quinta-feira, 30 de novembro de 2006

Faz sete anos

Acordei hoje na hora do almoço, abri a janela, dei uma volta pela casa e parei na frente do calendário pra ver que dia era hoje. Senti uma coisa estranha quando vi que era dia 30 de novembro. Não é um dia que passa batido pra mim; é como se fosse um dia marcante e tal. Parei pra fazer aquele brain teaser de toda a minha vida pra ver se tinha algum motivo especial pra essa coisa em cima de hoje.
Lembrei rápido, nem precisei voltar aos primórdios da minha infância. Lembrei que sete anos atrás, exatamente em 30 de novembro de 1999, eu dormi no sofá. Não queria ter dormido, tinha tentado virar a noite. Tentado, porque não consegui passar da oitava partida de buraco com o meu pai: deu três da manhã e eu tava já com bastante sono. Dormi no sofá e o despertador cacarejou no meu ouvido às seis da manhã. Acordei na hora, não queria perder um minuto sequer da expectativa daquele dia. Todos os telejornais globais mostravam os bastidores de tudo, e eu via nervoso, esperando o relógio passar rápido até às oito horas.
Marcos; Arce, Júnior Baiano, Roque Júnior e Júnior; Galeano, César Sampaio, Alex e Zinho; Paulo Nunes e Asprilla. Asprilla? Eu até gostava dele, era um jogador de nome, de renome europeu e de estilo engraçado. Mas não gostei de ver o cara escalado pro jogo mais importante da minha vida, eu queria era ver o Evair em campo. Mas tudo bem, se o Felipão quis assim, amém.

Era o jogo mais importante da minha vida, como eu disse. E meu coração bateu pesado quando o imbecil do Giggs cruzou na área, o Marcos deu tchau e a bola sobrou pro idiota do Roy Keane. Meu coração bateu mais pesado ainda quando o Oséas perdeu um gol feito na cara do Bosnich - que, porra, nunca pegou nada na vida. Só naquele jogo, nunca mais. Quando o juiz terminou o jogo, eu não consegui fazer muita coisa. Com um olhar meio perdido, fui para o meu quarto, deitei na minha cama e fiquei pensando, e pensando, e pensando. Não chorei, como quase todo mundo o fez.

Chorei mais tarde, quando minha mãe ligou. A primeira coisa que ela perguntou foi "E o Palmeiras, hein?". Não tinha muito o que falar, então só falei "Eh...". Depois ela disse que a minha avó tinha piorado no hospital. Tinha ido pra UTI e tava respirando com a ajuda de aparelhos. "Mas vai ficar tudo bem, eu prometo. É só pra não forçar nada". Disse "aham" e desliguei o telefone. Chorei, chorei bastante. Sempre que aparecia na tevê alguma notícia de pessoas respirando por aparelhos, minha mãe falava "Quando é assim, não tem mais nada pra fazer. A pessoa já morreu". Minha mãe é médica e nunca se enganou quanto a isso. Então eu não me enganei sobre a minha avó.

Alguns dias depois - no dia 4 de dezembro, outro dia em que sempre acontece alguma coisa -, ela morreu. Chorei menos do que tinha chorado no dia 30. Sei lá, acho que eu já tava esperando isso acontecer. Não tinha muitas esperanças.

Minha avó sempre dizia que não ia ver eu me formar. Ela tinha só 69 anos e tinha a melhor saúde que uma velhinha de 69 anos podia ter [Pra falar a verdade, quando ela fez 69 anos, eu senti algo esquisito. Meu avô também morreu com 69 anos. Sei lá, depois disso eu comecei a achar que as pessoas não tinham o direito de viver até 70 anos. Pelo menos na minha família]. Ela sempre dizia que não ia ver eu me formar no colegial. Não viu.

Ela também não viu eu entrar na faculdade. Não viu eu conseguir um emprego. E não vai ver eu começar no meu emprego amanhã.

Como meus pais tinham acabado de se separar, a minha avó era a única pessoa que fazia parte da transição da minha vida dos 10 para os 11 anos. Sem ela, sei lá, talvez eu não teria feito muitas coisas.

E a gente nem pôde se despedir.

sábado, 25 de novembro de 2006

Apague as luzes e seja feliz

Ontem foi a formatura do meu irmão. Formatura de oitava série, mas não deixa de ser uma. Agora ele se acha o maior adulto porque tá no Ensino Médio. Tudo bem, eu também me achava a pessoa mais esclarecida do mundo quando eu tinha 15 anos. Em todo caso, acontece que em um evento como esse, a melhor coisa a se fazer é ficar na sua mesa tomando um ou outro copo de uísque e olhando o que acontece em volta.
De fato, foi o que eu fiz. Mas como os formandos eram um bando de pivetes, a única coisa bebível que tinha era batida sem álcool, mas com bastante leite condensado. Bah, preferi muito mais curtir a água - ela tava mais gelada.
Depois de todos os cerimoniais clichês, depois de We are the champions, depois de diplomas, abraços, flashes e muitos, muitos copos de água, começou a música que qualquer chimpanzé dotado de um polegar opositor e um surdo faria. Aquela coisa de puts, puputs, pupupuputs. Chamam isso de black, mas pra mim é tudo uma bela duma idiotice. Uma música mais chata do que a outra.
Era o que eu pensava. O que eu pensava, e não todo o resto. Quando tirei os olhos da manga da minha camisa, que eu dobrava por causa do calor e tudo mais, todo o espaço com cadeiras para os formandos tinha virado uma pista de dança, e apenas duas ou três garotinhas ainda pequenas arriscavam um ou outro passo de dança. Mas isso durou só uns cinco minutos. Em seguida, apagaram as luzes e todo mundo, todo mundo foi para o centro do salão.
Foi o tempo das músicas monotônicas terem um fim e a melodia ser trocada pela música de adestrar macacos. Sempre macaqueei isso que o Marcelo Nova disse uma vez, e só ontem o significado ficou evidente ao quadrado. Logo na primeira música, a Ivete Sangalo mandava a galera tirar os pés do chão. Em frações de segundos, o salão todo estava pulando e gritando uh, uh, uh. Bem agudo. Como um orangotango faz, sabe?
O fato é que, assim que as luzes se apagaram, todos tiveram suas felicidades e tal. Todos se desinibiram, rebolaram e tudo. Na mesa ao lado da minha, eu via uma garota [apenas força do hábito] com seus 30 anos tentando dançar. Quer dizer, ela entendia das músicas e tal, mas a dança era engraçada. A primeira era a Dança do Saci. Ela pulava num pé só o tempo todo. Era engraçado. Depois ela ficou com medo de requebrar na frente da sobrinha e foi no meio da molecada de 15 anos - onde tudo era mais escuro - e se desinibiu requebraticamente. Bah, a minha dança do tiozão breaco é mais engraçada.
Fiquei de longe observando e percebi que, sei lá, acho que eu nasci na época errada. Pra mim - pra Chiquinha também -, da discussão, nasce a luz. Quer dizer, eu aproveitaria bem mais uma mesa com copos de água, que seja, e pessoas conversando, e dando risada, e falando besteiras. Nada disso de requebra, requebra, requebra assim. Já a nova geração é feliz no escuro. Sem nenhuma luz - apenas algumas de cores primárias que giram e piscam, fazendo os velhos ficar com dor de cabeça -, sem nenhuma discussão.
Mais à frente, vi uma garota de, sei lá, uns 20 anos. Ela tava com uma mini-saia branca, e tava no meio da molecada de 15 na hora do axé. Na primeira música, ela rebolou o tempo todo. Pra mim, parecia que eu tava bebaço e tava olhando a lua cheia tremer. Quer dizer, ela sabia que tinha uma enorme... ahn... presença de espírito, mas mesmo assim rebolava e rebolava sabe-se lá como o quê. Na outra música, ela continuou rebolando no mesmo ritmo. Na terceira, as fusas viravam semifusas, que viravam fusetas e semifusetas e tudo mais. E ela mantinha o mesmo ritmo desritmado. Depois a música acabou e ela continuou rebolando. Imagino que agora ela esteja com dor nas costas.
Logo depois, puseram as músicas dos anos 70 pra tocar. Já tava imaginando qual som seria o mais apreciado, e não me enganei. Depois de La Bamba, começou a tocar a Twist and Shout. Quer dizer, essa é a melhor música de todos os tempos, fato, mas em tudo o que é lugar ela toca. Em todos os casamentos, em todas as formaturas, em todas as festas. Tava pensando que, quando eu me casar, talvez eu nem queria entrar ao som da Marcha Nupcial, mas ao som de You know you got me goin' now / Just like I knew you would... ou então ao som de Come on and twist a little closer now / And let me know that you're mine, woooooo. Quer dizer, é mó bonitinho. E seria diferente.
Ah, tô brincando. Mas é que, sei lá, se toca em todo casamento, então que seja oficializado, porra!
Depois de muitas coisas, voltei pra casa. Cansado de ficar na mesa, com dor de cabeça e com um puta sono. Tomei um banho, coloquei aquela fantástica roupa de ficar em casa e morri na minha cama. Meu irmão ainda tomou banho e veio se trocar no quarto. Ele acendia a luz e eu reclamava com ele, porque eu queria dormir. Enfim ele apagou as luzes e eu tive sonhos felizes.

