sábado, 23 de março de 2013

A desconhecida que se despe

Poucas coisas no mundo são tão sexy como a mulher desconhecida que, sem querer, para à tua frente, espicha a coluna, se inclina ligeiramente para frente e para trás e tira o casaco que leva posto.

É como se o mundo reduzisse a marcha naquele curto momento em que teu pensamento foge da tua cabeça, dispara até os limites da galáxia e retorna à tua mente com tanta força que te deixa meio tonto. É como se você fosse o ser mais oni-qualquer-coisa que já existiu. É como se... não sei dizer.

Tudo isso porque a desconhecida, cujo rosto você mal pôde observar, cruza os braços à frente do corpo, fazendo um X como se demarcasse naquele ponto o local onde está guardado um tesouro de inestimável e inalcançável valor.

Ela move os braços, inverte o X e começa a puxar a tal blusa, enquanto seu corpo serpenteia por inteiro, da cabeça às bases dos tornozelos, como se se quisesse livrar o mais rápido possível daquela segunda pele que lhe asfixia. Apenas os pés, fincados ao chão, resistem àquela sincronia de movimentos.

Pouco a pouco os dedos, pressionados ao tecido, obtêm o êxito de levantar aquele abrigo tão desconfortável e deixam mostrar um novo corpo que vem abaixo, de curvas mais definidas, de pele suave, convidativo o bastante para te impedir de desviar o olhar para qualquer meteoro que porventura esteja por cair sobre a tua cabeça naquele instante.

Enquanto isso, ao mesmo tempo em que trata de desvencilhar-se daquele casulo e libertar-se da pesada e calorenta lã que a envolve, ela trava uma luta contra a peça que vai abaixo. Calcula a força, a velocidade e a intensidade de todos os movimentos que faz para evitar que, sem querer, termine despida de tudo o que leva vestido.

É uma combinação de movimentos quase perfeita. E digo quase porque a batalha é vã. Quis a vida que sempre a camiseta que vai abaixo se suba ligeiramente, escorregue e mostre um ou dois dedos da barriga nua, de cor opaca, flagrada distraída e traída pela própria dona desajeitada que não zelou pela sua privacidade .

Mas é justamente este o delito que faz com que cada fragmento de segundo investido na observação desta cena tenha valido a pena. Porque a beleza não está na ausência de falhas. As coisas mais lindas desta vida são aquelas com um, dois, três ou não importa quantos defeitos.

A perfeição,  bem da verdade, não tem graça nenhuma.

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