sábado, 24 de maio de 2008

Como transmitir segurança

Já comentei aqui (exatamente neste espaço) que um dos meus maiores defeitos é passar a confiar bastante em uma pessoa quando recebo algum sinal de confiança por parte dela. E um dia desses acabei lembrando de um dos episódios mais marcantes dessa minha característica negativa fatal.

Não sei por que acabei relembrando desse caso, que há um bom tempo eu tive vontade de transformar em um dos relatos mambembes deste blog e não consegui. Pouco mais de um ano depois, a história ganha a sua oportunidade.

Era 4 de maio do ano passado quando cheguei em casa morrendo de medo após o trabalho. Escrevi este texto para tentar passar o tempo e, então, peguei um ônibus e fui para o posto de saúde onde passaria pela minha terceira cirurgia (antes, já havia tirado dois sisos): tiraria o freio da língua.

Chegada a hora do abate, sentei-me na cadeira da médica que faria a intervenção cirúrgica. Começou o processo de anestesia e, para meu desespero, ainda sentia parte do assoalho da minha boca. Então tomei mais uma picada – putz, e como doeu! – e minha boca ficou completamente dormente.

Mas não foi por isso que fiquei tranqüilo. Ainda estava bastante inseguro quando começou a cirurgia. Corta daqui, corta dali... e minha mão continuava suando frio.

Até que começou a tocar uma música do Maroon 5, This Love, no rádio do consultório (eu nem tinha percebido que havia som por ali). Não foi a canção em si que me acalmou, mas sim o fato de a médica ter começado a cantarolar o refrão.

“Caramba, se ela consegue cantarolar em um momento tão tenso como este, quer dizer que sabe mesmo o que está fazendo na minha boca”, comentei comigo mesmo. Então respirei fundo e relaxei pela primeira vez naquele dia.

Claro, isso não fez com que o pós-operatório tenha sido menos dolorido: fiquei dois dias sem falar e mal conseguia tomar água. Uma semana depois, voltei para tirar os pontos com uma tranqüilidade enorme: passei a confiar cegamente na médica. Não que tenha me preparado para mais uma cirurgia, claro (tenho que desviar o meu septo, mas sinto que vou passar os próximos 50 anos com o coitado em forma de S).

O problema é que a médica fez o trabalho tão bem feito que, hoje, mal dá para ver a cicatriz que ficou na parte inferior da minha língua – marca da minha coragem por ter encarado tal cirurgia maluca. O nome da cirurgia, aliás, é frenectomia. Só de ler a palavra, já parece uma coisa bem fora do normal.

Um comentário:

Lucas Sampaio disse...

Descobri teu blogue procurando pelo teu nome no Google. Me chamo Lucas Sampaio, tenho 23 anos e sou estudante de jornalismo. Atualmente faço intercâmbio em Lisboa, Portugal, mas não deixo de acompanhar as coisas do Brasil.

Gostaria de parabenizá-lo pela reportagem especial que você escreveu sobre o adeus do Guga, os últimos 12 anos do tênis brasileiro e o que esperamos para o futuro no esporte. Série de reportagens muito bem escritas, com muitos dados e ótimas entrevistas. Parabéns pelo trabalho, cara, foi realmente de primeira!

Espero que você não se incomode, mas recomendei a leitura dela para os (poucos) que acessam meu blogue (reporterdebigode.blogspot.com). Pretendo pesquisar mais sobre você e dar uma olhada nesse teu blogue aqui. Abraços, Lucas Sampaio.