sexta-feira, 7 de julho de 2006

A vida pneumotoraxiana

É meio arriscado fazer um post sobre o dia inteiro logo às 9 da manhã, mas é que a empolgação é tanta que, sei lá, o dia já vai ficar com essa marca boa, com essa cara de perfeição, com essa luz que bate tão gloriosamente em minha janela [o sol das 7 às 10 da manhã é perfeito!] , com esses acessos de otimismo, confiança e alegria... que nada pôde tirar de mim. Nem a cara triste do rapaz engravatado no Metrô, nem a voadora que eu quase levei dum Nelore na porta do açougue, nem o elevador que ficou de palhaçada comigo (entrei, apertei o botão, a porta não fechou. Fiquei um minuto contemplando o novo visual - que me rejuvenesceu de 15 a 20 anos - e nada daquela merda subir. Abri a porta, fechei de novo... nada. Saí, fiquei olhando de fora... e nada. Aí desencanei, fui de escada, subi os longos, extensos e cansativos 18 degraus que me separam dos meus aposentos... ao chegar no meu andar, lá estava o elevador). Até parecia pegadinha, mas tava tudo tão perfeito! E nem rola escrever mais tarde, acho que a intensidade não seria a mesma. A aura (e essa merda me faz lembrar, sempre, só que não agora) estaria presente.

O único pesar é que eu deveria ter aproveitado melhor o momento. Não estava fazendo nada, não iria fazer nada... por que não fiquei mais tempo por lá? Deveria. Seria fantástico!

Tá, vamos às vias de fato: Após a comprovação de que eu estava certo, tive o reembolso justo de meus dezoito Reais que não foram corrompidos pela sujeira do mundo automotivo. Estava indo para o Metrô a fim de pegar o rumo à minha casa. Mas parei na frente da banca de jornal pra ver as manchetes do dia. As manchetes esportivas, claro. E o verde parece estar voltando a representar a esperança... El mago, Valdivia - ou sei lá -, mais o Marcelinho Loira do Tchan... Ah, demais! Agora vai! Apalpei os bolsos em busca de algumas moedas ou algo que valesse R$ 1,25, mas nada... Pensei em vender os Vales-Transporte que fazem volume na minha carteira, mas nem valeria a pena. Então virei as costas, tava indo pro embarque, mas logo na hora um velhinho (daqueles que são bem animados, sabe? Daqueles que passam a manhã de domingo no bar jogando dominó e conversando sobre o Campeonato Brasileiro e tal) barrigudinho, com uma roupa bem de velhinho - calça cinza escuro, malha (porque velhinhos falam malha) vinho e um boné (velhinhos de boné são demais, acho engraçadíssimo! Ah, eu me esbaldo!) do Palmeiras.

Ele se dirigiu a mim com uma cara atônita e uma pergunta meio idiota. Se fosse alguém com uma camiseta do Maluf, um cabelo encaralocado e ruim, uma havaianas e um vocativo bem característico (You, Diôu, Jão), quase certeza de que eu iria rir. Mas a do velhinho realmente me tocou:

- Onde eu compro passagem do Metrô?
- Atrás de você, senhor, tem uma fila. Tá vendo onde tem aquele monte de gente parada? Só entrar atrás de algum deles que o senhor vai cair no guichê. {e agora eu me lembro do meu quê de guia turístico, tão contemplado, rido e, sei lá... que me fez ver um sorriso interessante em Registro. São piadas ocasionais que fazem as pessoas darem risada, bem do tipo de que eu gosto}
- E depois pra pegar o metrô?
- Só virar na primeira esquerda, senhor. Tá vendo onde tem aquela plaquinha de embarque e a setinha pra esquerda? Então, lá já tem as catracas e tal. Aí o senhor pode ir pra qualquer um dos lados que vai sentido Tucuruvi.
- Tá, mas é aqui que eu compro?
- Isso, onde tem esse monte de gente.

