domingo, 9 de dezembro de 2007

Sobre os dias ruins

Tem dias em que a primeira coisa que eu faço ao abrir os olhos é fechá-los novamente. Inconscientemente, como se isso fosse me proteger de toda aquela sensação mais do que incômoda de que as horas fora de casa serão terríveis.

Mas isso, infelizmente, não funciona. Segundos após abrir os olhos, o despertador dispara o velho som estridente e me impede de ficar na cama. Deixo a cama ainda cambaleando, tropeçando... e o pior: espirrando. Nada pior do que começar o dia com um ataque de rinite.

A alergia dura muito tempo – o suficiente para me deixar de mau humor. Na sensação de que o ataque me tirou preciosos minutos, começo a fazer as coisas rapidamente para evitar o atraso. Besteira: percebo que estou pronto com dez minutos de adiantamento. O que resta? Ligar a televisão na primeira baboseira no afã de o tempo passar.

Ao sair de casa, porém, tenho o enorme desejo de voltar. As avenidas estão vazias, assim como as ruas, alamedas, paralelas, transversais... Isso me deprime. É como se todo aquele espaço, antes apinhadíssimo, fosse meu. Um desperdício.

Toda essa sensação de solidão me dá vontade de ligar para alguém. Tem vezes em que até saco o celular da mochila e dou uma olhada rápida pela lista. Melhor não. Talvez ninguém entenderia o que estava acontecendo.

Mas a humanidade, embora não esteja na rua, não foi dizimada: ela se escondeu no metrô. Para minha infelicidade, já que um banco vazio seria o ideal na tentativa de dormir mais alguns minutos e acordar com um humor melhor. Mas o único banco teoricamente disponível é ocupado por algum cara nem um pouco altruísta, que repousa a mala de viagem ou a sacola de compras no assento. Resta-me, então, ficar em pé e lutar contra o sono.

Apenas uma coisa poderia me despertar e recuperar o humor: doses cavalares de cafeína. Mas todas as minhas fontes de cafés grandes estão fechadas. Maldade: até o Popeye descola latas de espinafre quando mais precisa. Eu, enquanto isso, tenho que me contentar com um banho de água gelada no rosto. Não deve fazer bem.

É quando eu sinto que todas as coisas conquistadas até hoje foram fáceis demais, ao passo que todos os meus principais objetivos são praticamente impossíveis de ser atingidos. Isso sem falar em todas as pequenas felicidades cotidianas desperdiçadas à toa. São nesses dias em que eu tenho as piores crises existenciais.

É justamente nesse momento que me dá vontade de me render simultaneamente a três dos meus principais vícios: ficar deitado, fazer palavras cruzadas e ver programas de esportes. Não é pedir muito, é? Sei que não. Mas o homem jamais vai ser feliz aos domingos.

Um comentário:

Anônimo disse...

Pode me ligar nessas horas, Held. Eu entendo mais do que deveria.