quinta-feira, 22 de julho de 2010

Fé sem taxa de entrega

Estava no trânsito da Avenida Domingos de Moraes na hora do rush na semana passada quando, parado em um congestionamento, olhei para o lado e vi um cidadão na rua com um cartaz escrito qualquer coisa. Virei, então, o pescoço um pouco mais para a direita e me deparei com dois mais jovens segurando uma outra faixa, apontando para dentro da Igreja da Santa Cruz.

Apertei um pouco mais os olhos para conseguir ler no breu da avenida não lá tão bem iluminada e me surpreendi quando decifrei as letras em vermelho no fundo branco: “drive-tru de orações”, mostrava o cartaz, com uma seta apontando para um corredor no território da igreja.

Drive-tru de orações. É algo no mínimo... bizarro, que jamais ouvi alguém falar sobre as mudanças que o futuro proporcionaria. Nem nos Jetsons. Talvez, quem sabe, um confessionário via Skype, em que o fiel liga para o padre, aciona sua webcam, ajoelha-se e relata todos os seus pecados e depois reza não sei quantas orações previamente decoradas enquanto espera a absolvição divina. Mas nada como um

Infelizmente, achando estar atrasado para o meu compromisso (alguns quarteirões para a frente lembrei que havia combinado não às 20h30, como eu tinha certeza, mas às 21 horas), não pude jogar meu carro na frente de outros veículos parados para entrar e testar o curioso drive-tru. Mas fiquei curioso para saber o que era.

Será que o fiel embica seu veículo ali, relata previamente seus pecados diante de um jovem padre, pega uma notinha e volta para casa ciente do que precisa fazer para conseguir o perdão? Ou será que reza ali mesmo o terço, enquanto o outro veículo da fila aguarda pacientemente a sua vez? E... não poderia, então, haver um espaço reservado para a pessoa estacionar o carro e orar ali mesmo por vários minutos?

Há também a possibilidade de o fiel, que não pôde comparecer à missa dominical, rezar ali mesmo e comungar, não? Quem sabe até que todos os motoristas ali aguardando não deixam seus carros (com a chave no contato, mesmo - afinal, quem roubaria dentro de uma igreja?), dão as mãos e discursam ali um Pai Nosso?

Esse negócio de orações drive-tru, apesar da bizarrice aparente, faz lá seu sentido. Eu, quando bem mais novinho e tinha um temor divino maior infinitamente maior que a memória de um iPhone, precisava aguardar todos os primeiros domingos do mês para a confissão comunitária na igreja aqui perto de casa. Nada de relatar os pecados, eu precisava apenas mentalizar meus erros e ser perdoado sem dizer um A. E depois comungava com a consciência tranqüila.

Em um mundo moderno e imediatista, porém... agora, parece que basta embicar seu carro ali na Igreja da Santa Cruz em um dia qualquer (ou quem sabe numa quinta-feira de trânsito antes da rodada do Campeonato Brasileiro) e fazer a sua oração. E melhor: não é preciso nem pagar a taxa de entrega.

Querendo ou não, é mais saudável que um drive-tru do McDonald’s, né?

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Zona Sul de São Paulo, campeã do mundo

Ao menos àqueles que não fugiram das aulas de geografia no colégio, não é nenhum absurdo dizer que São Paulo é a cidade com maior população da América do Sul. Pois bem. São dez subdivisões, que, juntas, reúnem cerca de 11 milhões de habitantes. A mais populosa dessas áreas é a Sul, com 2,3 milhões – se unida à Centro-Sul, passaremos por pouco o total de 3 milhões de pessoas.

Essas duas regiões, por sua vez, são subdivididas em nove subdistritos: Capela do Socorro, Cidade Ademar, Campo Limpo, Parelheiros, M’Boi Mirim, Santo Amaro, Vila Mariana e o Jabaquara, onde costumo viver há 22 anos.

