terça-feira, 14 de novembro de 2006

Papo, pinga e petisco

Hoje, véspera de feriado, é dia de, sei lá, sair, ficar doidão, encher a cara e passar a quarta-feira de ressaca. Era o que eu iria fazer, caso uma gripe tomba-homem não tivesse me atingido. Toda a trajetória viral não interessa, o fato é que eu acabei ficando em casa na terça à noite.
Já me sentindo melhor, amigo meu me ligou e propôs algo um bocado interessante. Um bar. "Liga lá pro outro moleque, faz tempo que a gente não fala com ele". Meia-noite, pegamos o carro e fomos pro bar em plena Praça Roosevelt. Ao lado de um bar de teatros, dramaturgos e tudo mais. Um bar em que estava a Mel Lisboa e outras belezas do mundo trágico. Mas preferimos o bar vizinho.
Os papos eram, como sempre, interessantes. Bastante construtivos. Faculdade, teorias malucas, revista piauí, piadas engraçadíssimas e coisas do tipo. Tudo isso em meio a elogios ao bar, com uma decoração fenomenal. Olhávamos para o balcão e o dono do lugar estava lá, degustando um vinho e comendo um ou outro queijo. "Deve ser legal ser dono de bar, um bar como esse. Você toma uma, outra, troca uma idéia com a galera..."
Enquanto as Serras Malte iam e iam, as pessoas que passavam até que chamavam a atenção. "Aquele careca lá, tá vendo? Então, ele fez o clipe do Sidney Magal! Aquele 'Tenhoo, um mundo de sensações!', sabe?". Até um cara numa cadeira de rodas motorizada, que se sentou na mesa ao lado. Tudo bem, as cervejas. No fim das cervejas, as especialidades da casa. Não os petiscos, mas as pingas. O dono do bar foi chamado e deu suas dicas. Nada de Umbuena [era isso?], o bom mesmo era a Sassafrás. Ou era o contrário? Acabou que ele recomendou as duas. E depois apareceu com um livrinho que explicava todas as árvores medicinais e tal. Bastante interessante. Depois ele puxou um banco e começou a falar com a gente.
O dono do bar era um velhinho. Não tão senil, era do tipo de avô doidão que qualquer garoto do rock n' roll gostaria de ter. Ele fazia piadas, contava a sua história, o balanço do bar, as matérias que saíram nos jornais... e, claro, do alto de seus 70 anos, falava do vestido que realçava o corpo da loira na mesa 11. Ele falava do seu bar com um orgulho tremendo. Das experiências que ele fez com as cachaças ["Todo mundo deixa a pinga dentro de um barril da tal madeira. Porra, não é mais fácil deixar uma mandeira dentro da pinga? Foi o que eu fiz!"], e do nome. E que nome, porra! ["Antes, eu tinha uma loja que se chamava TTT. Treco, Troços e Trapos. Aí, porra, eu tinha que pensar num nome legal aqui. Mas não queria essa coisa de cachaçaria, é muito lugar comum. Então é pinga. Pinga... Pinga e petisco. E papo, que é o mais importante. Então, PPP"].
Foi quando ele disse que gostava dos seus clientes. "Olha, eu nunca vi vocês aqui, mas gostei pra caramba, sabe? São que nem aquele meu cliente, aquele lá na cadeira de rodas. Tão vendo? Então, é o Marcelo Rubens Paiva..."
Poderia simplesmente parar de escrever aqui e fazer o bar ter valido a pena.
Tá, é isso que eu vou fazer. Até porque eu não tenho mais criatividade pra continuar.

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