segunda-feira, 11 de julho de 2011

Entenda as piadas sem sentido do Chaves: gromaica, tamão ou limerindo

Continuemos com nossa peregrinação, apesar da pausa forçada por motivos profissionais (obrigado, Copa América, por ser tão chata e me fazer sair do trabalho à 1 da manhã). Conforme prometido anteriormente, falaremos que os refrescos do Chaves, ao contrário do que muitos pensavam, não eram de laranja (ou às vezes groselha), limão ou tamarindo. E isso fica bem claro em um dos primeiros momentos em que o nosso adorável garoto mistura os sabores dos refrescos. Ainda por aqui, explicaremos algo pouco explicado, também, em um episódio do Chapolin. Não, não conto antes!

Talvez mais fiel leitor deste espaço, o Gustavo se assustou com a hipótese de os refrescos não serem de gromaica, tamão ou limerindo. Acalme-se, amigo: os refrescos são, sim. A tradução é que foi... hummm... mal feita é um sacrilégio dizer, visto que credito 40% do sucesso do Chaves no Brasil à tradução. Mas não tinha sentido dizer originalmente os gostos dos suquinhos feitos com água da chuva que ficam nas bacias do outro pátio.

Pois é justamente a confusão com “gromaica, tamão ou limerindo” que está escondido o mistério da piada. Alguém notou alguma coisa estranha? Pois... não há nenhuma evidência que remeta à laranja, não é verdade. E... o que seria gromaica? Vejamos (a partir de 7:00).



A resposta vem no episódio em espanhol: os refrescos do Chaves eram de limão, tamarindo (imagino que todos maníacos por Chaves já sabem que tamarindo é uma fruta comum no México) e... jamaica! É verdade, jamaica! Ou seja: a “tienda del Chavo” vendia, dentre outras coisas, as águas de Jamaica, que serviam para atrair os duendes daquela casa do Chapolin. Olha aí, depois dos 6:30.



Mas, che boludo, o que é uma jamaica? Nem meu Word parece saber, visto que corrige automaticamente o j minúsculo para maiúsculo. Trata-se de uma flor, da família dos hibiscos, que nossas avós devem chamar de vinagreira, caruru-azedo ou quiabo-roxo. No México, essa planta se chama jamaica (e sim, origina o nome daquele país centroamericano) e, com suas pétalas, faz-se um chá, que se chama água de jamaica. E como se trata de uma flor bem avermelhada, a água de jamaica parece groselha.

Saindo um pouco do tema da jamaica, as ficando ainda no episódio dos refrescos, entendamos outra piada de pouco sentido para nós. Quando o Chaves resolve chantagear ao Seu Madruga e ao Senhor Barriga, em determinado momento, o pai da Chiquinha diz que “entrou numa gelada”, e logo de cara o Chaves lhe oferece refrescos. Por quê? Tá logo aí, aos 4:50.



Acontece que, em espanhol, o Seu Madruga não diz ter entrado numa gelada, senão echame aguas - “me joga refresco”, em tradução literal, ou “me dê um aviso”, em gíria mexicana. O Chaves entende o primeiro sentido e logo de cara pergunta qual o sabor preferido.

Simples, não?

Agora, continuem divulgando e façam esse blog ter mais de 100 acessos diários. Não, eu não ganho nada com isso. Apenas um pouco mais de motivação para escrever posts mais regulares. Isso não interessa a todo mundo? Pois então. Divulguem via Twitter, Facebook, Orkut, e sejamos todos mais felizes.

No próximo episódio, vamos saber mais sobre Pede Mais Um, aquele da televisão.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Entenda as piadas sem sentido do Chaves: como o Quico se senta

Como jornalista não deveria ter ignorado por tanto tempo a força das mídias sociais, e incrível o aumento de audiência que tivemos nos últimos dias depois que alguma boa alma sai divulgando esta série por aí. Muito grato, de coração. E prometo em breve desvendar as piadas sem nexo que me foram passadas, fato é que o YouTube não vem colaborando. Mas agora vamos ao que realmente interessa, não é mesmo?

Fato é que eu nunca tinha achado muita graça na piada feita quando o Quico está tomando os refrescos. Preocupada com a qualidade questionável dos sucos preparados com a água da chuva, a Dona Florinda alerta o filho sobre os riscos de pegar uma disenteria e o bochechudo trata de mostrar à mãe como se sente. E se senta sobre um dos caixotes do camelô do Chaves. Lembra? Por via das dúvidas, vale ver novamente aí abaixo, a partir de 5:30.



Essa piada é bem, bem simples de ser entendida, mas requer um conhecimento mínimo em conjugação de verbos em espanhol – e também um pouco de conhecimento de castelhano para entender ditongações (às vezes eles resolvem colocar um i ou um e no meio de uma palavra, como já foi explicado aqui quando a Chiquinha diz dinferência).

Sim, ditongações. Esta é a chave para o entendimento da piada. Tudo porque, se você que fala portunhol um dia disser em algum país hispanohablante yo me sinto, não vão entender nada – ou, com sorte, vão pensar que você coloca um cinto. E se você disser yo me sento, aí é que vão ficar com a maior cara de paisagem. Muito embora “sentir” e “sentar” sejam verbos exatamente iguais ao português, no infinitivo.

Contudo, se eu quiser dizer como me sinto em espanhol, preciso dizer... como me siento. Viram aí a ditongação? Aparece um ezinho bem chato que compromete o entendimento com algum castelhano. E o mesmo se dá quando eu quero dizer como me sento. Teria que ser como me siento. Agora, o vilão é o izinho que surge ali. E a ditongação explica a piada do Chaves. Confere aí, a partir de 6:30.



Não foi simples?

Aproveitando o embalo da série dos refrescos do Chaves, desvendaremos na nossa próxima série que os refrescos dos Chaves não eram de laranja, limão e tamarindo.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Entenda as piadas sem sentido do Chaves: se os elefantes não tivessem tromba, não seriam capivaras

Eu estava pensando em adiar esta postagem por alguns dias, mas um fato inusitado me fez repensar tal decisão. Voltei do trabalho, fui olhar as estatísticas do blog e percebi: Chegamos ao Orkut! Pois é, acredite! Esta série está sendo divulgada não sei onde, mas o Google Analitcs rastreou diversos acessos da quase finada rede social. Sem divulgar nenhum post via Twitter, Facebook ou qualquer outro meio (preguiça, sabe?), atingimos o Orkut. Ok, com muitos anos de atraso. Mas deixem eu vibrar, vai.

Por isso, antes de começar a explicar por que diabos a capivara não é um elefante sem tromba, faço um apelo: Se você gostou, aprendeu alguma novidade do Chaves, teve um esclarecimento e passou a entender o sentido da vida, divulgue esta série. Sério, Chaves fica muito mais divertido quando entendemos as piadas obscuras. E, por favor, mandem sugestões de piadas ainda não decifradas. Minha gaveta de ideias está ficando vazia. Grato, agora vamos lá.



Eu me pergunto o que a Chiquinha havia feito para chegar à Vila com cara de avoada (para não dizer outra coisa) e fazer perguntas filosóficas para o Seu Madruga enquanto ele tentava pregar um sapato. Até que, na minha última folga, aproveitei para assistir a alguns episódios em espanhol, e confirmei uma grande suspeita: elefantes sem trombas não seriam capivaras. Vejamos.



Notaram o que o Seu Madruga disse? Se os elefantes não tivessem trombas, seriam... Huachinangos. É, isso mesmo. Hua-chi-nan-gos (acho que se separa assim). E o que é isso? Trata-se de um peixe avermelhado gigantesco, que pode chegar a pesar quase 20 km, e que é bastante comum no Golfo do México – e, portanto, conhecido para os mexicanos habitantes da Vila.

Ou seja, se os elefantes não tivessem trombas seriam um peixe gigante e avermelhado que habita no Oceano Atlântico da América do Norte? Pois é. Melhor fossem mesmo uma capivara, afinal... são mamíferos, pelo menos. Mas como não há capivaras no México...

Apenas para comprovar que a piada foi alterada significativamente (neste caso, para melhor), a continuação tem ainda menos sentido em espanhol. Se os huachinangos tivessem trombas seriam elefantes? Não, diz o Seu Madruga. Seriam tramoyistas - uma palavra que não temos em português, mas que significa algo em torno de pessoas que montam e desmontam o cenário.

Melhor imaginar uma capivara com tromba sendo trapezista no circo, né?

terça-feira, 28 de junho de 2011

Entenda as piadas sem sentido do Chaves: o Chaves não queria plantar carambolas

É eu queria plantar um pezinho de carambola, pra que vire uma árvore de carambolas que dê milhões de carambolas, então eu vendo os milhões de carambolas e com o dinheiro que ganhar com as carambolas eu iria morar em uma outra vila onde não tenha ninguém que me bata.



A frase, encontrada a partir do instante dos 6:30 do vídeo acima, é bem conhecida entre nós, chavesmaníacos, mas a verdade – como venho demonstrando nesta série – é bem diferente. O Chaves não queria, acreditem, plantar um pezinho de carambolas (e nem todo o resto do gigante período que comove o Seu Madruga). A fruta que garantiria o pé de meia do nosso humilde e divertido personagem é outra. E muito mais chique!

Fui atrás do episódio original do Chaves, sem a dublagem, e lá descobri que carambolas nunca tinha sido o plano de vida do menino do 8 – afinal, alguém conhece alguma pessoa que ficou rica vendendo carambolas? Eu não – mas... bem, deve ter alguém, vai.

Deixemos de bobagens e vamos ao fim do mistério. Confira no vídeo disponível neste link (que não deu para embedar aqui por questões burocráticas do YouTube), a partir de 4:50.

Pois é. O Chaves queria plantar chabacanos. Trata-se de uma fruta com origens em Síria, Armênia e China, de casca alaranjada e lisa, bastante popular no México, e que no Brasil tem o nome de... damasco.

Entretanto, plantasse carambolas ou damascos, o Chaves iria se dar mal do mesmo jeito. Afinal, as duas plantas levam uma média de três anos para darem frutos. Ou seja: melhor seria investir no bebércio de refrescos para obter um lucro mais rápido. Ou ser o flanelinha do Hector Bonilla.

A nossa série continua algum dia (próximo, espero), com o seguinte tema: se os elefantes não tiverem trombas não seriam capivaras

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Entenda as piadas sem sentido do Chaves: o cão arrependido

Bem, não se trata necessariamente de uma piada sem sentido, visto que o rebuscado, requintado e refinado poema Volta o cão arrependido é um dos momentos mais tristes de toda a série do Chaves. Mas, assistindo aos episódios das festas da boa vizinhança em áudio original, percebi que os versos são diferentes. A título de curiosidade, fica o registro.