quarta-feira, 22 de novembro de 2006

Não, não morreu

Eu tava voltando hoje pra minha casa. Tava meio cansado porque fiz bastantes caminhadas pela zona sul da cidade, e ainda o calor tava delicadamente insuportável - não que isso seja uma reclamação, mas o fato é que tava assim mesmo. Sentei na primeira cadeira que eu vi vaga no vagão do metrô, abri a mochila e peguei o livro que a Tortura Inglesa me manda ler [até que não é de todo ruim também, apesar de a história só ter melhorado depois que eu vi o filme pra trapacear].
Dentre uma olhada e outra pra todo mundo, preferia desfrutar todo o poder que os fones de ouvido do meu MP3 não têm. Só levantei a cabeça do livro uma hora, quando eu virei a página do livro. Olhei para a frente, para a esquerda... e quando olhei pra direita, vi que um cara que tinha tentado se levantar tava ajoelhado. "Coitado, olha o cara lá. O que tá cuidando dele. O cara deve ter, sei lá, algum problema sério". Foi o que eu pensei, e continuei olhando só por força do hábito.
O cara ajoelhado fez uma força pra se levantar e tombou pro lado. Vendo a cena em câmera lenta - como sempre acontece comigo quando é alguma coisa que vai ficar pra sempre na minha memória -, previ que o cara ia tombar e ia fazer o maior barulho. Feito. Ele caiu bem na minha frente, e o baque da cabeça dele com o chão foi uma das coisas mais surdas e secas que eu já vi.
Ele tombou. Tombou na minha frente e em slow motion. Olhei pra ver o estrago feito e o cara tava lá, de olhos abertos, olhando no fundo dos meus olhos. Bem lá no fundo, embora ele não estivesse nem perto de onde eu estava. Sei lá, aquele clichê bem besta de que o corpo tava e ele não. Mas, sei lá, o olhar dele ia muito mais além da estação São Judas e Conceição.
Todo mundo levantou desesperado e pedindo ajuda. Eu tava mais travado do que sei lá o quê, olhava pro cara, ele olhava pra mim e eu não sabia o que fazer. Ele não tinha morrido, eu achava. Todo mundo começou a sacodi-lo, a tentar abrir a boca dele. "Não deixa ele dobrar a língua, não deixa!". Na hora, lembrei das aulas do CFC. Quer dizer, lembrei das aulas e em seguinda eu lembrei que tinha esquecido. "Na convulsão, tem que segurar a língua? Não, né, acho que só tem que segurar a cabeça porque ele vai ter vários espasmos e... caralho, ele vai ter vários espasmos. Eu vou apanhar!", pensei.
Saí de perto pra deixar pessoas mais treinadas - munidas de uma caneta Bic e várias mãos sem muita utilidade - tomarem conta do caso. Eu ia, sei lá, procurar algum daqueles negócios pra socar e chamar o maquinista. Não achei - não no meu campo de visão. Quando olhei de novo pra cena, o simpatia tinha retomado a consciência e se levantava. Disse que tava tudo bem, tinha só passado mal quando se levantou, que não precisava de ar nem nada, ele ia descer no Jabaquara e, enfim, tava bem. Só queria a bolsa, que um rapaz lhe entregou logo em seguida.
Quando o trem parou na Conceição, quatro funcionários desesperados entraram no vagão à procura da pessoa. Por mais que ele falasse que tava bem, todo mundo mandou ele sair pra tomar um ar. Todo mundo mesmo, todo o vagão olhava pro cara, que, sei lá, devia estar morrendo de vergonha. Acabou que ele saiu e eu voltei pra casa ouvindo os comentários de todo mundo que não tem mais o que fazer, o que cada um achou quando ouviu ou viu tal coisa, essas besteiras.
O que mais me tocou, sei lá, foi essa coisa de um olhar seco. Na hora, lembrei - muito antes de lembrar das aulas do CFC - da linda garota loira com quem eu trocava os olhares mais sinceros do mundo no ano passado. Mesmo que a garota e o rapaz sejam [extremamente] diferentes [ainda bem!], a situação fez eu pensar. O olhar dele era, como eu já disse, a coisa mais fria e inexistente que existiu. Diferentemente da garota. A felicidade que ela me passava, e a insegurança que eu deixava transparecer. O dela era um olhar quente, confortante e cheio de tudo aquilo que eu queria dela e que não tive. Eu era muito inseguro, ela me contou um dia. Até hoje, espero me encontrar com ela na saída do metrô e aí a gente poderia conversar tudo o que ainda não deu tempo pra conversar. E ela poderia ver que eu ainda estou por aqui, bem como todo o brilho do meu olhar pra ela. Também não morreu.
"Se você tivesse tentado antes", ela disse, "a gente estaria bem feliz agora. Mas eu tô um moleque agora, não dá".

terça-feira, 21 de novembro de 2006

Mais completamente ainda

Sem deixar sequer este nome.
-x-
Mais uma noite significa menos uma noite.
Esperar o jogo de vôlei às cinco da manhã não é lá uma coisa muito saudável a ser feita. Menos ainda se você toma cervejas - quentes - sozinho, fechado em seu quarto, vendo Os sem floresta. Rindo sozinho.
Não é de todo mau. Sei lá, até porque foi legal andar um bocado com as mãos no bolso e ir à locadora alugar algum filme besta. Não era nada engajado, cultural ou qualquer denotação conotativa que um filme iraniano adquire só por ser um filme do Irã.
O que é de todo mau é essa perspectiva de férias sem férias. Férias em que eu vou ter que acordar cedo para, sei lá, ser alguém na vida. Ou poder realizar o maior sonho de viajar sozinho para um país sozinho. Mas também não é de todo mau, não?
Quer dizer... até que não é tão ruim essa coisa de fazer as coisas sozinho. É a coisa mais, mais certa que pode acontecer. Essa coisa de um garoto do amanhã que nasceu anteontem. Tendo em vista tudo o que acontece, vou pegar a expressão e me incluir nela. Essa coisa de garoto do nunca. Não diga que é um equívoco, apenas concorde. E tenho meus motivos para isso.
O filme espanhol [ou é latino-americano?] em cartaz há cinco meses talvez queira dizer alguma coisa.

sábado, 18 de novembro de 2006

Os patos

Tenho estado em uma sintonia tão agradável comigo, com o primeiro [ah, é o primeiro sim!] emprego e com a atmosfera de fim de ano que a inspiração - ou a chatice - pra escrever nem vem. Mesmo assim, sei lá, às vezes é bom ponderar algumas coisas.
Ontem, passou um filme esquisito no Intercine. Era de uma banda de metaleiros from hell que se chamava Cavaleiros Solitários. Achei engraçado, muito embora a inspiração daqui tenha vindo de algum episódio do Chaves de que eu não me lembro mais. Só que, sei lá... gostei. Era como se tudo isso estivesse sendo falado por uma voz idiota. Seria como se tivesse se banalizado - por mais banal que isso já é. Seria como se eu estivesse um dia no bar e alguma garota saísse de sua mesa e fosse à beira da minha e depois voltasse à sua cadeira. "Olha, é o cara mesmo!". Que nem esses dias, quando eu tava na minha mesa e vi algumas garotas se impressionarem com a presença do Marcelo Rubens Paiva na mesa ao lado. Talvez eu tivesse me impressionado mais se eu tivesse lido o Feliz ano velho. Preferi ficar olhando a Mel Lisboa, na outra mesa.
Ainda assim, enquanto o filme rolava solto no Intercine, eu relia algumas partes do Apanhador no campo de centeio. O melhor livro dos últimos anos, talvez. O livro que me ensinou a escrever, talvez. O livro que mostrou que eu não sou tão idiota, talvez. Talvez...
Estava relendo e caí na parte dos patos. Quando o H0lden entra em um mistério danado sobre o destino dos patos do lago do Central Park no inverno. Sei lá, na hora eu pensei muitas coisas. Na minha opinião, os patos aproveitam o curto verão o máximo que podem. Vivem intensamente o verão. No inverno, continuam no mesmo lugar. Mas eu não os vejo mais.
É meio estranho de explicar. Pode ser que fique mais fácil se eu trocar patos por amizades. Quer dizer, as pessoas continuam no mesmo lugar depois de 15 dias; na mesma sala, na mesma mesa, na mesma cadeira, no mesmo horário em tais lugares... Mas a amizade não existe mais, por mais intensa que ela tenha sido duas semanas atrás. Perecível, talvez.
E isso fica mais à vista a cada dia que se passa. Eh, é a vida.
Ah, isso ficou muito, sei lá, sem nexo.
Mas era só pra não perder o domínio do nome, ou qualquer outra desculpa que valha.

