quarta-feira, 29 de junho de 2011

Entenda as piadas sem sentido do Chaves: se os elefantes não tivessem tromba, não seriam capivaras

Eu estava pensando em adiar esta postagem por alguns dias, mas um fato inusitado me fez repensar tal decisão. Voltei do trabalho, fui olhar as estatísticas do blog e percebi: Chegamos ao Orkut! Pois é, acredite! Esta série está sendo divulgada não sei onde, mas o Google Analitcs rastreou diversos acessos da quase finada rede social. Sem divulgar nenhum post via Twitter, Facebook ou qualquer outro meio (preguiça, sabe?), atingimos o Orkut. Ok, com muitos anos de atraso. Mas deixem eu vibrar, vai.

Por isso, antes de começar a explicar por que diabos a capivara não é um elefante sem tromba, faço um apelo: Se você gostou, aprendeu alguma novidade do Chaves, teve um esclarecimento e passou a entender o sentido da vida, divulgue esta série. Sério, Chaves fica muito mais divertido quando entendemos as piadas obscuras. E, por favor, mandem sugestões de piadas ainda não decifradas. Minha gaveta de ideias está ficando vazia. Grato, agora vamos lá.



Eu me pergunto o que a Chiquinha havia feito para chegar à Vila com cara de avoada (para não dizer outra coisa) e fazer perguntas filosóficas para o Seu Madruga enquanto ele tentava pregar um sapato. Até que, na minha última folga, aproveitei para assistir a alguns episódios em espanhol, e confirmei uma grande suspeita: elefantes sem trombas não seriam capivaras. Vejamos.



Notaram o que o Seu Madruga disse? Se os elefantes não tivessem trombas, seriam... Huachinangos. É, isso mesmo. Hua-chi-nan-gos (acho que se separa assim). E o que é isso? Trata-se de um peixe avermelhado gigantesco, que pode chegar a pesar quase 20 km, e que é bastante comum no Golfo do México – e, portanto, conhecido para os mexicanos habitantes da Vila.

Ou seja, se os elefantes não tivessem trombas seriam um peixe gigante e avermelhado que habita no Oceano Atlântico da América do Norte? Pois é. Melhor fossem mesmo uma capivara, afinal... são mamíferos, pelo menos. Mas como não há capivaras no México...

Apenas para comprovar que a piada foi alterada significativamente (neste caso, para melhor), a continuação tem ainda menos sentido em espanhol. Se os huachinangos tivessem trombas seriam elefantes? Não, diz o Seu Madruga. Seriam tramoyistas - uma palavra que não temos em português, mas que significa algo em torno de pessoas que montam e desmontam o cenário.

Melhor imaginar uma capivara com tromba sendo trapezista no circo, né?

terça-feira, 28 de junho de 2011

Entenda as piadas sem sentido do Chaves: o Chaves não queria plantar carambolas

É eu queria plantar um pezinho de carambola, pra que vire uma árvore de carambolas que dê milhões de carambolas, então eu vendo os milhões de carambolas e com o dinheiro que ganhar com as carambolas eu iria morar em uma outra vila onde não tenha ninguém que me bata.



A frase, encontrada a partir do instante dos 6:30 do vídeo acima, é bem conhecida entre nós, chavesmaníacos, mas a verdade – como venho demonstrando nesta série – é bem diferente. O Chaves não queria, acreditem, plantar um pezinho de carambolas (e nem todo o resto do gigante período que comove o Seu Madruga). A fruta que garantiria o pé de meia do nosso humilde e divertido personagem é outra. E muito mais chique!

Fui atrás do episódio original do Chaves, sem a dublagem, e lá descobri que carambolas nunca tinha sido o plano de vida do menino do 8 – afinal, alguém conhece alguma pessoa que ficou rica vendendo carambolas? Eu não – mas... bem, deve ter alguém, vai.

Deixemos de bobagens e vamos ao fim do mistério. Confira no vídeo disponível neste link (que não deu para embedar aqui por questões burocráticas do YouTube), a partir de 4:50.

Pois é. O Chaves queria plantar chabacanos. Trata-se de uma fruta com origens em Síria, Armênia e China, de casca alaranjada e lisa, bastante popular no México, e que no Brasil tem o nome de... damasco.

Entretanto, plantasse carambolas ou damascos, o Chaves iria se dar mal do mesmo jeito. Afinal, as duas plantas levam uma média de três anos para darem frutos. Ou seja: melhor seria investir no bebércio de refrescos para obter um lucro mais rápido. Ou ser o flanelinha do Hector Bonilla.

A nossa série continua algum dia (próximo, espero), com o seguinte tema: se os elefantes não tiverem trombas não seriam capivaras

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Entenda as piadas sem sentido do Chaves: o cão arrependido

Bem, não se trata necessariamente de uma piada sem sentido, visto que o rebuscado, requintado e refinado poema Volta o cão arrependido é um dos momentos mais tristes de toda a série do Chaves. Mas, assistindo aos episódios das festas da boa vizinhança em áudio original, percebi que os versos são diferentes. A título de curiosidade, fica o registro.

Metade do poema declamado pelo Chaves é diferente na versão original – o que não é muito, visto que Volta o cão arrependido é composto por quatro linhas. De qualquer forma, o cachorrinho que havia fugido e depois regressado a casa não tinha orelhas fartas e nem um osso roído. Vamos ver?

Como todos sabemos, o poema consiste em Volta o cão arrependido/ Com suas orelhas tão fartas/ Com seu osso roído/ E com o rabo entre as patas. Duvida? Olha só.



Mas isso é em português. Notem em espanhol as diferenças no vídeo abaixo, na primeira versão da Festa da Boa Vizinhança (acreditem, perdi horas buscando pela versão que conhecemos, mas todos os vídeos do YouTube cortam essa parte. Em contrapartida, há dois quadros inéditos para nós, que passamos nossas vidas assistindo via-SBT: um show de talentos com Seu Madruga, Bruxa do 71 e Dona Florinda/Professor Girafales e números de mágica - impagáveis - de Quico, Chiquinha e Chaves).

Em espanhol, seja em qual versão dos episódios, Volta o cão arrependido é assim:



Vuelve el perro arrepentido/ Con su mirada tan tierna/ Con el hocico partido/ Y con el rabo entre las piernas.

(Volta o cão arrependido/ Com seu olhar tão meigo / Com o focinho machucado / E com o rabo entre as pernas).

Viram a diferença? Como terna para nós não tem tanto o sentido de “meigo” ou “fofo”, os tradutores se viram obrigados a alterar por algo que rimasse com pernas. Ou patas. E daí as orelhas fartas (que nunca fez tanto sentido, convenhamos, ainda que o gestual do Chaves nos remeta, mesmo a orelhas). E “machucado” não rimaria com “arrependido”. Daí o roído. Nada melhor que um osso, não?

De qualquer maneira, a versão original do Chaves se torna muito mais interessante pela intensidade com qual o poema é declamado. Ele quase chora!

Já que tocamos no assunto, em português o poema é repetido 44 vezes. No México a poesia é bem mais curta: 20 vezes em alguns episódios, 34 em outros. Seja lá como for, poderiam deixar o Chaves, pelo menos alguma vez, terminar sua declamação, né?

No próximo episódio: Chaves não queria plantar um pezinho de carambolas

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Entenda as piadas sem sentido do Chaves: Quico não se chamava Melchior na festa da Vila

Como será que o Chaves consegue confundir Melchior com malfeitor durante a peça de teatro das crianças no festival da boa vizinhança? Não sei se vocês já perceberam, mas... bom, para mim, isso nunca fez lá muito sentido. Então resolvi ir atrás.

O Quico, de fato, não se chamava Melchior na festa. A própria Chiquinha trata de corrigir o Chaves e diz que não se trata de um personagem com tal nome, senão um malfeitor. Podemos comprovar isso no vídeo abaixo, depois de 5:15.



Mas então o que causaria tamanha confusão naquela cabeça que serve apenas para colocar o boné? Recorri à versão original do Chaves e descobri que, em espanhol, as duas palavras são bem semelhantes. Ah é? Pois veja, aos 5:30:



Segundo o Chaves, na comédia Quico se chamaria Melchior (em espanhol, diz-se Meltchior). Acontece que, em espanhol, mal-feitor se diz malhechor (leia-se: maletchor). Por quê? Bom... fazer se diz hacer, feito é dito hecho... logo, feitor corresponde a hechor. Simples, né?