Metade do poema declamado pelo Chaves é diferente na versão original – o que não é muito, visto que Volta o cão arrependido é composto por quatro linhas. De qualquer forma, o cachorrinho que havia fugido e depois regressado a casa não tinha orelhas fartas e nem um osso roído. Vamos ver?

Como todos sabemos, o poema consiste em Volta o cão arrependido/ Com suas orelhas tão fartas/ Com seu osso roído/ E com o rabo entre as patas. Duvida? Olha só.



Mas isso é em português. Notem em espanhol as diferenças no vídeo abaixo, na primeira versão da Festa da Boa Vizinhança (acreditem, perdi horas buscando pela versão que conhecemos, mas todos os vídeos do YouTube cortam essa parte. Em contrapartida, há dois quadros inéditos para nós, que passamos nossas vidas assistindo via-SBT: um show de talentos com Seu Madruga, Bruxa do 71 e Dona Florinda/Professor Girafales e números de mágica - impagáveis - de Quico, Chiquinha e Chaves).

Em espanhol, seja em qual versão dos episódios, Volta o cão arrependido é assim:



Vuelve el perro arrepentido/ Con su mirada tan tierna/ Con el hocico partido/ Y con el rabo entre las piernas.

(Volta o cão arrependido/ Com seu olhar tão meigo / Com o focinho machucado / E com o rabo entre as pernas).

Viram a diferença? Como terna para nós não tem tanto o sentido de “meigo” ou “fofo”, os tradutores se viram obrigados a alterar por algo que rimasse com pernas. Ou patas. E daí as orelhas fartas (que nunca fez tanto sentido, convenhamos, ainda que o gestual do Chaves nos remeta, mesmo a orelhas). E “machucado” não rimaria com “arrependido”. Daí o roído. Nada melhor que um osso, não?

De qualquer maneira, a versão original do Chaves se torna muito mais interessante pela intensidade com qual o poema é declamado. Ele quase chora!

Já que tocamos no assunto, em português o poema é repetido 44 vezes. No México a poesia é bem mais curta: 20 vezes em alguns episódios, 34 em outros. Seja lá como for, poderiam deixar o Chaves, pelo menos alguma vez, terminar sua declamação, né?

No próximo episódio: Chaves não queria plantar um pezinho de carambolas

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Entenda as piadas sem sentido do Chaves: Quico não se chamava Melchior na festa da Vila

Como será que o Chaves consegue confundir Melchior com malfeitor durante a peça de teatro das crianças no festival da boa vizinhança? Não sei se vocês já perceberam, mas... bom, para mim, isso nunca fez lá muito sentido. Então resolvi ir atrás.

O Quico, de fato, não se chamava Melchior na festa. A própria Chiquinha trata de corrigir o Chaves e diz que não se trata de um personagem com tal nome, senão um malfeitor. Podemos comprovar isso no vídeo abaixo, depois de 5:15.



Mas então o que causaria tamanha confusão naquela cabeça que serve apenas para colocar o boné? Recorri à versão original do Chaves e descobri que, em espanhol, as duas palavras são bem semelhantes. Ah é? Pois veja, aos 5:30:



Segundo o Chaves, na comédia Quico se chamaria Melchior (em espanhol, diz-se Meltchior). Acontece que, em espanhol, mal-feitor se diz malhechor (leia-se: maletchor). Por quê? Bom... fazer se diz hacer, feito é dito hecho... logo, feitor corresponde a hechor. Simples, né?

Bom, aproveitando o tema, elucidemos outro tema acerca do malfeitor. Antes da passagem mencionada acima, a própria Chiquinha teria se confundido ao mencionar que o Quico seria o malfeitoso, mas... não é bem assim. Ela mesma se justifica e explica que o bochechudo seria malfeitoso porque veio com defeito de fábrica (vulgo, Dona Florinda).

Em espanhol a piada é semelhante, mas termo é diferente: malhechote, o que corresponderia a algo como mal feitão, em uma tradução livre. Ou seja, um defeitão.

Compreendido, amiguinhos?

No próximo capítulo: o cão arrependido não tinha as orelhas tão fartas.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Entenda as piadas sem sentido do Chaves: qual a semelhança entre um tinteiro e a canção da ausência?

Ora, mas essa é muito fácil! É que a canção da ausência só pode ser cantada uma vez porque na segunda ela está ausente!


(Veja a partir dos 7:00)

Hummm... não, não é isso. O próprio Nhonho diz ao Chaves imediatamente que a semelhança entre um tinteiro e a canção da ausência não é esta (talvez esta pudesse ser uma diferença, não?). Mas, então, qual seria? Que o tinteiro tem tinta, muita tinta, e que a canção da ausência... tinta tinta tinta tinta?

Pois acredite: é quase isso! Desta vez não entendemos a piada por uma tradução incoerente do espanhol para o português, senão... porque ninguém aqui no Brasil é obrigado a conhecer o folclore chileno, não é mesmo?

Mas só vamos entender o real significado desta piada se assistirmos cuidadosamente ao trecho em questão da versão original do Chaves. Está no vídeo abaixo, depois dos 6:50.



Notaram como o Nhonho cantarola a canção da ausência, com ritmo e tudo? E depois, quando o Chaves tenta fazer a piada com a Chiquinha, como ele assobia o ritmo? Pois aí matamos!

Em questão de minutos nossa vida fará muito sentido, especialmente depois de assistirmos a este vídeo. É, nada mais nada menos, que a Canción de Ausencia, do grupo de folclore chileno (um estilo musical) Los de Ramón, que fez grande sucesso pela América Latina – inclusive no México, pátria do Chaves.



Ah, mas... você não entendeu ainda o que a tinta tem a ver com isso? Nada! Em vez de cantarolar com “lararilaralá, lalalá, do-ré-mi-fa-sol”, o Nhonho usa “tinta tinta” como intervalos harmônicos para cantarolar a canção da ausência. E o que tem de errado? Na Argentina, por exemplo, o ritmo cuarteto, bastante difundido na província de Córdoba, é cantarolado com o tunga-tunga. E aqui? As baladas não tocam música puts-puts?

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Entenda as piadas sem sentido do Chaves: o pirata Alma Negra não sentia muito

Tem coisa melhor do que acordar na casa da sua namorada, ligar a televisão às 11 da manhã e estar passando Chaves em espanhol? Bom... ok, há muitas coisas melhores que isso. Mas a nossa série predileta, em idioma original, seguida de Chapolin... fica difícil encontrar (a parte boa é que minha namorada não lê isso).

Enfim. Deixemos de bobagens e vamos a um fato raro nesta série que tem mudado a vida de pessoa nenhuma. No episódio transmitido naquela manhã fria e de nuvens vulcânicas na Argentina, relembrei uma piada bem sem graça nos episódios de Chapolin e os Piratas, que finalmente teve sentido.

Quando o Alma Negra tenta envenenar o Chapolin com o copo de vinho batizado feito pela taberneira, ambos se sentam à mesa, e o pirata proíbe o Polegar de tomar um suco de laranja (de tamarindo, na versão original). Alma Negra, então, repete "sinto muito", e leva uma paulada na cabeça. Mas por quê? "É... pra doer mesmo, então...", diz o Chapolin. Peraí, como assim? É verdade, olhe você mesmo no vídeo abaixo, a partir de 6:20.



Não é nada disso, meus caros. A cena tem sim graça em espanhol, e baseia-se em um trocadilho originado pela semelhança de pronúncia entre B e V na língua castelhana. Vamos ver?

O Alma Negra havia obrigado o Chapolin a tomar o vinho batizado, enquanto o nosso herói colorado havia recebido o copo de suco da taberneira. Os dois se sentam à mesa, e o pirata exige o copo do Polegar. Em espanhol, assim (ou conforme o instante 7:45 do vídeo abaixo):


- Dame tu vaso
- Qué?
- Que me des tu vaso


E então vem a paulada. Por quê? O Chapolin explica:

- Me dijiste que te diera tubazo!

Lembram-se da piada da escolinha, antes inteligíveis, sobre a ortografia da palavra "bala", se com B grande ou B pequena? Pois então, aí nasce o trocadilho. Como o V tem o mesmo som que o B em espanhol, Tu vaso (seu copo) e Tubazo (tubada) têm a mesma pronúncia. Simples, né?

Bom, já que estamos aqui, esclareçamos outra piada sem sentido. No mesmo episódio, quando os piratas tentam escapar do Alma Negra, a taberneira se exalta: “Não há tempo a perder, vamos fugir”, e o Lagartixa, do nada, começa a uivar como um coiote com frio. Por quê?

A cena, sem o menor nexo em português, ganha um certo sentido em espanhol. A taberneira diz huyamos, o imperativo afirmativo para o verbo huir (fugir) na 1ª pessoa do plural, enquanto o Lagartixa entende aullemos, o imperativo afirmativo para o verbo aullar (uivar) na 1ª pessoa do plural (lembrando que Y e LL têm o mesmo som na América Latina, mas não na Espanha).

No próximo capítulo: qual a diferença entre um tinteiro e a canção da ausência?

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Entenda as piadas sem sentido do Chaves: cozinhando o grude

Essa série de piadas, presente em diversos episódios do Chaves, é realmente difícil de entender. E até mesmo para traduzir, tanto que as improvisações que são feitas para os capítulos dublados saem tão mal quanto o remendo.

Ou vai falar que você sabe logo de cara do que tratam os personagens de Chaves quando resolvem cozinhar uma lata estranha, cujo conteúdo recebe o nome de grude e que causa diversos mal-entendidos na Vila? Pois é, eu também não sabia. E demorei a descobrir, porque sempre pensei que se tratava de um falso cognato. Só que conseguimos, caros (dois, talvez três) leitores, revelar mais um mistério.

Se quiser usar alguma substância pegajosa em algum país hispanohablante, você precisará de quê? Bom... no cotidiano, conversando com as pessoas ditas comuns, você terá que pedir pegamento. Ou, então, adhesivo. Se pedir cola, assim com a maior cara-de-pau para alguém que você não conhece, corre grande risco de apanhar. Ou, na melhor das hipóteses, causar uma grande gargalhada ao interlocutor. Mas por quê?

Ora, meu caro potunholablante, cola, em espanhol corriqueiro, pode significar três coisas: fila (de banco, de caixa e afins), rabo/cauda (de animal, de cometa) ou bunda. Sim, bunda. Já imaginou você ir a uma ferretería e pedir a bunda do cara? Não vai ser muito legal, né?

Daí se aprende outra coisa: colar é um verbo que não existe em espanhol. Se você quiser duas coisas usando alguma substância pegajosa, você tem que pegar. Note, morfologicamente, que os radicais são os mesmos: pegajoso, pegar. Sacou? Mas pegar também pode significar bater. Estranho, né?

