domingo, 3 de fevereiro de 2013

O abraço induzido

Há milhões de tipos de abraços na vida: o partido, o vazio, o falso, o bem intencionado, o mal intencionado, o de bêbado, o de amor, o de consolo, o de apoio, o de saudade, o de reencontro, o de tchau com uma sensação de adeus (e esses doem demais, confiem em mim)... Todos eles merecem uma análise, mas são poucos os que me empolgam tanto quanto o abraço induzido.

Vamos falar sobre paixões. Passageiras, efêmeras, ansiosas, platônicas (ah, as platônicas!), duradouras, empolgantes, fulminantes, inesquecíveis, inventadas... não importa qual, todas elas alcançam um novo patamar no primeiro abraço. Que é um abraço induzido, pode acreditar - ou ao menos se você for uma pessoa extremamente atrapalhada lidando com novas paixões.

Na verdade, não sei muito como explicar essa situação, então... vamos inventar uma história que pode ser que tecnicamente eu tenha vivenciado.

Havia uma garota. Linda. Quase inatingível, até que você é flagrado olhando de longe para ela. E ela responde. E há uma troca de olhares. E isso se repete várias vezes, até que você faz uma ligeira mudança na tua rotina para poder trocar olhares com ela algumas vezes. Aí um dia ela te sorri. E no outro muda o caminho para te ver. E vocês começam a conversar.

Essas conversas se repetem, várias vezes, durante algumas semanas. Um dia vocês se dão um beijo no rosto; no outro, toca as costas dela. Depois ela te toca o ombro, e você retribui espalmando a mão sobre a bisteca (termo técnico: região lombar, meio palmo abaixo da última costela) dela. O terreno está pronto para o primeiro abraço.

Mas ainda assim há uma insegurança, agonizantemente gostosa. Até o momento em que os corpos clamam por se aproximarem, se tocarem, se sentirem. Só que algum comando faz com que os músculos, dos dois corpos, titubeiem. Tremem incertos. Ameaçam refugar. Quase refugam. Mas se tocam, em algum ponto se tocam, sabe-se lá como. E aquilo, aos poucos, se torna um abraço.

O que era incerto a princípio se torna a primeira chance de testemunhar que aquele coração bate única e exclusivamente para você naquele instante, contra teu peito que igualmente lateja ao ritmo da mais pesada música de trash metal que você jamais ouviu. De aspirar profundamente aquele perfume, de absorver aquele aroma que te inebria mais do que um lança-perfume. De sentir um calor em cada milímetro das tuas costas acariciadas por aquelas mãos suaves. E de realizar, por dois ou três segundos que seja, que a vida é boa quando os seios, suaves, dela se espremem contra o teu peito.

A eternidade desse curtíssimo abraço faz tudo até ali ter valido a pena.  

Não interessa o que virá depois.

Não interessa o que veio depois. 

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