{e aí vem a parte que fez meu dia ser o melhor das últimas semanas}

- É que faz tanto tempo que eu não venho aqui, a gente esquece!
- Ah, é normal (e um riso simpático).
- É que faz tanto tempo! Que nem, agora eu tô com 88...
- Nossa, mas não parece. Juro, o senhor está super bem! {e era verdade}
- É, então... eu quase não saio. Não tenho ninguém pra sair comigo...

{e foi aí. Não tive o dó que eu teria se fosse o velhinho Paulista x Brigadeiro que tivesse me falado... E nem o dó se fosse qualquer outro velhinho. Fiquei tão sei lá que nem consegui comentar nada}

- É, não tenho ninguém pra sair comigo. E é ruim sair sozinho, né? {só eu sei o quanto é, senhor}
- Ah, com certeza!
- Mas é ali que eu compro, né?
- Ah, eu tô indo embarcar também, a gente vai junto até a fila!

(Fomos)

- Pronto, senhor, é só ficar atrás desse cara com a camisa da França. É duro, né, ter que agüentar isso. Não basta o nosso Palmeiras, também tem que agüentar a Seleção...
- Palmeiras? (e deu uma olhada pra aba verde do boné) Ah, nem fala! Agora é só esperar aqui?
- Isso. Ah, por mim o senhor até poderia passar direto. É que sabe como o pessoal tem bom senso, né? O certo seria que o senhor passasse direto!
- Ah, tudo bem. É normal, mesmo. E aí depois é só pegar o trem?
- Isso. Só virar aqui, logo depois do guichê.
- Tá, brigadão, viu?
- Ah, magina, senhor. Bom dia, bom passeio!
- Bom dia!

{e dei-lhe um pequenino abraço. Achei esquisitíssima a sensação que eu tive. Um misto de felicidade e tristeza. Porque eu sentia que a gente nunca mais se encontraria... e mais mórbido ainda, que ele logo mais...}

E assim foi. Logo que eu passei das catracas, achei que deveria ter voltado. Porque eu me senti tão bem falando com o velhinho... ele parecia estar tão animado em falar comigo... Ah, deveria ter voltado! E eu tô com essa sensação até agora! Impossível a gente se encontrar de novo, eu sei, mas seria demais! Era como se ele fosse meu avô. E eu tenho tanta falta de um avô, de uma avó... de um velhinho de quem eu pudesse ouvir histórias da vida {verdadeiras ou não, porque o que avô mais gosta de fazer é inventar}, mas que me entretivesse. E que se entretivesse. Seria demais.

A única certeza que eu tenho é que eu quero viver bastante. Bastante mesmo, pra servir de avô exemplar pros meus netos e tal. Porque agora eu sei o quanto é importante pra uma criancinha ter um avô, uma avó...

É, eu me senti como se a gente fosse avô e neto. E tive a maior vontade de que vivêssemos juntos ou tivéssemos um puta contato. E aí ele não teria essa de falar que não tem com quem sair, porque todo domingo eu pegaria o carro [que carro? Ah, deixa eu imaginar, vai!] e a gente iria pro jogo do Palmeiras. Ficaria nas cadeiras, no melhor lugar do estádio. Comendo pipoca, amendoim e tal. Como ele fazia comigo quando eu era pequenininho e ia todo uniformizado pro estádio. Como ninguém nunca fez comigo quando eu tinha 6 anos de idade...

E não só jogos do Palmeiras. Iríamos ao cinema, à praça, a uma porrada de lugares.
Uma vida. Uma vida que não foi. Podia ter sido, mas não foi.

E a alegria perdura. Notas altas, excelente bimestre levado nas coxas, com a barriga ou em Banho-maria. Fenomenal!

{e porque esse foi o único texto que eu quis revisar depois de pronto. O único texto que fez com que eu tivesse vontade de corrigir os erros de digitação e tal}

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