sábado, 5 de abril de 2008

Sobre o medo da saudade

Sou um cara que se apega muito à sua rotina e, em certos momentos, tem até medo de pensar que as coisas podem mudar. Para ser sincero, acabo me acomodando bastante diante de um dia-a-dia que me agrade e, mesmo que não seja o ideal, me satisfaça.

Por ser bem metódico, acabo me acostumando com o que tenho em mãos. E cada tentativa de mudar algo que já está praticamente consolidado me custa horas, dias e até semanas de uma penosa adaptação – por menor que seja o detalhe.

Um exemplo? Fácil. No finalzinho do ano passado, comprei tênis novos. Embora fossem da mesma marca que o par anterior que me acompanhou diariamente por longos 13 meses, foi bastante complicada a adaptação no começo. Por se tratar de um modelo diferente, confesso que até tive problemas de equilíbrio diante do novo solado. Algumas vezes eu até me desequilibrava e quase caía. Bizarro, eu sei.

Outra coisa que mexeu bastante comigo recentemente foi quando troquei de relógio depois de 12 anos. O Ironman que eu havia ganhado do meu tio aos sete anos de idade acabou dando seus últimos suspiros. Com 19 anos, comprei um novo marcador de horas e achei que tudo estava resolvido. Nem tanto: andar com um novo bolachão no pulso me custou uma adaptação de algumas longas semanas.

Recentemente, tive uma grande, grande mudança em meu cotidiano. Após perder meu falecido ipod (in memoriam), acabei voltando à velha e antiquada (?) tecnologia do MP3. Uma adaptação bastante dolorosa, mas que aos poucos vem dando resultado. Pelo menos pude voltar a me distrair ouvindo Beatles indo para o trabalho.

Depois de tantos exemplos banais, não precisaria nem dizer o quanto me assusta a idéia de uma despedida, o quanto me assombra a perspectiva de não ver mais uma pessoa bastante importante para mim. Mas, com o tempo, acabo me acostumando.

No ano passado, por exemplo, o André arranjou coisa melhor e saiu da redação. Achei que o mundo mudaria completamente depois disso. Editor a quem eu dedicava a minha contratação na Gazeta, ele ainda me pegou de surpresa em sua despedida oficial: “Pode apostar que eu continuarei sendo leitor fiel do Cavaleiro com Solitária”, contou. Uma honra para quem lia diariamente o Marmota, Mais dos Mesmos há vários meses e jamais achava que era lido pelo chefe blogueiro.

Faz um tempão que não me encontro com o André, mas mato a saudade diariamente do tradicional “E amanhã tem mais” lendo seu blog. Não é a mesma coisa, é claro, mas a separação não é tão dolorida assim.

Hoje, mais dois editores se despediram oficialmente da redação. Os dois editores com quem eu mais aprendi nos meus últimos 16 meses de estágio. Não vou negar que ao me despedir do Narazaki, voltei a sentir aquela mesma sensação de “putz, e como vai ser daqui pra frente?”. Pouco tempo depois, no entanto, percebi que talvez tudo continue igual, e seja apenas eu que esteja criando fantasmas que sequer vão me assombrar dentro de duas semanas.

Claro que sinto um medo enorme e um vazio por dentro quando imagino que não vou mais me encontrar com uma pessoa bastante comum ao meu círculo social. Seria muito mais fácil manter pés atrás com todas as pessoas, não me relacionar com mais ninguém por causa do risco de perdê-las.

Por outro lado, é extremamente divertido e construtivo compartilhar experiências, dar risadas e viver momentos incríveis com as pessoas de um modo geral. Sim, apesar do risco de não tê-las mais de um dia para o outro.

A perda dá medo? Claro que dá. Mas se você acha melhor deixar de viver algo especial por causa do medo de algo que ainda nem aconteceu, me desculpe: algo está errado.

2 comentários:

Anônimo disse...

Poxa vida, o Nara é um baita cara, né? E um baita jornalista, nem é preciso dizer.

Não sei se ele lê este blog ou mesmo se lembra de mim, mas mande o meu abraço assim que encontrá-lo, beleza?

E quem é o outro editor??? Quando você fala assim, para um ex-gazeteiro, me deixa curioso, pô!

Mande um abração para o todo o pessoal aí. Tenho saudades.

Anônimo disse...

Cara, mesmo à distância também estou triste. As pessoas que estão saindo representam os ideais que construímos ao lado do Gera, mais ou menos o que seus "chefes" representam pra você. É como o fim de uma era, sabe? Mas fique tranquilo: é como uma troca de técnico em time que está vencendo. :) Abração pra vc!