Pra falar a verdade, eu passei o dia em dúvida sobre esse título. Pensei em um Do without, Faça você mesmo ou O Cavaleiro com Solitária vai ao Zoológico. O que eu acabei escolhendo é o mais esnobe possível, mas... mas ah, o princípio tem que ser o começo [aaaah, esses clichês de merda, viu!?].
Pois bem. Como previamente planejado, tirei o dia para ir ao Jardim Zoológico. Como não faço nada da vida, era uma oportunidade de acordar cedo, aproveitar o sol da manhã [caralho, que coisa de velho!], praticar caminhadas, estar no meio da natureza [dentro do possível] e brincar de nostalgia. Sim, porque lá era o melhor passeio que eu fazia aos oito anos de idade. Em 96, lembro de ter ido lá umas sete ou nove vezes, não lembro direito. Era demais. Eu sabia tudo de lá, não me perdia, traçava os caminhos e rezava pra não chover no dia do passeio. Às vezes chovia, mas mesmo assim. Era tudo mágico, desde a hora da entrada até a hora de fazer o caminho de volta. O caminho de volta era chato, eu sentia todo o cansaço e toda a vontade de voltar.
Eu sempre ia com a minha mãe ou com o meu pai. Nunca com os dois juntos. Essa coisa de que família que não é pra dar certo, não vai nem ao zoológico junta. E pensar que a diáspora se daria só 2 anos depois. Enfim, ou era com a minha mãe ou com o meu pai. Com a minha mãe sempre foi mais legal, porque ela falava mais e demonstrava mais quando se divertia vendo os bichos. Meu pai, bom... meu pai nunca fala nada. Mas era legal ir com ele, porque eram mais vezes. E porque ele nunca se importava em fazer as coisas. Quer dizer, pelo menos não falava.
Mas o fato é que hoje eu fui sozinho. Pela primeira vez, só eu, minha mochila e um livro. Peguei o ônibus que deixava lá dentro e entrei. Só que a droga do ônibus deixava na entrada errada, tipo, não na principal. Isso quase acabou com o meu dia. Por mais frescura que possa parecer, se é um passeio nostálgico, tem que ser igual a antes. Uma mudança, por menor que seja, ferra tudo. Então eu fui tentando me lembrar do caminho pra entrada principal. Passava em frente às jaulas sem olhar pra nada, pra não perder a graça depois. Fui ao começo e só então comecei a aproveitar.
E tudo era mágico. Muito. Parar na frente da mureta vendo o pelicano cor-de-rosa, os macacos e tudo mais. E o quati se equilibrando em cima de uma pedra pra poder beber água sem cair no lago. Era tudo demais. Só que nada é como era no passado. As placas informativas mudaram. Essa coisa da globalização. Antes, tinha mapinha pra mostrar o habitat, quanto tempo ele vive e tudo mais. Hoje, tem só o nome, nome científico, peso e o nome dos países onde o bicho vive. E bem ao lado, um logotipo da Coca-Cola. Pelo menos não é só o Jornalismo que se vendeu...
[era tanta coisa pra escrever. Eu até ensaiei puxar o bloquinho e anotar tudo, tudo, mas... achei que me lembraria. Ah!]
Eu continuei andando. Tentava não dar atenção às milhões de criancinhas que iam ao Zoo pela primeira vez e gritavam no meu ouvido. Eu achei que perderia a paciência com elas, do alto de seus sete anos de idade [a pior idade, fato], gritando para o macaco olhar pra elas. Sei lá, sempre achei bem tosco isso. Nunca fantasiei que o macaco olharia pra mim se eu gritasse macaco. Sei lá, acho que eu imaginava que ele não entenderia o que a gente fala. Ou então que ele deve ter outro nome, e não só macaco. Quando eu tinha sete anos, não fazia isso. Não sei se pela timidez ou por um pequeno esclarecimento. E por mais nostálgico que eu possa ser, não tenho vontade de fazer isso.
Continuei andando e fui dar nos hipopótamos. Como era de manhã e o sol não tava tão quente, eles tavam fora da água, bem perto do murinho. Eu fiquei vendo os dois, fiquei imaginando e tudo mais. Pensei em como seria ter um hipopótamo em casa. Seria engraçado. Fiquei uns cinco minutos por lá, vendo os cavalos do rio e pensando na vida. Fiquei lá até chegar mais um grupo de escola, com moleques pentelhos gritando agudo e alto. Andei mais um pouco, fui ver a ema que era engraçada, parecia ter um cabelo esquisito. Eu deixei escapar um sorriso quando vi as penas que pareciam peruca.
