segunda-feira, 30 de outubro de 2006

O Homem Sono

Balada do alojamento foi aquela maravilha: open bar de cerveja, Montilla, jurupinga e aquela delícia de churrasquinho. Sem contar tudo o que rolava por parte de cada um: cigarros, psicotrópicos e tudo o que for da lei – ou não. O resultado disso foi a galera aproveitando até o último instante, dançando até a última música. E, na manhã de sábado, todos se retiravam para suas barracas ou salas de aula. Todos, inclusive o garoto que estava no seu primeiro JUCA e tinha aproveitado todos os alcoólicos oferecidos, além de um bom e velho psicotrópico.

Às sete da manhã, eu e o Ivonaldo acordamos com um ruído estranho, semelhante a um PT alheio. Olhamos para o lado e vimos o Bixo de JO em posição de gorfo, com sons de gorfo... mas não era nada além de um sonho de gorfo. Exatamente: o jovem sonhava que estava a vomitar. Após umas vinte contrações, o sonho cessou e voltamos a dormir. Mas o Ivonaldo com muito mais medo, já que estava ao lado do sonhador: Ele vai gorfar em mim, eu tou a menos de 2 metros dele!

O sono de todos era profundo até Marcos Mion e sua trupe invadir todas as salas acompanhado da bateria e de um megafone que tocava Titanic. E isso não deixava ninguém dormindo. Todos, menos um: Ele.

A sala era a primeira à esquerda da escada pro primeiro andar. Com a invasão do monitor marfinense, os que lá estavam tiveram seu sono interrompido com a algazarra alheia. Terminada, todos os baderneiros saíram. Os três últimos, que ainda se divertiam balançando uma barraca, olharam para o canto e viram o nosso querido herói jogado sobre sua mala, com a cabeça apoiada na lousa e sem despertar de seus sonhos. Foi o suficiente: Dormiu na lousa, dormiu na lousa!

Estavam certo. E lá ele continuou imóvel, estático... E com sono.

Acordei não muito tempo depois, por volta das 8h30min. Ivonaldo, com medo, nem dormir conseguiu. Descemos, tomamos o café da manhã e voltamos para o quarto para ver como estava o nosso amigo. Ele não jazia mais sobre as malas, estava tentando levantar. Apoiou-se, sem muito equilíbrio, em uma cadeira. Estava ajoelhado. Segurou com os dois braços nos pés da cadeira, encostou a cabeça sobre o assento... E lá ficou. Dormindo.

Rindo – e muito – colocamo-lo sentado e fomos para o corredor conversar e ver as gostosas que acordavam. Esporadicamente, íamos ver o estado daquele que dormia profundamente. Ele estava bem, estava com a cabeça apoiada nas palmas das mãos e sonhava sabe-se lá com o quê. Foi assim que o deixamos e fomos ver na lanchonete o jogo de Portugal.

Assim que o juiz apitou o fim do primeiro tempo, voltamos. E lá estava ele, sentado e dormindo. O relógio já marcava quase 11h e ele se mantinha imóvel. Colocamos nossas camisetas coloradas e fomos ao estádio ver a final do futebol de campo. Lá na arquibancada, logo no começo de jogo, qual não foi a minha surpresa ao ver algo vermelho meio cambaleante chegando. Ah, ele não tinha morrido!

Tá certo que a final não foi o melhor jogo do mundo, ainda mais com a vitória do Mack... Mas pelo fato de estar perto da bateria, pelo menos em pé a gente ficava. A gente, não ele. O garoto dormia. E muito.

Depois fomos almoçar. Mé, ele e eu. O Itiban não tava lotado, mas o que estava interessante era o Gana x República Tcheca na TV. Jogão, jogão! Todos entretidos... menos o nosso companheiro que dormia. Isso, dormia.

Aí ele voltou pro alojas. Umas 14h, mais ou menos. E capotou. Só acordou às 21h, comeu um x-salada... e só então ficou bem, só então acordou. Depois de dormir 14 horas seguidas. Depois de dormir na lousa, dormir na mala, dormir ajoelhado, dormir sentado, dormir no estádio, dormir na lanchonete, dormir no chão, ele agora é lenda. O nome dele não interessa, mas ele se tornou o mito do Alojamento ao afirmar que não ouviu bateria nenhuma entrar na sala.

Sim, ele é o mito. Ele é o Homem Sono!
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Esse texto já é velho. Mas é bom eu acabar postando tudo aqui, já que a iminência de uma cirurgia não muito eminente pode pôr tudo a perder.

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