terça-feira, 31 de julho de 2007

Carta para o futuro

Escrevo esta carta seis meses antes de te conhecer e 12 antes de me apaixonar. Escrevo pura e simplesmente por saber que um dia você não vai ler esta carta, escrita sob a luz bruxuleante de uma vela e com uma letra torta, um pouco cansada. As palavras que você não vai ler não terão métrica, melodia ou sequer uma rima. Não farão parte de uma poesia, me desculpe. São apenas pensamentos esparsos em um domingo sem luz.

É uma pena que você não leia tudo o que escrevo agora. Gostaria que você soubesse o quanto vou gostar de você. E quantas vezes irei dormir pensando em você, em quantos sonhos a sua imagem aparecerá para mim... mais do que isso, talvez seria interessante se um dia eu te contasse isso. Quem sabe um dia, quando você já estiver casada e com três filhos (um deles terá o nome do seu marido).

Ainda não sei do desgosto que vou nutrir por você nos dias que sucederão à decepção que vou ter com você. Para falar a verdade, escrevo sem tê-lo em mente. A única coisa que move minha caneta é a imagem do seu sorriso tímido, que vai ser o meu porto seguro durante algumas semanas.

Também não passou pela minha cabeça que me apaixonarei e desapaixonarei por você sem ter-lhe tido em meus braços. Pensarei platonicamente em você sem jamais ter beijado seus lábios e sem ter segurado as suas mãos. As suas mãos pequenas, de dedos curtos, frágeis, que arrumam seu cabelo de mechas claras e brilhantes.

Escrevo sem saber que derramarei algumas lágrimas por você. Vou me lembrar de você em um sábado, depois de assistir a um filme sozinho em uma sessão noturna de cinema, de jantar em uma mesa vazia de um restaurante japonês e de tomar uma taça de vinho em um bar, ao lado de vários casais de namorados. Meus lábios ficarão trêmulos, meus olhos ficarão marejados e a primeira gota rolará pelo meu rosto quando estiver dirigindo, voltando para casa, e alguma música um pouco mais lenta irá tocar no som do meu carro. Mas ninguém verá, porque já será de madrugada e as ruas também estarão vazias.

Não cogitei a hipótese de perder algumas horas pensando em uma poesia singela e boba para lhe dar quando comemorarmos nosso primeiro mês de namoro. Não sei que um dia vou sonhar em passar nosso aniversário de um ano de namoro em um bar em Praga, antes de sentarmos à beira do Rio Vltava, com a visão do Castelo de Praga ao fundo. Mas não me importaria com a belíssima paisagem tcheca. Minha vontade era passar com a cabeça apoiada no seu colo quente, olhando para o seu rosto de baixo para cima e contemplando o seu sorriso.

E o pior é que também não imagino que um dia vou querer fingir que você não existiu para mim. Daqui um ano, iremos nos encontrar todos os dias e sequer nos cumprimentaremos. Sei que não. No máximo, darei um sorriso para responder ao seu oi quando nos virmos em algum corredor.

Só que não quero pensar em nada disso hoje.

Por ora, quero apenas te conhecer logo e imaginar como seria perfeito andar por um país sem conseguir me comunicar com mais ninguém, apenas você. Que me fará sorrir, se não pelo resto de nossos dias, pelo menos durante algumas semanas.

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