domingo, 17 de outubro de 2010

A primeira ligação

O peito palpita mais forte do que o normal no momento que antecede aos toques do telefone. A cabeça produz uma insegurança amarga com a interligação intensa de milhões de neurônios, o coração comparte um medo e uma sensação de alívio ao bombear adrenalina por todas as veias, artérias e capilares do corpo, as pernas inquietas denunciam a ansiedade enquanto marcam o ritmo acelerado de uma canção que nunca existiu, as mãos vacilam na hora de apertar um botão... a garganta falha na hora de dizer a primeira palavra.

Então chega o primeiro impulso sonoro do outro lado, e os ouvidos se apuram em abafar todos os sons externos que atrapalhariam aquele momento de escutar aquela voz. Aquela voz! Aquela que, por um momento, pensou-se que jamais seria ouvida novamente. A mesma voz que, em outros tempos, pensou-se que jamais seria esquecida. A voz que, em determinadas ocasiões, bloqueou-lhe qualquer tipo de pensamento que não fosse escutá-la dizendo coisas que sempre quis ouvir.

É uma situação estranha, já que a cabeça, ao mesmo tempo em que trata de esquecer aquela insegurança inicial, pensa em milhões de maneiras de responder àquela voz, atrapalha-se toda e não consegue passar outra ordem às cordas vocais que não seja um gaguejo trêmulo. Afinal, são milhões de coisas a dizer. Muitas, talvez infinitas, mas que poderiam tranquilamente ser resumidas em apenas duas ou três palavras.

A mescla de sensações, em diferentes quantidades, é algo que realmente chamaria a atenção a qualquer especialista que analisasse aquele momento em que um ouve a voz que por tanto tempo esperou para ouvir. Felicidade? Sim. Insegurança? Lógico! Medo? Talvez. Saudades? Mas é óbvio! Tristeza? Um pouco. Esperança? Podemos dizer que sim. Certezas? Também. Otimismo? Aham, em proporções iguais às do pessimismo. E o que mais? Tudo. Tudo, absolutamente tudo.

O tempo passa. A conversa toma diversos rumos, muitos deles inesperados. É preciso, porém, manter cautela para não proferir uma ou outra frase que possa colocar tudo em xeque. Sempre há coisas que não devem ser ditas, perguntadas, imaginadas, cogitadas, supostas... “Ei, não pense assim”, teria sugerido a voz interlocutória, que certamente se havia dado conta do conflito mental que vinha do outro lado.

Hummm... ela realmente disse isso? Não se sabe. Talvez nunca se saiba se realmente deu esse conselho ou se ele imaginou isso. Tudo perdeu o sentido quando ela disse um milhão de coisas. Resumidas em duas ou três palavras.

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