quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Mentiras e contradições

Não faz muito tempo, admito que tomei um fora. A garota com quem estava saindo algumas semanas atrás de uma hora para outra, ou quase isso, resolveu terminar comigo. Mas não foi nada traumático, pelo contrário. Tive uma certa vontade de rir quando ela chegou para mim e disse, mais ou menos assim:

“Fê, você é um cara fora do comum e eu queria me dar uma chance para ficar com um cara legal que nem você. Poxa, você é querido, inteligente (?), engraçado (??), bonito (???) e não me arrependo de nada que aconteceu entre a gente. Só que eu percebi que a tua amizade é mais importante para mim do que o que estava acontecendo entre nós. Eu te considero um grande amigo e jamais quero perder o contato com você, sabe?”.

Parei alguns segundos para refletir e deixei escapar: “Humm... olha, eu até te entendo, fulana, mas... você parou pra pensar que antes de a gente se reaproximar nas últimas semanas fazia três anos que a gente não se via? Desculpe, mas eu não te considero minha amiga”. Pareceu meio grosso, embora não tenha sido essa a minha intenção.

“Ah, é que eu não me apaixonei por você e estava me sentindo mal com isso, sabe?”. Foi então que eu entendi qual era a dela, e me antecipei: “Olha, eu não estou apaixonado por você, viu? E... ah, confesso que estava até me sentindo mal comigo mesmo por não conseguir gostar de você, por mais que eu tentasse”.

“Ah, você não estava apaixonado por mim?”, perguntou, meio incrédula. “Nah”, respondi sinceramente. “Fico mais tranqüila assim. É que na verdade eu conheci um cara na minha viagem no final de semana e me apaixonei perdidamente por ele”, confessou. “Mas não queria perder contato com você de jeito nenhum”, continuou.

É claro que eu tinha uma superstição meio pessimista de que algo assim tinha acontecido (traumas pessoais sobre Campos do Jordão, vale um post especial daqui uns anos), e para mim foi até... ahn, melhor. Pelo menos não fui eu quem teve que terminar o que nem tinha começado, e isso me deixou aliviado. Só que... bom, não nos falamos mais desde então.

Mas no fundo essa conversa me fez perceber o quão é engraçado receber um fora de uma garota. Quer dizer... não, não é nada divertido (e eu já me deprimi muito outrora por alguns tocos recebidos), mas... é interessante ver como as garotas se sentem extremamente culpadas por falarem um não sob alguma desculpa-clichê.

Há uns três meses, deparei-me no metrô uma das minhas seis grandes ex-paixões dos últimos 20 anos. O encontro casual aconteceu na baldeação da linha verde para a azul, e pude perceber a fisionomia constrangida que tomou conta do rosto da garota, que hoje deve ter lá seus 18 anos (na época de minha paixão platônica eu tinha 17 anos e ela, 15). Sim, ela havia me reconhecido mesmo com barba e um cabelo... ahn, diferente.

Descemos praticamente juntos à plataforma de embarque. Eu, com as mãos nos bolsos, assobiando a música que tocava nos meus ouvidos. Ela, tentando fingir que não me via. Mas eu tinha uma vontade enorme de conversar com ela, saber o que estava fazendo da vida e até se estava namorando.

Chegamos à plataforma, e cada um foi para um lado. Teoricamente deveríamos ficar de costas um para o outro esperando nossos respectivos trens, mas ela continuou me olhando. Quando eu me virava para olhá-la, ela disfarçava e virava o rosto. Ficamos nesse empate por 0 a 0 bem engraçado durante uns cinco minutos, até que o trem dela chegou e ela foi embora. Ainda me olhando.

Fiquei bem curioso para falar com ela e perguntar sobre a tia que ela matou para não sair comigo em uma sexta-feira e da avó cujo fêmur ela quebrou para evitar um encontro comigo em um sábado. Claro que deixaria essas ironias apenas para os momentos finais, mas... ela não parecia estar nada à vontade perto de mim. Constrangida, essa é a palavra certa.

E é engraçado o fato de ela estar assim enquanto eu estava numa boa. Uma mentira de uma mulher pode retumbar muito mal para um homem, quando este descobre a verdade. Mas que é bem engraçado ver uma mulher constrangida por cair em contradição, isso é.

3 comentários:

Anônimo disse...

Mamãe sempre dizia:
- Mentira tem pernas curtas...

paula r. disse...

pior é quando a coisa acaba em si, sem ninguém dizer nada oficialmente. parece que sempre falta um fim bem resolvido.
mas sei lá, estou numa fase otimista e quiçá divertida nessa área, então minhas opiniões estão sem grande embasamento racional.

Anônimo disse...

Mentir é feio, naturalmente, em todas as ocasiões. Mas há momentos em que uma mentira é mesmo imperdoável.