terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Ponte aérea Pristina-Pequim

Creio que ninguém no momento esteja pensando nisso, mas ao ler recentemente algumas notícias sobre a independência de Kosovo, acabei enveredando as minhas reflexões para um lado nem um pouco engajado.

Bom, vamos lá. Kosovo sempre foi terra de ninguém (ou de vários). Antes, conhecida como Dardânia, incorporou o Império Romano, mas por volta do século IX foi tomada pelos Bizantinos de origem búlgara. Mais tarde a Sérvia decidiu ocupar o lugar, mas perdeu o comando séculos depois para os Turco-otomanos. Os eslavos só vieram reassumir o comando mais tarde.

No início do século passado, no entanto, os albaneses passaram a controlar a região. Depois de uma guerra e outra, voltou a fazer parte dos sérvios, mas desta vez sob o comando da Iugoslávia. Mas o reino dos eslavos do sul pouco a pouco foi sendo dizimado, reoriginando os já existentes Sérvia, Montenegro, Croácia, Macedônia, Eslovênia e Bósnia-Herzegóvina.

Tá, mas e o Kosovo? Bom, o Kosovo, de maioria étnica albanesa, continuou sob domínio da Sérvia. Depois da grande Guerra do Kosovo no final do século passado entre o que restava da Iugoslávia (Sérvia e Montenegro) e a Otan (patrocinada pelos Estados Unidos), o Estado não-independente foi controlado pela Organização das Nações Unidas, a ONU.

Mas o que de fato a baiana (ou no caso, a kosovar) tem pra ser controlada por todo mundo, inclusive pela ONU? Bom, não sei se esse é o principal atrativo local, mas o país é uma das rotas obrigatórias do tráfico pesado de drogas. Só a nata dos entorpecentes mundiais – o Morro do Dendê é fichinha.

Papo separatista vai, papo separatista vem, no começo deste ano a maioria albanesa do Kosovo (quase 90% da população) enfim decidiu se emancipar oficialmente no último domingo (e foi assim mesmo: um cara leu um decreto e zaz, independência!). Um dia depois, criou-se uma bandeira oficial e, de quebra, despertou-se um mal-estar entre EUA, Rússia e alguns países da União Européia.

Mas, por ora, o papo não é a geopolítica. A minha dúvida é se haverá atletas kosovares nos Jogos Olímpicos de Pequim-2008. Se em 2000 até o Timor Leste conseguiu enviar atletas, fica a dúvida sobre a possibilidade de os integrantes do mais novo país do mundo conseguirá desfilar com sua bandeira na cerimônia de abertura em agosto, na China.

Bom, não deve ser fácil. Em um país com 2 milhões de habitantes, é complicado aparecer algum atleta de alto nível, especialmente em um período tão conturbado como o vivido pelo Kosovo recentemente. Para se ter uma idéia, 2 milhões de pessoas é o número aproximado de pessoas que anda de metrô em São Paulo diariamente.

E quantos atletas você já viu no metrô? Até hoje, eu só vi um: um dos membros da seleção brasileira de canoagem velocidade, que voltava do Pan do Rio de Janeiro (ele tinha um caiaque nas costas, um remo nas mãos e uma camiseta oficial do COB – só assim que eu descobri que ele era atleta).

Embora quase nenhuma das federações de esportes kosovares sejam reconhecidas mundialmente e as seleções do país apenas disputem amistosos, fica a expectativa de o Comitê Olímpico Internacional reconhecer o Kosovo como um país independente.

Em vez de investir em armamentos e blábláblá, o governo bem que poderia tentar fazer algum nadador, corredor ou qualquer outro tipo de atleta a conseguir índice olímpico e participar de Pequim-2008. Seria uma propaganda e tanto para um Estado recém-formado (isso se ele continuar existindo até agosto).

Em tempo: Fidel renunciou em Cuba. A pressão que ele exercia sobre os atletas da ilha caribenha era enorme, mas dava resultado em ouro, prata e bronze nas Olimpíadas. Era mais ou menos a mesma coisa que a União Soviética fazia pra mostrar que o regime político lá era bom.

Em Pequim-2008, os cubanos não vão mais sofrer pressão do Fidel para conseguirem resultados e, mais do que isso, deverão ter mais liberdade para migrarem para os grandes centros do esporte (vulgo Europa e Estados Unidos). Além disso, vai mostrar se os atletas insulares eram mesmo um fenômeno ou corriam com medo do ditador.

3 comentários:

Anônimo disse...

E o que dizer dos atletas de Nauru, a menor república independente do mundo?
Os caras mandam super bem no futebol australiano, inclusive existe uma liga nacional com sete equipes!!! Fora o softbol, o cricket, o golf, a vela e o tênis...
Totalmente ignorados pelo Comitê Olimpico Internacional.
Acho que poderiam se aliar aos atletas de Kosovo e batalhar por um espaço ao sol...

Anônimo disse...

Puta bandeirazinha sem-vergonha a do Kosovo, hein? Mas como defenser da soberania kosovar, espero ver atletas em Pequim (ia mesmo citar o exemplo do Timor). Sempre tem um imbecil que dispute os 3 mil metros com barreiras nesses países...

Carolina Maria, a Canossa disse...

A bandeira do Kosovo é horrível - e é sempre bom saber que lá só tem "cherador". Mas a minha dúvida mesmo é: como alguém entra com um caiaque no Metrô de São Paulo ?

(ok, daqui a pouco um kosovar vai me ofender na Internet).