sábado, 1 de julho de 2006

oh

Em todas as minhas desventuras cotidianas, eu tenho a maior vontade de poder ter alguma coisa que me deixasse poder escrever. Tenho idéias sensacionais, planejo milhares de figuras de linguagem, de rimas, de jogos de palavras... Imagino um texto fenomenal [à minha maneira] e não paro de pensar nesse pequeno embrião. Isso sempre quando eu perco um trem do Metrô, quando um carro passa pela poça e me molha, quando eu pego chuva ou quando a pilha do meu discman ou, sei lá, quando o Palmeiras perde.

Mas agora a decepção é tanta, é tamanha, que eu não consigo pensar em nada. A cabeça pesa, o olhar é profundo e pro nada, a vontade de ficar com a boca fechada é tamanha, qualquer som passa em vão pela minha cabeça. Qualquer manifestação de emoção minha é em vão, não sai. E qualquer manifestação de emoção alheia me dá raiva. Nenhuma ironia me cai, nenhum comentário sério me é conciso, nada dito é compreendido. E a vontade de escrever não existe. Nenhum pensamento, nada de interessante. Só um formigar na ponta dos dedos que me impede de manter a cabeça entre as mãos olhando para o chão. Porque o chão tem sido o alvo dos meus olhares ultimamente.

Sempre foi assim. As maiores decepções não me tiram uma lágrima sequer. As pequenas, sim. Talvez porque uma grande abale inclusive o sistema nervoso, sei lá. Foi assim em julho de 98, foi assim em dezembro de 99 (duas vezes), foi assim em junho de 2000, foi assim em dezembro de 2000, foi assim em junho de 2001, foi assim em junho de 2002, foi assim em dezembro de 2002, foi assim em julho de 2004, foi assim em julho de 2005, foi assim em dezembro de 2005... foi assim três semanas atrás. E foi assim hoje. E está sendo assim hoje. Só essa sensação de decepção, nada mais.

Nenhuma surpresa, eu sei. Eu disse que pessimismo e realismo são a minha vida. Eu sabia de cor todas as datas até o jogo das oitavas-de-final. Eu nunca vi o Brasil ganhar da França. E minhas superstições foram vãs. Agora nem tem muito mais o que falar, muito mais o que fazer. Não adianta culpar um imbecil que não mexe no time, não adianta culpar um time apático. Não adianta culpar um cabeludo ridículo e nem ninguém. Falar o quê? Não tem. Tudo bem, deixa pra lá.

Mas se era a Copa o que me dava esperança, se era a ilusão de um 10/07 fenomenal, acho que tenho de arranjar alguma coisa. Mas de tempos pra cá, que otimismo eu tenho? Meu time quase conseguindo uma vaga pra segunda divisão e com uma diretoria que consegue ser tão inteligente quanto a Carla Perez, a minha auto-estima atinge gradativamente o chão, minhas possibilidades de novos horizontes se restringem ao nada (não o nada distante, o nada nulo)... E agora?

E olha que eu imaginava isso desde quando li a coluna do falecido, logo depois da euforia de 2002. Tá, a vida não acaba aqui e eu não parei de ouvir isso três semanas atrás, mas... quem se importa? Só queria ter voz pra mandar enfiarem todos os fogos no olho do cu. Queria ter voz pra mandar enfiarem no rabo todas as mensagens saudando a França. Nunca entenderam nada de futebol. Nem gostam de futebol e agora querem apitar. Por isso que dizem que mulher [mulher nenhuma, a real é essa] não entende nada de futebol.

Pelo menos vou poder voltar a fazer a barba. A promessa foi pro saco, né? Poxa, em 2002 ela funcionou...

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