davids estourada na capa do site. “Humm, bacana”.

Entrei nos sites concorrentes. Todos estamparam em suas capas a mesma notícia que surgiu da minha pergunta para o tal do holandês. “Humm, bacana mesmo”, repeti.

Saí de casa, peguei o metrô, desci na Paulista para o trabalho. Atravessando a Joaquim Eugênio e chegando no quarteirão para o trabalho, começou a tocar The middle, do Jimmy Eat World, no meu ipod.

Fiz o playback das últimas horas do dia: acordei, tomei um copo de água, não almocei, vi que tinha pautado todos os sites de esportes do meu conhecimento. E ainda estava tocando uma música bem interessante. Uh!

Respirei fundo. Ri sozinho atravessando a rua. Comemorei, comigo mesmo: o feriado estava chegando.

E olha que eu nem tinha visto que saí quase que em primeiro plano no UOL, enquanto o Davids respondia para mim a pergunta sobre seu sonho de jogar no Flamengo.



quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Carteirada

“Você é só um estagiário com cara de moleque”, me animou a Bonie quando eu reclamei com ela o fato de ter minhas entrevistas com Falcão e Bebeto interrompidas sem mais por assessores de imprensa na terça à tarde. Mas a história que veio depois dessa mensagem vale a pena ser contada (até pra tirar poeira deste blog).

O evento com Falcão e Bebeto era o Mundial de freestyle (embaixadinhas acrobáticas) patrocinado pela Red Bull. Um dos jurados seria o meio-campista Edgar Davids. Davids é holandês. Eu arranho um holandês. E isso me rendeu o credenciamento pra cobrir o evento e tentar bater um papo com o negão.

Fiquei enchendo o saco dos assessores da Red Bull para conseguir dez minutinhos para entrevistar o Davids. Não rendeu. O cara mesmo aceitou quando eu quase implorei pra ele dizendo “Meneer Davids, ik ben Felipe Held, een Braziliaanse journalist. Ik wil u interviewen? Het zal niet tijd, op slechts tien minuten! Is het mogelijk? (resumindo, quer dizer: Senhor Davis, eu sou o Felipe Herói, um fodido de um jornalista brasileiro que queria muito te entrevistar. Prometo que não vou te encher o saco por muito tempo, só por uns dez minutinhos)”.

Eu ensaiei essas quatro frases umas mil vezes com um pensamento ingênuo: se eu fosse para a Holanda e alguém me pedisse uma entrevista em português, eu seria o maior solícito com a tal pessoa. A recíproca não foi verdadeira, e mesmo o Bebeto me dando a maior força (disse “vai lá, o cara é mó gente boa, tenho certeza de que vai falar com você sim”), a tia-assessora do Davids não liberou uma exclusiva. É a vida...

Mas acabou que eu consegui me espremer entre uma dupla de jornalistas holandeses e oito mil brasileiros e ficar do lado do Davids na hora da coletiva em cima de um palco pequeníssimo. Aos trancos e barrancos, fiz três perguntas seguidas para o cara e tal. Depois, uma hora, consegui lançar uma outra pergunta. Aí a assessora apareceu e tentou levá-lo para longe dos urubus da imprensa mundial.

Aí vem a parte legal: ao meu lado, um jornalista reclamava com a assessora gringa por não ter feito uma pergunta para o Davids. Ela dizia que não podia fazer nada, a entrevista já tinha terminado. “But I am from Rede Globo”, ele argumentava. A mulher repetia sorrys e mais sorrys, e o cara ao meu lado continuava lá. But I have to talk to him, we are the number 1 in Brazil”.

Meio cínica, a gringa agradeceu o cara pela vontade da “emissora número 1 do Brasil” em falar com o Davids. Falou até em português e começou a levar o atleta para o vestiário. O cara da Globo, então, se virou para um assessor brasileiro com a maior cara de tacho e disse que não conseguiu fazer uma pergunta para o Davids.

Então o assessor brasileiro virou para a assessora gringa. Sotaque carioca: “Thish guy ish from the mosht impóhrtant televyjon in Brazil, he musht talk to Davidsh”. Eu quase interrmopi e falei para o cara “E eu sou da emissora menos assistida de São Paulo e mesmo assim fiz cinco perguntas pro Davids”, mas fiquei quietinho.