terça-feira, 14 de novembro de 2006

Papo, pinga e petisco

Hoje, véspera de feriado, é dia de, sei lá, sair, ficar doidão, encher a cara e passar a quarta-feira de ressaca. Era o que eu iria fazer, caso uma gripe tomba-homem não tivesse me atingido. Toda a trajetória viral não interessa, o fato é que eu acabei ficando em casa na terça à noite.
Já me sentindo melhor, amigo meu me ligou e propôs algo um bocado interessante. Um bar. "Liga lá pro outro moleque, faz tempo que a gente não fala com ele". Meia-noite, pegamos o carro e fomos pro bar em plena Praça Roosevelt. Ao lado de um bar de teatros, dramaturgos e tudo mais. Um bar em que estava a Mel Lisboa e outras belezas do mundo trágico. Mas preferimos o bar vizinho.
Os papos eram, como sempre, interessantes. Bastante construtivos. Faculdade, teorias malucas, revista piauí, piadas engraçadíssimas e coisas do tipo. Tudo isso em meio a elogios ao bar, com uma decoração fenomenal. Olhávamos para o balcão e o dono do lugar estava lá, degustando um vinho e comendo um ou outro queijo. "Deve ser legal ser dono de bar, um bar como esse. Você toma uma, outra, troca uma idéia com a galera..."
Enquanto as Serras Malte iam e iam, as pessoas que passavam até que chamavam a atenção. "Aquele careca lá, tá vendo? Então, ele fez o clipe do Sidney Magal! Aquele 'Tenhoo, um mundo de sensações!', sabe?". Até um cara numa cadeira de rodas motorizada, que se sentou na mesa ao lado. Tudo bem, as cervejas. No fim das cervejas, as especialidades da casa. Não os petiscos, mas as pingas. O dono do bar foi chamado e deu suas dicas. Nada de Umbuena [era isso?], o bom mesmo era a Sassafrás. Ou era o contrário? Acabou que ele recomendou as duas. E depois apareceu com um livrinho que explicava todas as árvores medicinais e tal. Bastante interessante. Depois ele puxou um banco e começou a falar com a gente.
O dono do bar era um velhinho. Não tão senil, era do tipo de avô doidão que qualquer garoto do rock n' roll gostaria de ter. Ele fazia piadas, contava a sua história, o balanço do bar, as matérias que saíram nos jornais... e, claro, do alto de seus 70 anos, falava do vestido que realçava o corpo da loira na mesa 11. Ele falava do seu bar com um orgulho tremendo. Das experiências que ele fez com as cachaças ["Todo mundo deixa a pinga dentro de um barril da tal madeira. Porra, não é mais fácil deixar uma mandeira dentro da pinga? Foi o que eu fiz!"], e do nome. E que nome, porra! ["Antes, eu tinha uma loja que se chamava TTT. Treco, Troços e Trapos. Aí, porra, eu tinha que pensar num nome legal aqui. Mas não queria essa coisa de cachaçaria, é muito lugar comum. Então é pinga. Pinga... Pinga e petisco. E papo, que é o mais importante. Então, PPP"].
Foi quando ele disse que gostava dos seus clientes. "Olha, eu nunca vi vocês aqui, mas gostei pra caramba, sabe? São que nem aquele meu cliente, aquele lá na cadeira de rodas. Tão vendo? Então, é o Marcelo Rubens Paiva..."
Poderia simplesmente parar de escrever aqui e fazer o bar ter valido a pena.
Tá, é isso que eu vou fazer. Até porque eu não tenho mais criatividade pra continuar.

sábado, 11 de novembro de 2006

Um, dois, três... ok, próxima.

Hoje, enquanto me recuperava de algumas cervejas numa sexta-feira após quase três semanas sem beber nada, estive pensando no que era a melhor coisa do mundo. Tá, é um assunto bem idiota e tal, mas, sei lá, é o que às vezes acontece.
Quando cheguei em casa, meu cachorro acordou, latiu, me viu e veio correndo na minha direção, abanando o que lhe resta de rabo. Vinha ofegante, feliz da vida, apoiou as patinhas no meu joelho e pediu colo. Segurei-o bem no alto e ele me lambeu o nariz, e isso fez eu ter uns três segundos de felicidade.
Um pouco mais tarde, um amigo me ligou e me chamou para passar a madrugada em algum lugar bem frio, mas tomando umas cervejas. Nem tava muito afim, já que sábado é dia de acordar bem cedo e tal. Aì eu disse que amanhã é dia de acordar bem cedo, mas que a gente iria se ver à noite, no casamento da irmã do meu amigo. Quando desliguei o telefone, fiquei um pouco feliz por ficar em casa. Essa sensação durou, sei lá, uns três segundos.
Aí eu deitei na minha cama. Lá fora, a temperatura deve estar lá pelos 10 graus, mas não sob meus cobertores e tal. Deitado e aconchegado, lembrei que minha carteira de trabalho não estava comigo. Lembrei que descolei um emprego - o melhor que eu poderia esperar - e que, sei lá, se um dia eu inventar de lançar um livro, aquela biografia de cinco linhas vai ter algo tipo "O imbecil da foto acima é jornalista nasceu no ano de 1988 e começou sua carreira aos 18 anos, no Gazeta Esportiva.net...". Fiquei feliz por causa disso. Sei lá, foi aquela sensação que vem de dentro e te domina por três segundos.
Antes, uma amiga minha apareceu na faculdade e me parabenizou por ter conseguido o emprego. "Como você sabe disso? Humm, eu não contei pra ninguém". Ela, sem graça, disse que as notícias correm. Dei um sorriso que representou uns três segundos de uma sensação que eu tive, algo do tipo 'sei do que você tá falando. E eh, ah ah... ah!'. Nem eu entendi, mas... sei lá.
Mais tarde, quando a aula acabou, eu estava na mesa do bar, passando o maior frio, mas estava com um copo que tinha algo mais gelado dentro. Todos pegaram o copo, a coisa gelada brilhou e todos bateram os copos uns nos outros. Aí, sei lá, isso foi legal. Mas só durou até o timmm parar de soar. Uns três segundos.
Durante o carteado de bar, tinha um rei na mesa e eu pedi um truco, sei lá, meio assim, displicente. A outra dupla fugiu. E eu dei uma risada empolgada, porque eu simplesmente não tinha nada e, porra, que ousadia trucar quando se perde por 10 x 9 e sem nada na mão! Foi legal, me senti bem. Por uns três segundos, aí a outra mão começou.
Sei lá, eu não entendo muito disso, mas a única coisa que eu percebi bem é que a felicidade não existe muito. Quer dizer, é algo que vem de dentro e faz você ter uma... uma overdose feliz de três segundos que, sei lá, faz com que você fique além das nuvens. Não sei muito bem por que eu escrevo isso, mas é que amanhã é dia de casamento. Vestir terno, dar o nó inglês-afrancesado e afrescalhado na gravata e depois brindar, beber, dar risada e ter uns 300 segundos de felicidade. E 30 horas de ressaca no dia seguinte, mas acontece.
Enquanto escrevia, lembrei uma coisa que a minha avó falava quando eu era pequeno e eu não entendia muito bem: "Hoje em dia, falam que as coisas são melhores... Mas qual a diferença, se esses raios de modernidade não duram nada?".
Acho que ela quis dizer três segundos...
Sei lá.

quinta-feira, 9 de novembro de 2006

Na frente de todos

- Então, mais uma vez, parabéns! Até dia primeiro, primeiro colocado.
Foi isso que a mulher do RH me disse. Importantíssimo pro meu ego, e não muito importante para o meu conceito de final de ano perfeito [nostalgicamente falando]. Mas fenomenal. A Eurocopa que me espere. Ou a África do Sul. Ou os dois, não sei. Mas a Copa América também não seria de todo mau.
Peguei o metrô e pensava só em dormir até chegar na minha estação. Só que não consegui, acho que tava muito cansado pra capotar [quer dizer, é duro passar uma noite em claro. Mas foi por um bom motivo, o jogo de vôlei foi incrível!] e tal. E não é bom dormir no metrô esse sono atrasado, porque você simplesmente capote e, quando acorda, acorda tonto [o pior de tudo é que, justamente quando você vai tomar banho num dia bastante frio, acaba a luz da sua casa e você tem que tomar o banho mais gelado do mundo, mesmo morrendo de sono. Acontece. É engraçado].
O sol está a pino [sem crase, porra!], os meus horários não serão alterados num futuro próximo, o ano está acabando, a minha pressão está boa [12 por 8, nada mal. Quer dizer, era o que a minha mãe dizia pra minha avó quando ela (a avó) estava com a pressão boa], tinha ficado na frente de todos os candidatos no tal processo seletivo... O dia tinha tudo pra ser daqueles de felicidade absoluta e tudo mais. "Mas como eu posso ser feliz se a Polônia sofre?"
Hoje, eu vi um garotinho cego. Ele tinha uns 5 anos e já andava com a bengalinha fazendo tec tec no chão, passando rasteira nas pessoas e tudo mais. Fiquei meio tocado, sei lá, nunca tinha visto isso. E fiquei com um pouco de dó dele, sei lá, não poder ver o mundo. Não poder ver os enfeites de Natal [cadê eles?] da cidade, não poder ver uma garota bonita, de olhos verdes, cabelos castanhos claros e um rostinho angelical?...
Hoje, quando eu fui dar a boa-nova ao velhinho que corta meu cabelo desde meus quatro anos de idade e minha barba desde dois meses atrás, eu vi ali, no canto da rua, uma mendiga que eu conhecia de vista. Não necessariamente de vista, mas é que ela trazia o pentelho do filho dela pra jogar bola com todo mundo aqui do meu condomínio. Tá certo que o moleque era um pentelho mala e tal, mas o fato é que a mulher tava lá, deitada na calçada, dormindo, abraçada com um cachorro pulguento. Já a tinha visto [normas culta, yeah!] algumas vezes antes, e ela também não tava com o filho. E hoje ela tava lá com o cachorro. Como ela era meio malucona, acho que o moleque foi parar em algum orfanato, na melhor das hipóteses. Muita gente falaria "ah, mas é melhor isso pra ele, né, ele deve estar feliz agora, levando uma vida boa e tal". Não sei por que, mas na hora eu pensei no meu cachorro. Ele é feliz, dorme bem, como bem, faz uma festa danada quando eu chego em casa. Come ração boa, come uns biscroks e de vez em quando ele até sobe na mesa - depois de pular na cadeira - e come um pouco de feijão, o que deixa meu irmão puto. Ele é feliz. Mas e a mãe dele? Ele deve ter chorado pra caramba quando ele foi separado da mãe dele. Será que ele não pensa nela, sei lá? Quer dizer... é estranho de se pensar.
Depois, fui tirar os pontos do dente que já não existe mais [maldita humanidade e a mania de ter sisos]. Fiz a cirurgia no posto de saúde em que a minha mãe trabalha e é chefe, e tal. Saúde pública. Cheguei lá, perguntei pela médica que é chefe enquanto a minha mãe tá no outro hospital [tadinha]. Como a minha mãe disse que era pra eu fazer. Falei com a mulher do balcão, ela fez a minha ficha e falou pra eu ir lá esperar, na fila com todo mundo. Fui, mas, sei lá, pensei que iam me passar na frente, como nas outras vezes. Mas achei melhor esperar. Quando cheguei lá, fiquei em pé esperando, prevendo esperar mais ou menos uma hora até ser atendido. No entanto, a dentista abriu a porta, falou com um paciente e estava fechando quando me olhou de relance. Na hora, reabriu a porta e pediu para eu entrar. Em cinco minutos, todos os pontos estavam retirados e eu já estava indo embora. Fiquei menos de 10 minutos lá. Mas quando eu saí, todo mundo me olhava [ou pelo menos eu pensava isso]. Saí de lá com a cabeça baixa, meio envergonhado e tal.
Quer dizer... alguém mais homem de lata pensaria algo do tipo "porra, minha mãe é chefe desse lugar! Se não fosse por ela, ninguém estaria aqui sendo atendido, e tão bem atendido. Então é mais do que justo, já que eu sou o filho dela. O primogênito, motivo de orgulho e piriri". Mas sei lá. E a galera que chegou lá, abriu ficha e ficou esperando? Eles não sabem que eu sou filho da Doutora Xis. E eles nem devem saber quem é a minha mãe. E aí é que fica evidente que rola alguma coisa que beira a discriminação: um garoto de 18 anos, bem vestido, com um tênis da Adidas e com uma camiseta polo que não era da Polo chega, passa na frente de todo mundo, é atendido e sai rapidão. Que putaria é essa? Sabe, eu fiquei com vergonha de ter feito isso. Todo mundo faria, inclusive eles, mas se eu me sinto tão engajado por não jogar lixo no chão e lutar por um país melhor, por que eu não esperei na fila?
Ah, porque, sei lá, eu sou brasileiro, né? E todo brasileiro tem aquele jeitinho.
Quer saber? A terra é uma beleeeeeza [e que beleeeeeeezaaa!!!], o que estraga é essa gente...
Tipo, sei lá, todo mundo pensaria que não tem problema nenhum eu passar na frente de todo mundo, ou então que o moleque filho da mendiga está feliz agora. Mas o que é certo, afinal?

