terça-feira, 27 de junho de 2006

E esse é só o comeeeeço...

Por que a porra da inspiração só vem acompanhada da decepção, da raiva, do arrependimento, do que deu errado... ? Quer merda! Por isso que o verso Raulzitano se me encaixa perfeitamente. O chato que fica no apartamento, que não vê graça nos macacos, nos tobogãs e nem nas pipocas.

E se tem um dia legal pra cair no esquecimento, esse dia foi hoje. Nada de mais, nenhuma catástrofe e tal, só foi um dia chato, não gostei. Poderia ter sido muito melhor, muito melhor aproveitado e muito melhor utilizado. Só que eu nunca me dei bem com o tal do Carpe Diem. Por mais que eu tente, não rola. É a porra da nostalgia.

Começou quando no acordar. A droga do celular apitava que nem um arrombado e não me deixava mais dormir (tá, eu sei que tinha programado o bichinho pra me acordar. Mas foi o que eu pensei logo na hora: ah, isso não é vida! Tudo bem que eu tava meio grogue, ninguém acorda apto a dizer as coisas mais inteligentes logo às 7h...). A chuva que começou a cair parecia tão animadora às 8h que eu comecei a me sentir bem. Só que ela não parar - e aumentar - quando eu saí de casa não foi muito lá que interessante.

Ônibus. Chuva. São Paulo. Tudo isso pode ser substituído por trânsito. E que também quer dizer bosta. Pelo menos deu pra chegar lá no Detran a tempo. E deu pra perceber o quanto as pessoas são ignorantes ou não sabem dar uma explicação.

Exame teórico? Ah, primeira escada ao lado. Foi até o final do corredor e nada de escadas. Só um monte de elevador e algumas portas. Um elevador tava aberto, mas como era no segundo andar a droga do exame, preferi só olhar pra ascensorista e procurar os degraus. Como não achei, voltei pro saguão principal. O elevador tava pra sair, então optei por evitar a fadiga. "ESTE ELEVADOR SERVE TODOS OS ANDARES", informava a plaqueta logo acima da cabeça da apertadora de botões.

Todo mundo entrava, falava o andar desejado carrancudamente e fechavam mais ainda a cara. Eu entrei, olhei pra nobilíssima trbalhadora e sibilei Bom dia. Segundo andar, por favor. Ela simplesmente olhou pra minha cara e disse (mais carrancuda do que todos os engravatados que lá estavam) Primeira escada ao lado, o elevador não pára no segundo andar. Nem me emputeci, tudo bem. Discutir pra quê? Mas então não diga que a merda do elevador vai pra todos os andares se não vai!

Acabei achando as escadas. Ela ficava, sei lá, escondida. Tinha-se que passar por uma porta, não entendi direito. Outra falha de comunicação. Se me tivessem dito "primeira porta à direita, a escada que lá fica escondida", não teria problema algum. Ah, bando de idiotas!

Chegando lá, a fila de todos os que iam fazer a prova teórica. Entrei no final e esperei. Peguei meu RG, meu comprovante e o CAM (porque inventaram que eu tenho cara de pivete na Cédula de Identidade). Ao chegar a minha vez, o imbecil que tentava amedrontar todo mundo. Logo que olhei pra cara dele, não fui com a cara. Ele era daqueles que têm olhar de imbecil. Respiram como imbecil e tal. E isso se comprovou com a primeira fala dele:

- Você é rabino? - com um quê desdenhoso
- Não, só não gosto de fazer a barba - e aquele sorriso amarelo
- Ah, olha! - pra mulher que estava atrás de mim -, ele não gosta de fazer a barba! Por quê?
- Sei lá, só não gosto.
- Ah, mas você não é rabino?
- Não.
- Então assina seu nome aqui na lista.

Fui pegar a caneta na minha mochila. Peguei - estava todo atrapalhado com um monte de coisas na mão - e, enquanto guardava no bolso os papéis, empunhava a caneta com a ponta voltada pra mim.

- Ah, olha que atenção! Quer escrever com a caneta ao contrário!

Assinei.

- Você parece rabino, sabia?

E olha que eu nem falei nada da mãe dele, aquela danada!




Depois eu descobri que passei na droga do exame (novidade?). A minha vontade era ir lá no Detran de novo e mandar o imbecil enfiar as gracinhas no olho do cu. Só que acabei ficando na minha cama, tava mais agradável. Só saí pra marcar as aulas de volante (finalmente. Não que eu estivesse esperando, contando os minutos pra dirigir. Por mim, tanto faz).

Depois da insossa disputa de pênaltis entre Suíça e Ucrânia, fui pra aula. Só pra entregar trabalho, assinar a ata e tal. Ia fazer tudo ao mesmo tempo e me mandar, mas o imbecil do professor da primeira aula inventou de dar aula. Vai entender.

