terça-feira, 22 de agosto de 2006

Pegadinha do Mallandro

E pensar que este tinha sido um dos primeiros comentários sobre o primeiro emprego.

"Tempo vago ao quadrado... O trabalho só pode ser pegadinha", eu disse. É, foi uma pegadinha... e de mau gosto. Uma coisa dessas não se faz, ó, Bárbara!

Eu nunca gostei de filmes que começam pelo final, mas acabei tomando esse rumo no post. Bem, deixa eu tentar consertar...

Eu nem queria o emprego. O salário era mais baixo do que aquele que eu queria de verdade, o trabalho era mais chato... mas eu iria trabalhar menos, e em casa! E eu teria minha fonte de renda pra pagar as aulas do idioma maluco... e teria uma reserva para viajar por esse mundão de Deus-dará daqui a um tempo. Então eu topei.

Como de costume, a mãe sempre se empolga mais do que o próprio filho. Dava pra sentir o orgulho que ela tava tendo, o sorriso feliz que há tempos não soltava tão feliz. Então eu fiz a minha parte: acordei cedo, às 7 da manhã [e isso já é uma vitória pra quem acordava todos os dias ao meio-dia], tomei banho, briguei com o cabelo, coloquei camisa combinando com calça, calça combinando com sapato... e mimimi. Pego metrô, pego outro metrô, pego ônibus... e chego lá em cima da hora, pra minha sorte. "Meu primeiro dia de trabalho, não vou chegar atrasado".

9 da manhã e lá estou eu. Só eu e a secretária. Ela liga o computador pra mim e eu fico lá fazendo nada. Melhorando meu vocabulário neerlandês e tudo mais. E fico nisso até às 11, quando finalmente chegou alguém. Faço meu serviço medíocre [jornalístico como uma tuba] em meia hora e continuo navegando no mundo virtual da internet. Depois vejo Chaves e vou almoçar com o pessoal do escritório.

Volto do almoço [e que desagradável! Eu jurava que era amostra grátis de suco de maracujá com coco, nunca imaginei que aquele copinho plástico era uma batida!] e continuo fazendo nada. E não fiz nada até as 4 da tarde. Faço mais um trabalho tubalístico em meia hora e agrado a chefia. Assim como agradei nas etapas de seleção. O emprego era meu, a confiança de todos estava comigo... aaaah!

Foi por volta dessa hora que chegou um cara hierarquicamente mais fodão. Porque ele chega às 16h, 7 horas depois do reles estagiário de 18 anos. E ele senta numa mesa [não senta exatamente na mesa] de frente para todo o escritório do conjunto 143. Mas não é o chefe, porque ele tem uma sala só pra ele, o conjunto 144. Mas recebe ligações importantes, fala em nome de empresas... é, era um mais assim... top.

E é quando todo mundo sai da sala que ele vem falar comigo.

- Oi, a gente ainda não teve tempo de se apresentar, né?
- É, é verdade...
- Meu nome é Edson... e você? Felipe, né?
- Isso. Prazer.
- Tá tendo alguma dificuldade?
- Não, nenhuma...
- Nem com os clippings? Você já fez algum, sabe como é?
- Sim, já fiz um monte. Fiz 2 na etapa de seleção e hoje fiz mais 2.
- Ah, legal... legal. Vem cá, eu tô meio atrasado com o meu trabalho, você poderia fazer um clipping pra mim?

[claro, né? Quem é o estagi(ot)ário?]

Fiz e mandei pra ele, que lê e vem na minha mesa [improvisada, porque a garota dona da mesa tinha faltado]: ficou muito, muito bom [ah, até parece! Eu fiz nas coxas aquela porcaria!]... só vou pedir pra que você fale mais do presidente dos otorrinolaringologistas e da semana de saúde... o presidente é nosso cliente, a semana é um projeto nosso. Sabe como é, né?

[claro! Eu odeio o mundo do Jornalismo por causa disso]

Refiz. Refiz e reenviei. Logo depois recebo outro e-mail:
Está ótimo. Muito obrigado.

Pff, imbecil [fazia tempo que eu não falava isso, então vai de novo: IMBECIL!]! Estava a 5 metros de mim, até menos... por que me mandou um e-mail? Não poderia ter falado?`Pff...

Mas o mais legal foi quando eu tava de saída, às 18h. "O chefe quer falar com vc antes de vc ir, Felipe... pode ir na sala dele?". Claro, né? Fui. E fui pensando que ele ia combinar o horário, o salário e as atividades comigo. Ou elogiar meus textos, ele dizia que gostava [não sei do quê e nem por quê. Porque eu escrevia sem o menor gosto, sem a menor vontade... e escrevia as coisas mais simples possíveis naquela josta]. Pois bem. Chego na sala dele, sento... e ele me olha com mó cara de cu: "olha, eh..., eu nem sei o que eu vou dizer pra vc, tô morrendo de vergonha... Uma droga isso que aconteceu, mas a gente rompeu com um cliente e agora as coisas apertaram um pouco. Então não vai rolar mais estágio por enquanto. Não tem nada a ver com vc, pelo contrário, porque tava todo mundo adorando o seu trabalho, parecia que vc já tinha experiência nisso... mas... desculpa, desculpa. Mas eu tenho seu telefone, até sexta-feira eu te ligo e te recontrato."

Passei o número da minha conta pra que ele depositasse as valiosas vinte pratas do meu serviço [R$ 2,15/hora] lá. Mas eu já tava dando risada, tava achando engraçado. Foi engraçado todo mundo se despedindo de mim, me dando um até logo que eu fazia questão de deixar claro que era um adeus. "Até mais. Qualquer dia a gente se encontra por aí, talvez".

E foi assim que eu fui demitido 9 horas depois de começar a trabalhar. Engraçado. Engraçado ligar pras pessoas e falar "fui demitido". Engraçadíssimo na hora, deprimente agora. Oh! =(
É, eu deveria estar na Psicologia. No curso ou no divã, não sei. Ou nos dois.

Deprimente, sabe? Aquele estilo de depressão que não te faz chorar, mas só andar com a cabeça olhando o sapato engraxado... e botar as mãos nos bolsos sem nem se importar com os 8º da Paulista. E não usar blusa, só a camisa social. "Você vai se resfriar, menino!". Qual a diferença? Já tô todo fodido, mesmo! Não te faz chorar, mas faz as lágrimas caírem do seu olho involuntariamente. Não estava chorando, estava até rindo. Mas meu olho chorava, era esquisito.

Esquisito. É assim que tudo tá parecendo pra mim.
Esquisito.

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