domingo, 24 de setembro de 2006

Encheção de saco agora se vende em spray

Eles nem sabem empregar direito a nostalgia. Não sabem nem o significado que ela tem. Assim como não sabem muita, muita coisa. E, definitivamente, não sabem dar boas desculpas. Aliás, não sabem nem pedir desculpas.


Tudo isso é reflexo desse mundo sem escrúpulos, que me instiga e me inibe, simultaneamente, de escrever algo quiçá interessante/decente. Eu até gosto da humanidade, mas as pessoas me deprimem. Muito. Porque as pessoas, sei lá, as pessoas não se importam. As pessoas dizem que a maioria das pessoas são muito firas, mas que há cinqüenta anos atrás tudo era diferente. E as pessoas separam sujeito do predicado usando vírgula ou apenas se vislumbram com uma superprodução Hollywoodiana [não que eu seja daqueles que vêem o cinema dos EUA como o maior mal da humanidade e todo o blablablá; só acho que ele é mais pragmático do que o Parreira].



Se querem saber o verdadeiro sentido da nostalgia, devem, antes de tudo, saber não aproveitar uma fase que é perfeita. Talvez do mesmo jeito que eu estou fazendo agora, parando pra pensar num mundo perfeito de dez anos atrás. Entretanto, essa bosta de nostalgia [oh, a minha melhor amiga] deve ser boa para que um dia eu possa falar pros meus netos algo do tipo "nem queira crescer agora! Aproveita a sua infância, que é a melhor época da vida!". E aí eles continuariam a me encher o saco falando que ser adulto é legal porque podem ficar acordados até tarde ou dirigir um carro, e aí eu vou dizer "então troca de lugar comigo, porque eu quero ser criança de novo".



É, eu quero. Quero poder sonhar em ter um cachorro e implorar pra minha mãe comprar um quando passarmos na frente de um pet-shop. Quero poder sonhar em falar com um jogador de futebol e pedir seu autógrafo, pra guardá-lo (a assinatura, não o jogador, porra!) na minha gaveta de bugigangas que guarda todos os meus tesouros - uma carta pro Papai Noel, um carrinho, um desenho, um álbum de figurinhas e alguns gibis. Quero chegar em casa e fazer lição de casa, fazer exercícios de descobrir o valor do quadradinho ou os mais legais, aqueles de arme e efetue. Quero ver desenhos animados e acreditar que uma pantera pode viver no mesmo mundo de pessoas baixinhas e narigudas, ou que um coelho bola todos os planos do mundo pra, no fim, explodir a cara do caçador ou do pato invejoso. Quero passear no Parque do Ibirapuera com meu pai nas tardes de sábado, ver os peixes e fazer perguntas sobre tudo. Quero que as pessoas me perguntem o que eu vou ser quando crescer e eu, sem saber se falo bombeiro, veterinário, piloto de avião, técnico de futebol ou qualquer outra coisa, poder responder que quero ser adulto e nada mais. Quero muitas, muitas coisas. Mas preferia que, por ora, tudo se acertasse.



Tudo, tudo. A esperança excessiva, que pode ter fim com um telefonema; a vida desregrada e mal aproveitada, que pode ter fim com uma ida ao aquário; a imaginação supercriativa, que me bota nas maiores furadas da face da Terra e a qualidade de adivinhar o mundo, que faz eu achar a vida previsível demais.



Mas nada disso vai acontecer, eu sei, porque as pessoas são insuportáveis. E elas me decepcionam. Muito. Uma por dia. E é por isso que eu tenho as melhores amizades do mundo, mas que duram duas semanas. Sempre é assim, e dificilmente vai deixar de ser. Tudo bem, é normal. Normal, mas não é legal. E menos ainda quando tudo isso vira um desejo de retaliação, um duelo de egos que não deixa a comunicação rolar ou a simples vontade de falar "é, se fodeu. Se fodeu mesmo, e eu só dou risada" quando fazem de penico a minha leitura com os melodramas sem fim que não deixam de ser melodramas imbecis.



Pois bem. Chega.

Cartoon Network à parte, seqüência vale por si só. E seqüência à parte, o Cartoon Network valia por si só até começar a passar esse besteirol animado e japonês que eles passam hoje. Saudade dos desenhos da minha época!

E isso sim é nostalgia, porra!

E o legal também é ver que o jornal não é nada além daquela coisa que forra o chão da sala pra não fazer sujeira no carpete. Fantástica perspectiva profissional. Fantástica!

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