Pelo menos a aula acabou e o truco começou. Com muito pouca sorte, já tava 8 a 5 quando me falaram que... que ela tinha ido. Senti aquela coisa esquisita que desde os 12 anos eu sinto quando vejo o principal objeto da minha imaginação. Mas acabei me controlando, mantive a postura do post passado e fiquei na minha. Só quando passei por ela que pensei em falar um oi e tal. Só falei o oi e saí da sala. Assinei a lista maluca e estava pronto pra voltar pra casa.

Fiquei meio em dúvida. Ela estava lá no corredor - mesmo que com as amigas - e tal. Poderia ficar, arriscar um assunto e, sei lá. Fiquei nesse impasse, mas acabei indo pro elevador. Eu e outro amigo meu que desencanara da aula.

Na descida, ouvi sobre suas aventuras entorpecidas. Dele e daquele meu companheiro de barraca. Ele tinha pegado outra, o que só confirmou a confimadíssima tese de que amor de Registro não é registrado por aqui. E daí? Ele foi pra um lado, eu fui pro outro. Queria matar as saudades da Bud. A Budweiser. E fiquei sabendo que logo na esquina da faculdade tinha um bar que vendia. Não só a estadunidense, mas japonesas, belgas, holandesas, alemãs, israelense... uma maravilha!

Cheguei lá e nem tinha. Pra não perder viagem, perguntei quais as de pescoço longo que ele tinha. Tinha uma tal de Eisenbahn. Perguntei quanto que era e mesmo eu estando de óculos, calça jeans e blusa de gola alta - como um perfeito almofadinhas - o imbecil do balconista foi desdenhoso. Ah, a mais barata é cinco e cinqüenta. Preferi não discutir, aceitei, paguei, peguei, virei as costas e estava pronto pra degustar a cerveja alemã que eu tinha comprado.

Boa, boa. Deliciosa. Ah, é a tradição alemã, né? Acabei voltando pra frente da faculdade pra tomar a deliciosa importada. Sentei em um degrau, tinha a esperança de que ela poderia estar só de passagem na Comunicação e ir rápido pra casa. Então esperei. Esperei e degustei. Degustei e li o rótulo: a cerveja de Blumenau. Ah, que imbecil eu sou! Só porque tinha um nome mais esquisito, pensei que a droga era alemã. Pff... Nacional. Mas não que isso tirasse sua qualidade, pelo contrário. Mas só provou que eu sou um perfeito imbecil.

Pensei em voltar pra aula, mas o pequeno general falaria um monte, então fiquei vendo o movimento da avenida. Impulsivamente, fiz o que queria e repudiava. Pela primeira vez, mas fiz. Ah, que se dane! Logo mais essa bosta vai pro lixo, mesmo (seja o usuário ou o usado)!

Ela não apareceria. Não mesmo. Então eu decidi ir ver um filme, sei lá. Ocupar a minha cabeça com algo mais construtivo. Fui e fiquei completamente surpreso com a bilheteira da bilheteria. Tinha esquecido minha carteirinha de 66% de desconto, então pagaria a meia-entrada. Mas ela viu a minha carteirinha dos 50%, leu e falou que eu tinha direito aos 66% porque era aprendiz do antenão. Tudo bem! =)

Aí eu fui ver Caché. Ou Cachê. Ou Cáche. Cache, Cachè... sei lá. Eu queria ocupar a minha cabeça com um filme, mas não com um quebra-cabeças! O filme é demais, prende a atenção durante o tempo todo, mesmo tendo o estilo paradão do cinema francês. Mas é muito complexo e é você quem faz o final. Talvez nem tenha final, a meta é mostrar as ações pessoas e interpessoais em situações como aquela. Interessante.

Quase meia-noite, voltei pra casa. Eu e meu Manual, minha leitura. Mesmo compenetrado no livro, acabei tirando algumas idéias de toda essa palhaçada: sou anacrônico. Anacrônico pra caralho!

Porque as minhas análises são sempre superficiais. Porque o meu ideal de felicidade é a infância. Porque eu sinto as mesmas coisas que sentia aos 12 em situações como aquela. Porque eu me escondo atrás de uma barba. Porque eu me sinto mais sozinho num metrô lotado do que vendo um desenho animado. Porque eu não cresci. Porque eu devo escrever as mesmas coisas que eu escreveria aos 14. Porque não sei palavras complicadas como tanger, inerente, talassofobia ou gasganete. Porque eu rio das mesmas coisas de que eu riria aos 11. E porque eu sou o único ser da face da Terra que acredita que escrever é como Matemática, ou Física. E que não acha isso complicado e nunca pegou uma recuperação (Artes não vale).

É, sou anacrônico. E queria voltar uns 8 anos no tempo. Queria ter vontade de pendurar duas bandeiras em cada janela da casa antes de um jogo da Copa do Mundo.

Quem sabe um dia?
Ah, não. Não mesmo.

Não volta mais.
E ponto.

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