segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Mar de desgosto, ondas de lembranças


Um dia me tranquei no meu quarto, fechei as janelas e me pus a pensar apenas sob a luz das brasas dos cigarros que eu devorava com uma voracidade semelhante à de uma criança com sede tomando um copo de refrigerante gelado.

Precisava achar uma resposta para a pergunta que me atormentava a tranqüilidade. Como eu falhei? Onde, em que momento, com qual palavra, em que instante de segundo?

Respirava fundo, o mais fundo que podia, para tentar captar no ar algum despojo teu. Eles ainda estavam por lá e me traziam incontáveis memórias do teu carinho.

Da tua mão no meu rosto quando me sorrias e dizias “bo...ni...to”, assim suavemente, quase sem completar o som das consoantes – "bvoñito", "uboíto",eu escutava.

De quando eu supervalorizava meus resfriados e repousava a cabeça no teu peito para sentir teus dedinhos despenteando meu cabelo.

De quando terminavas de me beijar, ficavas nas pontinhas dos pés e me asfixiavas com um abraço de saudade. Me enforcavas, eu não podia respirar. Era como se eu morresse e voltasse à vida, mil vezes, sempre do teu lado.

Suspiro. Olho para o lado e vejo o pinguim de pelúcia com cara de mau que você me deu um dia. E que eu sempre levava quando ia dormir natua casa para que ele pudesse encontrar os amiguinhos, teu cachorrinho e tua porquinha, e passassem horas confabulando.

Agora ele me mira, com a cara ainda mais maldosa. Franze as sobrancelhas e afina o bico. Tenho medo dele, mas o trago mais pra perto. Tento encontrar nele algum vestígio dos teus perfumes. 

Sinto o cheiro da tua casa e ouço ao fundo aquele country que você pôs para tocar quando estávamos na tua cama. Repito e repito e repito na minha cabeça a lembrança de quando eu te disse "ei", e você me respondeu "hey, I'm Johnny Cash". 

Relembro dias e mais dias em que estiveste por aqui e eu por aí. Uma força me comprime o peito e me vibra a garganta.

Respiro fundo, aos solavancos, tembladamente (isso existe?).

Talvez eu tenha simplesmente te perdido.

Era mais fácil pensar que eu havia falhado.

Um comentário:

Anônimo disse...

Lindo!