A gringa, então, se virou para o repórter e o chamou para conversar com o Davids. Eu, claro, fiz a egípcia, em fingi de Rede Globo e fui junto. O cara não falou nada de mais. Mas eu voltei para casa felizinho por ter conseguido fazer meu trabalho sem precisar dar carteiradas nos outros. :)

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Não mais do que isso

A day in the life é a primeira música que toca no CD que eu mais coloco para rodar no meu carro. Realmente gosto desse som, que na primeira estrofe tem uns versinhos do tipo “Well I just had to laugh, I saw the photograph”...

E era verdade, eu realmente vi as fotos. Algumas novas que eu nunca tinha visto. Você estava com um penteado diferente, com o cabelo maior e da cor natural. Tinha feições diferentes no seu rosto. Tinha até o piercing que você recolocou no nariz porque sabia que eu gostava de noserings.

Eu vi as fotos, e eu tinha apenas que dar risada. Na verdade... bom, na verdade eu não dei risada. Foi algo até pior do que isso. Eu vi suas fotos, suas várias fotos, e a reação imediata que eu tinha em todas elas era um pensamento estranho, que me incomodava: “Mas peraí, é... só isso?”

Por muito, muito tempo, eu tinha de você a imagem da mulher mais perfeita do mundo. Até seus defeitinhos eram os mais lindos para mim. Eu realmente te fiz a garota ideal na minha cabeça. Fantasia que por um bom tempo me incomodou, me chateou, me causou uma série de danos, vamos dizer assim.

Fiz da nossa história, nossa curta história, a história da minha vida. Gostava de contá-la por aí e tudo mais. E aí, um dia, eu olho para suas fotos e não consigo pensar outra coisa do tipo “Mas é só isso?”. Não te desmerecendo e tal, só que... era só isso, mesmo.

Senti alguma coisa semelhante àquele som orquestral no meio de A day in the life. Um barulho perturbador, até, que separa a parte monótona e non-sense da música em uma outra, agitadinha e bonitinha. “Woke up, fell out of bed, dragged a comb across my head; found my way downstairs and drank a cup; and looking up I noticed I was late”.

Humm… pois é. Percebi que eu deixei me atrasar por um bom tempo. Mas agora que... ahn, talvez eu esteja mais ‘acordado’, vou lá fora viver um pouquinho. Enquanto isso, você... fica bem. Talvez um dia a gente se encontre por aí, tome um café e bata um papo como bons amigos.

E só isso.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Eu, presidente dos EUA

Mamãe diz que eu sou inteligente. Sempre disse isso, e vez ou outra fala até que eu sou mais inteligente do que ela. Discordo totalmente: ela, quando tinha a minha idade, decidiu ser médica. Eu optei pelo jornalismo. Isso já basta, né?

Mas enfim. Estava fazendo eu absolutamente nada esta madrugada com o computador ligado e vi que o Orkut tinha um teste de QI. Meu tédio estava batendo alto quando eu resolvi fazer o tal teste.

Fiquei lá resolvendo os testes sem muita certeza de algumas das 30 respostas. Terminei dois minutos antes do tempo estipulado, cliquei em enviar e o resultado apareceu. E me surpreendeu: acertei 24 das 30 questões e tirei a nota 129. Eu era um superdotado.

Não acreditei muito e fui para o Google em busca de outro teste para provar para mim mesmo que aquele teste do Orkut era uma farsa. Achei um outro lá, com 60 questões. Era isso, com mais perguntas eu certamente erraria mais... e pronto: eu provaria que o primeiro resultado foi pura sorte.

Eram 45 minutos para responder a todos os testes. Terminei em 25 minutos, chequei as respostas... acertei 49 das 60. O meu quociente de inteligência era, na verdade, 138. Não podia ser.

Por curiosidade, fui também para o Google ver se achava algumas listas de QIs de pessoas mais famosas do que Felipe Held (o que, convenhamos, não é algo lá muito difícil de se encontrar por aí). E me surpreendi mais ainda.

Pelo que andei vendo, meu QI conforme o segundo resultado é superior ao de oito presidentes dos Estados Unidos: Ulysses Grant (110), John Kennedy (117), George Washington (118), Andrew Jackson (123), George Bush filho (125), Abraham Lincoln (128), Bill Clinton e John Adams (ambos 137).

