sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Pretenção

“Oi! Não tenho a pretensão de...”

Enviar.

Virei para o lado orgulhoso do conteúdo que havia acabado de escrever e sem esperar a resposta da mensagem. Respirei fundo, coloquei alguma música para tocar, fechei os olhos e estiquei as pernas, esperando ser dominado por um sono tranquilo, agradável, pacífico, ameno...

Poucos minutos depois, o coração acelerou. Abri os olhos.

Pretensão? Eu realmente escrevi pretensão? Com S? Não é possível, deixa eu ver.

“Oi! Não tenho a pretensão de...”

Não acredito. Não, espera, será que é isso mesmo? Deixa eu ver o que o corretor automático diz.

“Pretensão”.

“Pretenção”.

Ih, ele aceita os dois. Mas putz... não, é com Ç. E eu escrevi com S. Cara, não, como assim? Que burro! Não, puta merda.

Será que a mensagem foi lida?

Claro que ninguém me responderia uma mensagem com um erro absurdo de português assim. Eu não responderia. Logo eu, um ex-fiscal fascista do português alheio (hoje já muito mais controlado). E logo eu fui cometer semelhante agressão à língua? E todo o meu trabalho de marketing pessoal, arruinado por causa dessa pretenç(s)ão de não querer ser pretenc(s)ioso.

Já sei! E se eu colocar a culpa no corretor do celular? Vamos lá: “Ops! * Pret...”

Espera. Agora? Quase meia hora depois que a mensagem chegou?

Quer saber? Talvez ninguém perceba. Eu que estou me desesperando à toa. Foi só um erro, acontece. Não é o fim do mundo.

Na manhã seguinte, vi que a mensagem havia sido respondida e que a minha gafe talvez não tenha sido levada em consideração.

Ainda assim, levantei da cama, abri o armário, peguei o dicionário.

Prêt-à-porter, pretaria, pretejar, pretendedor, pretendente, pretender, pretendida, pretensão.

Pretensão.

Com S.

“Oi! Não tenho a pretensão de...”

Pretensão.

Com S.

Ufa.

A conversa seguiu, até que em algum momento, duas ou três mensagens depois, as respostas pararam de chegar. Por qualquer outro motivo.

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