terça-feira, 22 de maio de 2012
Sorriso de meio rosto
terça-feira, 15 de maio de 2012
Suspiro
Muitas vezes a tua finalidade nada mais é que... se recompor. Renovar a carga daquilo que você se desprendeu. Só que, como nos ensina a vida, a tua chance de cumprir o teu objetivo é de 9 em 10. Digo, 10 elevado à máxima imaginável potência. E então esteja preparado para as consequências do fracasso. Que não são muitas, na verdade. A única coisa que pode te acontecer é simples.
domingo, 13 de maio de 2012
Uma semana depois
Em conversas desse tipo é que o clima se torna o melhor assunto das galáxias. Se faz frio, melhor. Mais minutos de comentários amenos sem objetivo algum. E sobre isso que falaram. O frio, o vento, o calor, a falta dele, qualquer coisa que estivesse relacionada... ao clima. Não ao tempo. Tempo era uma palavra a ser evitada, neste e nos outros incontáveis e impensáveis universos paralelos que os envolviam. Falaram sobre o clima. E depois sobre os empregos. Inventaram insatisfações que não existiam apenas para manterem aquele (re)encontro frágil da forma mais fácil e falsa que podiam. E ficaram assim durante infinitos 15 minutos.
Se beijaram.
Não um beijo desengonçado, mal ensaiado, torto, morto. Era um beijo, como todos os beijos daqueles que um dia se amaram devem ser. Mas foi melhor do que isso. Nada ensaiado. Foi improvisado. Sentido. Vivido.
sexta-feira, 11 de maio de 2012
Claustrofobia
Daqui mal posso saber o que acontece aí do outro lado. Escuto alguns ruídos, sinto que às vezes você se aproxima mas não sei se está de fato pensando em me tirar daqui de dentro, se apenas esbarrou por aqui sem querer ou se está brincando comigo. Enquanto isso tento continuar minha fantasia, cada hora com um desfecho, cada hora com um andamento diferente. É o que me resta, não?
A verdade é que estou aqui por uma boa razão, você me convenceu. É para que você extermine todos os males daí de fora e venha me resgatar quando tudo já estiver calmo e tranquilo para que possamos viver em paz. Você quer apenas me proteger, até de você mesma, e eu deveria pensar que linda atitude esta, que sinal de altruísmo. Que atitude a se levar em conta!
Desculpe, a falta de luz me deixa irônico.
Andei pensando muito. Sei que não estou forte o bastante, sou apenas um pequeno ovo com a casca um pouco rachada, mas queria te pedir: por favor, me tira daqui? Está muito escuro, já está fazendo bastante calor, não estou conseguindo respirar bem e meus sonhos se me confundem, não sei mais o que é realidade e o que é fantasia.
Por mais que não esteja forte o bastante, quero lutar. Quero fazer parte dessa guerra, quero estar na linha de frente e reabrir o caminho para tudo o que estava por vir. Quero ter minha lança empunhada, te dar a outra mão. Aceito pelejar sem escudo, de tão certo que a vitória virá contra esse exército tão grande que se voltou contra nós sem nenhuma razão na qual valha a pena pensar.
Mas se você não quiser lutar essa guerra e prefere dar-se por vencida, tudo bem. Me tira daqui do mesmo jeito. Quero seguir minha vida, respirar novos ares, voltar a ser espontâneo e estar mais à mercê do porvir. Quero fazer eu o meu destino, não esperar que o façam por mim sem saber o que virá. Cansei de estar aqui, sozinho, no escuro, trancafiado, não fazendo nada além de contar os dias, as horas e os minutos sem poder sequer ver o meu relógio. Não sei nem se acabei de entrar aqui e estou fazendo birra ou se estou aqui já há séculos. Não sei o que é o tempo, mais.
Seja como for, decida-se. Agora. Deixa de fazer esse jogo, não quero brincar. Esse jogo perverso que só me faz ficar ansioso e angustiado aqui dentro. Assuma, nem que seja só hoje, a consequência das tuas atitudes. Ou confesse, pelo menos uma vez, que a tua decisão não foi a melhor possível e admita o teu erro. Seja sincera, seja honesta, nem que por um pequeno instante. Lute comigo ou me deixe lutar em outra guerra, com outras pessoas. Não fui feito para estar aqui, preso, no escuro, dentro da tua gaveta.
