segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Sabatina

Algumas pessoas dizem que eu me entrego demais ao trabalho. Que valorizo muito mais o emprego do que a minha vida social. Que perco horas do meu escasso sono vendo algum jogo da NBA ou da Copa do Mundo de vôlei até altas horas da madrugada para colocar o relato no ar com mais informações do que apenas acompanhando os resultados em outro site. Que deixo de sair nas madrugadas de sábado para domingo nos finais de semana em que sou escalado, sendo que poderia muito bem emendar a madrugada ou ir de ressaca para a redação.

Não discordo de nenhuma dessas pessoas: às vezes até eu mesmo acho que me preocupo em demasia com coisas relativamente bestas. Mas poucas pessoas sabem o quanto de experiências fascinantes eu vivo durante o expediente.

Apenas para enumerar algumas coisas: andar de Mercedes com um bicampeão de Fórmula 1, ver o Corinthians perder para o Sport em pleno Pacaembu, conversar com uma capa da Playboy, pegar a estrada em uma quinta-feira de manhã... mas foi no último sábado que, talvez, tenha vivido uma das coisas mais inusitadas e prazerosas.

Cheguei ao número 900 da Paulista às 6h40 e iniciei minhas tarefas minutos mais tarde, depois de abrir a redação, ligar o quadro de luz e esperar meu computador – lerdo e barulhento, porém meu xodó – embalar de vez. Como ficaria sozinho na redação até 10 horas, aproveitei para descalçar os tênis e ficar apenas de meia. E puxei a cadeira do lado, estiquei as pernas... ah, a liberdade solitária!

Tinha que fazer o relato de Brasil x Coréia do Sul pela Copa do Mundo feminina de vôlei, e dediquei toda a minha atenção para Paula Pequeno, Sheilla e cia. limitada.

Não percebi quando a Globo encerrou a transmissão da partida e começou a passar um outro programa. Concentrado nos resultados da NBA, tive a atenção desviada apenas por uma voz praticamente indecifrável, mas inconfundível, e que me remeteu a um dos melhores momentos da minha infância.

Enquanto o Pato Donald fazia suas palhaçadas na televisão com os esquilinhos Tico e Teco, percebi que lá fora caía uma chuva até que bastante forte. Foi quando o cenário de redação praticamente desapareceu e eu me vi com cinco ou seis anos, às 9 horas de uma manhã fria logo após acordar, deitado no sofá da sala de casa vendo desenhos de Mickey, Pateta e Pato Donald.

No mesmo instante senti falta de algo fundamental para uma fria manhã sabatina com os clássicos desenhos animados do Walt Disney: uma bebida quente. Entre o leite com chocolate feito pela a minha mãe que beira a perfeição e o café grande com gosto de água suja do Monet, fiquei com a segunda (e única) opção.

Decidi, então, pegar o elevador, descer nove andares e comprar o café, que, apesar de horrível, poderia fazer aquele momento ser ainda melhor. Depois de pegar a tradicional fila causada sobretudo pela, digamos, incompetente atendente de caixa, peguei a bebida e voltei para o 12º andar.

Mas assim que cheguei novamente à redação, olhei pela janela e a chuva já tinha parado. Até um sol se arriscava timidamente entre as nuvens. Só que o pior de tudo foi ver que já não passava mais o Pato Donald na Globo, mas sim algum dos desenhos japoneses que a emissora insiste em passar diariamente. Confesso que foi uma decepção bem grande.

A lição que ficou disso tudo? Trabalhar sábado de manhã pode não ser a melhor coisa do mundo, mas proporciona coisas inesperadas. E o mais importante: forçar algo inesperado para se tornar próximo ao perfeito é um risco, que pode custar o fim do acontecimento.

2 comentários:

Anônimo disse...

Imaginei você indo ao Monet de meias. Ia ser mais legal.

(Reparou que nessas melhores lembranças de desenhos na TV na infância, o dia nunca está ensolarado? E os desenhos nunca são essas porcarias japonesas?)

Carolina Maria, a Canossa disse...

Duvido que você teve esta mesma sensação de felicidade entrando às 6 da manhã do domingo!

:-D

E adivinha quem vai te substituir na sexta de manhã?