Até aí ok, eu não precisaria falar toda essa baboseira: a Wikipedia ensina melhor do que eu, apenas com uma tabela maneira. Mas não é esse meu ponto, e sim sugerir a estúpida proposta: já pensou se reunirmos toda a população nascida nesses bairros, escolher a dedo os melhores boleiros de 18 a 35 anos e formar uma seleção de futebol. Disputar as Eliminatórias, buscar uma vaga para a Copa do Mundo... e ser campeão. Estúpido, improvável e impossível, não é?

Não necessariamente. Basta olharmos para a atual Copa do Mundo para vermos o Uruguai, país que tem somente 3,3 milhões de habitantes que quase chegou até a final. Pois é: a população uruguaia é apenas 1,7% da brasileira, de 190 milhões. E nossos vizinhos sulistas quase chegaram
lá, na final do torneio.

Tudo bem, não levemos em consideração o caminho não muito difícil da seleção uruguaia até a as semis – eles não enfrentaram nenhuma grande força mundial (a França, nos últimos dois anos, só coloca medo no próprio torcedor francês). Mas, de qualquer maneira, não é algo notável para a nação liderada pelo presidente José “Pepe” Mujica (que se elegeu no ano passado com uma música de campanha estilo rock Ultraje a Rigor)?

O mais impressionante nisso tudo, além de ver o Uruguai firme e forte lutando por um título conquistado pela última vez há 60 anos (no nosso Maracanã, diga-se), é pensar no seguinte fato: em números de Copas, eles quase chegaram ao tri - igual à Alemanha e atrás apenas de Brasil e Itália... e por pouco não relegaram a bicampeã Argentina à terceira força do continente. Rá!

sábado, 3 de julho de 2010

Sobre a decepção

Antes era assim: eu não parava de acompanhar os e-mails para ter novidades e dar um sorrisinho quando notava alguma mensagem não-lida. Quando notava algum progresso, então, ria sozinho.

Houve um tempo em que tudo estava... bem ruim, para falar a verdade. Mas eu seguia sonhando, algo em mim dizia para acreditar. Achava sempre que seria possível dar um passo aqui, outro lá, fazer um progresso acolá. Tanta esperança deu certo. Muito certo, de uma hora para outra.

Foi nessa época em que minha caixa de entradas ficava aberta 24 horas por dia. Quando ela persistia em ficar lá, parada, eu insistia. A tecla do F5 do meu teclado quase se apagou, de tanto suor vazava dos poros da falange do indicador. E pensar que tudo começou de uma maneira despretensiosa...

Dizem que é impossível ser perfeito, e foi da maneira mais cruel que essa máxima se fez real para mim. Quando o melhor momento estava a uma distância ínfima de mim, a apenas um degrau, tudo desandou.

Não sei lidar com momentos de aperto. Meu instinto, errado eu sei, é abandonar. Deixar de lado, bloquear dos meus pensamentos. Assim o fiz, tentava não me culpar por ter apostado errado em certos momentos.

Só que da fase mais turbulenta surge um insignificante sinal de esperança. Alguma novidade, algum e-mail animador para os últimos instantes. Só que... talvez seja muito tarde. É o erro de se confiar cegamente onde sempre houve uma ponta de desconfiança e notar que não há de onde resgatar alguma força para reagir. Não depois de tanta energia gasta no princípio.

Conformar-se? Talvez seja essa a saída. Tentar não viver o verso seguinte ao da febre, da hemoptise, da dispnéia e dos suores noturnos. Não pensar naquilo tudo que poderia ter sido e não foi. Mas é difícil, quando se faz planos. Tantos planos.

O que sobra? Uma ironia.

Obrigado a todos aqueles de camisa amarela que conseguiram estragar minha chance de ganhar 50 pontos, assumir a liderança de um bolão que pagaria R$ 4 mil ao vencedor entre 200 competidores e me derrubar para o quarto lugar. A uma posição da zona de premiação financeira, o que já me renderia uma bolada de uns R$ 600.

E olha que não estou nem falando da decepção de quatro anos...