Pelos resultados, eu ainda tinha coeficiente de inteligência igual ao do Thomas Jefferson, outro presidente da gringa e superior ao do governador da Califórnia: o austríaco Arnold ‘hasta la vista baby’ Schwarzenegger (135). Meu QI também se aproxima aos de Madonna (140) e Adolf Hitler (141).

Fiquei aqui pensando com meus botões: talvez mamãe esteja certa e eu possa até ser presidente dos Estados Unidos. Mas... não sei, não. Duvido que um futuro presidente dos Estados Unidos passe as madrugadas de domingo para segunda fazendo testes de QI na internet...

domingo, 9 de novembro de 2008

Reencontro nada bem-sucedido

Sempre que saio de São Paulo e vou a alguma cidade onde eu tenha algum conhecido, fico com a terrível sensação de que encontrarei a tal pessoa. A última vez que tive isso foi na Argentina, quando passei uns 11 dias esperando encontrar a minha antiga paixão argentina de infância em qualquer esquina de Buenos Aires, Olivos ou Ezeiza (descubra quem foi ela clicando aqui e aqui).

Muito tempo passou desde que encerrei minhas férias do outro lado da fronteira e voltei para o Brasil. Para o trabalho e tudo mais. Até que ontem fui para São Caetano do Sul passar alguns instantes da minha noite de sábado de folga.

Era o penúltimo dia da peça da Maria, que tinha me feito até convite oficial para ir vê-la no palco. Peguei meu carro, me perdi umas duas ou 20 vezes e cheguei ao lugar com uns 20 minutos de antecedência. Comprei minha entrada e esperei um tempo fora do teatro, onde estava batendo um ventinho bom.

Aí, pensando na vida, lembrei que estava em São Caetano. E que a Maria era a melhor amiga da Milena. “Hoje é o último sábado da peça, é bem provável que a Mi apareça por aqui. Ia ser bom, já que estou sozinho aqui e faz um tempão que a gente não se encontra”.

Não demorou cinco minutos, vi descendo do carro uma garota baixinha estilosinha, com cabelo liso meio curtinho, pele clarinha, uma blusa bacana e um jeitinho de andar peculiar. “Rá, sabia! Tinha certeza de que a Mi apareceria por aqui”, eu triunfei comigo mesmo. Eu era o máximo.

A garotinha veio se aproximando, e enquanto isso eu pensava em como falar oi de um jeito diferente. Até porque... bom, do meu último encontro com a Milena até hoje se passaram oito meses, e admito que eu estou um tantinho diferente. Achei melhor, então, não fugir muito do óbvio.

Quando a Milena se aproximou de mim, dei um sorriso e falei “Se Milena some, Felipe Held vem até aqui para te ver. É sempre assim”. Do outro lado, nada de sorriso, abraço, nada. A garota deu dois passos para frente e deixou aparecer uma tatuagem no ombro. “Ué, a Mikas não tinha tatuagem. E nem era tão altinha assim... e... aaaah não! Puuuutz, não é a Milena!!”.

Eu não era mais o máximo. Fiquei com a maior cara de cu dos últimos tempos. Pedi desculpas para a Milena-que-não-era-a-Milena, tentei cavar um buraco e não sair nunca mais de lá. Mas não dava. Então continuei lá fora, esperando para ver se a verdadeira Milena apareceria. E, se desses as caras, eu não ia falar oi nem nada. Só de raiva por ela não ser a primeira Milena.

O pior é que a pseudo-Mikas ficou o tempo todo do meu lado na ante-sala do teatro. E sentou na minha frente durante a peça da Maria. Estou encucado até agora com a gafe que eu dei.

Mas vale o esforço que a gente não faz por uma visita a São Caetano do Sul, por uma boa peça de teatro, e ainda mais com uma amiga e tanto estrelando uma mendiga loira.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Sábado, anos atrás

Foi estranho. Meu telefone tocou no meio da tarde, eu não estava esperando. Fui atender.

“Oi”, disse a pessoa do outro lado da linha.
“Hum, oi. Ué, você não tava brava comigo?”, perguntei.

“Sim, eu estava. Mas já passou. E aí, o que você vai fazer hoje?”, ela arriscou.
“Não sei, talvez o mesmo que eu estou fazendo agora: ficar deitado na minha cama jogando videogame”, respondi inocentemente.

“Humm, tá”, ela emendou, meio decepcionada.
“Que foi? Por quê, tem alguma sugestão?”, tentei.