Bom, aproveitando o tema, elucidemos outro tema acerca do malfeitor. Antes da passagem mencionada acima, a própria Chiquinha teria se confundido ao mencionar que o Quico seria o malfeitoso, mas... não é bem assim. Ela mesma se justifica e explica que o bochechudo seria malfeitoso porque veio com defeito de fábrica (vulgo, Dona Florinda).

Em espanhol a piada é semelhante, mas termo é diferente: malhechote, o que corresponderia a algo como mal feitão, em uma tradução livre. Ou seja, um defeitão.

Compreendido, amiguinhos?

No próximo capítulo: o cão arrependido não tinha as orelhas tão fartas.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Entenda as piadas sem sentido do Chaves: qual a semelhança entre um tinteiro e a canção da ausência?

Ora, mas essa é muito fácil! É que a canção da ausência só pode ser cantada uma vez porque na segunda ela está ausente!


(Veja a partir dos 7:00)

Hummm... não, não é isso. O próprio Nhonho diz ao Chaves imediatamente que a semelhança entre um tinteiro e a canção da ausência não é esta (talvez esta pudesse ser uma diferença, não?). Mas, então, qual seria? Que o tinteiro tem tinta, muita tinta, e que a canção da ausência... tinta tinta tinta tinta?

Pois acredite: é quase isso! Desta vez não entendemos a piada por uma tradução incoerente do espanhol para o português, senão... porque ninguém aqui no Brasil é obrigado a conhecer o folclore chileno, não é mesmo?

Mas só vamos entender o real significado desta piada se assistirmos cuidadosamente ao trecho em questão da versão original do Chaves. Está no vídeo abaixo, depois dos 6:50.



Notaram como o Nhonho cantarola a canção da ausência, com ritmo e tudo? E depois, quando o Chaves tenta fazer a piada com a Chiquinha, como ele assobia o ritmo? Pois aí matamos!

Em questão de minutos nossa vida fará muito sentido, especialmente depois de assistirmos a este vídeo. É, nada mais nada menos, que a Canción de Ausencia, do grupo de folclore chileno (um estilo musical) Los de Ramón, que fez grande sucesso pela América Latina – inclusive no México, pátria do Chaves.



Ah, mas... você não entendeu ainda o que a tinta tem a ver com isso? Nada! Em vez de cantarolar com “lararilaralá, lalalá, do-ré-mi-fa-sol”, o Nhonho usa “tinta tinta” como intervalos harmônicos para cantarolar a canção da ausência. E o que tem de errado? Na Argentina, por exemplo, o ritmo cuarteto, bastante difundido na província de Córdoba, é cantarolado com o tunga-tunga. E aqui? As baladas não tocam música puts-puts?

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Entenda as piadas sem sentido do Chaves: o pirata Alma Negra não sentia muito

Tem coisa melhor do que acordar na casa da sua namorada, ligar a televisão às 11 da manhã e estar passando Chaves em espanhol? Bom... ok, há muitas coisas melhores que isso. Mas a nossa série predileta, em idioma original, seguida de Chapolin... fica difícil encontrar (a parte boa é que minha namorada não lê isso).

Enfim. Deixemos de bobagens e vamos a um fato raro nesta série que tem mudado a vida de pessoa nenhuma. No episódio transmitido naquela manhã fria e de nuvens vulcânicas na Argentina, relembrei uma piada bem sem graça nos episódios de Chapolin e os Piratas, que finalmente teve sentido.

Quando o Alma Negra tenta envenenar o Chapolin com o copo de vinho batizado feito pela taberneira, ambos se sentam à mesa, e o pirata proíbe o Polegar de tomar um suco de laranja (de tamarindo, na versão original). Alma Negra, então, repete "sinto muito", e leva uma paulada na cabeça. Mas por quê? "É... pra doer mesmo, então...", diz o Chapolin. Peraí, como assim? É verdade, olhe você mesmo no vídeo abaixo, a partir de 6:20.



Não é nada disso, meus caros. A cena tem sim graça em espanhol, e baseia-se em um trocadilho originado pela semelhança de pronúncia entre B e V na língua castelhana. Vamos ver?

O Alma Negra havia obrigado o Chapolin a tomar o vinho batizado, enquanto o nosso herói colorado havia recebido o copo de suco da taberneira. Os dois se sentam à mesa, e o pirata exige o copo do Polegar. Em espanhol, assim (ou conforme o instante 7:45 do vídeo abaixo):


- Dame tu vaso
- Qué?
- Que me des tu vaso


E então vem a paulada. Por quê? O Chapolin explica:

- Me dijiste que te diera tubazo!

