sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Fortaleza de cartas


Vejo minha vida como um pequeno castelo de cartas, construído por uma criança que não consegue manter a calma nos momentos de tensão e se estabana na hora de equilibrar duas paredes finas e suaves sobre o piso mole e escorregadio das costas do baralho.

Por muito tempo meu palacete esteve lá, firme, imóvel, soberano, exposto orgulhoso para quem quisesse vê-lo e admirá-lo. Mas, querida, ele veio abaixo em uma noite na qual a criança que o havia construído estava dormindo feliz, sonhando coisas lindas. Não foi fácil quando ela abriu os olhos, se errou pela sala e viu que tudo havia ruído.

Ela não se achava capaz de refazê-lo. Não sabia como reconstruí-lo, nem se lembrava direito como havia erguido semelhante fortaleza com cartas tão debiluchas de um baralho que encontrou sem querer por aí.

"Você consegue", alguém lhe disse. E isso era a pior coisa que poderia ouvir. Não queria conseguir de novo. Queria fechar os olhos naquela noite, abri-los na manhã seguinte e ver tudo ali novamente em pé como antes. Era impossível refazer tudo.

Esperou por muitas noites que seu palacete fosse reerguido. Não tocou nenhuma carta, mas elas tampouco fizeram muito esforço para se remontarem uma sobre a outra, naquela mesma ordem que ele sabia quase de cor. Seguiram ali, impassíveis.

Até que, em uma tarde de tédio, decidiu se empenhar naquela aventura. Precisava - e queria - um pouco de emoção.

Criou bases sólidas, com as cartas de 2 e 10 que encontrou. Errou, se atrapalhou todo. Demorou a achar o ponto de equilíbrio para estabelecer as primeiras unidades.

Até hoje, me falaram, pouco avançou. Ainda comete os mesmos erros ao empolgar-se demais quando conclui um andar e parte desastradamente para o outro. A própria respiração ansiosa, os próprios dedinhos incertos e instáveis, trêmulos, lhe colocam tudo a perder. E se deprime a cada implosão de cartas.

Respira fundo. Recomeça e recomeça e recomeça. De novo, de novo e de novo.

A dama e o rei de copas não aguentam mais esperar, separados de todo o resto do baralho, para voltarem ao topo de seu império destruído. E a criança vai dormir, e às vezes sonha com o castelinho tão lindo e gigante e quase perfeito que havia construído e que já não existe mais.

Nenhum comentário: