sábado, 25 de novembro de 2006

Apague as luzes e seja feliz

Ontem foi a formatura do meu irmão. Formatura de oitava série, mas não deixa de ser uma. Agora ele se acha o maior adulto porque tá no Ensino Médio. Tudo bem, eu também me achava a pessoa mais esclarecida do mundo quando eu tinha 15 anos. Em todo caso, acontece que em um evento como esse, a melhor coisa a se fazer é ficar na sua mesa tomando um ou outro copo de uísque e olhando o que acontece em volta.
De fato, foi o que eu fiz. Mas como os formandos eram um bando de pivetes, a única coisa bebível que tinha era batida sem álcool, mas com bastante leite condensado. Bah, preferi muito mais curtir a água - ela tava mais gelada.
Depois de todos os cerimoniais clichês, depois de We are the champions, depois de diplomas, abraços, flashes e muitos, muitos copos de água, começou a música que qualquer chimpanzé dotado de um polegar opositor e um surdo faria. Aquela coisa de puts, puputs, pupupuputs. Chamam isso de black, mas pra mim é tudo uma bela duma idiotice. Uma música mais chata do que a outra.
Era o que eu pensava. O que eu pensava, e não todo o resto. Quando tirei os olhos da manga da minha camisa, que eu dobrava por causa do calor e tudo mais, todo o espaço com cadeiras para os formandos tinha virado uma pista de dança, e apenas duas ou três garotinhas ainda pequenas arriscavam um ou outro passo de dança. Mas isso durou só uns cinco minutos. Em seguida, apagaram as luzes e todo mundo, todo mundo foi para o centro do salão.
Foi o tempo das músicas monotônicas terem um fim e a melodia ser trocada pela música de adestrar macacos. Sempre macaqueei isso que o Marcelo Nova disse uma vez, e só ontem o significado ficou evidente ao quadrado. Logo na primeira música, a Ivete Sangalo mandava a galera tirar os pés do chão. Em frações de segundos, o salão todo estava pulando e gritando uh, uh, uh. Bem agudo. Como um orangotango faz, sabe?
O fato é que, assim que as luzes se apagaram, todos tiveram suas felicidades e tal. Todos se desinibiram, rebolaram e tudo. Na mesa ao lado da minha, eu via uma garota [apenas força do hábito] com seus 30 anos tentando dançar. Quer dizer, ela entendia das músicas e tal, mas a dança era engraçada. A primeira era a Dança do Saci. Ela pulava num pé só o tempo todo. Era engraçado. Depois ela ficou com medo de requebrar na frente da sobrinha e foi no meio da molecada de 15 anos - onde tudo era mais escuro - e se desinibiu requebraticamente. Bah, a minha dança do tiozão breaco é mais engraçada.
Fiquei de longe observando e percebi que, sei lá, acho que eu nasci na época errada. Pra mim - pra Chiquinha também -, da discussão, nasce a luz. Quer dizer, eu aproveitaria bem mais uma mesa com copos de água, que seja, e pessoas conversando, e dando risada, e falando besteiras. Nada disso de requebra, requebra, requebra assim. Já a nova geração é feliz no escuro. Sem nenhuma luz - apenas algumas de cores primárias que giram e piscam, fazendo os velhos ficar com dor de cabeça -, sem nenhuma discussão.
Mais à frente, vi uma garota de, sei lá, uns 20 anos. Ela tava com uma mini-saia branca, e tava no meio da molecada de 15 na hora do axé. Na primeira música, ela rebolou o tempo todo. Pra mim, parecia que eu tava bebaço e tava olhando a lua cheia tremer. Quer dizer, ela sabia que tinha uma enorme... ahn... presença de espírito, mas mesmo assim rebolava e rebolava sabe-se lá como o quê. Na outra música, ela continuou rebolando no mesmo ritmo. Na terceira, as fusas viravam semifusas, que viravam fusetas e semifusetas e tudo mais. E ela mantinha o mesmo ritmo desritmado. Depois a música acabou e ela continuou rebolando. Imagino que agora ela esteja com dor nas costas.
Logo depois, puseram as músicas dos anos 70 pra tocar. Já tava imaginando qual som seria o mais apreciado, e não me enganei. Depois de La Bamba, começou a tocar a Twist and Shout. Quer dizer, essa é a melhor música de todos os tempos, fato, mas em tudo o que é lugar ela toca. Em todos os casamentos, em todas as formaturas, em todas as festas. Tava pensando que, quando eu me casar, talvez eu nem queria entrar ao som da Marcha Nupcial, mas ao som de You know you got me goin' now / Just like I knew you would... ou então ao som de Come on and twist a little closer now / And let me know that you're mine, woooooo. Quer dizer, é mó bonitinho. E seria diferente.
Ah, tô brincando. Mas é que, sei lá, se toca em todo casamento, então que seja oficializado, porra!
Depois de muitas coisas, voltei pra casa. Cansado de ficar na mesa, com dor de cabeça e com um puta sono. Tomei um banho, coloquei aquela fantástica roupa de ficar em casa e morri na minha cama. Meu irmão ainda tomou banho e veio se trocar no quarto. Ele acendia a luz e eu reclamava com ele, porque eu queria dormir. Enfim ele apagou as luzes e eu tive sonhos felizes.

4 comentários:

Lucas "Palmeirense" Mello disse...

haha Ahhhhhhhh Helda.. não seja tão duro assim com a nova geração!
são formas de diversão!
Todas válidas.
É aquela coisa: se não está fazendo mal a ninguém, que mal tem? hhahahaha
enfim, as vezes é bom variar a forma de se divertir.
Bom..tá certo que eu sou brega, mas numa festa como essas, e com meus amigos, eu me divirto mtoooo!!!!
Abraços!

Tomiate disse...

Adoro mulheres com grande presença de espírito.

Num limite tolerável, obiamente: o que um coleguinha jodense seu chama de "Gordelícia".

Anônimo disse...

No meu casamento rola Everlong.
Certeza.

Lobo disse...

Entendo per-fei-ta-men-te como você se sentiu nessa ocasião...

Hoje em dia, a diversão tem que ser, - oficialmente e descaradamente - algo imbecilizante.

Que pé no saco!

Abraços...









Longos dias, e belas noites...