Enfim. Cola, para mim, era um dos maiores falso-cognatos entre português e espanhol. Mas, a partir do roteiro de Chaves, descobri outra coisa: que cola, em castelhano, pode sim ser usada para dar nome àquela substância que, em português, usamos para colar (o mais bizarro é que fui buscar a informação no dicionário da Real Academia Espanhola, enquanto no episódio O violão do seu madruga a lata já aparece devidamente etiquetada com a palavra “COLA”).

Seja no dicionário da RAE ou nos episódios de Chaves, cola é uma palavra muito pouco usada para isso (é quase tão comum quanto “grude”, que acabou sendo o termo adotado na tradução. E é daí que surge o mote para as piadas da nossa série preferida. Olha só algumas:

- Seu Madruga cozinha o grude? Não, ele faz a cola. Em espanhol, faz fila.
- O grude do Seu Madruga cheira mal? Ou será que é a bunda do Seu Madruga?
- O Chaves tem que tomar cuidado para não tropeçar no grude? Ou no rabo?
- Seu Madruga paga ao Chaves um trocado para lhe ajudar a mexer o grude? Não, para ajudar a mover a bunda. Rebolar, digamos.

Confira só, nas versões em espanhol de Seu Madruga carpinteiro (abaixo, embedado) e de O violão do Seu Madruga:

terça-feira, 31 de maio de 2011

Entenda as piadas sem sentido do Chaves: maleta não é muleta

Retornamos à nossa programação aleatória, depois de longa pausa forçada por pura preguiça de tentar conciliar horários de trabalho, sono e estudos sobre o Chaves (que não me levarão a lugar algum, mas que vêm mostrando uma grata e surpreendente resposta positiva). Vamos lá, moçada?

Ok, admito que faltou assunto para escrever, mas a fonte ainda não secou (quem sabe mais pra frente?). Só que me lembrei de uma piada que nunca fez sentido e que era uma lacuna na divertida série da viagem Guarujá-Acapulco. Afinal, por que maleta não é muleta?

Toda essa confusão se dá quando o Professor Jirafales chega com as maletas prontas e pede para o Chaves colocá-las sobre a escada. Ele, atônito, senta-se nos degraus que levam ao misterioso apartamento da Paty e é repreendido. Mas por quê?

Relembremos o diálogo (a partir dos 5:55 do vídeo abaixo):

Professor Jirafales: Estou falando das minhas maletas!
Chaves: Eu sentei lá pra ver se eu precisava de muletas.
Professor: Eu estou falando das malas. Não sabe o que são maletas?
Chaves: Ah, sim, maleta não é muleta. Maleta é maleta.



Ahn, peraí? Como assim?

Pra variar, fui conferir na versão original, no vídeo embedado aí abaixo. E, na verdade, tudo se dá por um mal entendido do uso do mexicano vulgar. Olha só (a partir de 14:30):



Na verdade, toda a cena gira em torno de um termo já citado aqui: petacas. Petaca, no México, é utilizado como sinônimo (grande ou pequeno) para malas. No plural, contudo, há um duplo significado: petacas pode significar tanto “malas” como “bunda”, em uma tradução livríssima. E acho que isso já explica tudo, não é mesmo?

Mas e quanto à explicação que o Chaves dá de “maleta não é muleta, maleta é maleta?”, o que ele estaria falando em espanhol? Na verdade, o Professor Jirafales neste caso se refere pela primeira vez ao termo maletas, e pergunta se o garoto do 8 sabe o que são maletas. “Os árbitros de futebol”, responde, de bate-pronto. Em espanhol, diga-se, maleta significa, de maneira vulgar, uma “pessoa que exerce mal a própria profissão”.

E outra coisa: quando o Professor explica ao Chaves que os dois objetos são mala ou maleta, o menino solta um trocadilho, digamos, infame. “Há mala que vem pra bena”. Não, isso não tem explicação na versão espanhol. Imagino que deva ter sido apenas alguma brisa bem insana da tradução.

E aí chegamos.

Foi bom voltar, vai. Eu admito.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Entenda as piadas sem sentido do Chaves: a biscavó da Chiquinha

Eu tenho vergonha das coisas em que penso antes de dormir. Não por serem despudoradas, moralmente incorretas, mas simplesmente por se tratarem de... coisas totalmente sem nexo. Por exemplo: ontem, não consegui tirar da minha cabeça até pregar os olhos em uma piada que passa bem desapercebida nas falas da Chiquinha quando diz sobre sua bisavó. Segue abaixo.

Em dado momento da série, a Chiquinha diz que chama a Dona Neves de “biscavó”, enquanto a venerável anciã se refere à filha do seu madruga como “biscaneta”. Alguma explicação para isso? Sim, meu caro! Sim, nós temos – e não tem nada a ver com “biscates”, seu pervertido!

No próprio episódio mencionado no último post, quando o Chaves se prepara para ler a carta que Dona Neves havia enviado à vila, temos a explicação da piada. A Chiquinha, cujas lentes dos óculos tinham se quebrado, preferiu não ler a mensagem porque “poderia até ficar vesga”. E aí está a explicação de todos os nossos problemas.

Em espanhol, a palavra correspondente a “vesgo” lembra ligeiramente à que temos em português, embora, aparentemente, apenas uma letra seja igual: a letra o. De resto, o v dá lugar a um b (mas já vimos anteriormente que as duas letras têm o mesmo som em espanhol), trocamos e por i, o s vira um z (os fonemas também são iguais na América Latina, enquanto na Espanha z e c ganham uma pronúncia sibilante) e o g transforma-se em um c: VESGO, em espanhol, é BIZCO.

E a pequena Chiquinha tem problemas em falar “bisavó”, assim como toda criança certamente se embanana com uma ou outra palavra por aí. E chama Dona Neves de biscavó. Em espanhol, “biscabuela”. Algo que soa como “vovó vesga”.

Matamos mais uma, aguardemos qual outra ideia inútil vai passar pela minha cabeça para o próximo post.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Entenda as piadas sem sentido do Chaves: Dona Neves não tinha um mico que iria votar

Retomando nossa saga após o feriado (e uma data que, curiosamente, me deixa um ano mais velho), esclareceremos um dos maiores mistérios do Chaves: a bisavó da Chiquinha estava com um mico que iria votar. Ou pelo menos era isso que o nosso carismático menino do 8 lia na carta que a Dona Neves enviava para a Chiquinha.

O não muito divertido personagem da Dona Neves chegou à vila em 1979, no mesmo episódio em que o carteiro Jaiminho faz suas entregas na vila, na primeira temporada sem Seu Madruga e Quico – para muitos (ou pelo menos para mim), responsáveis pelos episódios menos divertidos da série. Mas não há como negar que as trapalhadas originárias pela leitura do Chaves. Assim como fizemos com a leitura da Chiquinha ao Seu Madruga, transcreveremos aqui as quatro versões das missivas: em português e em espanhol. Vamos lá.




Carta lida pelo Chaves

Tá loca, está onde México? Aqui, sim, desgosto. Oitenta e cinto. Que dirá Chiquititinha. Li sucata onde e na alergia eu sentei pela loucura, tô com um mico que vai votar.

Carta original

Toluca, Estado do México.
A 15 de agosto, 85.

Querida Chiquititinha,

Li sua carta ontem e, na alegria que senti pela leitura, te comunico que vou voltar.

Agora partimos para a versão espanhol, que pode ser conferida no vídeo original abaixo, a partir dos 12:00.



Carta lida pelo Chaves

Ta loca, está dónde México? Aquí sede a gusto. Se tienta y no ve. Que dirá, Chilindrinita? Ley tocar taller. Ya la regó su hijo natural de su locura té común y comí re grueso.

(Tradução, muito da perrengue. Nem minha namorada argentina conseguiu encontrar um significado plausível para “ley, tocar, taller” e nem para “té común y comí re grueso”). Tá louca, está onde México? Aqui há lugares de sobra para morar. Tenta-se e não se vê. Que vai dizer, Chilidrintita? Lei, tocar, palestra. Já lhe ferrou seu filho natural de sua loucura. Chá comum e comi muito grosso.

Carta original

Toluca, Estado de México.

A quince de agosto, setenta y nueve. Leí tu carta ayer, y al regocijo natural de su lectura te comunico mi regreso.

Toluca, Estado do México, a 15 de agosto de 1979. Li sua carta ontem, e na satisfação natural da leitura te comunico meu regresso.

Cá entre nós? A dublagem em português salvou a piada.

A seguir: Por que Dona Neves era a biscavó da Chiquinha

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Entenda as piadas sem sentido do Chaves: porque o nariz é a Espanha

Essa nunca foi muito bem digerida por nós, Chavesmaníacos, não é mesmo? No episódio O castigo vem a cavalo, quando o Professor Jirafales toma a cabeça do Seu Madruga como exemplo da Terra e sugere que o nariz é a Espanha, o Chaves trata de explicar rapidamente ao Quico o porquê da escolha do Mestre Lingüiça: o nariz é a Espanha porque lá há crianças, e as crianças têm nariz escorrendo (a partir dos 5:00 do vídeo abaixo).



Hummm... podemos ler, reler e reler, assistir, repetir e repetir quantas vezes quisermos, não vamos encontrar uma explicação engraçada para essa piada. A resposta que muitos de nós já buscamos vem apenas na dublagem original, mas – já antecipo – também não é lá tão engraçada. De qualquer forma, não estamos aqui para encontrar as únicas cinco piadas ruins de toda a série do Chaves, senão para explicar as diferenças de algumas piadas que, aparentemente, não têm sentido para nós por conta da tradução.

Recorramos ao episódio com o áudio original, em espanhol. O roteiro é quase igual para esta cena, salvo a última frase do Chaves. Em português, como bem sabemos, as falas derradeiras são:

Chaves: “Não seja tonto (ao Quico), o nariz é a Espanha porque na Espanha tem crianças”
Professor Jirafales: “E o que tem que ver as crianças com a Espanha?”
Chaves: “Criança tem nariz escorrendo!”

Literalmente, a tradução seria esta. Entretanto, um detalhe (importante? nah, nem tanto) talvez não tenha sido levado em consideração: os regionalismos do espanhol – visto que um idioma falado em 21 países, obviamente, trará uma infinidade de gírias que não são aprendidas nos livros e nem nas aulinhas básicas de idioma.

E aí chegamos: à fala final do Chaves, decisiva para essa piada. Confira abaixo, após os 4:00.



Si a los niños les dicen mocosos”, explica o Chaves. Em uma tradução baseada no dicionário, teríamos algo mais ou menos assim: “Se às crianças eles dizem nojentos”, ou, então, “Se às crianças eles dizem ranhentos”, visto que moco nada mais é do que ranho (vulgo catarro), em espanhol.

Mas... lembram-se dos regionalismos? Pois então... na Espanha, é bem comum dizer mocoso às crianças pequenas – assim como na Argentina podemos dizer nene, pibe, chiquillo, pendejo (esta bastante usada em toda a América Latina. Contudo, denominação mais curiosa possuem alguns países da América Central: carajito. Bom... deixa pra lá, né?

Mas resumamos: a piada é o fato de que, na Espanha, as crianças são chamadas de “ranhentas”, e... bom, possuem o mesmo catarro que está em nossos narizes, não?

O episódio citado foi gravado em 1976, ainda com as presenças de Quico e Seu Madruga. Em 1979, quando os dois personagens já haviam deixado a série, a piada foi regravada, com o Nhonho servindo de exemplo e a Pópis perguntando o porquê de o nariz ser a Espanha. A piada em espanhol muda ligeiramente, enquanto a tradução em português é bastante alterada.

Em português, o Chaves diz à Popis que o nariz é a Espanha porque lá também haviam meninas – e as meninas também são um buraco (só eu vi malícia e mau gosto nesta piada?). Bom, em espanhol, a piada é muito mais light: porque as meninas também são mocosas.

A tempo de curiosidade: "O senhor sabe o que é uma orelha?", pergunta a Chiquinha ao Professor Jirafales, mas em seguida responde: "Eu sei, mas não vou dizer". Bom, em espanhol ela diz: "Una oreja son 60 minutejos" (seria algo como "uma orelha são 60 minutelhos"). É sem graça, eu sei, mas não custava nada contar, né?

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Entenda as piadas sem sentido do Chaves: o Chaves não queria o cata-vento da Chiquinha

Lembram-se de quando a Chiquinha pegou catapora? Na verdade, tudo começou como uma mentira contada pelo Seu Madruga para não pagar o aluguel ao Senhor Barriga. Mas a menina aproveitou a história para cabular a aula, e o boato teve que ser confirmado para que engambelar o dono da vizinhança.

Neste momento, em que o Seu Madruga reafirma a catapora da Chiquinha perante o Senho Barriga, o Chaves é o único que não tenta escapar do contágio e pede para visitar a amiga. O motivo? Ele queria um cata-vento emprestado. Olha só, a partir de 2:00:



Mas não é bem assim. Em primeiro lugar, a Chiquinha não havia pegado e nem iria contrair a catapora. A enfermidade que ela teria era a varíola, bem diferente (e mais grave) da varicela, apesar do nome semelhante – daí temos a explicação do choro forçado do Seu Madruga, em decorrência da gravidade da doença. Expliquemos, mas antes vamos aproveitar para ver este mesmo momento do Chaves em espanhol, a partir de 1:35.



Como foi dito, a Chiquinha tinha viruela. E o faminto Chaves, na verdade, queria outra coisa: uma ciruela. E o que seria isso? Simplesmente uma ameixa (aproveitando: notem que, nesta cena, assim que o Chaves faz o trocadilho com as palavras bem semelhantes, o Seu Madruga mal consegue segurar o riso.

Nesta mesma hora, neste mesmo canal: a Dança das Horas não é de Tchaikovsky

domingo, 17 de abril de 2011

Entenda as piadas sem sentido do Chaves: porque o Nhonho é nerd

O imensurável sucesso que Chaves tem no Brasil fez com que Nhonho se tornasse um dos apelidos prediletos mais comuns nas escolas primárias para meninos gordinhos vítimas de bullying. Mas, pobres gozadores, mal sabem que estão apenas mostrando uma ignorância em relação ao idioma espanhol quando proferem tais impropérios (mas seria pedir muito que crianças de 7 a 15 anos tenham tal conhecimento, não? Enfim...)

Eu, admito, tive que ouvir algumas vezes algum engraçadinho me chamando de Nhonho, visto que costumava ser (bem) gordinho até meus 15 anos de idade, quase 16, quando resolvi perder 30 quilos fechando a boca. Mas voltei a escutar tal xingamento de minha namorada, e no mesmo momento deixei o tom de brincadeira para perguntar o que ela queria dizer quando me chamou de ñoño.

Manteremos aqui o sigilo de nossas conversas e recorramos a uma definição mais embasada, da Real Academia Espanhola:

ñoño, ña.

(Del lat. nonnus, anciano, preceptor, ayo).

1. adj. Dicho de una cosa: Sosa, de poca sustancia.

2. adj. coloq. Dicho de una persona: Sumamente apocada y de corto ingenio.

3. adj. ant. Caduco, chocho.


Ou seja: “ñoño”, que vem do latim, significa algo insosso, de pouca substância; uma pessoa muito tímida ou de pouca inteligência, ou (em uma versão mais arcaica) alguém caduco.

Então, o que temos? O Nhonho não era chamado de Nhonho porque era gorducho, mas sim porque era meio bobo – puxa-saco do Professor Jirafales, que respondia tudo o que lhe era perguntado na aula (algumas vezes dizia uma ou outra bobagem, mas acertadamente na maioria das vezes), um tanto retraído em relação a Chaves, Quico e Chiquinha (lembrem-se de que ele tinha vergonha de fazer calistenia).

Mistério resolvido, próximo passo: o Chaves não queria o cata-vento da Chiquinha

sábado, 16 de abril de 2011

Entenda as piadas sem sentido do Chaves: o que é a carabina do Ambrósio



“A trompa de Eustáquio e a carabina do Ambrósio, no fim já quebrei todos eles” é uma frase mais do que clássica para todos os viciados em Chaves, como a minha pessoa. Só que a minha curiosidade (inútil, como todos sabemos) me fez ir atrás de como seria essa piada em espanhol. E não é que é praticamente a mesma coisa? Bom, com uma certa diferença, que reside em uma expressão típica mexicana.

Tudo acontece no episódio “Clase de ciencias naturales”, a partir do instante 5:22 do vídeo abaixo.



Perceberam? A piada é exatamente igual, exceto pelo que diz o Chaves ao Professor Jirafales em seguida: al cabo usted se cree todo, ou algo como “no final o senhor acredita em tudo”. Pois bem, aí temos algo. Vamos lá.

Na variante mexicana do espanhol, é uma gíria relativamente comum dizer que “carabina de Ambrósio” como sinônimo de alguma coisa inútil. E por quê? Ok, minha veia investigativa foi muito mais além do que eu esperava e encontrei algo mais ou menos assim:

Em idos do século retrasado, diz-se que havia um tal senhor chamado Ambrósio que ficava nas estradas esperando para fazer seus assaltos, com sua carabina em mãos. Mas, em vez de usar balas e pólvora, usava sementes. Agora note isso: as sementes eram de cânhamo – ou seja, maconha. Ser alvejado por um tiro de maconha não te mataria, imagino, mas poderia causar certos efeitos colaterais.

Bobagens à parte, aí temos por que a carabina do Ambrósio não serve para nada – afinal, não mataria ninguém. Por isso, talvez, o Chaves imagina que o Nhonho não está dizendo nada de construtivo com “Trompa de Eustáquio” e que o Professor Jirafales está acreditando em qualquer bobeira dita pelo filho do Seu Barriga.

Entendido, amiguinhos?

Em tempo: no mesmo episódio, a Chiquinha diz em dado momento a palavra "diferência" e é corrigida pelo Professor Jirafales. Pois em espanhol o que ela diz é diferiencia, sendo que o correto em castelhano seria diferencia. Acontece que as ditongações são muito comuns em espanhol, e confundem a crianças e a estrangeiros que aprendem o idioma, como eu. Por conta da arbitrariedade da regra das ditongações, se diz huevo (ovo) e muero (eu morro) e não se diz Cuepa del Mundo para Copa do Mundo e muito menos Cueca-Cuela para a Coca-cola.

Em seguida: por que o Nhonho é nerd?

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Retornemos à nossa programação normal

Descobri que em um shopping de Córdoba, Argentina, ao lado da casa da minha namorada, estavam vendendo DVDs triplos do Chaves (em espanhol) por 60 pesos argentinos, algo em torno de R$ 25. Óbvio que tirei uns dias, encontrei uma passagem aérea com super desconto (apesar de durar 14 horas e passar por cinco aeroportos) e fui enriquecer meu acervo de Chaves.

Agora, pode respirar aliviado, chavesmaníaco. Estamos de volta, e teremos mais novidades nos próximos dias.

Y-hey!

terça-feira, 5 de abril de 2011

Entenda as piadas sem sentido do Chaves: porque o Seu Madruga não gosta do número 41

Sabe aquele episódio dado como perdido, em que Chaves e Quico fazem uma pichorra (vulgo piñata) e tudo mais? Pois então... há um momento em particular que poderia passar desapercebido por esta série, mas acabou despertando minha curiosidade por conta de uma raiva inexplicável do Seu Madruga. Fui atrás e veja só o que temos, a partir dos 3:54 do vídeo abaixo:



Logo na primeira parte do episódio, quando Quico e Chaves passam o maior dilema por conta de um papel que ficava colado em suas mãos, aparece o Seu Madruga reclamando da demora dos garotos para confeccionar a tal pichorra. E lhes chama a atenção: “Sem pichorra não tem festa”.

A bronca do Seu Madruga não cai bem ao Quico, que reclama: “Ai, já são 40 vezes que diz a mesma coisa!”. O pai da Chiquinha, então, repete sua fala e se irrita quando o Chaves o avisa de que com aquela já eram 41. Agora... por que a raiva?

Aí explicamos, com algo que vai mais além da barreira português-espanhol. Essa já tem mais a ver com algo da cultura mexicana, a partir da história do único país latino da América do Norte. O fato é que o número 41 possui uma relação extremamente próxima com o 24 para nós: ligado a homossexuais.

Bom, comecemos antes pela nossa razão: nada mais simples que o jogo do bicho, visto que o veado era o 24º animal daquela cartelinha com 25, que provavelmente todos nós já recebemos ou vimos por aí. Já no México a razão é mais complexa.

Durante o governo de Porfírio Diaz (entre 1876 e 1911), a polícia da Cidade do México resolveu fazer uma prisão em massa de homossexuais e, em uma festa, deteve 41 “suspeitos”. A notícia foi dada pelos jornais desta maneira, mas, ao saber que um de seus genros estava entre os detidos, o presidente ordenou que a imprensa divulgasse que haviam sido 40 os presos homossexuais.

Só que as erratas dos jornais não colaram, e no México começou a piada. Sempre que queriam sacanear com algum amigo, perguntavam: “Ei, você que é o 41?”. O número ganhou tal conotação que nenhum atleta gosta de utilizar tal número estampado em suas costas em qualquer competição esportiva.

Mistério resolvido?

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Entenda as piadas sem sentido do Chaves: a tia da Chiquinha não desentupiu o umbigo

Vai falar que as leituras do Chaves não estão entre os momentos mais engraçados de todas as séries? Eu sei, eu sei... talvez seja, até, quando damos mais risadas. Por isso, antes mesmo de idealizar esta série de buscas por diferenças entre as piadas originais em castelhano e as adaptações feitas na dublagem para o português, acabei procurando como era a carta que a Chiquinha mandou para o Seu Madruga quando decidiu voltar à vila. Era assim, lembra?



Carta lida pelo Chaves

Presente para o dente,

Papa querino, eu passei toda a semana tomando. Na epidemia de panças indigestas. Porcas, guaranás e bombas de bois. Ontem de manhã minha tia desentupiu o umbigo. E tudo isso porque eu sempre faço fofó. É só médio ruiva. Então eu tive uma ideia: procurei minha tia e lhe parti. Disse a ela que meu pai é saúvo (...). Irá me levar o cai pra trás. Eu vou chegar casada com o velho.

Carta original da Chiquinha

Presidente Prudente,

Papai querido,

Eu passei toda a semana tomando aulas de dança na Academia de Danças Indígenas: polcas, guarangas guarânias (agradecimento ao leitor Victor 235!) e bumba-meu-boi.

Ontem de manhã minha tia discutiu comigo. E tudo isso porque eu sempre faço fofocas. Isso me deu raiva. Então eu tive uma ideia: procurei minha tia e lhe participei. Disse a ela que meu pai é viúvo. E como viúvo é um homem que não tem apoio material. E como vive só eu quero voltar com ele, e minha disse que está bem.

Irá me levar o capataz. Eu vou chegar em casa com o velho.

Mas... opa, vamos ver como é que são as duas versões em espanhol? Dessa vez não será preciso fazer nenhuma explicação sócio-étnico-histórico-cultutal entre México e Brasil, confira e interprete você mesmo:



Carta lida pelo Chaves

Si halla Juan al gato.

Papa cuerito,

Toda la semana me la pasé tomando. En la epidemia de panzas indigestaditas, tengo guaraches y piso el doble. Ayer en la mañana mi tía se mojó el ombligo, y todo no más porque yo siempre me hago la chis. Esa medio rubia. Entonces tuve una idea y busqué a mi tía y se la partí. Le dije que mi papá es beodo y como vive solo yo me quiero regresar con él, y mi tía me dijo que está bien. Me va a llevar el mayor mono. Pero voy a llegar casada con el viejo.

(Tradução: Se Juan acha o gato. Papai courinho, toda a semana eu passei bebendo. Na epidemia de panças indigestinhas, tenho guaraches [NT: uma sandália de couro bem feia] e calço o dobro. Ontem de manhã minha tia mlhou o umbigo, e tudo porque eu sempre me mijo. Essa meio loira. Então tive uma ideia: procurei minha tia e acabei com ela. Disse-lhe que meu pai é bêbado. O macaco velho me vai levar, mas vou chegar casada com o velho)

Carta original da Chiquinha
Celaya, Guanajuato.

Papá querido,
Toda la semana me la pasé tomando clases de baile en la Academia de Danzas Indigenistas. Tango, guarachas y pasos dobles.

Ayer en la mañana se enojó conmigo y todo nomás porque yo siempre me hago la chistosa. Y eso me dió rabia. Entonces tuve una idea: busqué a mi tía y se la participé. Le dije que mi papá es viudo, y como vive solo yo me quiero a regresar con él, y me tia dijo que está bien. Me va a llevar el mayordomo y voy a llegar cansada con el viaje.

(Tradução: Papai querido, toda a semana eu passei tomando aulas de dança na Academia de Danças Indígenas. Tango, guarachas e passos duplos. Ontem de manhã minha tia ficou brava comigo, e tudo porque eu sempre me faço de engraçadinha. Isso me deu raiva. Então tive uma ideia: procurei minha tia e lhe comuniquei. Disse que meu papai é viúvo, e como vive sozinho quero voltar com ele, e minha tia disse que está bem. Vou voltar com o caseiro e vou chegar cansada com a viagem)
A seguir: sabia que o Seu Madruga não gosta do número 41?

domingo, 3 de abril de 2011

Entenda as piadas sem sentido do Chaves: porque o futebol era a principal atividade indígena

Vamos lá, esta é bem simples e não requererá muito esforço de minha parte e você(s?) não perderá muito de seu precioso tempo lendo tanta baboseira. Alguém que já tenha prestado atenção nos últimos anos em partidas da Copa Libertadores da América pode ter decifrado tal enigma sem muito esforço. Ou, na verdade, alguém que tenha visto a primeira versão do episódio em questão.

Nos sempre engraçados episódios da turma do Chaves na escola, vira e mexe sobra alguma piada perdida seja na tradução espanhol-inglês ou em aspectos sócio-culturais-históricos entre México e Brasil. Pois bem.

Aposto que você se lembra muito bem de quando o Professor Jirafales pergunta qual era a principal atividade indígena, no episódio Aula de História, não? Sem titubear, o Godines responde que eram as partidas de futebol. Por sua vez, o Mestre Lingüiça explica que não estava falando do Corinthians nem do Flamengo. Ahn, como assim? Repare só, depois dos 5:20 do vídeo abaixo.



Na verdade, toda a explicação para essa piada está em outro episódio, gravado anteriormente, chamado “O castigo vem a cavalo” – aquele em que os pais dos alunos reprovados vão à aula, e possui praticamente as mesmas piadas acerca da aula de história. Neste capítulo, o Professor Jirafales pergunta qual era a principal atividade asteca e quem responde “futebol” é o Quico. Na hora, o mestre explica que não está falando do estádio dos astecas (depois dos 3:07 do vídeo abaixo)


Faz falta explicar que o futebol, dizem, foi criado pelos ingleses no século 19? E que o período de povoamento e governo da tribo em grande parte do território hoje compreendido pelo México se deu entre os séculos 14 e 16? Bom, sem querer acabei dizendo. De qualquer maneira, isso prova, historicamente, que seria impossível o povo de Tenochtitlan praticar o futebol.

Mas o bochechudo do Quico não está de todo equivocado. Sabe qual é o nome do maior estádio do México? Pois é... o Estádio Azteca, localizado na Cidade do México e com capacidade para mais de 100 mil pessoas. Incrível, não?

O Azteca, casa de América e Necaxa, foi construído para a Copa de 1970, e em 1997 foi comprado pela Televisa (parêntesis: isso realmente me chocou, afinal... alguém já imaginou um estádio de propriedade da Globo?) – é verdade, o maior canal de televisão no México. Na época, a emissora tentou rebatizar a arena para Guillermo Cañedo, a fim de homenagear um ex-executivo da Televisa. A população recusou, e o nome Azteca foi mantido.

Já que citamos a piada da principal atividade asteca, em um episódio que não é exibido no Brasil, feito já na década de 1980 (todos que o SBT transmite são de 72 até 79). Nele, o Professor Jirafales pergunta para a sala o que é o cosmo. O Godines se prontifica a responder e, sem pensar muito, solta essa: um time de futebol onde jogou o Pelé. Rá!



sábado, 2 de abril de 2011

Entenda as piadas sem sentido do Chaves: as máquinas de lavar não eram Volkswagen

Lembra(m)-se de quando a Pópis vai à lousa explicar a importância de lavar a roupa, em uma aula de higiene no episódio “O último exame”? Ela explica que é preciso molhar, enxaguar e secar, escreve as inicias de cada passo na lousa e, no final, o Chaves mostra que todo esse tutorial da prima do Quico se transforma em um porquinho? Pois então, aí temos um problema até certo ponto relevante na tradução.

Nada de errado em molhar, enxaguar e secar, pois as letras iniciais dessas palavras em espanhol se mantêm: mojar, enjaguar, secar. Tudo bem, até a hora em que a Pópis precisa desenhar as patinhas daquilo que se transformaria instantes depois em um porco.



Como você pode ver a partir do momento 5:45 do vídeo acima, a explicação fanha da Pópis em português é: “mas agora suponhamos que a lavadora seja Volkswagen, então colocamos um dablo aqui e outro dablo aqui”. Opa, opa, opa! Duas coisas importantes: até onde eu sei (e corro grande risco de me equivocar por ter apenas 23 anos recém-completos), a Volkswagen não produz máquina de lavar roupas! E segundo, escreve-se Volkswagen, não Wolkswagen, Pópis!

Além disso, o Professor Jirafales insiste para que a Pópis aprenda a pronúncia correta do W: se diz dábliu, e não dablo. Ok, até aí certo. Mas por que ele não corrigiu o fato de Volkswagen não levar dois W e, assim, estragar a piada do porquinho. Ora! Porque, em espanhol, a piada é outra!

Chegamos, agora, no áudio original. A Pópis, em nenhum momento, menciona a marca da máquina de lavar. O que ela supõe é que a roupa seja Wash and way. Ahá! Agora sim temos alguma coisa: wash, way... olha só, duas letras W! Perfeito!

Humm... nem tanto, nem tanto. O Professor Jirafales trata de explicar para sua aluna que o correto não é wash and way, mas wash and wear. Que significa? Um tipo de roupa que não precisa ser passada antes de usar. Ahhh! Aí sim temos o porquinho perfeito, sem nenhuma letra P (de planchar, que é o verbo que se usa para passar a roupa em espanhol) que atrapalhasse o Chaves na hora de visualizar um porquinho!

Nessa mesma hora, nesse mesmo canal: Por que o futebol era a principal atividade indígena?

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Entenda as piadas sem sentido do Chaves: Juleu não era palmeirense

Para mim, é uma das melhores cenas do Chapolin: a serenata que nosso super-herói gafanhoto ajuda o apaixonado Juleu a fazer uma serenata a Romieta, sua paixão, na adaptação do Chespirito para Romeu e Julieta.

Os dois episódios do conto possuem dois fatores super engraçados: a rivalidade entre a família Montesco com os Capuleto impede que Julieu e Romieta fiquem juntos. O motivo? Matança à parte entre os clãs, o maior impedimento se dá porque os Montesco torcem para o Palmeiras e os Capuleto, para o América. Olha só, instante 3:30.



Opa, mas... peraí, América? América-RJ, América-SP, América-RN, América-MG…? Não dizem, mas se referem ao América do Rio de Janeiro. Por quê? Ora, porque os episódios de Chaves e Chapolin chegaram ao Brasil numa época em que a equipe carioca não estava na draga atual (em 1986, por exemplo, o time chegou até a ser 3º colocado do Brasileiro).

Ainda assim, não há sentido para um palmeirense ter rixa com um torcedor do América, não é mesmo? Como palmeirense, digo que não. O problema é que, na versão em espanhol, de fato dizem América – no caso, América do México, uma das mais importantes de lá e frequentemente mencionada nos episódios de Chaves e Chapolin. No caso, os Montesco não torciam para o Palmeiras, senão para o Chivas Guadalajara.

Só que a parte mais divertida, mesmo, é a da serenata. E bom, me dei ao trabalho de decifrar quais músicas o Chapolin ameaça cantar até ser interpelado pelo Juleu – na versão dublada, apenas traduziram as músicas. As originais são essas: Perdón (valeu demais pela ajuda providencial, Elizabeth Pereira!): El piojo y la pulga (uma infantil bem bonitinha) e Qué culpa tienen nos bueyes (“Que culpa têm os bois”, e não “que culpa tem o cachorrinho”)

Mas a mais legal, mesmo, é a última. Aquela, que começa com “Eu sei bem que estou de fora, mas no dia em que eu for embora eu sei que você vai chorar. Choraaaar e choraaaar”. Pois bem. Mostrei para minha namorada (não tão viciada em Chaves como eu), e ela me contou: essa música é a mesma em espanhol, mas trata-se de uma canção mariachi bem conhecida nos países hispanohablantes. Chama-se El Rey, e desde então passou a fazer parte dos meus CDs de MP3 no carro. Brega, pode até ser, mas não tanto quanto a versão do Maná.

Enfim, chegamos ao melhor momento do conto: a música Taca la petaca (algo como... ahn... seria algo do tipo “Faça as malas”, imagino, visto que não sou nem de longe um expert em espanhol mexicano, sobretudo informal), que não chegou a ser traduzida para o português. Melhor, vai. É genial assim em espanhol, mesmo. Ou vai falar que não?



E paremos por aqui. Colorín colorado, este cuento se ha acabado.

Um adendo: Roberto Gómez Bolaños, o autor e ator do Chaves, é mais conhecido no México pelo apelido Chespirito. A razão deste apelido? Shakespeare. Sim, acredite! Ideia do diretor Agustín Delgado, Chespirito é um nome latinizado e um tanto pejorativo para o Bolaños, por conta de seus romances e pelo tamanho (beeeem baixinho). Assim, Shakespeare, Shakespirito, Chespirito...

Amanhã: As máquinas de lavar não eram Volkswagen

quinta-feira, 31 de março de 2011

Entenda as piadas sem sentido do Chaves: amarelo em inglês é jelou

Essa é clássica, e igual trata de dar um nó, daqueles bem atados, nos fãs de Chaves. Ou vai dizer que você também nunca ficou sem entender por que o Nhonho diz que amarelo em inglês se diz “jeeeelooou”, quando o Professor Jirafales lhe pergunta isso na aula de inglês?

Todos nós sabemos (ou pelo menos imagino que sim), que amarelo em inglês se diz yellow. Aportuguesando toscamente, temos um iélou. Mas nada de jelou, como trata de responder o filho do Senhor Barriga. Então, o que diabos ele quis dizer?

Bom, a resposta para isso veio também enquanto eu fazia minha viagem de alguns meses a Córdoba, na Argentina. Lá o Chaves não passa diariamente, nem semanalmente (às vezes, um canal da TV aberta ou outro do cabo resolve colocar em um domingo ou em alguma madrugada aleatória). Com abstinência, decidi ver alguns episódios no meu celular (obrigado, N95, seu lindo!), e a curiosidade me fez buscar por capítulos com o áudio original.

Este da aula de inglês, salvo engano, foi o primeiro ou o segundo que vi em espanhol. Ainda tentava me acostumar aos diferentes tons de voz dos personagens, mas consegui tirar a limpo essa dúvida que o Nhonho insistia em deixar na minha cabeça.

Então vejamos o vídeo em espanhol, neste vídeo abaixo após os 2:56.




Aaaah,olha só! Não é que o Nhonho, em espanhol, fala yellow perfeitamente? E bom... o próprio Chaves trata de explicar a piada na sequência, mas reforço caso não tenha sido entendido.

Em espanhol, “gelo” se diz hielo – que, convenhamos, possui um som bastante parecido a yellow. Para manter mais ou menos a piada intacta na versão em português, a tradução tentou fazer o yellow do Nhonho ficar parecido a “gelo”. Resolvido o mistério, mais um ponto pra gente.

Ainda em tempo, só um detalhe irrelevante (sim, mais irrelevante do que essa série toda que me empenho em escrever): o Chaves dá risada do Nhonho, diz que o gelo não é amarelo, mas branco. Isso se mantém no espanhol. A diferença é no sabor da raspadinha mencionada pela Chiquinha: na versão original não de laranja, senão de abacaxi (piña na maioria dos países hispanohablantes, ananá na Argentina, na língua guarani, no nome científico da planta (ananas comosus) e... em algum lugar do Brasil? Talvez...

Não perca: as partidas de futebol eram a principal atividade dos astecas? Vejamos...

quarta-feira, 30 de março de 2011

Entenda as piadas sem sentido do Chaves: porque falar inglês é fácil para o Chaves

“É muito fácil, porque é só a gente se lembrar de algum animal e pronto!”, disse, feliz da vida, o Chaves no episódio “Santa ignorância”, segundo a dublagem brasileira. Surpreso, o Professor Jirafales pergunta o porquê da afirmação do Chaves, que não hesita ao responder: “Sim, por exemplo. Para chamar a um menino, em vez de chamar a um menino, chamam de boi”. Pois é, pois é, pois é. Confira no vídeo abaixo, a partir do instante 7:10.



Tem sentido, não é? Mas esse episódio fica ainda mais legal com o som original, com o argumento dado pelo Chaves em espanhol. Lá, na verdade, o inglês não é fácil porque basta lembrar-se de algum animal, senão porque é só dizer as coisas ao contrário. Como assim? Pois bem... entenderemos a partir de uma aulinha básica de conjugação de verbos em espanhol.

Vamos lá. O verbo “ir”, em espanhol, é igual ao português. Contudo, sua conjugação no presente é mais ou menos assim: Yo (eu) voy/Tú vas/Vos (tu, em alguns países) vas/Él, Usted (ele, o senhor) va/Nosotros (nós) vamos/Vosotros (vós) vais/Ellos, Ustedes (eles/vocês) van.

Agora, precisaremos também conjugar no tempo imperativo presente o verbo vir, que em espanhol é “venir”. Fica assim: Tú ven/Vos vení/Usted venga/Nosotros vamos/Vosotros veníd/Ustedes vengan.

Pronto, terminamos nossa aulinha chata de gramática e podemos voltar ao Chaves. Quando o áudio está em espanhol, sua explicação para o inglês ser tão fácil é que basta dizer as coisas ao contrário. Fiz a mesma cara de interrogação que o Professor Jirafales, até que viesse a explicação. Veja você mesmo a partir dos 2:25 do vídeo abaixo, e depois traduzimos.




“Para chamar a um menino, em vez de dizer a ele ‘vem’ (ven, em espanhol), dizemos ‘vou’ (voy)”. E, como já vimos no capítulo anterior que no espanhol o V tem o mesmo som do B, chegamos a “boy”. Simples, não é?

Nosso próximo mistério a ser desvendado será desta mesma aula: amarelo em inglês é “jelou”.

terça-feira, 29 de março de 2011

Entenda as piadas sem sentido do Chaves: porque bala se escreve com B grande

Preste atenção a partir dos 5:32:



Substantivo comum se escreve com letra minúscula, enquanto substantivo próprio vai com letra maiúscula, certo? Bom, foi isso que eu aprendi nos meus primeiros anos de primário e passei a ficar em conflito por conta do Chaves. Afinal, por que o próprio Professor Jirafales diz que bala (ou balaço, em alguns episódios) se escreve com B grande?

Fato é que o Mestre Lingüiça afirma isso com tal propriedade que passei quase duas décadas sem entender a piada. E até mesmo a emenda dada, ora pela Chiquinha e ora pelo Seu Madruga, não ajuda muito. Eles dizem que tal palavra pode sim ser escrita com B pequeno, desde que seja uma bala pequena. Porque, afinal, se a bala é pequena é calibre .22, e 22 se escreve com v pequena. Certo? Em partes...

Esse mistério que tanto me perseguiu durante infância e adolescência só veio a ser desvendado na primeira vez que saí com minha atual namorada, argentina. Conversávamos acerca das peculiaridades da língua espanhola (que belo papo pra seduzir uma garota no primeiro encontro, não é mesmo?) quando vimos uma placa com alguma palavra em questão com a letra V. Não lembro agora qual é.

Foi quando eu percebi que a letra V, em espanhol, tem som de B – e o B segue tendo o som de B. Até aí nada de muito revelador, correto? Pois bem... alguns dias se passaram, meus assuntos de conversa com minha atual namorada melhoraram e comecei meu curso de castelhano em Córdoba. Antes, havia lido em algum desses livros “aprenda espanhol em 20 minutos” que a letra V se chama “uve”, e a B, “be”.

Bom, talvez seja verdade se formos ao espanhol perfeito. Mas, na Argentina, o B é conhecido como “be larga” e o V, “be corta” – afinal, o B minúsculo é maior do que o V minúsculo. Prova: b v. Quem ganhou? No México, país onde o Chaves foi produzido, a nomenclatura é semelhante. B é “be grande” e V, “be chica”.

Agora sim estamos nos aproximando de um entendimento, correto? Agora, para nos acercarmos ainda mais, outra explicação: essa semelhança de sons entre B e V causa muita confusão em quem fala espanhol nativo, e na hora de escrever é bem comum ver palavras que vão com V aparecerem com B, e vice-versa. Daí a pergunta do professor e a confusão do Chaves.

Vamos matar de vez essa questão? Bala se escreve com B, também conhecida como B grande no México. Agora voltemos à emenda da piada: se a bala for pequena é calibre .22, e 22 se escreve com B pequena. Ora veja: vinte e dois, em espanhol, é veintidos. Veintidos se escreve com V, ou seja, a famosa B chica.

Elementar...

No nosso próximo episódio: Por que inglês é tão fácil para o Chaves?

segunda-feira, 28 de março de 2011

Entenda as piadas sem sentido do Chaves: Chaves não queria ver o filme do Pelé

O episódio Día en el cine foi ao ar no México em 1979, mesmo ano em que Pelé e Carlos Heitor Cony lançavam o filme Os Trombadinhas no Brasil. Ora, nada mais justo que a história produzida pelo Rei do Futebol chegasse logo no único país latino da América do Norte e se tornasse uma febre, a ponto de o Chaves querer vê-la mais do que tudo.

Mas não, meus caros. O Chaves não preferia ter ido ver o filme do Pelé. Nada contra o nosso camisa 10, que inclusive fez história no México no tricampeonato da Copa de 1970, mas a fala que ficou famosa no Brasil de “Teria sido melhor ter ido ver o filme do Pelé” nada mais era, na versão original, do que uma auto-propaganda de Roberto Gómez Bolaños. Tudo será explicado, mas cheque que digo a verdade assistindo a este vídeo:



Em 1979, ano em que a série Chaves perderia o importante personagem Quico – e mais tarde também veria Seu Madruga deixar temporariamente o programa –, Bolaños lançava um de seus filmes: El Chanfle, cujos atores são todos das séries de Chespirito. Além do mais, é uma das poucas vezes em que Ramón Valdés (Seu Madruga) e Carlos Villagrán (Quico) atuam com Raúl Padilla, que mais tarde chega à vila como o preguiçoso carteiro Jaiminho.

Em um enredo do tipo lição de moral de El Chanfle, o filme relata a história de Chanfle um fictício e desastrado roupeiro do América do México, que recebe um salário baixíssimo. Casado há nove anos, afundado em dívidas e sem conseguir engravidar sua esposa, ele mantém a esperança de conseguir ter seu filho – sonha que será Chanfle Segundo, um craque do futebol mundial – e, apesar dos problemas financeiros, não deixa que ninguém obtenha vantagem passando por cima do outro (sim, fui atrás e assisti ao filme).

Agora, retornemos à série da vila. No episódio em espanhol, o Chaves jamais menciona o Pelé. Em todo o momento, na verdade, repete: “hubiera sido mejor haber ido a ver la película El Chanfle. Ou seja, seria melhor ter ido ver o Chanfle. Pelé? Naaah!

Aliás, lembrem-se de que neste episódio o Chaves menciona que Seu Madruga parecia muito a um personagem do filme, um treinador de futebol com cara de chimpanzé reumático? Isso é verdade, se as crianças foram ver El Chanfle em vez do filme do Pelé: no filme de Chespirito, Ramón Valdés interpreta a um técnico, chamado Moncho Reyes.

Nota importante: este é o primeiro episódio do Chaves após a saída de Quico, e é a única vez em que o bochechudo é mencionado na sequência da série. Dona Florinda, perguntada por que foi com Chaves e Chiquinha ao cinema e não com seu filho, responde: “Não se lembra de que meu filho foi morar com a madrinha rica dele? Ele não já não podia mais conviver com toda essa gentalha”.

Mas cá entre nós? Mudanças à parte nas traduções, genial o trabalho feito pelos estúdios Maga, que dublaram Chaves para o português. Seria tremendamente sem graça ouvir a todos da série comentando acerca de um filme que não conhecemos. Querendo ou não, “Seria melhor ter ido ver o filme do Pelé” faz parte do vocabulário de muitos por aqui.

Aguarde: por que bala se escreve com B grande?

domingo, 27 de março de 2011

Entenda as piadas sem sentido do Chaves: porque Colombo era a pipa da Chiquinha

Veja este vídeo a partir do instante 5:00.



Chiquinha: “Viu, Chaves, meu pai sabe fazer barquinhos! E outro dia ele fez uma pipa, não foi?”
Seu Madruga: “Eu fiz uma pipa enorme, tive que colar com um colão, um colão de primeira!”
Quico: “Quem foi Colombo?”
Chaves: “A pipa da Chiquinha, você não ouviu aqui!?”

Então Colombo era a pipa da Chiquinha? Bom, não exatamente, mas o final da piada no Chaves dublado é igual à do Chaves em espanhol. Entretanto... em castelhano é mais engraçada, tem mais sentido. Por quê?

Aprendi essa quando saí com minha namorada na Argentina no início da minha odisséia em busca de um par novo de tênis. Sou chato, gosto de algum tênis que seja diferente, porém discreto. Geralmente a linha urbana da Adidas me cai bem, mas os últimos modelos não me chamaram a atenção. Então saímos para procurar no mais conhecido shopping de Córdoba, o Patio Olmos.

Lá fomos a lojas Adidas, Nike, Puma, de esportes em geral e não gostei de nenhum dos pares que havia lá. Não, mentira. Tinha um Reebok bem legal, mas não do meu número. Enfim. Já estávamos cansados e ela sugeriu: “Sei que você não vai querer nenhum par de lá, mas dá uma olhada pelo menos”.

Fomos. A loja se chamava Cristóbal Colón – mesmo nome da avenida onde eu havia me hospedado e depois voltei a me hospedar, a Avenida Colón. Cristóbal Colón, Cristóbal Colón... e olha só, havia uma espécie de cruz-de-malta no símbolo da loja. “Peraí, Ju... então Cristóvão Colombo em espanhol se diz Cristóbal Colón?”. Era tão óbvio que ela nem precisou responder para eu entender.

Mas cola em espanhol não se diz cola, se diz pegamento. Cola, em espanhol, quer dizer rabo, cauda. Pois então imediatamente caiu a ficha. Apenas busquei o episódio com o áudio original e conferi (a partir do instante 1:26):



Seu Madruga: “Por cierto que le tuve que poner una cola muy laaaarrrga, un colóóóón enooorrrme!”
Quico: “Quien fué Colón?”
Chaves: “El papalote, no estás oyendo?”

Ah, aproveitando a deixa: um pouco antes de perguntar quem foi Colombo, o Quico perguntou quem foi o primeiro a chegar à América. O Chaves, em português, diz que foi o papa. Em espanhol, a resposta é outra: Enrique Borja, ex-atacante mexicano, astro na década de 1970 e ídolo do América, famoso time do México.

A seguir: Não era melhor ter ido ver o filme do Pelé? Não! O Chaves não queria ver o filme do Pelé, acredita?

sábado, 26 de março de 2011

Entenda as piadas sem sentido do Chaves: nome do Chapolin

Ok, já sabemos de onde surgiu o nome da série Chaves e também sua versão em espanhol, El Chavo del Ocho. Mas e quanto ao Chapolin Colorado? Bom, vamos à história e depois aos fatos.

A primeira oportunidade que tive de falar com um mexicano foi em 2008, em Buenos Aires. E é bem clichê o assunto: tequilas (eles odeiam a José Cuervo), Chaves, Chapolin, Carrossel e qualquer outra coisa de menor (muito menor) qualidade que o SBT importou da Televisa. Aí surgiu a pergunta: “o Chapolin se chama Chapolin mesmo por lá? Porque bom, o Chaves no Brasil tem outro nome...”

“Sí guey, Chapulín Colorado”, me disse uma das mexicanas da roda. Poderia ter deixado minha curiosidade de lado, mas, anos depois, resolvi investigar por que diabos era Chapolin – afinal, não temos nenhuma palavra similar no português, não é mesmo?

Então encontrei esse vídeo, em que o Chapolin revela seu nome original: Chapulín Colorado Lane. Culpa de quem? De seu tio. Assista ao vídeo abaixo e depois veremos a tradução:



“Esse é meu nome verdadeiro. Meu sobrenome Colorado porque meu pai se chamava Pantaleón Colorado y Roto. Ele era creio que primo de segundo grau de Juan Colorado e sobrinho-neto de Chuchu el Roto. E me chamo Chapolin porque meu padrinho era entomólogo; quer dizer, ele estudava e colecionava insetos. Então ele havia selecionado os nomes de quatro insetos para ver qual me colocaria. Escreveu em uns papeizinhos e os colocou em um chapéu. Então pediu que uma mão inocente tirasse o papelzinho adequado. A mão inocente tirou o papelzinho e que bom que a sorte determinou que escolhesse o qual tinha escrito a palavra Chapolin, porque o nome dos outros três insetos eram caruncho, besouro e libélula!”.

Mas afinal, o que diabos é um chapulín? Para quem não sabe, chapulín é um tipo de gafanhoto bastante comum no México, sendo inclusive uma iguaria por lá (e depois reclamam dos chineses...). Há diversas espécies de chapulines, inclusive um mais avermelhado, chamado chapulín colorado. O nome dessa espécie de gafanhotos vem do idioma náuatle, dos astecas, que quer dizer “inseto que brinca com a borracha”.

Óbvio que o Polegar Vermelho (nome que não colou em algumas dublagens do Chapolin), vulgo Vermelhinho, não teve esse nome em vão. O fato de ser um super herói baixinho e magrelo corrobora, e muito, para seu nome original.

Mas viram que o Chapolin tem “Lane” em seu sobrenome? Pois ele mesmo explica: “Minha mãe tinha o sobrenome Lane. Se escreve L-A-N-E”. Então outro personagem se surpreende! “Que curioso, assim era o sobrenome de Luisa Lane, a namorada do Superman!”.

Mistério resolvido, preparemo-nos para o próximo capítulo desta série irrelevante para a sua vida: por que Colombo era a pipa da Chiquinha?

sexta-feira, 25 de março de 2011

Entenda as piadas sem sentido do Chaves: nome do Chaves

Chaves é o melhor programa/série/sitcom humorístico do mundo, e isso é tão óbvio que nunca se coloca em dúvida (e você não vai discordar, ok?). Contudo, há algumas lacunas em algumas piadas, que se tornam sem sentido por conta das diferenças culturais México-Brasil, mas especialmente por conta das diferenças entre espanhol-português (e não, não existe nenhum portunhol aceitável! A única língua entre esses dois idiomas é o galego).

Nunca havia entendido como alguém capaz de bolar histórias, tramas e piadas geniais atemporais e apátridas poderia inventar coisas tão sem graça como algumas que vi ao longo de minha infância, adolescência e início da vida adulta (todos os dias, sempre que possível). Contudo, dentre tanta coisa que vivi e aprendi nos meus pouco meses longe do país praticamente sem falar português, fui iluminado.

Dado meus tempo livre, falta de assunto e vício por Chaves (e Chapolin também), iniciaremos aqui a sessão “Entenda as piadas sem sentido do Chaves”. Sim, pretendo (caso não abandone essa ideia como algumas outras que já tive neste blog, ou então como o próprio blog) explicar algumas das piadas que (quase) ninguém entende ou que não têm o menor sentido – sugestões são extremamente bem-vindas, diga-se! :)

Apenas para manter o mistério inútil e tentar cativar algum leitor (se é que este blog serve para entretenimento a alguém, além de, como me mostra o Google Analytics, ser isca falsa para alguém desesperado por respostas sérias em sites de pesquisa), comecemos por algo básico: o nome do Chaves – do programa, não do menino em si.

Vamos lá. Ninguém nunca entendeu por que diabos o Chaves se chama Chaves, sendo que este não é seu nome verdadeiro e nem seu sobrenome – muitas vezes perguntam a ele qual é seu nome verdadeiro e ele nunca responde. Mas, então, por que Chaves?

Bom, a explicação mais plausível é que seja um aportuguesamento do nome original da série – no México e em todos os países de língua espanhola, o nome é El Chavo del Ocho. Explica-se: Chavo, em alguns países hispanohablantes como México, Honduras e Nicarágua, quer dizer “menino que ainda não chegou à adolescência”, segundo a Real Academia Espanhola (RAE).

Então já temos o principal: Chavo é menino. Moleque, mais especificamente. Imagine que estranho seria quando, ao invés de dizer “Ei, Chaves”, dissessem “Ei, moleque”. Pois é, para nós, acostumados com a dublagem, soa super estranho.

Mas tem mais: por que Chavo del Ocho? Bom... ele sempre disse que vivia na casa 8 – uma das que nunca aparecia na numeração esquisita da vila. Na verdade, 8 era o número da Televisión Independiente de México (TIM), que transmitia o Chaves no México. Na década de 1970, a empresa virou Televisa, mantendo o canal de número 8 e também o Chaves em sua programação.

Ou seja, o nome do Chaves em português seria o “O menino do 8”, assim como é em inglês (The kid from 8), holandês (De jongen van nummer 8) e alemão (Der junge aus der 8) – no italiano, Cecco della botte significa “menino do barril" e soa esquisito quanto.

De qualquer forma, obrigado, estúdios Maga, por não fazer a tradução literal para batizar o Chaves!

Nessa mesma hora (?), nesse mesmo canal: Conheceremos a origem do nome do Chapolin Colorado. Agora, quando? Talvez amanhã, senão depois... mas algum dia, com certeza.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Como se livrar dos chatos na rua

Tem coisa mais desagradável do que você estar andando na rua, feliz e contente com algum detalhe de sua vida ou com alguma música tocando no seu fone de ouvidos, e ser abordado por alguém vendendo alguma coisa que você não necessita? Bom... certamente há sim coisas mais desagradáveis, mas ser parado na Avenida Paulista é algo do qual eu realmente não gosto.

Sempre tive esse tipo de problema, mas tampouco gostava de ser ignorante, grosseiro ou um mero papagaio que repete a mesma desculpa de sempre, como “estou atrasado” ou “não tenho tempo”. Contudo, fui capaz de desenvolver um passo a passo (mais sério do que o último já publicado neste espaço) bastante efetivo para se livrar desses chatos (que sim, fazem seu trabalho, mas que atormentam um tanto a minha vida).

Estive empenhado neste estudo desde janeiro, quando quis fazer graça com a minha namorada enquanto entrávamos na Fnac e tentaram nos empurrar um CD de jazz – o cara era até simpático, mas estávamos brincando de "troca de nacionalidade". No mesmo mês, uma mulher que queria nos vender ingressos para alguma balada do Guarujá. Hoje, a conclusão da pesquisa se deu com um grupo de pessoas comercializando sei-lá-o-quê – consegui me livrar deles mais rápido do que antes.

Tudo funciona assim:

Passo 1
Seja um apátrida. No meu caso, já fui visto como argentino, turco, chileno, peruano, colombiano, boliviano, hondurenho, mexicano... nunca brasileiro. Muitos de meus amigos, inclusive, nunca sabem se estou no Brasil (ora, como se eu viajasse tanto assim!).

Passo 2
Faça seu visual corroborar que você é apátrida. No meu caso, ser bem servido de nariz e possuir um nível acelerado de crescimento de pêlos faciais são coisas que também ajudam. Um cabelo bagunçado pelo vento e uma vestimenta básica (sabe? Calça jeans, camiseta Hering sem estampa e um tênis comum) me transformam no personagem perfeito.

Passo 3
Saiba falar uma língua estrangeira com o mínimo possível de sotaque brasileiro e o máximo de acento de alguma região. No meu caso, consigo me transformar de um portenho a um cordobês comum, passando por um uruguaio de Montevidéu e por um cordobês vulgar sem grande esforço – aos olhos de um argentino, porém, sempre terei um sotaque meio-espanhol-andaluz-meio-centro-americano.

Passo 4
Misture esse seu sotaque estrangeiro com um nível extremamente elementar do português (uma ou duas palavras por frase).

Passo 5
Seja cínico, mantenha seu rosto lívido e segure o riso. Ao mesmo tempo, seja criativo para improvisar quando for necessário. O resultado será mais ou menos assim:

- Oi, boa tarde. A gente tá vendendo...
- Hola, buenas. Yo... yo nao falo portugués, me entendés?
- Não? De onde você é? (aqui começam alguns gestos do interlocutor)
- Yo soy argentino.
- Ahhh. Bom, a gente tá com essa promoção de...
- Che, escuchame, yo no hablo... no falo portugués, dale? (E agora aumentamos bastante a velocidade do nosso discurso) Pero si vos me hables en castellano seguro que sí te entiendo.
- Desculpa… qual o seu... Eh... nombre?
- Carlos Mona Jiménez.
- Ah, bom… tudo bem. Obrigado. E ó... Pelé! Penta!!! Maradona es drogado!

Ok... dizer que você é argentino certamente vai te sujeitar a tais piadas. Acontece...

terça-feira, 15 de março de 2011

Simultaneidad(e)

Estranho te estranhar;
Extraño extrañarte,
Estranho sua maneira de agir de maneira estranha;
Extraño quando me diz que me extrañás,
Estranho que não me extrañes;
E também estranho que me extrañes,
Te extraño – às vezes;
Te extraño – todo o tempo,
É estranho não extrañarte.
Extrañarte. É estranho.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Método impossível para ter 100% de chances de ganhar na Mega Sena

Antes de tudo, um momento confissão pessoal um tanto quanto vexatória: apostei R$ 6 na Mega Sena da virada como quem não quer nada, mas sonhar todos os dias com a possibilidade (remotíssima) de embolsar R$ 200 milhões me fez arquitetar a melhor maneira possível de usar toda a fortuna. Horas antes do Réveillon em Córdoba, chequei o resultado e fui fumar um cigarro na beira da piscina chateado (sim, bem chateado!) por ter acertado apenas duas dezenas.

Desde então, realizando super complexos cálculos matemáticos, recorrendo a calculadoras financeiras e sendo alvo de chacota de todos a quem eu contava sobre meu plano, cheguei a uma fórmula infalível. Com este passo a passo, sua chance de ganhar na Mega Sena é de 100% - o único problema é que a possibilidade de você conseguir tocar este plano é algo em torno do 0 absoluto. De qualquer forma, vamos a ele.

Partimos de dois pressupostos:

1. A própria Mega Sena diz que a chance de você acertar as 6 dezenas em um jogo com uma aposta simples é de 1:50.063.860. Isso mesmo, uma em cinquenta milhões, sessenta e três mil, oitocentos e sessenta. Assustador, né? Mas calma.

2. Leve em consideração que cada jogo simples custa R$ 2,00.

O plano infalível:

1. Você precisa ter R$ 100.127.720,00 em caixa para investir. Uma maneira de se obter essa grana é fazendo um empréstimo bancário – afinal, é o único investimento 100% seguro do mundo (creio eu).

2. Com essa grana, faça 50.063.860 jogos diferentes: partindo do 01-02-03-04-05-06. Não deixe de fazer nenhuma das probabilidades.

3. Faça cara de surpresa quando souber que você ganhou na Mega Sena e acertou na quina e na quadra várias, várias vezes (fiquei com preguiça/não sei calcular), pague o empréstimo realizado e desfrute do total que te sobrar.

Ok, eu sei. Genial essa minha ideia, não? E você se perguntaria por que diabos eu a divulgo na internet, não? Bom... apesar de o resultado final ter 100% de probabilidade de dar certo, a chance de o plano dar certo durante a execução é quase que nula (mas quase quase mesmo).

Afinal, quem tem uma grana de mais de R$ 100 milhões disponíveis, assim? Ou, então, que banco que aceitaria te emprestar esse capital assim, livrinho? Além do mais, como você faria 50 milhões de jogos diferentes e não cometeria nenhum erro? E qual casa lotérica aceitaria computar 50 milhões de apostas?

E pior: vamos supor que você tenha ou consiga a grana e faça 50 milhões de jogos distintos. Mas e se acontecer de um sortudo, que fez apenas um joguinho, acertar as mesmas 6 dezenas e o prêmio for dividido? Aí, você teria lucro zero, talvez uma baita dívida para pagar e uma enoooorme dor de cabeça.

Entretanto, toda essa baboseira mostra que não, não é impossível ganhar na Mega Sena.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Comendo na mão

Nunca havia gostado da sensação de “ter alguém comendo na minha mão”. Sempre me soou como um mau-caratismo, coisa do tipo. Sei lá, sempre foi muito incômodo ouvir alguém dizendo “Cara, não sei quem tá comendo na sua mão”. Bom, relevemos aqui um caso que ficará guardado em minha cabeça por mais algum tempo até que mais detalhes sejam atirados no ventilador. Não vem ao caso.

Fato é que tal expressão nunca veio a calhar para que eu me animasse. Mas, depois de um exercício homérico de paciência, autocontrole e psicologia, acabei sentido uma sensação completamente diferente por ter “alguém comendo nas minhas mãos”. Já explico o porquê.

Era uma relação turbulenta, por muito tempo tivemos incompatibilidades – e sempre pensei que fosse mais da parte de lá. Só que, com o tempo, acabei percebendo que era eu o responsável pela maior parcela de culpa: nunca corria atrás, não me esforçava, esperava que a outra parte, de um dia para o outro, resolvesse confiar completamente em mim e deixar de lado aquele instinto que teve desde que veio ao mundo.

Fato é que estamos mais maduros, os dois. E, após um momento de grande turbulência, resolvi me aproximar. Dar a cara a tapa, me expor ao perigo de me machucar. Enfim, queria compensar meu período ausente.

A reciprocidade custou para acontecer, mas aos poucos via os resultados. Claro que, até chegarmos a este ponto, ambos nos machucamos. Muito me entristeci, ela se desesperou e acabou se machucando em certos momentos e perdendo – e muito – a confiança em mim quando precisei agir como se deve agir, como previamente relatado aqui.

No fim, porém, tudo acabou dando certo. Agora, ela come na minha mão.

Após mais de dez anos, aí está o resultado. Minha calopsita, muito menos arisca (mas ainda um pouco ressabiada), agora come na minha mão. E poucas pessoas sabem o quanto isso é importante para mim.

Óbvio que esta não é a imagem que ilustra o texto. É bem difícil tirar uma foto com uma mão cheia de alpiste e sendo bicada por um pássaro