quinta-feira, 25 de novembro de 2010

O dono das batatas

O início não é muito secreto: a fórmula sempre se repete. Você começa com aquela sensação desiludida, quer apenas passar um tempo e aproveitar aquela oportunidade “o máximo que puder, mas sem se envolver muito”. É sempre assim. “E se um dia der errado, bom... não vou estar envolvido, logo não vou me frustrar”. Aham, acredito.

O problema é que você entra nessa jogada mais do que preparado para se deparar com o pior cenário possível logo de cara. Quando uma coisa começa a dar certo e puxa consigo uma sequência de sucessos, se depara com outra situação: um pequeno envolvimento. “Ok, ainda não é tanto assim. Posso me desvencilhar a qualquer momento”. Tudo bem. Se você diz, eu sigo acreditando.

Chega um momento em que tudo aquilo já superou suas expectativas. Nem no momento mais otimista você imaginaria aquele cenário – aliás, o melhor panorama possível para você seria se aproximar do passo anterior. Você, então, acaba sendo dominado por uma sensação que te deixa estupefato, anestesiado, em outro mundo. Isso se chama envolvimento. Correspondido.

O passo seguinte é comprovar o anterior. Você ainda guarda uma ligeira desconfiança, mas dá uma chance para crer que tudo é diferente daquilo tudo que já foi vivido, que aquela não será mais uma frustração idêntica às anteriores. As situações, afinal, são completamente distintas. Você, inclusive, estava preparado para todas as possibilidades de topar com uma frustração e saiu ileso. Não custa nada dar uma chance, não é?

Pois bem. Você acaba dando uma chance, mas ainda assim tem um pé atrás. O que acontece é que, simplesmente, percebe o quão idiota foi por ficar um tanto ressabiado. Suas expectativas foram plenamente correspondidas. Não poderia ser melhor; se houvesse algo perfeito no mundo, certamente seria aquilo. Ora...

É quando você se sente nas nuvens. Nuvens? Ah, não me venha com essa! Você está muito mais além. As nuvens seriam demasiadamente rasas para aquilo que você está sentido. Você que flutua, você que pesa 2g e se vê no alto. No topo do mundo. Você é algo sobrenatural. Você não existe. Essa comunhão não existe. É perfeita. Nada pode abalá-la.

Então chega o momento em que você é derrubado. Quando menos se espera, algo faz com que tudo siga o velho roteiro já conhecido. Você se depara com o fracasso, vê todos os sonhos jogados no lixo. Sabe tudo aquilo que você sonhou? Pois esqueça, não acontecerá. Sabe toda aquela felicidade que você teve? Também deixe-a, foi em vão. E você não pode fazer nada, absolutamente nada para reverter esse cenário.

Só que... e você lá sabe isso? Você vai se culpar. Não deveria ter feito tal coisa em determinado dia. Não deveria ter vestido aquela camiseta. Não deveria ter saído de casa em tal ocasião. Não deveria ter falado algo, não deveria ter pensado uma ou outra coisa. A culpa é sua, embora você não perceba que é apenas uma vítima – e passiva – daquele momento.

E enquanto você saboreia novamente o amargo de uma decepção, outra pessoa festeja no seu lugar. E talvez escreva que se sente além das nuvens, no topo do mundo, pesando 2g e vivendo algo sobrenatural. Essa pessoa vive algo que não existe, algo perfeito. E nada irá abalá-la. Ele é o vencedor, meu caro. E ele tem as batatas.

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