Lembram-se da piada da escolinha, antes inteligíveis, sobre a ortografia da palavra "bala", se com B grande ou B pequena? Pois então, aí nasce o trocadilho. Como o V tem o mesmo som que o B em espanhol, Tu vaso (seu copo) e Tubazo (tubada) têm a mesma pronúncia. Simples, né?

Bom, já que estamos aqui, esclareçamos outra piada sem sentido. No mesmo episódio, quando os piratas tentam escapar do Alma Negra, a taberneira se exalta: “Não há tempo a perder, vamos fugir”, e o Lagartixa, do nada, começa a uivar como um coiote com frio. Por quê?

A cena, sem o menor nexo em português, ganha um certo sentido em espanhol. A taberneira diz huyamos, o imperativo afirmativo para o verbo huir (fugir) na 1ª pessoa do plural, enquanto o Lagartixa entende aullemos, o imperativo afirmativo para o verbo aullar (uivar) na 1ª pessoa do plural (lembrando que Y e LL têm o mesmo som na América Latina, mas não na Espanha).

No próximo capítulo: qual a diferença entre um tinteiro e a canção da ausência?

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Entenda as piadas sem sentido do Chaves: cozinhando o grude

Essa série de piadas, presente em diversos episódios do Chaves, é realmente difícil de entender. E até mesmo para traduzir, tanto que as improvisações que são feitas para os capítulos dublados saem tão mal quanto o remendo.

Ou vai falar que você sabe logo de cara do que tratam os personagens de Chaves quando resolvem cozinhar uma lata estranha, cujo conteúdo recebe o nome de grude e que causa diversos mal-entendidos na Vila? Pois é, eu também não sabia. E demorei a descobrir, porque sempre pensei que se tratava de um falso cognato. Só que conseguimos, caros (dois, talvez três) leitores, revelar mais um mistério.

Se quiser usar alguma substância pegajosa em algum país hispanohablante, você precisará de quê? Bom... no cotidiano, conversando com as pessoas ditas comuns, você terá que pedir pegamento. Ou, então, adhesivo. Se pedir cola, assim com a maior cara-de-pau para alguém que você não conhece, corre grande risco de apanhar. Ou, na melhor das hipóteses, causar uma grande gargalhada ao interlocutor. Mas por quê?

Ora, meu caro potunholablante, cola, em espanhol corriqueiro, pode significar três coisas: fila (de banco, de caixa e afins), rabo/cauda (de animal, de cometa) ou bunda. Sim, bunda. Já imaginou você ir a uma ferretería e pedir a bunda do cara? Não vai ser muito legal, né?

Daí se aprende outra coisa: colar é um verbo que não existe em espanhol. Se você quiser duas coisas usando alguma substância pegajosa, você tem que pegar. Note, morfologicamente, que os radicais são os mesmos: pegajoso, pegar. Sacou? Mas pegar também pode significar bater. Estranho, né?

Enfim. Cola, para mim, era um dos maiores falso-cognatos entre português e espanhol. Mas, a partir do roteiro de Chaves, descobri outra coisa: que cola, em castelhano, pode sim ser usada para dar nome àquela substância que, em português, usamos para colar (o mais bizarro é que fui buscar a informação no dicionário da Real Academia Espanhola, enquanto no episódio O violão do seu madruga a lata já aparece devidamente etiquetada com a palavra “COLA”).

Seja no dicionário da RAE ou nos episódios de Chaves, cola é uma palavra muito pouco usada para isso (é quase tão comum quanto “grude”, que acabou sendo o termo adotado na tradução. E é daí que surge o mote para as piadas da nossa série preferida. Olha só algumas:

- Seu Madruga cozinha o grude? Não, ele faz a cola. Em espanhol, faz fila.
- O grude do Seu Madruga cheira mal? Ou será que é a bunda do Seu Madruga?
- O Chaves tem que tomar cuidado para não tropeçar no grude? Ou no rabo?
- Seu Madruga paga ao Chaves um trocado para lhe ajudar a mexer o grude? Não, para ajudar a mover a bunda. Rebolar, digamos.

Confira só, nas versões em espanhol de Seu Madruga carpinteiro (abaixo, embedado) e de O violão do Seu Madruga: