quarta-feira, 21 de maio de 2008

Mendicância intelectual

Não sei bem por que, mas sempre defendi a tese de que mendigos são sábios. Claro que há alguns tresvariados, doidos mal varridos, mas a grande maioria é composta por gênios desabrigados.

Duvida? Ora, um dia deixe seu orgulho e seu preconceito de lado e vá trocar algumas palavras com um mendigo com um semblante um pouco mais simpático. Eles sempre têm algo interessante para falar sobre qualquer assunto. E todos eles, aliás, sempre entendem tudo sobre futebol, política e, sobretudo, mulheres.

Só que hoje, antes de entrar no trabalho de quarta à noite, fui forçado a repensar essa teoria. Estava eu no escadão da Paulista pensando um pouco que, se as coisas tivessem corrido de forma diferente, não estaria ali tomando um café em plena Avenida Paulista, mas sim fazendo meu check-in em Guarulhos pronto para levantar vôo rumo a Paris.

Então um mendigo parou à minha frente e me pediu um cigarro. Peguei um no bolso, cacei o isqueiro em outro e me levantei para entregar ao cara. Ele colocou o cigarro na boca, produziu a chama e encostou no cigarro.

“Opa, cara, tá ao contrário. Você vai acender o filtro”, avisei. Ele não ouviu e queimou o filtro. Já era um motivo e tanto para rever minha tese, mas... não. Mesmo o filtro sendo daqueles bege, é normal que haja a precipitação.

Ele então percebeu o erro e corrigiu. Depois da primeira tragada, virou-se para mim e agradeceu pelo cigarro. Quando fui responder, olhei fundo em seus olhos e o reconheci.

Já havia trocado algumas palavras com aquele mendigo alguns meses atrás. Também nos arredores da Paulista, em uma bela tarde de sábado, havia acabado de dar o primeiro beijo em minha ex-namorada quando ele apareceu cantando Gitâ, do Raulzito. Pediu uma moeda para comprar um miojo, cantou mais algumas músicas após ganhar 50 centavos, agradeceu e começou a ir embora.

Antes de ir, no entanto, voltou-se para nós e comentou: “Ah, esqueci de falar: vocês formam um lindo casal. E vão ter lindos filhos”. Se eu achei que ele estava certo? Claro! Ele previra algo que eu mesmo já vinha imaginando inocente e puramente há algumas semanas. E, na minha cabeça, aquelas palavras eram a consolidação de tudo: se um mendigo havia feito tal previsão, nada poderia mudar.

Mas repetindo o que escrevi alguns parágrafos acima, fui forçado a repensar tal teoria, por motivos que não interessam no momento. Frente a frente com o guru do meu antigo relacionamento meses depois, pensei em retrucar “Cara, você errou daquela vez”.

Achei melhor não. Enquanto ele continua andando por aí com a sua sabedoria às vezes equivocada, continuo por aqui em solo brasileiro. Sem viagem para Paris e sem entrevistar Federer, Nadal, Djokovic, Guga e, muito menos, minha musa Nicole Vaidisova.

Um comentário:

Anônimo disse...

1) Pô, a Vaidisova é espetacular mesmo. Mas a minha musa foi, é e sempre será a Martina Hingis, suspensões e Sharapovas à parte, hehehe.

2) Conta aí quem você entrevistou de Paris, vai! Odeio ficar curioso.

3) Valeu pelo e-mail do Beatles 4Ever. Você vai amanhã (hoje)?

4) Sem comentários futebolísticos até 2009, né?