sábado, 12 de abril de 2008

Sorriso amarelo

Por melhor que possa estar o humor de um ser humano por inúmeros motivos, não é raro que haja uma reviravolta originada misteriosamente e que tudo seja alterado.

Era uma noite de sexta-feira quando eu percebi que a minha maré de sorte tinha sido modificada. Saindo da faculdade, coloquei as mãos nos bolsos, baixei a cabeça e segui meu rumo ao metrô. Nem parei no bar. Não era dia de diversão, pelo menos para mim.

Cheguei em casa umas 21h30, peguei qualquer coisa na geladeira para jantar e meu telefone tocou. Um amigo me chamava pra ir justamente a um bar. Vacilei ao aceitar, mas acabei achando melhor conversar com alguém. Não era dia de diversão, mas era dia de papos em uma mesa de bar.

Após algumas cervejas, abri a porta de casa novamente às 3h10. Troquei de roupa rapidamente, me atirei na cama e abri os olhos três horas depois. Escancarei a janela e vi um sábado cinzento, frio, quieto e ameaçador. Relutei, mas saí da cama, vesti qualquer roupa de frio e parti para o trabalho.

Ok, estava vivendo um mau momento pessoal, passando frio em um sábado de manhã, tinha dormido pouco e iria trabalhar. Não tinha o menor motivo para sorrir, mas ainda assim achei melhor estampar um sorriso no rosto. Um sorriso mambembe, eu sei, mas ainda era um sorriso.

E foi com esse sorriso que pedi o jornal na guarita do condomínio: “Opa, bom dia... vê o Estado do 1013, por favor?”. O porteiro olhou para mim com uma interrogação no rosto e pediu para eu repetir. Cético e sem sorriso, repeti e recebi o jornal.

Continuei minha jornada. Após pegar metrô e tudo mais, fiz uma pausa na loja de café para conseguir uma razão forçada para ficar acordado. A primeira atendente perguntou o que eu queria. Com um sorriso, respondi “Um café do dia tamanho tall, por favor”. Ela não entendeu e tive que repetir, novamente sem sorriso. “Café do dia. Tall”. “Ah, café do dia, né? E... qual o tamanho?”. “Tall”. “Qual o seu nome?”. “Felipe”. “Guilherme?”. “Não, Felipe”.

Subi a Campinas, virei na Paulista, atravessei na faixa, entrei no corredor do número 900 e parei na recepção, ainda tentando ostentar um sorriso no rosto. “Opa, bom dia... o 12 tá aberto?”. “O quê?”. Mudança de expressão facial e repeteco. “Já abriram o 12º andar?”. Ele não respondeu. Apenas pegou a chave e me pediu para assinar no livro de visitas.

Lembrei de um tempo em que nada, nada me atingia. Foi bom aquele tempo em que eu andava com um sorriso verdadeiro no rosto e era entendido sem precisar falar um A sequer.

Mas percebi que, diante de uma tormenta, não adianta tentar forçar um sorriso: você não será compreendido. E isso apenas tornará as coisas mais ameaçadoras. E foi justamente com esse pensamento que eu cheguei no meu computador e me afundei na cadeira para mais um dia de expediente.

(texto escrito alguns muitos meses atrás, mas que ganhou seu espaço neste humilde blog apenas hoje, pelo meu cansaço mental de produzir alguma coisa nova)

3 comentários:

Anônimo disse...

Hello. This post is likeable, and your blog is very interesting, congratulations :-). I will add in my blogroll =). If possible gives a last there on my blog, it is about the Impressora e Multifuncional, I hope you enjoy. The address is http://impressora-multifuncional.blogspot.com. A hug.

Carolina Maria, a Canossa disse...

Sério, essa história da compreensão parece comigo hoje.

Anônimo disse...

Os caras da recepção sempre demoravam uns 15 minutos para me entregar a chave aos sábados pela manhã. Como se já não bastasse o sono...