quarta-feira, 8 de novembro de 2006

Alegria, enfim

Essa noite eu tive um sonho. Sonhei que estava na casa de um amigo bastante amigo que hoje já nem é mais amigo. E sua vizinha era a Cameron Diaz. E ela se drogava que nem a galera do Trainspotting fazia. Acordei meio assustado, o relógio marcava cinco da tarde. "Caralho, fodeu! Nunca acordei tão tarde assim!". Olhei de novo pro relógio e era apenas meio-dia.
Olhei a minha lista de afazeres ao longo do dia e lá fui. "Lição de idioma esquisito". Fiz rapidão e já risquei. "Revisar trabalho de Teoria". Reli, mudei alguma coisa e pronto. "Comprar presente do casamento". Entrei no site, imprimi o boleto e também eliminei a tarefa. "Ver o preço do direito à ternua". Submarino, riscado, pronto. Deixei as outras coisas sem riscar e nem vou fazer, isso se chama preguiça.
Fiquei aqui, vendo programas de esportes na televisão. As entevistas engraçadas do Marcelo Tas. Depois, não sei por que, tive um acesso do tipo "é, talvez seja legal mesmo fazer Jornalismo Esportivo. Quer dizer... é, deve ser legal".
Meu celular finalmente tocou. Olhei a tela e era meu amigo perguntando algumas coisas sobre o trabalho. Respondi, desliguei e voltei para a ESPN Brasil. O telefone tocou de novo, eu atendi desesperançoso. O mesmo amigo.
Vim para o computador e fiquei pensando em frente à tela. Pouco depois, o celular voltou a gritar. "Ah, dessa vez não pode ser ele. O toque é diferente". Olho na droga do bina e era ID suprimido. "Já sei quem deve ser. Mas por que ela tá me ligando?". Atendi e lembrei de um sonho que eu tive semana passada. "Oi, aqui é do RH da Fundação, meu nome é Daniela e eu queria falar que você foi aprovado no nosso processo seletivo. Sim, e você começa no dia 29 de dezembro. Pode ser? Ótimo. Obrigada, até logo"
Não foi isso. Mas foi tipo assim: "Oi, eu sou a Daniela [taquicardia, um sorriso no rosto], do RH da Fundação. Você foi aprovado no processo seletivo do Gazeta Esportiva ponto net e começa no dia primeiro de dezembro. Mas você pode passar aqui amanhã trazer os seguintes documentos? Pode dizer? Tudo bem, anota aí: RG, CPF, Reservista (ah, você não tem Reservista ainda? Tudo bem, serve o CAM), título de eleitor, uma foto 3x4, comprovante de residência, comprovante de pagamento da faculdade... é, só". Queria mais era desligar o telefone na hora e ligar para a minha mãe. A minha mãe! Ela tinha que saber, tinha mesmo.
Queria ligar para a minha mãe, queria ligar para o mundo.
A minha vontade agora é a de pegar a lista telefônica e ligar para todo mundo. Desde o Aaron até a Zuleika. Mas não dá.
Caralho, cadê meu RG?

terça-feira, 7 de novembro de 2006

Os novos sons do Weezer

Ontem, encontrei [encontrei é relativo, já que me passaram] um site que tem umas 32 músicas mais ou menos inéditas do Weezer. Mais ou menos porque não estavam na discografia completa que eu baixei do eMula há algum tempo e não tive tempo [na verdade, não tive memória] de ouvir inteira. Mas ontem eu entrei no site, baixei algumas das 32 [ou seriam 33?] e ouvi. Achei legal. Diferentes, como todos os sons do Weezer. Coloquei algumas no meu MP3 e fui para a faculdade.
No caminho de volta, começou a tocar um som que era um pouco mais empolgante do que os outros. A música se chama Fontana, acho. Não sei. Ela fala de um complexo de inferioridade, parece. É legal. Não como In the garage, mas qual que o é? E aí tinha um verso tipo "Why did he reach out to you just now?Touch your hand and say goodbye?" [péssimo listening, que Cambridge me ajude!]. Na hora, com essa coisa de dizer goodbye, eu tive mais um acesso nostálgico que até atormenta um bocado.
Quer dizer, foi quando eu entrei no metrô e senti um cheiro parecido com aquele que tinha no setor de fitas de videogame na locadora. Quando eu ia com meu pai, às terças-feiras, alugar alguns jogos para eu jogar no Super Nintendo. Era legal. Eu gostava. Não só porque eu ia ficar jogando até sexta-feira um monte de jogos diferentes, mas porque era legal ir lá com meu pai, e ele me falava um pouco sobre o Nigel Mansell. Aí eu sempre pegava a fita que era da corrida do Mansell. Tinha um monte de pilotos pra eu ser também naquela fita, mas eu sempre escolhia o Mansell porque ele tinha um bigode igual ao do meu pai. Fazia tempo que eu não lembrava disso. Acho que isso foi há uns nove ou dez anos. Hoje, eu vou à locadora [não a do japonês, aqui perto de casa, porque ela faliu] e fico escolhendo os filmes que eu odiava pra caramba quando eu tinha 8 anos. Naquela época, se não eram as fitas de Super Nintendo, eu só alugava Esqueceram de Mim, O Pestinha ou qualquer coisa do tipo. E meu pai não vê os filmes comigo. Talvez por isso tenha a ver o negócio do goodbye. Tchau aos tempos de Nintendo, de locadora, de bigode do Mansell... da última vez que eu vi, o Mansell tava sem bigode. Da última vez que eu vi o meu pai, ele também tava sem.
Voltei ouvindo mais alguns sons. E hoje, quando eu acordei, olhei para fora e vi de novo aquele clima de final de ano. Lembrei do ano passado, quando eu ia fazer a prova da Unesp lendo 1984, ouvindo Weezer nos ônibus e sonhando em me mudar para uma cidade do interior, longe daqui. "You will never be a better kind if you don't leave the world behind (...) You will never do the things you want if you don't move and get a job", eu ouvia, sentia e sonhava. Era legal. Era fim de ano, o Natal tava chegando e eu estava indo bem nas provas. Eu estava gostando de fazê-las [isso porque a garota por quem eu mais fui apaixonado nos últimos anos estava lá fazendo a prova, na mesma Uninove que eu, mas no prédio para as candidatas de Biológicas. Eu não me encontrei com ela nenhum dia, mas mesmo assim eu gostei de fazer a prova. Porque eu poderia passar lá, ir pra Bauru e ter uma vida nova].
Eu não passei na Unesp, não fui pra Bauru. Também não me encontrei mais com a garota. Pra falar a verdade, acho que o último contato que eu tive com ela foi um abraço [de urso, como sempre!] que a gente trocou no dia da formatura.
Hoje, tive vontade ouvir melhor esses sons do Weezer, pegar a minha guitarra e fazer o maior som com ela. Porque faz quase um ano que eu não toco na minha guitarra. Essa vida de maior de idade que não pôde se dedicar ao mundo do Rock n' Roll e passa o dia fazendo outras coisas menos importantes. Tirei a minha guitarra da bag, olhei para a correia vermelha com um raio branco [perfeita!] e deixei encostada na parede. Fui procurar por algum cabo para que eu pudesse ligar no amplificador [que hoje serve de descanso para os pés]. Não achei. Nada. E isso me deixou meio frustrado. Sem cabos, não poderia fazer aquele som bem alto que fazia todo mundo olhar feio quando passava pela minha janela. Aí eu fui procurar meu violão. Por mais que não fosse um som virtuoso, alto, overdrive, rock n' roll, era um som. Não achei meu violão. Ele está emprestado não sei para qual amigo. Não sei quanto tempo faz. Mas tive saudades do meu violão.
Sem cabos e sem violão, nem adiantava pegar o baixo. Ele não funciona com pilhas e o som dele é muito mais baixo [dãã] do que o da guitarra. Isso se comprar os dois desplugados. Tudo bem. Eu peguei a guitarra, coloquei no meu colo e não consegui fazer o primeiro acorde. Minha mão esquerda está enfaixada. Não é hoje que o rock n' roll vai voltar.
Então o que resta mesmo é ouvir os "novos" sons do Weezer.
E tentar pensar no verso.
Why did he reach out to you just now?
Touch your hand and say goodbye?
Sim, claro! Não tem nada a ver com as fitas de Super Nintendo! Não! Tem a ver com as "Amizades intensas e com prazo de validade curto." Claro!
São as melhores amizades, as mais intensas, que duram apenas 15 dias. Sempre.
Na hora, eu pensei que naquelas doações pras vítimas do Tsunami, eu não poderia dar a minha amizade. Porque ela é perecível.
É... vou ficar com os sons do Weezer. Por 15 dias. Depois eu me encho deles e vou procurar outra coisa.

