domingo, 14 de outubro de 2007

Praça de Pedra (parte I)

O feriado de outubro chegou e eu não pude viajar. Escalado para trabalhar no feriado, apenas vi São Paulo fazer as malas e se mandar para todos os destinos possíveis.

Se você, que além de não poder viajar, caiu aqui por acaso ou tem a vã ilusão de que encontrará algum conteúdo, não se preocupe. O Cavaleiro com Solitária preparou uma novela para te entreter até domingo, quando seus amigos voltam da praia, do campo ou da Lua.

Quer dizer, não é bem uma novela. Apenas um texto bem grande escrito algum tempo atrás. É tão grande que ninguém teria paciência para ler até o final. Nem minha mãe, se bobear. Então, fatiei a história em três pedaços. E cada fragmento será postado aqui em dias seguidos, começando hoje e terminando no domingo.

E um spoiler: aqui, ninguém mata ninguém no final. Muito menos a Thaís.
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CAPÍTULO I

Ler livros em uma praça é um hábito de velhos, mas que eu desenvolvi relativamente cedo. E foi justamente enquanto eu debulhava as páginas de uma história alguns dias atrás que essa história aconteceu.

Não sou muito de fazer amizade a esmo com pessoas na rua. Pelo contrário. Sou meio fechado e raramente me comunico com os transeuntes. Muito menos quando estou lendo. Mas aconteceu.

Era um dia de semana no final da tarde, quando quase todos os bancos estavam ocupados. O meu tinha um lugar vago, que um cara rapidamente ocupou. Não dei importância até ele me interromper e perguntar as horas. Respondi meio seco, arredondando os minutos para cima, e virei a página. Ele voltou a me chamar a atenção.

“Eu... eu já li esse livro, sabe?”, perguntou. Foi quando marquei a página com a orelha do livro e olhei ele. Vestia terno e gravata. Tinha uma barba de algumas semanas e aparentava uns 35 anos. Devia ter saído do trabalho, apesar de estar meio bêbado. E continuou falando. “Eu li quando eu devia ter mais ou menos a sua idade. E você tem 20 anos, acertei?”

“Sim”, menti.

“Tive que ler para a faculdade. Fiz faculdade de jornalismo”, explicou. Respondi que também fazia jornalismo e ele se animou. “Bacana. Você tem cara de que vai ser jornalista”, tentou me animar. Não retribuí a gentileza. Ainda estava tentando me livrar de vários preconceitos inerentes a... enfim, deixa pra lá.

“Você deve estar estranhando eu, bêbado, atrapalhando a sua leitura, né, cara? É que... posso te contar uma história?” pediu.

“Vamos lá. Essa é a sua vida!!”, brinquei. Ele não entendeu a piada. Ou entendeu e achou uma bosta. E começou a falar.

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