Continuei explorando as alamedas do Jardim Zoológico e acabei parando no acesso ao espaço do leão e dos tigres. O chato é que não dava pra ficar sozinho por lá, sempre tinha alguma menina chata de uns 12 anos de alguma escola pública que ficava falando imbecilidades pras amigas. Ou gritando, o que me deixava mais puto. Eu até tava com o MP3 na mochila, mas ouvir seria sem graça. Quer dizer, qual a graça de ir ao zoo e ficar ouvindo música? É legal ouvir os macacos gritando e as aves piando. Foi o que eu fiz.
Como sempre, nada é como antes. Quando eu era pequeno, parecia que eu ficava a uma distância incivelmente grande dos tigres. Nem era tanto assim. E o espaço deles também nem é tão grande. Acho que era porque eu era pequeno e achava tudo muito grande. Enfim. Parei pra ver o tigre. Como só tinha um garoto tirando fotos [com uma Nikon profissional, vale lembrar] bem feitas do felino, fiquei lendo as informações sobre o bicho. Ele nasceu em 2003, na França. Essas coisas. Aí chegou a trupe das garotas de 12 anos. Devia ser excursão das escolas públicas, eu deduzi. De todas as mais burras da cidade. Ainda mais porque uma das garotas virou pra outra: "Olha, o bicho parou, ele tá olhando a árvore. Deve tá viajando, ó!". Fiquei tão puto que saí de lá. Ou isso ou eu falava "Tigre não flana, porra!". Saí.
Continuei observando as imbecilidades de todo mundo por lá. Eram poucos os que não cometiam gafes crassas. Pouquíssimos. Sabe, deveria ter uma jaula nova lá: Seru Mano. E deixar lá três ou quatro jãos. Talvez as pessoas entendam um pouco mais as coisas.
Andando mais um pouco e pensando um tanto mais, entendi porque clichês são lugares-comuns. Talvez isso tenha vindo do zoológico. Porque os bichos mais clichês - leão, girafa, elefante, etc. - são os mais visitados, sempre empesteados de pestes. As pessoas vão para o mesmo lugar. Acho que é isso. Não deve ser, e essa deve ter sido a explicação mais imbecil que alguém já deu.
Claro, ainda tive que ouvir uma série de pataquadas. Tinha a galera do bigodinho de office-boy, que andava toda cheia de gingado, jows e tudo mais. E mais pataquadas. Foi duro quando eu ouvi, sei lá, talvez a mais engraçada do dia. A professora de uma das escolas tava toda metida de guia turística ou bióloga do lugar. Até que a fila passou em frente ao viveiro de um pássaro esquisito, preto, com um bico enorme e tudo mais. Alguém pergutou: "Professora, esse é o tucano?". Cheia de si, a mestra inspirou o ar e se inspirou pra responder. "Claro que não", ela disse, "esse não é o tucano. Essa é outra ave, que é da África [meio óbvio, porque aquele era o Bosque das Aves Africanas]. Mas tem um nome diferente, não é o tucano. O nome é em inglês, eu vou ler pra vocês". E foi até a plaquinha informativa. Começou a ler: "O nome dele é inglês, ó: É calau-de-cara-prateada". O rosto dela ruborizou, mas só eu percebi a gafe.
A galera não maneirava nas imbecilidades. Na sala preta, fechada e abafada, com uma série de aquários com um monte de animais ectotérmicos. Eu entrei e comecei a ver os animais. Mas tive uma vontade de sair quando passou uma imbecil que só olhava o terrário, achava o bicho e seguia o caminho. Falava, também orgulhosa do conhecimento obtido sabe-se lá como, ao mesmo tempo que apontava para os animais: esse tem duas cabeças. Esse, esse e esse também. Quase todos aqui têm duas duas cabeças. Idiota. Na hora, deveria ter colocado o fone nos ouvidos. Pra falar a verdade, até saquei o MP3. Mas desisti quando eu vi a música que iria tocar logo mais. Seria bater no bom senso, eu teria vontade de fazer a aspirante a bióloga ouvir.
Tem uma que é tensaTem uma que pensaTem uma que é loucaUma é caretaTem uma que puxaTem uma que empurraTem uma que é grandeTem uma que é burraUma enche o saco e a outra esvazia
[Ah, essa droga de banda sempre nos momentos mais inusitados. Mas isso é um ultraje!]
Tinha mais uma série de críticas pra pôr aqui, mas já esqueci. Droga. A única coisa que eu não esqueci foi que uma hora, o leopardo tava do outro lado da jaula. Para ver, eu tinha que subir na muretinha como todas as crianças. Não via problema nisso, tal, mas... sei lá. Fui subir quando todo o grupo que enchia o saco do bicho foi embora. Quando eu me apoiei pra subir, um molequinho de uns seis anos tentava subir, mas tinha vergonha de fazê-lo sozinho. Quando me viu colocando os pés no muro, subiu junto. Olhou pra mim e disse, todo orgulhoso: "E aí, tio, tudo bom? Agora dá pra gente ver, né?"