sábado, 4 de novembro de 2006

Feriado

Sol, calor, chuva no final da tarde e noite agradável.
É assim que eu vejo um feriado. Um feriado perfeito, no final do ano [ah, como eu amo o fim do ano! É quando eu posso me livrar das correntes da rotina e dos sonhos vazios. É quando eu posso olhar pra frente e ver um mundo melhor nos meus sonhos. É quando eu posso ler, me deslumbrar com todos os sorrisos sempre perfeitos de toda a cidade. Apenas o primeiro dos três feriados nas próximas três semanas]... simplesmente um feriado.
Um feriado tão bom assim deve ser passado na praia! Ah, numa praia! Sentado numa cadeira, em volta de uma mesa, com muitos amigos. Tomando água de coco e cerveja. Ao mesmo tempo! E suando tudo (água de coco e cerveja) com a ajuda do sol de todos os graus célsius possíveis. Ouvindo o mar. Vendo o mar. Sentindo o mar!!! E aí, quando todos estiverem bêbados e desidratados, volta-se ao alojamento/casa/hotel/carro. Só até a chuva passar. Aquela chuva que dá uma refrescada e faz o mar ficar bonito pra gente sentar na beira da praia, às nove da noite, e ver as luzes bonitas do outro lado da água. O que é aquilo, são navios? São navios! E aquilo lá? Ah, aquilo... olha que avião colorido! Mas todo mundo aqui vai concordar que a lua é sensacional. Que lua! Alguém já viu coisa assim? Sabe, essa viagem está sendo perfeita. Com as pessoas perfeitas. Vocês são perfeitos! Vocês? Não, só estamos nós dois aqui. Você é perfeita, querida!
Blah, não gosto de praia.
Um feriado tão bom assim deve ser passado no campo. Ah, no campo! A gente acorda às 10 da manhã, liga a tevê e vê desenhos animados. Depois toma algumas cervejas, come qualquer coisa e conversa até todo mundo dormir um bocado. Quando todos estiverem acordados, a gente joga um pouco de baralho e algum jogo de tabuleiro (Banco Imobiliário não vale!). E aí, quando todos estiverem cansados, cada um pega um livro e começa a se auto-esclarecer. Depois, algum já de saco cheio do novo livro do Paulo Coelho, faz algum comentário que faz todos fecharem seus Veríssimos, Salingers, Machados, Kafkas ou qualquer outro livro não muito caro e iniciarem um debate de esclarecimento coletivo (aí sim, hein?). Aí algum cita a letra de alguma música [Rock Nacional!]. E, para mostrar como é a música, ele puxa um violão. Todos puxam seus violões e a gente toca até a mão esquerda ficar com cãimbra de tantas pestanas. Aí a gente bebe mais um pouco, deita na grama e vê as estrelas. E cada um de nós faz revelações sobre a sua vida pessoal. Sabe a Carol? Então, eu estou perdidamente apaixonado por ela. A Carol? A Carol é bonitinha, cara, vai fundo! E torce pra mim, pro meu papo colar com a Flavinha. As conversas com elas são demais! E você, meu, tá todo quieto aí... que tem? Ah, tô com saudade. Saudade da Ju. Ela ficou lá trabalhando, a gente nem se ligou hoje. Ah, relaxa! A Ju é demais mesmo, tô feliz por você! Valeu, eu também tô feliz que você terminou com a Na... sabe, ela te enganava. Sério? Sério! Ah, tudo bem... porque eu já tava apaixonado pela Silvinha enquanto isso. Pena que não deu certo. E... e você, arrombado? Ih, dormiu. Todo mundo dormiu.
Blah, não gosto do campo.
Você gosta do quê, hein?
Ah, eu gosto... eu gosto da minha casa, serve?
Um feriado tão bom assim deve ser passado em casa. Ah, a minha casa! Acordar na hora do almoço, com dor no dente que já não existe mais (porque a humanidade não usa mais o siso). E não poder almoçar, porque a cicatriz dói, arde, lateja e sangra. Ligo a tevê e só passa desenhos animados vindos diretamente do Japão. Não gosto, mudo de canal e vejo as ofertas. Os carros que eu nunca vou comprar, os apartamentos que eu nunca vou comprar... então desligo a televisão e vou ler um livro. Não, não vou ler um livro. Não tô com tanta vontade assim. Então eu vou... ah, vou pegar um baralho e... ah, não, não dá. Não dá pra jogar sozinho. Beleza, eu pego uma cerveja na geladeira, escolho um filme legal pra rodar no dvd, pego o telefone e chamo a... não, não dá pra tomar cerveja. Eu tô tomando antibiótico. Tudo bem, então eu vou só ligar pra... pra... pra... não, não vou ligar pra ninguém. Ninguém vai vir aqui em casa. Que tédio! Então eu vou dormir. Ah, mas não vou conseguir dormir, tô com o saco tão cheio de um feriado tão chato! Preferia estar na praia... eh, eu queria estar na praia. Ou no sítio, já pensou?

quarta-feira, 1 de novembro de 2006

Réquiem

Quinze minutos para sair de casa.
Quarenta e cinco para sair ver o túnel de luz.
Três horas e quarenta e cinco minutos para, se tudo der certo, voltar para casa.
Três dias para tudo passar.

O problema é que três dias não passam tão rapidamente assim. Mas, como da primeira vez, vou tentar ser o herói de sempre.

Sem calmantes, sem drogas, sem psicólogos. Sem Diazepan, Mandiopã, Éter, Cocaína, alegria...

Se eu ficar quatro dias sem postar, desejo que doem meus órgãos. Desejo que minha guitarra seja doada para o fundo de caridade de rockeiros doidões órfãos. E que meu baixo vá para o retiro dos rockstars. Meu violão - que eu nem sei onde está - pode ser leiloado. Ele deve valer alguns trocados, a acústica dele é boa.

Meus livros podem ser todos trancados em uma urna protegida contra bombas. Daqui dois milhões de anos, os marcianos vão querer ler Harry Potter.

Minhas camisas e meus pôsteres do Palmeiras também vão nessa urna, mas não sei muito bem por quê.

E se alguma boa alma souber que esse blog existe, que faça um apanhado e publique um livro de auto-ajuda. Vai ser bem útil.

E se esse livro for publicado, toda a sua renda deve ir a alguma instituição do tipo Sem-Siso Anônimos. Ou para os Medrosos por Cirurgia Anônimos. Ou para os Pseudônimos Anônimos...

E se essas instituições não existirem ainda, que sejam fundadas em minha memória.

Até logo. Eu espero.