sábado, 9 de outubro de 2010

1:44

O lençol estava tão desarrumado que o colchão já desgastado pelo uso estava à mostra. Os cobertores não estavam presos, mas sim esticados horizontalmente, esquentando os dois corpos que tremiam em parte pelo vento gélido da madrugada que entrava pelas janelas escancaradas daquele quarto de quinto andar.

As luzes, acesas: não era hora de perder aqueles últimos minutos de uma vista inesquecível.

Eram quatro os olhos, que tinham um brilho que não era nada além de reflexo das lâmpadas em uma solução aquosa de sais minerais e lipídios. Eram também quatro os braços, que se envolviam e envolviam dois corpos frios em decorrência daquela situação angustiante.

Dois narizes que se tocavam. Lábios que balbuciavam coisas que não haviam sido ditas e que nem precisavam ser. Corações que descompassavam e não seguiam o ritmo dos relógios de pulso que insistiam em abreviar a duração de cada um daqueles segundos que deveriam ser eternos. Poderiam ter ficado ali para sempre. Queriam, disseram. Tentaram. Arriscaram.

Não conseguiram. A vida, mesmo que incerta depois daqueles instantes, estava ansiosa por seguir – ela não se importava com nada, apenas insistia em seguir seu curso e apressava os já acelerados ponteiros que agora batem lentamente.

A vida seguiu.

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