Eu só tenho 18 anos, não me acostumei com essa idéia de ser chamado de tio. Tá certo que, sei lá, a droga da barba hirsuta faz com que eu tenha cara de acabado, mas... mas sei lá, eu achei engraçado essa do molequinho. Bastante.
Outras coisas fizeram o dia valer. Sei lá, ver o olhar de algumas criancinhas quando viam os animais. As crianças ainda inocentes, com menos de quatro anos e tudo mais. As criancinhas que não tentavam se passar por nada pra ninguém. As criancinhas que são criancinhas, afinal, são o melhor tipo de pessoa. Criancinhas inocentes e velhinhos cansados. Era legal porque, com os olhares vidrados, elas não conseguiam falar nada, não conseguiam expressar toda a felicidade que tinham. Melhor do que os outros, que tentavam mostrar pros outros amiguinhos a surpresa: "nossa, meu, caraaaaaalho". Ah, vai se foder! Eu não gosto dessa coisa de ter que evitar palavrão e tudo mais, e nem impedir as pessoas de falar isso nas situações adequadas para tal, mas... mas porra, crianças falando isso, assim, só por falar, é bem idiota. Não consigo e nem sei explicar, mas a real é essa. Quer dizer, palavrões são necessários e fundamentais, mas... mas tem limites, porra!
Quanto mais eu andava, mais eu me chateava com a maioria das pessoas. Até a hora de ir embora. Daí o título do post. Não que todo mundo deve ser metido a cultzinho e tudo mais, mas... porra, será que as pessoas podem ser menos ignorantes? Era cada besteira que eu ouvia, era cada coisa que me deixava puto de verdade! Aí eu comecei a pré-conceituar o que eu via. Tava imaginando o futuro de toda aquela gente. Quer dizer... alguns vão virar motoboys, outros vão virar qualquer outra coisa que não exige muito conhecimento teórico e tal. Alguns vão virar rappers, e outros vão ouvir rap e achar que são esclarecidos. Alguns vão entrar na faculdade, outros vão parar de estudar na oitava série. Alguns vão comprar um livro do Paulo Coelho, ler e achar que são os mais eruditos do mundo, e outros vão ler Machado de Assis no primeiro colegial e achar que o cara era um imbecil que não escrevia nada com nada. Alguns vão ouvir falar alguém falando alguma coisa sobre García Márquez e vão esquecer no dia seguinte, e outros vão comprar o jornal na banca e ler a parte de esportes. Alguns vão ler um livro por ano e acharão que é o suficiente, e outros vão ler meus textos em algum jornal de esportes e acharão que o repórter é um idiota que não sabe de nada.
Em tese, o problema não tem a ver com as eleições. Quem quer que seja o próximo a entrar naquele circo, não vai mudar o que acontece. O problema é que as pessoas são ignorantes, alienadas e todos os adjetivos possíveis. O problema é o Brasil, de ignorância gigante pela própria natureza. De novo, não que todo mundo deva ser esclarecido, ler Balzác, García Márquez, Kafka, Nietzsche ou o raio que o parta, mas... porra, bem que poderiam pensar um pouco menos no funk e um bocado mais na vida. Utópico, não?
Ah, sabe de uma coisa? Pára o mundo, vai, eu quero descer. Não quero mais brincar. :(
Concluindo:
1. O passeio foi fenomenal. Ir ao zoológico é sempre bom, mas é uma pena que as coisas não são mais como 10 anos atrás. Pena naquelas, vai de cada um. Pra mim, uma droga.
2. Enquanto estava lá, pensei que, se um dia eu for rico de verdade, vou querer voltar lá e pagar pro parque ser fechado só pra eu ver. Depois mudei de idéia. Não seria interessante, e seria deprimente fazer uma coisa sozinho ao quadrado. Já não basta ir sozinho pra lá, seria pior ainda fazer o passeio mais sozinho ainda.
3. De novo, não vi a droga do lobo-guará. Ele tava dormindo, aquele imbecil. Mas eu entendo o coitado. Quer dizer, não basta viver sozinho, trancafiado em uma jaula, também tem que agüentar diariamente milhares de pessoas apontando, gritando "Ô Lobo-Guará, acorda, vagabundo!" e tudo mais. Eu não sei o que é pior, se o cativeiro ou a platéia. Se eu pudesse escolher, ficaria com a primeira opção.
Post arrogante. Muito.
Não era pra ser assim. Eu tinha uma série de idéias, mas esqueci todas elas.
2 comentários:
Arrogante, sim.
Mas eu dei risada!
Da próxima vez, eu levo msn!
beeeeeeeeeeeeejo
Arrogante, sim.
Mas eu dei risada!
Da próxima vez, eu levo msn!
beeeeeeeeeeeeejo
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