segunda-feira, 28 de abril de 2008

Sobre o remorso

Cometi muitas bobagens (não lá muito relevantes, diga-se) de uns tempos para cá, mas fazia um tempo danado que eu não me arrependia de algo – e o remorso, todo mundo sabe, é um dos piores inimigos do sono. Assim, tenho vivido como uma criancinha: deito na cama já nas altas horas da madrugada e começo a dormir sem muita enrolação.

Mas senti um arrependimento um bocado forte no último final de semana. Sem nada para fazer na manhã de sábado, peguei o jornal na guarita do prédio lá pelas 11 horas e fui ler alguma coisa interessante na pracinha do meu condomínio para fazer o tempo passar mais rapidamente até ir para o trabalho.

Após devorar a sempre genial coluna do Marcelo Rubens Paiva e me deliciar com as tirinhas de Calvin e Snoopy, ainda passei pelas páginas de esportes e pelo caderno principal. Até que senti que não tinha mais nada de muito relevante para extrair daquele monte de papel e simplesmente deitei no banco para olhar o céu. Foi quando o remorso bateu.

“Arrependimento de quê, cara-pálida?”, vocês se perguntam. E eu respondo de bate-pronto. Acontece que, justamente em uma manhã de sábado e também deitado naquele mesmo banco há pouco menos de quatro anos, vivi talvez o meu primeiro instante de paixão verdadeira na minha vida.

A cena é bonitinha. Estava bastante preocupado com as entregas de trabalhos escolares e não conseguia pensar em outra coisa que não fosse o sistema urinário, tema do trabalho de biologia. Naquela manhã ensolarada de novembro, todavia, decidi fazer uma pausa nos estudos para passar algumas rápidas horinhas (duas, no máximo) com a garota com quem estava saindo – que, naquele exato dia, se tornou a minha primeira namorada.

Estava reclamando para ela sobre a complexidade do trabalho de biologia e ela, um ano mais nova do que eu, não tinha muito o que me explicar sobre o tema. Mesmo com apenas 15 anos (eu tinha 16, é bom citar), ela tomou a decisão mais sábia naquele momento: ofereceu seu colo para que eu apoiasse a minha cabeça.

Não hesitei e apoiei a cabeça sobre as coxas da garota. Tive uma sensação mais do que aconchegante, esqueci de todos os meus problemas e, pela primeira vez, pude contemplar sua beleza de outro ângulo. Até o piercing de argola que ela tinha no nariz parecia reluzir mais.

Se eu havia achado que a Terra tinha quase parado quando trocamos nosso primeiro beijo, naquele momento o mundo certamente parara de girar. Não lembrei do trabalho sobre néfrons, rins e todo o resto e deixei tudo para depois, para quando o planeta voltasse ao normal. Foi a melhor decisão que eu poderia tomar.

E por que o arrependimento quase quatro anos depois? Porque eu que terminei o namoro com a garota por motivos que não vêm ao caso no momento. E porque, neste sábado de 2008, eu estava deitado naquele mesmo banco, em um dia parecido, e com a cabeça apoiada no concreto duro do banco. Nada do colo quente da garota e nada de suas mãos fazendo festa no meu cabelo.

Não foi saudade, não foi carência. Foi apenas a recordação de um dos top 5 dos meus momentos mais bacanas da minha vida amorosa.

E as piores recordações são aquelas acompanhadas de um pensamento do tipo “Toma! Pra você aprender a largar a mão de ser idiota”.

Para os curiosos: A tal garota já fora lembrada por mim em duas oportunidades neste blog: aqui e aqui.

4 comentários:

Alemão disse...

Trabalhos de Biologia são sempre bons ganchos amorosos.

Anônimo disse...

Rapaz, depois de 14 dias seguidos trabalhando 12 horas por dia em média, eu merecia mesmo essa folga no Primeiro de Maio, pô! Hehehe...

Aliás, esta semana está espetacular: folguei ontem, trabalho hoje e amanhã e folgo de novo na quinta. Na sexta acho que trabalho, mas sábado vou pro RJ!

:)

E sobre o seu post: recordar é viver, já diz o ditado. E momentos bacanas da vida amorosa têm mais é que ser lembrados sempre mesmo!

Anônimo disse...

Arrependimentos que vem de uma hora para outra significam que tudo o que passou ainda não terminou, pelo menos não para você. Que tal se ela soubesse que você se arrepende de algo?

Passo por uma coisa semelhante.
Mas a diferença é que não posso me mostrar arrependimento.

=(

Felipe Held disse...

Blah, comentários anônimos justamente um dia depois de eu comentar sobre eles por aqui.

Mas uma coisa: a gente sempre pode (e deve) se mostrar arrependido se o remorso enfim passou pela sua cabeça. A pessoa sempre com quem a gente quer se desculpar sempre está esperando por isso e você tiraria um peso enorme de cima de vc.

No meu caso, não mostro meu arrependimento porque a apaguei todos os contatos da garota da minha vida: e-mail, msn, orkut, telefone... no caso dela eu confesso que fui um péssimo namorado. Hoje ela está com alguém que cuida dela muito melhor do que eu. Não seria justo com ela tentar me explicar. Talvez, quem sabe, ela leia isso daqui um dia?