Gaveta... Que coisa muito louca.
Gaveta, que em espanhol se diz cajón.
Cajón, que em portunhol se traduziria caixão.
Caixão, que em espanhol se diz ataúd.
Momento de reflexão
Manuel Bandeira, um gênio
Você me conhece?
(Frase dos mascarados de antigamente)
- Você me conhece?
- Não conheço não.
- Ah, como fui bela! Tive grandes olhos, que a paixão dos homens (estranha paixão!) fazia maiores... fazia infinitos. Diz: não me conheces?
- Não conheço não.
- Se eu falava, um mundo irreal se abria à tua visão! Tu não me escutavas, perdido ficavas na noite sem fundo do que eu te dizia... Era a minha fala canto e persuasão... Pois não me conheces?
- Não conheço não.
- Choraste em meus braços!
- Não me lembro não.
- Por mim quantas vezes o sono perdeste e ciúmes atrozes te despedaçaram! Por mim quantas vezes quase tu mataste, quase te mataste, quase te mataram! Agora me fitas e não me conheces?
- Não conheço não.
Conheço que a vida
É sonho, ilusão.
Conheço que a vida,
A vida é traição.
Close para o fim
Só que o problema maior não é isso.
Há quem tente superar a dor fingindo naturalidade, forçando a normalidade e transparecendo uma sanidade madura e estável. Isso dói, e dói muito. Dissimular uma condição que não é a tua te sufoca na hora de escolher as melhores palavras, as melhores expressões, as melhores respostas, os melhores roteiros.
A verdade é que nada sai direito. Aquelas que pareceram até milissegundos atrás as melhores chaves para as portas encerradas explodem na madeira maciça e sequer a fazem tremer. E pior: tornam-na mais forte e cada vez mais intransponível. Especialmente se a aleatoriedade sempre havia deixado aquelas portas escancaradas, mostrando do outro lado um jardim alegre, habitado por altas árvores e flores e pássaros e borboletas e insetos e... (aquilo ali é um arco-íris?) e abrilhantado pelos raios de sol das 8 da manhã.
Mas parece que dissimular é o melhor cenário.
(É o que eu tento dizer a mim mesmo)
(E eu mesmo me respondo, sem muito pestanejar)
- Ah tá, como se isso fosse um filme de final feliz.
quinta-feira, 10 de maio de 2012
Queria te dizer tanta coisa.
O ar, limpo, frio, saborosamente insosso, estufa meu peito.
Me acalma.
Me conforta.
Oxigena meu cérebro, tenso, e acalma minhas terminações nervosas.
As mãos, molhadas e frias, se esquentam.
Expiro o ar vagarosamente, quase calmamente.
Sinto a carga pesada esvaziando minha cabeça.
Sinto meus olhos, antes nublados, quase cegos, que não faziam outra coisa senão enxergar lembranças nos lugares mais incomuns (e mais improváveis), se fechando naturalmente.
Sinto o sono que há tempos não sentia.
Quero dormir.
Preciso dormir.
Apesar de ainda ter tanta coisa para te dizer.
Mas...
...
Preciso não te ligar amanhã.
quinta-feira, 3 de maio de 2012
Divisão da cama de casal
Nunca, mas nunca mesmo, uma cama de casal vai ser repartida igualitariamente entre duas pessoas – a não ser que um muro de tijolos seja colocado sobre um meridiano de Greenwich imaginário sobre o colchão, o que faria com que toda a mística sobre um leito para dois deixe de existir. Só que... sinceramente, quem se importa?
Jamais será você quem invadirá o espaço alheio (embora, sim, você também o invada). Sempre será o outro, e acho que isso passa um pouco pelo processo de automartirização de uma pessoa apaixonada. Sem neologismos, o que você quer mesmo é valorizar todos os sacrifícios que alguém em tal condição de insanidade amorosa é capaz de fazer.
E é necessário frisar aqui: dormir sozinho é uma das maiores comodidades que já inventaram. Você tem todo o espaço do mundo, pode se mexer à vontade, não acorda com o próprio ronco e (quase) nunca terá um déficit de cobertas. E poderá se cobrir e descobrir quando bem entender. Isso é inegável.
Enquanto isso, a partir do momento em que você divide um colchão com alguém, certos problemas surgem. Há menos espaço. Menos mobilidade. Menos liberdade. Mais chutes. Mais cotoveladas. Mais chances de cair da cama. E olha que ainda nem mencionei o ronco: eu, se pudesse, escolheria meu par amoroso pela altura do ronco. Por sorte, sempre fiz escolhas acertadas (neste quesito, vamos nos concentrar neste quesito).
Outra coisa: o corpo humano não foi desenhado para a cama de casal, que comporta no máximo três braços. Um (o teu, obviamente) sempre sobrará. E ficará dormente, independentemente da maneira como for acomodado. É um verdadeiro incômodo, vai por mim.
Olhando por esse lado, dormir com outra pessoa é a pior coisa do universo. E afirmo tudo isso com a tarimba de quem já fez a loucura de dividir uma cama de solteiro com alguém. Por mais de um mês. Mais de uma vez.
Foram as melhores noites da minha vida.
Aconteça o que acontecer, nada se compara ao acordar ao lado da pessoa de quem se gosta e ter como primeira sensação do dia o sentir o contato da tua pele com a dela – que já é quase a tua. Nem tampouco ao olhar ainda sonolento dela, sem maquiagem ou com o rímel já todo corrido, que te dá arrepios cada vez mais fortes. E falar o que do primeiro “oi” que você ouve e que faz o teu dia melhor, por pior que você saiba que ele vá ser?
É difícil encontrar algo que também seja melhor que dormir grudado com a pessoa amada, em um abraço tão forte que demonstre que você nunca a deixará ir. E ficar nessa posição durante uma, 3, 6, 8, 10, 12 horas. Quantas forem necessárias, e que serão uma fugacidade. Deveriam durar para sempre.
E se em algum momento cansar e seu corpo, entediado, rogar por uma mudança de posição... ele mesmo vai te implorar, menos de 10 segundos depois, para voltar ao abraço e ao aconchego dela. E com o tempo o braço que sobra na cama... até ele vai se acostumar a passar toda a noite dormente, formigando, dolorido, incômodo.
Aos poucos você só vai conseguir responder se teve uma boa noite de sono se dormiu com ela.
quarta-feira, 2 de maio de 2012
Pandora, maldita
Ah, Pandora, tua maldita.
Não pudeste simplesmente deixar-me alheio de tudo isso? Não pudeste simplesmente deixar-me tão contente com a minha ignorância, a minha ignorância que me fazia tão bem? A minha ignorância que era a minha felicidade! Funesto conhecimento este, que nada mais faz senão amuralhar qualquer brisa de esperança que queira vir em minha direção.
Ah, a esperança.
Esperança, consolo dos não ignorantes, única alternativa de felicidade dos infelizes. Feliz era eu, errado, sem esperança e sem males que me atormentassem. Tinha apenas os meus sonhos – que nada tinham a ver com a esperança. Então teu jarro, tua caixa, teu amaldiçoado cofre, que em um mundo ideal jamais seria preenchido nem pela mais remota e passageira dor... e que me brindou o indesejado conhecimento e me roubou a ignorância, prenúncio de felicidade.
Ah, a... felicidade?
Agora me contento com a esperança e te la suplico. Renuncio à antiga e falsa (eu sei) felicidade de outrora pela inebriante esperança se permitas que ela me traga novamente aquela ignorância quase pueril, que me turve os olhos e me devolva o andar torto e soberbo dos bêbados. Que torne minha sobriedade tão embriagada, tão insensata, tão improvável, tão irreal e tão concreta, tão real, tão provável, tão sensata.
Ah, Pandora...
Por quê?