“Ah, queria ir para o shopping. Vamos?”, convidou.
“Hum, pode ser. Então... 16h30, lá?”.

E tudo ficou marcado.

Tomei banho, fiz a barba duas vezes, penteei o cabelo umas quatro. Passei perfume, escolhi uma calça e uma camiseta legal. Não gostei do cabelo, coloquei um boné. Virei para trás e saí de casa.

Antes de encontrar a tal garota no shopping, comprei um Trident verde. Nunca se sabe, né? Então nos vimos na catraca do metrô, saímos andando um ao lado do outro e fomos para a cobertura do shopping. Ela também me ofereceu um chiclete, um Trident verde. Coincidências...

Ficamos conversando sobre a vida, nada de mais. Até que ela me convidou para ir ao cinema. “Tá passando Exorcista, vamos ver?”. Sem muita idéia, aceitei. Melhor do que ficar jogando videogame.

Entramos na sala. Era a sala 10, eu me lembro. Estava meio lotada, ficamos na zona do gargarejo ali na frente. Nas poltronas do canto. Assim que nos sentamos, baixei o braço que separava as nossas duas poltronas. Ela me olhou de um jeito estranho e disse um “Ah, então tá”. Eu era um idiota, admito.

O trailer começou e eu virei para a tela. Ela, então, se aproximou do meu ouvido e disse, manhosa: “Você não me abraçou mais”. Subi o braço da poltrona. Dei um sorriso e um abraço na garota. Mas não foi um abraço comum, como eu estava acostumado com as minhas amigas.

Senti algo diferente naquele abraço. Um movimento súbito e não-planejado do pescoço dela. Dei-lhe um beijo na bochecha. Mais um. Mais um. Um quarto. Já estava perto de sua boca. “Ih, então... é agora? Será que vai... será que... nossa! Mas e se ela não quiser? Bom, não vou falar nada”, conversei comigo mesmo.

O beijo seguinte não foi mais na bochecha dela. Demos um selinho e abrimos nossas bocas. Nem tive tempo de pensar se deveria colocar minha língua, a dela já estava na minha boca. “Então... isso é que... isso é que é beijar?”, eu pensava no mesmo momento.

Não falei nada para ela, que ela tinha sido responsável pelo meu primeiro beijo. Mas ela logo me disse ao pé do ouvido: “Nossa, você beija bem”. E eu ganhei meu dia, meu mês. E até a frustração das minhas paixonites passadas.

Acabei me lembrando dessa história hoje. Dia 6 de novembro foi o dia em que eu comecei a namorar aquela menina, a Ju, um certo tempo depois do nosso primeiro beijo. A gente não ficou lá muito tempo juntos, vivíamos momentos diferentes. Mas, por causa dela, já até me apaixonei por uma outra menina só porque ela tinha hálito de Trident verde.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Isqueiro do capeta

Era um dia feliz em Buenos Aires. Um domingo ensolarado e fazia um friozinho gostoso pra sair na rua e desbravar a capital argentina.

Acontece que fui longe demais no meu passeio flaneur e fui assaltado em frente à Casa Rosada. Essa história os (dois) leitores fiéis deste blog já sabe (entenda você também clicando aqui).

Do roubo, me restaram poucas coisas: alguns trocados em pesos, umas moedinhas, um maço de cigarros comprado lá mesmo em Buenos Aires e um isqueiro, que eu tinha levado do Brasil. Um isqueiro Bic, verde, grandão. Todo bonito e prático.

Fodido, fumei naquele dia uma porrada de cigarros, um atrás do outro. Estava nervoso, bem nervoso. Ora: moro em São Paulo e bem na Argentina fui sofrer meu primeiro assalto à mão armada?

Depois daquele domingo não vi mais o meu isqueiro. Nem me dei muito ao trabalho de procurar, acho que deixei ele cair em algum ônibus ou em alguma praça onde eu me deitei na grama pra ver o céu azul e limpo de Buenos Aires para pensar na vida.

Foi difícil pedir um isqueiro novo no quiozco lá perto do albergue. Pensei que não seria muito diferente do português, então cheguei para a moça e pedi um izquiero. Izzzzquiero. Izzzzz-qui-e-ro. Nada. Fiz então o gestinho tradicional de um isqueiro e a mulher explicou: “Ah, acendedor?”. O mundo era mais fácil do que eu esperava.

Tudo bem até aí. Comprei um isqueiro gringo, usei-o algumas vezes em Porto Alegre e até hoje estou com ele aqui no Brasil. Mas é apenas um... isqueiro. Normalzão, assim como todos os outros.

Só que aí, um dia desses, estava saindo do meu carro, abri a porta do banco de trás do carro para pegar a mochila... e vi uma coisa verde no tapetinho de borracha ali. Cheguei perto e... e lá estava o isqueiro que eu tinha perdido em Buenos Aires.

Não me pergunte como, não me pergunte por que, mas um isqueiro que eu tinha perdido na Argentina se teletransportou para o meu carro. E eu passei a ter medo daquele isqueiro.

domingo, 2 de novembro de 2008

Notícia que você não verá nos jornais de segunda

No meio de toda a correria da semana, recebi no finalzinho dela a incumbência de escrever a reportagem especial do Felipe Massa campeão da Fórmula 1.

Bom... o filho do seu Titônio não ganhou. Mas, de birra, coloco aqui o meu trabalho que, obviamente, não foi para o ar depois que o Lewis Hamilton estragou o domingo alheio.


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Massa vence Hamilton, desconfiança, chuva, tabus e Mundial de F-1
Por Felipe Held, alguém que quer matar o Timo Glock

O Brasil precisou esperar 16 anos e 365 dias (estamos em um ano bissexto, antes que eu seja achincalhado) para ver novamente um representante conquistar o Mundial de Pilotos da Fórmula 1. Neste domingo, no entanto, Felipe Massa levantou a torcida paulista com a vitória no Grande Prêmio de Interlagos e cravou seu nome na história da principal categoria do automobilismo como o quarto condutor do País a levantar a taça.

Massa chegou a São Paulo com remotas chances de se sagrar campeão: com 87 pontos, contra 94 do inglês Lewis Hamilton, o piloto da Ferrari reverteu a desvantagem neste domingo com uma corrida perfeita e, mais uma vez, fez de Interlagos o palco da grande zebra do ano.

Em 2007, feito parecido aconteceu no autódromo brasileiro: o finlandês Kimi Raikkonen faturou o título depois de vencer em Interlagos – com a ajuda de Massa – e descontou uma vantagem de justamente sete pontos de Hamilton, que falhou duas vezes e amargou o vice.

Agora, Massa foi premiado pela ajuda a Kimi e, ainda, quebrou alguns jejuns do automobilismo tanto brasileiro como mundial: o último título de um piloto nacional acontecera em 3 de novembro de 1991, com Ayrton Senna, em Suzuka, no Japão.

Um dia antes do 17º aniversário do tricampeonato do troféu, Massa colecionou a nona taça para o Brasil e entrou no rol com o bicampeão Emerson Fittipaldi (1972 e 74) e os três vezes vencedores Nelson Piquet (81, 83 e 87) e Senna (88, 90 e 91).

O piloto paulista de 27 anos ainda manteve a tradição brasileira de vencer pelo menos um título a cada década – apesar do longo jejum após a morte de Senna, em 1994, e da safra pouco vencedora de representantes na F-1: apenas Rubens Barrichello e Massa conseguiram se sobressair na categoria.

O mais novo campeão ainda se tornou o segundo piloto da história a conseguir comemorar um título mundial ao vencer o GP em sua própria casa: antes, apenas o italiano Nino Farina (em 1950) havia conseguido tal feito.

Com o título de Massa exatos 6.209 dias após o feito de Ayrton Senna, o Brasil segue como a segunda nação que mais vezes venceu a F-1 – e abre vantagem sobre a Alemanha, que tem o heptacampeonato de Michael Schumacher. À frente do País aparece apenas a Grã-Bretanha, com 12 troféus (sete de pilotos ingleses e cinco de escoceses).

O Mundial de Pilotos de 2008 ainda vem para Massa, coincidentemente, dez anos após sua estréia no kart, em 1998. Em 99, o paulista conquistou seu primeiro título em categorias de monoposto, na Fórmula Chevrolet brasileira.

Em seguida, Massa vez as malas e partiu para a Europa, onde se sagrou vencedor das Fórmulas Renault italiana e européia em 2000. Uma temporada depois, estreou de forma espetacular na Fórmula 3000 da Europa e abocanhou o título com oito vitórias em oito provas disputadas. Desempenho suficiente para, ainda em 2001, receber um convite para ser piloto de testes da equipe Sauber na Fórmula 1.

A primeira aparição de Felipe Massa na F-1 aconteceu, em 2002, no GP da Austrália, onde acabou abandonando. Seu melhor desempenho naquele ano foi o quinto lugar na etapa da Espanha, finalizando a temporada no 13º lugar, com quatro pontos.

A Ferrari, então, decidiu apostar no jovem brasileiro que dominou as categorias de acesso da F-1. Massa foi contratado para ser piloto de testes da escuderia italiana ao longo da temporada 2003 e retornou à titularidade de uma equipe em 2004, novamente pela Sauber.

O brasileiro, mais experiente e arrojado, quase apareceu no pódio: foi quarto no GP da Espanha. No total, Massa colecionou 12 pontos ao longo da temporada e ficou com o 12º lugar geral. Em 2005, apesar do desempenho inferior (foi quarto colocado no Canadá e somou 11 pontos, terminando a temporada na 13ª posição), assinou contrato com a Ferrari para o lugar do também brasileiro Rubens Barrichello.

Em seu primeiro ano no carro vermelho mais famoso do mundo, Felipe Massa chegou a seu primeiro pódio com a terceira colocação no GP de Nürburgring. O representante nacional ainda alcançou suas duas primeiras vitórias na carreira, na Turquia e – justamente – no Brasil, na despedida das pistas de Schumacher. O piloto do País encerrou o ano na terceira colocação do Mundial, com 80 pontos e sete pódios no total.

A performance de Massa melhorou em 2007, primeiro ano sem Schumi como o ‘queridinho’ da equipe e com a concorrência aberta com o finlandês Raikkonen. Foram três vitórias (Turquia, Espanha e Bahrein), dez pódios e 94 pontos e a quarta colocação da temporada. E Kimi foi o campeão.

sábado, 1 de novembro de 2008

Ticket to ride (away)

Ah,

Eu cheguei em casa esses dias um pouco cansado. Não, vai. Era bem, bem cansado. Mas ultimamente tenho andado meio eufemista, fingindo que tudo anda bem e tal. Talvez porque na verdade tudo ande realmente bem, e eu fique por aí tentando arranjar algum motivo pequeno para desestabilizar uma época bem legal.

Mas não vamos falar sobre as minhas besteiras, pode ser?

Bom, o fato é que eu estava realmente cansado e tinha chegado em casa. Esse é o nosso ponto de partida. Abri a porta de casa, acordei meu cachorro. Ele estava deitado no sofá, mas acordou e veio correndo para a porta fazer festa para mim. Dei um tapinha na cabeça dele, peguei o brinquedo da boca dele, joguei no fundo do corredor. Ele foi buscar, devolveu para mim e voltou para o sofá.

Vim para o quarto, meu irmão estava sentado na minha cama mexendo no computador. Este mesmo, que agora está no meu colo enquanto eu vivo mais uma noite de insônia com a janela aberta. Certeza de que isso não deve ser muito saudável, pegar vento às 4 da manhã.

Ih, mas olha eu fugindo do assunto de novo.

Acho que... é, acho que estou fugindo tanto para não falar que... que cheguei em casa e vi, no meu quarto, um pedaço de papel querendo cair da minha estante. Me aproximei, ele estava com as costas para cima. Todo surrado, dobrado e amassado, querendo amarelar.

Virei o tal do papel. Ele tinha me custado... ele tinha me custado R$ 15,55. Não lembro se paguei direitinho, com moedas contadas e tudo, ou se simplesmente dei uma nota de 50 para o caixa. O bilhete foi emitido às 14h22 de um sábado. Aquele sábado.

Nem lembrei que tinha comprado aquele bilhete e ido para a plataforma 7o8. Ou 758. Pode ser 708, não sei. A tinta já se apagou um tantinho, não dá para ler muita coisa naquele papel.

Apesar de que... ah, qual a diferença? Eu tenho lá minhas lembranças, minhas lembranças ruins, sempre que vejo esse papel. Deixa que ele se apague mesmo, é até melhor. Tenho muitos outros bilhetes mais interessantes guardados aqui no meu quarto. Que me trazem doces, doces lembranças.

Só me entristece um pouco o fato de não ser só a tinta do bilhete que está se apagando. Estão sumindo das minhas lembranças, aos poucos, o seu rosto, o seu olhar brilhante, o seu sorriso, a sua voz...

... não que isso seja ruim, na verdade.