Doug acordou quase na hora do almoço, ligou a tevê e ela estava passando os mesmos programas de sempre. Do alto de seus 18 anos, já estava cansado disso. Era como se acordasse todos os dias no domingo. Era tudo sempre igual, as mesmas coisas... as mesmas manchetes dos noticiários esportivos, os mesmos programas repetidos nos seriados de depois do almoço...
O garoto se sentia estranho. Melhor do que o dia anterior, mas estranho, ainda assim. Era como se seu lado direito fosse o avesso de todos. Ou como se o seu dentro fosse o fora coletivo. Era estranho. Era como se sonhasse com alguma coisa, fizesse de tudo para alcançar seu objetivo e soubesse que nunca o conseguiria. No entanto, era bom. Quer dizer, era bom ele pôr a cabeça no travesseiro, olhar para cima e imaginar. Imaginar, sonhar, viajar. Imaginar os sonhos que teria, imaginar as viagens que faria... sonhar com as imagens com que se depararia [o Expressionismo viraria o mais sutil do Impressionismo], sonhar com todos os detalhes das viagens que ele faria... viajar pros lugares que nunca imaginou, viajar pros lugares com que nunca sonhou.
Queria acordar numa segunda-feira, deixar o marasmo de lado. Queria se sentir útil, queria ser o que ele sempre sonhou em ser.
Para isso, ligou a tevê a fim de saber as notícias do Brasil e do Mundo. Para isso, saiu de casa mais cedo para aprender novos idiomas, enriquecer culturalmente e se diferenciar da multidão. Para isso, foi pra faculdade no horário correto. Para isso, voltou pra casa sem beber, fumar ou qualquer outra coisa - se um dia você quer ser alguém, só o conseguirá com a cabeça no lugar -. Para isso, teve vontade de dormir no horário certo.
Doug não dormiu no horário ideal. Já passam de 2 da manhã e ele está acordado, sentado na frente de seu computador, digitando uma carta para sua mãe. Para surpreendê-la. Porque hoje foi Dia do Médico e ele não pensou em nada melhor para dar-lhe de presente.
Doug não dormiu no horário ideal porque viveu o dia. Porque foi utópico. Porque percebeu que percebeu as pessoas. Porque entendeu que nem sempre há um sorriso quando se precisa de um. Quer dizer, Doug é um garoto que gosta de surpreender. E que gosta de ser surpreendido. Ou pelo menos espera gostar de ser surpreendido. Porque nunca fora, e Doug odeia o marasmo. Muitas vezes, ele se aproxima da pessoa porque ela parece ter capacidade de surpreendê-lo. E se afasta por perceber que a pessoa é como a programação dominical de televisão. Doug odeia domingos.
Doug não dormiu no horário ideal porque está deitado em sua cama. Está pensando. Pensando na vida, sendo realista. Está entendendo que não conseguirá alcançar sua meta. Ultimamente, Doug vinha tentando escrever para alcançá-la.
Doug, enfim, dormiu. Bem tarde. Amanhã, vai acordar tarde. Vai ligar a tevê e vai ver os mesmos programas de sempre. As mesmas manchetes nos noticiários esportivos. A mesma esperança vã. Doug vai acordar em mais um domingo, esperando se segunda-feira chegar.
Amanhã, Doug vai ter mais um plano. Depois de amanhã, mais um.
Boa noite, Doug.
Bons sonhos.
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