segunda-feira, 20 de maio de 2013

Recaída

Eu pensei que já havia sido capaz de domar minha mente e amortecer os impactos que os pensamentos diários sobre você causam no meu dia a dia. Mas não consegui sufocá-la. Dei-lhe um pequeno espaço de respiro e, sem perceber, me vejo novamente asfixiado pelo fantasma da tua existência.

Não lembro direito como isso começou, acho que foi quando sonhei com você. Ou com a tua família, já não sei. Sei que aquilo me afetou. Me derrubou durante um ou mais dias. Só que, ainda assim, segui soberano de mim mesmo. Tanto que me deixei afrouxar a folga no mecanismo que comprimia e censurava as recordações recorrentes sobre você.

Tudo corria bem, até mesmo quando eu me flagrava lendo e relendo a mensagem de aniversário que você me mandou e eu não respondi. Ou, então, quando ia procurar qualquer pessoa no Facebook e, automaticamente, digitava as três primeiras letras do teu nome. Ato falho, admito, mas nada que merecesse uma atenção maior da minha parte.

O problema foi quando você decidiu reaparecer em um sonho. Sem figura, sem perfume, sem som e nem nome. Era apenas “ela” na voz que morava em meus pensamentos e que me dizia o que fazer. “Não é dela que você sente falta? Não é ela por quem você tanto espera? Não é dela que você não consegue se livrar? Pois não desista! Busque-a novamente, reconquiste-a! Desta vez vai ser diferente”.

Acordei mal-humorado. Me culpava por haver baixado a guarda para mim mesmo e ter me nocauteado. Eu estava certo e eu estava redondamente enganado. Ao mesmo tempo, em todos os contextos e em todas as interpretações possíveis. Minha cabeça doía. Minha garganta se arranhava com cada gota de saliva que eu insistia em tragar. Meus ouvidos se tapavam e me tapavam qualquer som exterior. Éramos eu, meus pensamentos e meu novo resfriado.

Um resfriado, justo agora? Exatamente um ano depois de tudo o que aconteceu? Me obrigando a sentir os mesmos sintomas, na mesma época seca do outono, e a reviver as mesmas dores de antes? No mesmo anoitecer gélido e solitário que o mês de maio me impõe?

Sim. Sim, sim, sim e sim. Tudo de novo, inclusive o renascer das mesmas dores da alma que me abalaram e que se confundiram tanto com as complicações pequenas que um simples resfriado proporciona.

A cabeça que lateja, sobrecarregada de lembranças tuas. O nariz congestionado, que não consegue absorver o ar e que, na verdade, nem se preocupa em completar os movimentos da respiração. Apenas realiza, mecânica e aceleradamente, inutilmente, a ação descontrolada de inspirar e expirar. Inspirar e expirar. Cada vez mais rápido. Nspirar e xpirar, nspirar e xpirar, spirar e xpirar, spirar e xpirar, pirar e pirar, pirar e pirar, pirar e pirar.

A garganta fica seca. Seca por dizer tudo que tem engasgado por ali, arranhada por tantos sentimentos cortantes que lhe foram impingidos. Dói. Inflama. E clama por dizer tudo que deve e que não pode ser dito.

E o peito, que vive o maior paradoxo que poderia encontrar. Carregado e congestionado de tantas impurezas e ao mesmo tempo tão vazio e inóspito, que o coração se amedronta por estar em um lugar tão obscuro - teme o próprio eco das batidas sem ritmo que cisma em realizar sem nem entender por quê.

Nenhum resfriado me dói tanto como estes que vêm acompanhados de você. E queria – e queria talvez mais do que tudo – que fosse tão fácil me curar de você como de um resfriado qualquer.

Mas lá se vai um ano que eu continuo sofrendo desse mal e tendo recaídas e recaídas de você. E, nos meus delírios febris que tenho pelas manhãs sob dois cobertores, já não sei mais se você é um vírus que insiste em corroer meu organismo, um mecanismo de autoflagelação criado pelo setor doentio e masoquista da minha mente, uma assombração ou um vício do qual eu não consigo (e talvez nunca tenha querido) me libertar.

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