segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Identificação nacional

Ainda me lembro da primeira vez que me dei conta de que o Brasil tinha um hino nacional. Foi em 7 de setembro de 1993 (ou seria 1992?), quando fui a um desfile que comemorava mais um ano da independência. Na frente, tinha a bandeira do país e, atrás, a cola com a letra da canção.

Achei bem legal, e em uma semana havia decorado o hino. Isso me ajudou bastante em 1994, quando todo mundo foi obrigado a aprender a cantá-lo para a formatura da pré-escola. Durante um dos ensaios, a diretora da escolinha disse para todos que o brasileiro era o hino mais lindo do mundo. Se ela disse, tava falado.

Dois anos depois me disseram a mesma coisa. Falaram que o nosso hino tinha a melodia mais gostosa do mundo, além de que a letra era bem bonita, já que falava apenas da beleza natural brasileiro e não fazia menção alguma a guerras. Acabei adotando isso como verdade absoluta.

Mas de uns tempos para cá fui tendo contato com alguns hinos de outros países e, surpresa, muitos deles eram tão bons quanto o brasileiro. E o melhor de tudo: alguns deles tinham trechos que evocavam uma emoção tremenda em quem cantava. Passei a gostar pra caramba de ouvi-los, então.

Uma coisa é bem verdade: várias canções nacionais falam de guerra. Tudo em decorrência das guerras por que passaram antes de proclamarem sua independência, para se unificarem ou para vencerem os invasores ao longo da história. E isso faz com que muitas evoquem uma unificação muito grande quando cantados.

Talvez eu não tenha ouvido mais do que 50 hinos diferentes. Mesmo assim, seis deles dificilmente mudarão o meu conceito se, porventura, um dia eu não tiver nada para fazer e decida escutar todos os hinos do mundo. São eles:

5º) Qassaman: A melodia parece alguma cena inicial de um filme de 1930. Mas a Argélia talvez tenha um dos hinos mais brutos que existem, dados os seguintes versos: “Quando falamos, ninguém nos ouviu. Então, tomamos o som da pólvora como nosso ritmo e o som dos canhões como nossa melodia”. Mesmo assim, é legal a mensagem que é dada em uma estrofe extra, às vezes cantada: a vingança que, cedo ou tarde, virá. Colonizados por franceses entre 1830 e 1962, os argelinos deixam um recado aos ex-ocupadores. “França, a era da repressão está acabada, e fechamos esse período assim como se fecha um livro. França, este é o dia da vingança. Então se prepare para receber a nossa resposta”.

4º) A Portuguesa: O hino de Portugal é bacana, e os versos das duas últimas estrofes são muito legais. Tem o “E teu braço vencedor/Deu ao mundo novos mundos”, mas os melhores mesmo são os “Raios dessa aurora forte/São como beijos de mãe/Que nos guardam, nos sustêm/Contra as injúrias da sorte”. No entanto, os tradicionais “Às armas, às armas/Contra os canhões marchar, marchar” são os responsáveis por eu gostar tanto assim.

3º) Inno di Mameli: Famoso por tocar quase todos os domingos nos pódios das corridas de Fórmula 1, o hino italiano é cativante. A melodia lembra bem uma música italiana, o jeito que os atletas cantam, abraçados, lembra a cultura italiana. Outra peculiaridade é que os versos curtos foram escritos em 1847 por Goffredo Mameli, que na época tinha apenas 20 anos, como a maioria de nós. E, mesmo assim, é um hino mais do que cativante ao ser ouvido.

2º) Hino da Independência: A parte mais famosa deste hino é o seu primeiro verso, infelizmente. O “Já podeis da pátria filho” se tornou o famigerado “Japonês tem quatro filhos”. A melodia foi composta por um sujeito com um nome muito simples: Pedro de Alcântara Francisco António João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim de Bragança e Bourbon, mas o que chama mais atenção, pelo menos para mim, é a segunda estrofe. “Houve mão mais poderosa/Houve mão mais poderosa/Zombou deles o Brasil”. Uma pena não ser o hino oficial. Para mim, é uma canção muito mais intensa do que a cantada pifiamente por aí.

1º) La Marsellaise: Aux armes, citoyens! Formez vos bataillons. Marchons, marchons! Qu'un sang impur abreuve nos sillons! E qualquer coisa que eu escrevesse além disso seria apenas para encher lingüiça.

Um site legal para alguém que estranhamente tiver esse mesmo interesse por hinos nacionais como eu tenho é este aqui. O único ruim é que, assim como em quase toda a internet, as versões do hino são em formato Midi, como se tivessem sido compostas do Guitar Player. E, claro, a letra não é cantada. Uma pena.

Goleada contra: Está redondamente enganado aquele que pensa que apenas o nosso hino nacional é vítima de uma bizarrice como esta. Já ouvi várias vezes que boa parte da população norte-americana não sabe cantar o hino dos Estados Unidos. O pior de tudo não é isso, mas sim quando o intérprete simplesmente se esquece da letra, como neste caso.

Outra coisa que pode acontecer é alguém não muito indicado cantar o hino publicamente. No Pan, o Brasil passou por isso com a Elza Soares cantando uma versão assustadora da nossa canção nacional na cerimônia de abertura dos Jogos. Os EUA não ficaram muito atrás também.

Mas nada se compara a isso, uma jóia rara do acervo do Youtube.

Um comentário:

Carolina Maria, a Canossa disse...

Eu também tenho carinho por hinos, mas minha ordem é diferente da sua:
6 - Inglaterra
5 - Estados Unidos
4 - França
3 - Portugal
2 - Brasil
1 - Itália (dá até vontade de ser italiana. Olha isso: http://www.youtube.com/watch?v=5Zbtly3uRhM).

Aliás, ótima idéia de post! Talvez eu copie! :-P