terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Hierarquia

Uma coisa que está implícita no convício social: os lugares no carro determinam hierarquicamente quem é quem em um grupo de amigos ou até mesmo em uma família. É algo tão inerente ao ser humano que quase ninguém percebe isso hoje em dia. Ou, se nota, não dá a devida importância.

No banco do motorista sempre senta o motorista, obviamente. E, curiosamente, a pessoa que dirige é geralmente aquela mais segura de si, dos seus atos e de suas palavras. Até porque é preciso um bocado de autoconfiança para dirigir em uma cidade caótica como São Paulo.

Ao lado do condutor, no banco do passageiro, vai sempre aquele ser que possui mais afinidade com a figura principal do veículo. Esposa, marido, namorada, namorado, melhor amigo ou amiga. Sempre. E os bancos de trás ficam relegados às pessoas que, teoricamente, são os coadjuvantes do relacionamento.

Em uma família isso é bem claro: os pais ocupam os bancos da frente e os filhos vão atrás. Na ausência de um dos chefes da família, o banco da frente é geralmente assumido pelo filho mais velho. Eu, por exemplo, não me sinto nada bem vendo meu irmão mais novo no banco da frente ao lado da minha mãe. Nada de ciúme bobo ou algo do tipo, mas apenas nível hierárquico: primogênitos na frente, oras.

Em um círculo de amigos também. O dono do banco do passageiro é sempre a namorada (ou namorado) do motorista (ou da motorista). Se não há um par afetivo na história, o melhor amigo (ou amiga) assume o posto. Em muitos casos há uma amizade bastante intensa e um outro tipo de relação. Costuma-se, assim, haver um rodízio. Que muitas vezes não é combinado, faz apenas parte da intuição de cada um.

Assim também é possível perceber o quanto você está em alta com seus amigos. Se você vai na frente com relativa freqüência, parabéns. Caso haja um revezamento justo, melhor ainda: são todos bem amigos. Só que se você já está acostumado a conversar com as pessoas da frente apenas olhando pelo retrovisor, tome cuidado... seu moral não está muito alto. E se você for o dono do carro, relaxe: sempre haverá alguém para andar ao seu lado.

São raras as pessoas que fogem à regra e abrem mão de seu nível hierárquico (o que apenas reflete uma das características humanas: quem abre mão do poder?). Eu já me arrisquei a mudar de ‘posição social’ voluntariamente algumas vezes anos atrás: quando um amigo mais velho, que já dirigia, se propunha a dar carona a algumas de minhas paqueras para casa.

Muitas vezes deixava de ir na frente para fazer companhia às garotas no banco de trás. Não dava muito certo: a mudança social abrupta assustava-as, e muitas vezes achavam que eu estava profundamente apaixonado, a ponto de abrir mão do lugar de direito do carro. Um erro fatal para inocentes relacionamentos juvenis.

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