segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Obras de arte

Escrever o perfil de alguém é uma arte.

Inicialmente, demanda uma criatividade enorme para selecionar uma personagem bacana para se falar sobre. Dado o primeiro passo, você precisa se informar um bocado sobre o seu perfilado e pensar e conseguir marcar uma entrevista. Ou uma conversa informal, chame como quiser. Em seguida, é preciso uma apuração incansável. Com tudo na mão, é hora de quebrar a cabeça para arranjar um jeito diferente e cativante na hora de escrever.

Pareceu fácil? Pois não é.

Eu, por exemplo, fiz apenas um perfil em toda a minha ‘vida jornalística’, e ainda em um trabalho para a faculdade. Como a proposta foi feita ao mesmo tempo em que eu tinha algumas apresentações de modalidades nos Jogos Pan-americanos, acabei poupando a minha proposta acadêmica: já havia falado com um moleque da seleção brasileira de levantamento de peso uma vez em que estive no Pinheiros. Não precisei apurar mais nada, e me virei com o que tinha. Ou quase isso.

Meu professor gostou. Eu, nem tanto.

Um perfil feito decentemente gasta algumas muitas horas daquele que o escreve. Leituras, releituras, pedidos para alguém ler e reler. Pedir dicas. Esperar por mais inspiração. Apagar tudo o que já foi escrito e começar de novo. E isso gasta muito, mas muito mais tempo do que um post como este, que não me toma mais do que 20 minutos.

Mas o resultado final de um bom perfil vale a pena.

Um dia desses, li um perfil escrito por uma amiga. Era sobre o editor de esportes de alguma emissora de tevê a cabo, um homem de quem eu nunca tinha ouvido falar. Mas o texto estava muito bom e contava vários detalhes sobre a vida do cara. Depois de ler pela segunda vez, senti que conhecia o jornalista talvez melhor até do que conheço alguns amigos meus. Escrever um perfil bom faz com que todos os leitores tenham a mesma sensação.

Prova disso aconteceu comigo na semana passada.

Era terça-feira, se não me engano, e estava na fila do cinema. O tal editor estava também na fila para comprar o bilhete. Automaticamente, comecei a estender a mão para cumprimentá-lo como se eu já o conhecesse há algum tempo. Não era para menos: sabia onde ele morava, o que gostava de fazer, como era o computador dele na redação, quantos anos tinha... detalhes bestas assim. Mas contive o ímpeto rapidamente.

Afinal eu não o conhecia. Apenas havia lido um perfil sobre ele.

Nenhum comentário: