sexta-feira, 11 de maio de 2012

Claustrofobia

Tenho medo do escuro. Tenho medo das paredes que não posso ver, mas que sei que estão bem aqui do lado aquecendo o ar cada vez mais escasso que aspiro. Evito respirar, tento não desperdiçar o pouco que me resta para continuar nessa sobrevivência à espera de ver a luz novamente.

Daqui mal posso saber o que acontece aí do outro lado. Escuto alguns ruídos, sinto que às vezes você se aproxima mas não sei se está de fato pensando em me tirar daqui de dentro, se apenas esbarrou por aqui sem querer ou se está brincando comigo. Enquanto isso tento continuar minha fantasia, cada hora com um desfecho, cada hora com um andamento diferente. É o que me resta, não?

A verdade é que estou aqui por uma boa razão, você me convenceu. É para que você extermine todos os males daí de fora e venha me resgatar quando tudo já estiver calmo e tranquilo para que possamos viver em paz. Você quer apenas me proteger, até de você mesma, e eu deveria pensar que linda atitude esta, que sinal de altruísmo. Que atitude a se levar em conta!

Desculpe, a falta de luz me deixa irônico.

Andei pensando muito. Sei que não estou forte o bastante, sou apenas um pequeno ovo com a casca um pouco rachada, mas queria te pedir: por favor, me tira daqui? Está muito escuro, já está fazendo bastante calor, não estou conseguindo respirar bem e meus sonhos se me confundem, não sei mais o que é realidade e o que é fantasia.

Por mais que não esteja forte o bastante, quero lutar. Quero fazer parte dessa guerra, quero estar na linha de frente e reabrir o caminho para tudo o que estava por vir. Quero ter minha lança empunhada, te dar a outra mão. Aceito pelejar sem escudo, de tão certo que a vitória virá contra esse exército tão grande que se voltou contra nós sem nenhuma razão na qual valha a pena pensar.

Mas se você não quiser lutar essa guerra e prefere dar-se por vencida, tudo bem. Me tira daqui do mesmo jeito. Quero seguir minha vida, respirar novos ares, voltar a ser espontâneo e estar mais à mercê do porvir. Quero fazer eu o meu destino, não esperar que o façam por mim sem saber o que virá. Cansei de estar aqui, sozinho, no escuro, trancafiado, não fazendo nada além de contar os dias, as horas e os minutos sem poder sequer ver o meu relógio. Não sei nem se acabei de entrar aqui e estou fazendo birra ou se estou aqui já há séculos. Não sei o que é o tempo, mais.

Seja como for, decida-se. Agora. Deixa de fazer esse jogo, não quero brincar. Esse jogo perverso que só me faz ficar ansioso e angustiado aqui dentro. Assuma, nem que seja só hoje, a consequência das tuas atitudes. Ou confesse, pelo menos uma vez, que a tua decisão não foi a melhor possível e admita o teu erro. Seja sincera, seja honesta, nem que por um pequeno instante. Lute comigo ou me deixe lutar em outra guerra, com outras pessoas. Não fui feito para estar aqui, preso, no escuro, dentro da tua gaveta.

Gaveta... Que coisa muito louca.

Gaveta, que em espanhol se diz cajón.
Cajón, que em portunhol se traduziria caixão.
Caixão, que em espanhol se diz ataúd.

Nenhum comentário: