terça-feira, 15 de maio de 2012

Suspiro


Às vezes custa dizer alguma palavra mais bonita, profunda, demonstrar um sentimento ou o que quer que seja. É difícil, se seja algo realmente sincero e que saia do mais ínfimo pedaço do teu organismo.

Dizer algo verdadeiro, sincero, é se desprender daquilo. É um desabafo, não deixa de ser. Uma coisa da qual você se livra, que se desgarra das células dos seus órgãos e que vai fluindo pelo interior do teu corpo. Segue um fluxo tortuoso e instintivo até ser arranjado em uma sensação passível de tradução para o cérebro. E aos poucos você vai agrupando letras, palavras, orações, frases e expele tudo aquilo por meio da boca.

As palavras sempre saem fortes, com o intuito de atingir a quem se fala. E toda essa força te daria um tranco para trás caso tudo isso fosse um processo pura e simplesmente físico. Fato é que, se você está desprovido de forças e ainda assim reúne algum restolho para tal atitude, sente algo parecido a essa reação.

Tudo isso, imagino eu (e partindo do pressuposto de que você está dizendo algo realmente intenso, importante e verdadeiro), tem lá sua intenção. E você, se pudesse, acompanharia atentamente o caminho das tuas palavras até o objetivo proposto e esperaria ansiosamente pela retribuição de tal gesto. E que faria tudo valer a pena.

Muitas vezes a tua finalidade nada mais é que... se recompor. Renovar a carga daquilo que você se desprendeu. Só que, como nos ensina a vida, a tua chance de cumprir o teu objetivo é de 9 em 10. Digo, 10 elevado à máxima imaginável potência. E então esteja preparado para as consequências do fracasso. Que não são muitas, na verdade. A única coisa que pode te acontecer é simples.

Você vai acompanhando o rastro das tuas palavras, prende a respiração e vê todo aquele emaranhado de palavras se colidindo a um robusto e bem concretado muro de estilo holandês, composto pelos mais espessos tijolos que poderiam ser encontrados no mercado. Te parte o coração, essa é a verdade. Mas antes mesmo de os teus olhos se marejarem você se lembra de que precisa respirar.

A entrada do ar te oxigena o cérebro, expande o ângulo da tua visão e... te deprime um instante até você poder raciocinar um pouquinho melhor. Você vai se fechar, você vai perder parte do teu senso de humor, você vai reagir a qualquer estímulo exterior com um simples “ah, ok”.  Fique tranquilo. A vida segue. Mas você nunca mais arriscará as tuas últimas fichas contra aquela enorme e imponente barreira. Até amanhã.

O que eu quero dizer com tudo isso?

Direcione melhor as tuas palavras quando quiser dizer algo realmente importante. Ou crie um blog. Ou fuja para as montanhas.

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