segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Sobre a certeza do erro

Timidez e insegurança se misturaram naquele momento em que o frio lhe acariciava o rosto e anestesiava as extremidades das mãos. Por muito tempo não soube como romper aquela larga barreira que separavam poucos centímetros em dois universos completamente distintos. Pensou, inclusive, em desistir e contentar-se com a incerteza e com a possibilidade de imaginar como seria tudo aquilo. Criaria, em seus pensamentos, o futuro ideal que jamais aconteceria.

Os centímetros, aos poucos, começaram a desaparecer – os que ficavam, porém, insistiam em se inchar em impensáveis proporções e se transformavam em quilômetros. Estava cada vez mais difícil. Improvável. E desnecessário, sobretudo. Não seria tão ruim impedir que a vida seguisse seu fluxo natural e recanalizá-la mais tarde em sua imaginação, como lhe apetecesse. É, não seria. Não mesmo. Além do mais, aquilo era um engano. Óbvio que seria. Certamente era. Estava claro. E estava decidido: não.

Mas quando teve certeza de que o não estava cravado no roteiro daquele momento resolveu desafiar a si mesmo. E, percebendo que obteve pequenos êxitos, ganhou confiança. Atirou para o lado todos os pensamentos – que, agora, pareciam inúteis – que havia acabado de ter e resolveu estender aquele desafio que lhe havia proposto a si mesmo.

A partir daí, notou que poderia, inclusive, decifrar os momentos e prever os instantes seguintes. O coração não palpitou quando os narizes, gelados, se encostaram e nem sentiu que tudo estava perdido quando ouviu “acho que é melhor eu ir”. Sequer respondeu. Apenas contraiu um dos lados do rosto e forçou um sorriso irônico acompanhado de uma expirada curta e forte de ar das narinas.

Seguiu ali, imóvel. Balbuciou algumas palavras. Viu um sorriso de resposta.

Cometeu o maior erro que poderia cometer naquele momento.

E se deu conta de que foi o melhor erro que poderia cometer.

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