sábado, 17 de novembro de 2007

Improbabilidades possíveis

Andar de metrô todos os dias nos últimos oito anos fez com que eu tivesse inconscientemente a sensação de que posso encontrar alguém conhecido a qualquer momento. Tanto que, sempre que estou desacompanhado, mantenho meus olhos atentos para um possível encontro.

E tudo isso não deixa de ser uma grande besteira. Por quê? Bom, para isso vão ser necessárias algumas contas. Vamos lá?

São Paulo tem 10,8 milhões de habitantes, sendo que cerca de 1.936.141 pegam o metrô diariamente. Destas, ‘apenas’ 324 mil freqüentam as mesmas estações que eu. Por dia. E digamos que meu senso comum contenha, sei lá, 500 pessoas.

As plaquinhas nas estações também dizem que o tempo máximo de espera por um trem na plataforma é de três minutos. Logo, temos 20 trens por hora. E se o horário de funcionamento do transporte público subterrâneo é de aproximadamente 20 horas, temos que, por dia, são 400 trens fazendo a viajem em um sentido. Como são dois os sentidos (o que vai e o que volta), temos 800. E eu, ultimamente, tenho pegado quatro deles (indo e voltando duas vezes, é bom citar).

Agora, as contas propriamente ditas; a começar por uma regra de três para supor quantas pessoas do meu campo de conhecimento, teoricamente, freqüentam as mesmas estações que eu. 324 mil estão para 10,8 milhões assim como x está para 500. Depois de muito quebrar a cabeça, cheguei à conclusão de que x = 0,000015.

Agora... se aproximadamente 0,000015 passam pelas mesmas estações que eu diariamente, quais as chances de encontrá-las? 0,000015: 800 (trens) = 0,00000001875. Calma, o número não pode ser tão baixo assim... quer dizer, como ultimamente eu tenho feito quatro viagens por dia, multipliquemos essa cacetada de zeros por quatro. 0,00000001875 x 4 = 0,000000075.

Ah, outra coisa que eu acabei de lembrar. Um trem tem seis vagões. Dividindo esse número mínimo por seis...0,0000000125? E por mais 500, que é o tamanho do meu ciclo social, 0,00000000025... Multiplicando por 100 para ter números percentuais, chegamos a 0,0000000025%. Ou seja, uma chance praticamente nula de eu encontrar uma determinada pessoa.

Ok. Apesar de a matemática jogar contra, nutro tal expectativa com certa veemência. E tenho até divido essa possibilidade de encontro em seis grupos: 1. pessoas que eu evito; 2, pessoas que eu não gostaria de encontrar; 3. pessoas com quem tanto faz me encontrar ou não; 4. pessoas que eu gostaria de encontrar; 5. pessoas com quem seria muito divertido de se encontrar e, por fim; 6. pessoa por quem (há pouco mais de um ano) nutro um desejo incontrolável de um encontro (algo que, aliás, nunca aconteceu).

Esses encontros são capazes de mudar o meu ânimo para o restante do dia. Se encontro certas componentes do grupo 3 ou então pessoas dos grupos 4 ou 5, costumo ter um dia mais agradável. Do 1 e do 2, além de alguns do 3, fazem com que meu dia não seja tão bom.

E foi o que aconteceu hoje: voltando da Gazeta, tive a sensação de que encontraria alguém, embora meu pensamento estivesse absorto na construção da notícia da Masters Cup de tênis, cuja final acontece amanhã (bem) de manhã.

Enquanto esperava o metrô na plataforma, imaginava algumas coisas para o iminente tetracampeonato do Federer e o Green Album tocava nos meus ouvidos. O trem chegou, abriu as portas e eu, ainda com as mãos nos bolsos, tive meu olhar, antes errante, desviado para uma garota com um piercing de argola no nariz (meu confesso ponto fraco).

Depois de perceber o piercing de argola no nariz, olhei para o restante do rosto da garota. Cabelos, olhos, bochechas, lábios... humm, conhecia aquele rosto. Droga. Uma antiga, frustrada e conturbada paixão platônica colegial. Grupo 1. Talvez até menos, se houvesse designação possível.

Nossos olhares, que se cruzaram por instantes de segundo, refletiram toda a nossa decepção. Ambos sabíamos que a chance de nos encontrarmos era de apenas 0,0000000025%.

Um comentário:

Carolina Maria, a Canossa disse...

Eu encontro conhecidos no metrô/tróleibus com uma frequência assustadora.

Muito maior que essas suas contas.

Medo.